Cinqüenta anos depois, o país, que antes fora próspero e relativamente desenvolvido, permanece na mesma situação política; agora, porém, é uma ruína, ostentando alguns dos piores índices econômicos do continente. Toda a imprensa é censurada pelo Estado. As eleições são uma farsa, com partido único no poder, e sem possibilidade de alternância. Em mais de 50 anos, o país não avançou um milímetro em direção à democracia. Não há liberdade de expressão, e os cidadãos estão probidos de saírem do país quando quiserem. Um dia, o supremo ditador, que permanece no poder, ininterruptamente, por mais de quatro décadas, cai doente, e é sucedido por seu irmão, tão ou mais tirânico do que ele. À parte algumas mudanças cosméticas, saudadas por algumas almas excessivamente ingênuas ou otimistas como um sinal de "democratização" do país - seus cidadãos, há alguns meses, já podem ter celular e comprar computadores, mas sem acesso à internet -, não há nenhuma mudança política significativa à vista.
Este é um blog assumidamente do contra. Contra a burrice, a acomodação, o conformismo, o infantilismo, a ingenuidade, a abobalhação e a estupidez que ameaçam tomar conta do País e do Mundo. Seja livre. Seja do contra. - "A ingenuidade é uma forma de insanidade" (Graham Greene)
quinta-feira, janeiro 08, 2009
MEIO SÉCULO DE MENTIRAS
Imagine que, há 50 anos, seu país foi tomado de assalto por um amplo movimento revolucionário que derrubou um ditador odiado e corrupto. Com o apoio da opinião pública, tanto nacional como internacional, e inclusive dos EUA e da CIA, esse movimento, encabeçado por um líder carismático, prometeu restaurar a democracia no país e convocar eleições livres. Em poucos meses, porém, as promessas democráticas deram lugar à implantação de uma ditadura pessoal, muitíssimo pior do que a anterior. Milhares de pessoas - entre as quais muitos que apoiaram a revolução e lutaram contra a ditadura - são presas, centenas fuziladas, e cerca de 20% da população do país parte para o exílio, fugindo da opressão e da penúria. O novo ditador, falando em nome do povo, trai todos os compromissos democráticos pelos quais lutara, e se instala definitivamente no poder, aliando-se a uma potência estrangeira e extracontinental, o que quase provoca uma guerra nuclear. Para se manter no poder, o ditador em questão tenta durante anos incendiar o continente, patrocinando vários grupos e movimentos terroristas em outros países, muitos dos quais contra governos democraticamente constituídos.
O leitor atento já deve ter percebido de que país e de qual ditadura estou falando. Agora, faça uma experiência. Feche os olhos e imagine, por um instante, que o país em questão é o Brasil.
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Depois de ter vislumbrado, mesmo por um segundo, esse pesadelo, fica mais fácil compreender o que quero dizer. O país em questão, qualquer um com um mínimo conhecimento de História já deve ter percebido, é Cuba.
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Há exatos cinqüenta anos, no dia de hoje, 8 de janeiro, as forças de Fidel Castro entraram triunfalmente em Havana, após o ditador Fulgencio Batista ter fugido da ilha, em 1 de janeiro. Começava, aí, em meio a uma onda de esperança democrática, a ditadura mais feroz e longeva da história da América Latina. Ditadura essa que sobrevive, paradoxalmente, graças ao apoio que lhe é prestado, de forma incondicional, por muitos governos ditos democráticos, como o de Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda hoje, mesmo com a queda do muro de Berlim e o fim da URSS, há quem defenda a tirania cubana, um regime totalitário, e fale em democracia.
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Na verdade, é difícil até mesmo dizer o que exatamente o regime cubano celebra nesse começo de 2009. Oficialmente, é o cinqüentenário da Revolução Cubana. Mas isso é complicado de dizer, porque não há uma, mas duas revoluções cubanas, como houve duas revoluções russas. A primeira revolução russa, quem conhece História sabe, foi a revolução de fevereiro de 1917, democrático-liberal, que resultou na queda do czarismo. A segunda revolução, a de outubro, foi o golpe de estado bolchevique, arquitetado por Lênin e Trotsky. Os bolcheviques a fizeram prometendo a liberdade e a convocação de uma Assembléia Constituinte: três meses depois, em janeiro de 1918, eles dissolveram a dita Constituinte, e instauraram em seu lugar a ditadura do partido comunista. O que se seguiu foram setenta anos de opressão. Em Cuba, ocorreu algo semelhante. Fidel e seu irmão Raúl tomaram o poder numa revolução, a de janeiro, e fizeram outra, a própria, dando um golpe de Estado. Dois anos depois da primeira revolução, em que a população saiu às ruas para comemorar a fuga de Batista, o domínio da dinastia Castro já estava estabelecido: em 16 de abril de 1961, Fidel proclamava em discurso que a Revolução Cubana era "socialista"; em 2 de dezembro, afirmou, perante milhares de pessoas: "sou marxista-leninista e o serei até morrer".
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Cuba é, de fato, um cancro no panorama político das Américas, a única ditadura totalitária da História do continente. Mesmo assim, não há tirania mais louvada, mais elogiada e paparicada. Muitos que dizem discordar do regime político elogiam os supostos avanços do regime cubano em áreas como a saúde, mas se esquecem de comentar casos como o da médica cubana Hilda Molina, proibida de sair de Cuba desde que ousou criticar a política sanitária da ditadura castrista, que privilegia o atendimento aos turistas e visitantes estrangeiros (como Michael Moore), em vez da população cubana, cada vez mais à míngua. Fala-se também que em Cuba não há analfabetismo e que todas as crianças cubanas estão na escola, mas se esquece de dizer que a doutrinação ideológica é uma característica indelével do sistema educacional cubano - como é, aliás, em qualquer sistema totalitário. Ainda há os que tentam justificar a opressão castrista lembrando o embargo comercial norte-americano (que chamam, ignorantemente ou de má fé, de "bloqueio") - como se alguém fosse ditador por vontade alheia. Além disso, esquece-se que Cuba já apresentava índices respeitáveis nessas duas áreas, saúde e educação, antes da chegada dos irmãos Castro ao poder.
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No mês passado, o sucessor de Fidel, Raúl Castro, visitou o Brasil. Na ocasião, na Costa do Sauípe, na Bahia, o governo brasileiro conseguiu a entrada de Cuba no Grupo do Rio, sem pedir absolutamente nada em troca. Não se falou em presos políticos (presos de consciência, 23 dos quais, jornalistas), nem em dissidentes (tratados, invariavelmente, como "mercenários"), nem de liberdade de expressão, nem de direitos humanos, nem de democracia, nem de eleições livres e plurais. Nada. Mas houve quem repetisse na imprensa o discurso oficial de que o Brasil marcou, com a reunião, um importante ponto a seu favor, pois estaria se tornando um líder regional, assumindo um papel protagônico na América Latina, sem a "tutela" de ninguém etc. etc. Bobagem. Se a reunião da Costa do Sauípe demonstrou alguma coisa, de forma clara e sem ambigüidades, é que o Brasil está se tornando líder sim, mas da torcida pró-ditadores da região. Uma vergonha.
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