Às vezes me deparo com um texto aparentemente correto, com afirmações inicialmente certas, um título apropriado etc. A partir da terceira ou quarta linha, porém, algo se transmuda: o que pouco antes pareceria lucidez e agudeza de análise se transforma num amontoado desordenado de afirmações incongruentes e estapafúrdias, que logo degeneram em negação e/ou distorção dos fatos pura e simples. É esse precisamente o caso do texto que li hoje na Folha de S. Paulo, de autoria de um certo Ricardo Melo, sobre o conflito em Gaza e o tour diplomático do governo Lula na região nos últimos dias. Reparem que ele até começa bem, e faz algumas observações interessantes. O problema está na linha de raciocínio que ele adota, francamente anti-Israel. Meus comentários vão em azul.
.
DIPLOMACIA DE FACHADA
.
É patético. No mesmo momento em que Israel avança para a guerra urbana em Gaza, o presidente Lula usa seu programa de rádio para pedir respeito à decisão do Conselho de Segurança da ONU sobre um cessar-fogo.
Nada a comentar. Assino embaixo. Adiante.
Nada a comentar. Assino embaixo. Adiante.
.
Mera saudação à bandeira. A ONU, desde a sua fundação, só tem feito referendar a vontade dos países ricos. Ninguém sério, ou que se leve a sério, acredita que as Nações Unidas exerçam algum poder de fato para arbitrar conflitos, interromper guerras e promover a paz.
Aqui começa o problema. Sob o pretexto de criticar a inação da ONU, o autor comete um disparate histórico, ao dizer que "A ONU, desde a sua fundação, só tem feito referendar a vontade dos países ricos". Se isso fosse mesmo verdade, teríamos que considerar países como Sudão, Cuba e Síria potências econômicas. A ONU, hoje, não passa de uma mega-ONG e de um clube de ditadores, muitos deles patrocinadores ativos do terrorismo, todos com alguma encrenca com os tais "países ricos". Não é por acaso que os EUA e Israel são sempre voto vencido na Assembléia-Geral da dita organização.
Aqui começa o problema. Sob o pretexto de criticar a inação da ONU, o autor comete um disparate histórico, ao dizer que "A ONU, desde a sua fundação, só tem feito referendar a vontade dos países ricos". Se isso fosse mesmo verdade, teríamos que considerar países como Sudão, Cuba e Síria potências econômicas. A ONU, hoje, não passa de uma mega-ONG e de um clube de ditadores, muitos deles patrocinadores ativos do terrorismo, todos com alguma encrenca com os tais "países ricos". Não é por acaso que os EUA e Israel são sempre voto vencido na Assembléia-Geral da dita organização.
.
Ao contrário. O que a ONU tem feito ao longo de sua história é chancelar as guerras ao dar poder de veto a um único país para impedir ações mandatórias.
Mais confusão (ou desinformação). Não é "um único país" que tem poder de veto (suponho que seja dos EUA que o autor esteja falando...), mas cinco países - EUA, Rússia, China, França e Reino Unido - que detêm o direito de veto no Conselho de Segurança da ONU. Foi graças ao veto de três desses países - Rússia, China e França - que a ONU se opôs à guerra para derrubar Saddam Hussein do poder no Iraque, em 2003. E é graças ao veto de pelo menos um deles - a China - que a ONU dá de ombros para o genocídio em Darfur, a maior tragédia humanitária da atualidade, na qual já morreram cerca de 300 mil pessoas. Quem tem voz na ONU, meu amigo, não é Israel: são seus inimigos, como Ahmadinejad e Hugo Chávez. Nada a ver com o que diz o autor das linhas acima.
.
A ONU que votou pelo cessar-fogo em Gaza é a mesma que assistiu, aprovando documentos parecidos, à invasão do Iraque, do Afeganistão (pela URSS e pelos EUA), à Guerra do Vietnã, da Coreia e a outras tantas tragédias.
Vou deixar de lado os casos do Afeganistão e do Iraque (basta ler o que escrevi acima). Vou me referir apenas aos outros dois, o Vietnã e a Coréia. No primeiro caso, pode-se culpar a ONU sim, mas de não ter feito nada para tentar impedir a agressão do Vietnã do Norte (comunista) ao Vietnã do Sul (capitalista), o que, hoje esquecemos completamente, foi a grande causa da guerra, levando os EUA a intervirem militarmente na região. A resposta é fácil: a então URSS, que na época integrava o Conselho de Segurança, não deixaria (a China comunista só entraria no Conselho em 1971, substituindo Taiwan). Quanto à Coréia, o autor parece não ter estudado direito a História: em 1950, diante da invasão da Coréia do Sul pelas forças comunistas da Coréia do Norte, a ONU não se omitiu. Pelo contrário: com o único voto contra da URSS, a ONU aprovou o envio de uma força militar liderada pelos EUA para deter o avanço norte-coreano. Aliás, essa foi uma das raras vezes em que a ONU honrou o que está na sua Carta de fundação e serviu para alguma coisa.
.
A retórica é o refúgio preferido da hipocrisia diplomática.
A retórica é o refúgio preferido da hipocrisia diplomática.
Nada a comentar sobre essa frase. Apenas sobre o que vem em seguida.
.
