segunda-feira, janeiro 12, 2009

"A CANTAR E A DANÇAR"... UMA HISTÓRIA DESCONHECIDA DOS "ANOS DE CHUMBO"


Querem conhecer uma história de arrepiar? Um verdadeiro conto de horror, de deixar o sangue gelado?

Vou logo avisando: é coisa forte. Se você não tem estômago para cenas horripilantes, é melhor parar por aqui. Aí vai.

Em um dia da década de 1970, um militante do então ilegal Partido Comunista Brasileiro (PCB) desapareceu na cidade de São Paulo. Em uma casa de periferia, um grupo de facínoras agarrou-o e, sem dar-lhe o direito de defesa, matou-o sumariamente. Em seguida, os algozes atiraram seu cadáver, ou a vítima ainda viva (não se sabe ao certo), em uma banheira cheia de ácido. O corpo - pele, músculos, nervos, ossos - foi dissolvido, até virar uma pasta repugnante e irreconhecível. Após essa operação macabra, os assassinos despejaram o que pouco antes fora um homem na privada e deram descarga. Serviço feito, juraram silêncio sobre o ocorrido e foram para casa. O homem, que pouco antes caminhava pelas ruas, agora não existia mais. Fora evaporado, literalmente liquidado. O esgoto seria seu túmulo.

Já estão enojados? Esperem, não contei tudo ainda. Há motivos a mais para sentir engulhos. Sabem quem matou e deu sumiço no corpo da infeliz vítima? Se você respondeu que os assassinos foram torturadores do DOPS ou do DOI-CODI, a serviço da ditadura militar brasileira que, no mesmo período, estava caçando, matando e esquartejando comunistas, a resposta é: errado! Os autores desse assassinato brutal e até agora praticamente desconhecido foram nada mais, nada menos, do que... os próprios companheiros de militância política da vítima, membros do PCB!

A revelação de mais esse "justiçamento" cometido pela esquerda brasileira está no livro Memórias de um Stalinista (Rio de Janeiro: Ed. Ópera Nostra, 1994), do dirigente comunista Hércules Corrêa (falecido no ano passado). Quem quiser verificar por si mesmo, e não confiar nas palavras deste blogueiro, pode ir lá, na página 73 do livro. Os militantes do Partido estavam desconfiados que o sujeito era um traidor e que estaria espionando para a repressão, por isso resolveram eliminá-lo. Infelizmente, o autor não identifica a vítima, nem dá nome aos assassinos. Limita-se a notificar o assassinato, sem dizer sequer onde e quando exatamente ele ocorreu. É mais um crime dos "anos de chumbo" no Brasil que permanece e permanecerá, pelo visto, sem solução.
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Esse não foi o único caso de militante de esquerda morto pelos próprios companheiros de organização, inclusive pelo PCB (outros casos, como o de Elza Fernandes, na década de 30, são bastante conhecidos, tendo sido seu assassinato ordenado diretamente pelo chefe do "Partidão", Luiz Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança"). Há vários outros praticados por membros de organizações da luta armada. E, assim como ocorreu naqueles casos, o nome da vítima não consta em nenhum livro ou lista de mortos e desaparecidos políticos desde 1964 no Brasil, inclusive do publicado pelo governo Lula algum tempo atrás, e seus familiares não serão agraciados com gordas indenizações saídas do Erário público. Aliás, não se sabe sequer o nome da vítima. Outra diferença é que o crime foi cometido pelo moderado PCB, um partido que, nessa época, vejam só, era contra a luta armada e acusado de "pacifismo" e "legalismo" pelos grupos mais radicais.

Por que estou recordando história tão escabrosa? Porque ainda estou lembrando do artigo inacreditável de Oscar Niemeyer - militante do PCB desde a juventude -, em que o centenário arquiteto e fundador de Brasília derrama-se em louvores ao genocida Josef Stálin, chegando ao cúmulo de citar, como hagiográfico, um livro (que não leu) extremamente crítico e revelador sobre os anos de juventude do tirano soviético. Niemeyer diz que o livro "está reabilitando" Stálin, responsável direto por cerca de 30 milhões de mortes, e enaltece a juventude do monstro, quando este passava o tempo, entre um assalto a banco aqui e uma conspiração acolá, "a cantar e a dançar com seus amigos". Como a cantar e a dançar deveriam estar os companheiros comunistas de Niemeyer, ao derreterem o corpo do militante na banheira de ácido.

Niemeyer tem 101 anos. Está caduco? Certamente. Mas não pela idade. Suas ideias comunistas, como o próprio stalinismo, é que estão faz tempo, pertencendo ao museu de horrores da História, como o nazismo. Deveríamos jogá-las no ralo e dar descarga, como foi feito com aquele pobre homem, mais uma vítima anônima do fanatismo e da loucura, de quem não sabemos sequer o nome, mais de trinta anos depois.

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