O Brasil tem sido criticado por alguns por “condenar” o ataque à faixa de Gaza. Fachada pura. Pergunte qual iniciativa concreta o Itamaraty ou o Planalto tomaram para incomodar o governo israelense. Prepare-se para o silêncio absoluto. Mas, no mundo das representações, soa importante mandar nosso chanceler excursionar pelo Oriente Médio, aparecer em fotos com o presidente do Egito e apertar as mãos da ministra israelense que “não vê crise humanitária” na faixa de Gaza.
Aqui está o cerne de toda a confusão/desinformação. A condenação diplomática do governo Lula à operação israelense na Faixa de Gaza não é de fachada, infelizmente. Aliás, é aqui que mora o problema. O governo brasileiro não vê problema nenhum nos ataques terroristas do Hamas contra alvos israelenses, tanto que se abstém de condená-los abertamente, como se recusa a condenar essa organização terrorista e genocida. Isso se traduz numa iniciativa concreta contra o governo israelense, que luta há 60 anos para se proteger de quem quer destruí-lo. O Brasil já condenou Israel na Comissão de Direitos Humanos da ONU, mas se recusa até hoje a condenar a ditadura de Cuba e o governo genocida do Sudão, sem falar nos narcobandoleiros das FARC, que insiste em não classificar como o que são: terroristas. Agora, vem falar em paz no Oriente Médio, e se oferece inclusive como mediador. Isso sim é fachada pura e representação hipócrita. Patético.
Aqui está o cerne de toda a confusão/desinformação. A condenação diplomática do governo Lula à operação israelense na Faixa de Gaza não é de fachada, infelizmente. Aliás, é aqui que mora o problema. O governo brasileiro não vê problema nenhum nos ataques terroristas do Hamas contra alvos israelenses, tanto que se abstém de condená-los abertamente, como se recusa a condenar essa organização terrorista e genocida. Isso se traduz numa iniciativa concreta contra o governo israelense, que luta há 60 anos para se proteger de quem quer destruí-lo. O Brasil já condenou Israel na Comissão de Direitos Humanos da ONU, mas se recusa até hoje a condenar a ditadura de Cuba e o governo genocida do Sudão, sem falar nos narcobandoleiros das FARC, que insiste em não classificar como o que são: terroristas. Agora, vem falar em paz no Oriente Médio, e se oferece inclusive como mediador. Isso sim é fachada pura e representação hipócrita. Patético.
.
O autor parece achar tudo isso pouco, e cobra uma atitude mais "concreta" do Itamaraty contra Israel. Quem sabe, ele ficaria satisfeito se o Brasil reconhecesse logo o Hamas como o legítimo representante do povo palestino e chamasse o Embaixador brasileiro em Israel (aliás, ele defende isso sim, vejam o próximo parágrafo).
.
Em relação ao que interessa, a posição brasileira é, na verdade, oposta. Compare: por muito menos, se é que vidas importam alguma coisa, o Brasil chamou de volta o embaixador em Quito, até se certificar que o governo Correa honraria compromissos financeiros com uma empreiteira. Já em Gaza, trata-se de civis lançados à própria sorte, manipulados por extremistas islâmicos e vítimas da brutalidade da máquina de guerra de Israel. Que tal, presidente, também chamar nosso embaixador para conversar?
Viram só? Eu bem que disse: comece criticando a organização certa, a ONU, mas pelo motivo errado - esta seria um instumento dos "países ricos" (como os EUA e Israel) -, e você terminará defendendo a posição dos terroristas contra Israel. A comparação com o Equador só faria algum sentido se a "máquina de guerra" de Israel estivesse, de fato, promovendo um massacre indiscriminado da população civil palestina na região (algo em que muita gente, ignorando o Hamas, parece acreditar piamente, deixando-se levar pela massiva propaganda antiisraelense na mídia). Mesmo assim, o autor parece esquecer algo essencial: o governo Lula só chamou o embaixador em Quito MESES após o fanfarrão Rafael Correa ter encampado as propriedades da Odebrecht e impedido seus funcionários (brasileiros) de saírem do país. Sem falar que, no caso da crise diplomática com a Colômbia no começo do ano passado por causa da morte do número dois das FARC, o Brasil se colocou inteiramente do lado de Correa contra a Colômbia, mesmo tendo sido provado e comprovado que o governo equatoriano abriga e dá apoio aos terroristas em seu território. Isso, sim, é que mereceria, a meu ver, chamar nosso embaixador em Quito para conversar.
.
Enfim, das duas uma: ou esse tal Ricardo Melo não sabe do que está falando, ou a ONU e o Itamaraty a que ele se refere não são a ONU e o Itamaraty que existem na realidade. Em qualquer caso, trata-se de mais um exemplo de desonestidade intelectual na imprensa brasileira.
Um comentário:
eu gostei da parte :"Pergunte qual iniciativa concreta o Itamaraty ou o Planalto tomaram para incomodar o governo israelense"
Que diabos seria essa "açao concreta"? Fazer com que Israel nao se defenda e o Hamas volte a lançar foguetinhos sobre suas cabeças?
Incrível....
Nao sei como deixam publicar um texto tao cheio de chovoes esquerdistas de quinta categoria, que a gente nao aguenta mais ouvir,num dos meios de comunicaçao mais lidos do país.
beijos, Ná.
Postar um comentário