sábado, janeiro 10, 2009

Ainda o conflito em Gaza - sobre bombardeios massivos e ações pontuais

Escreve uma leitora que se assina "Ana", aparentemente indignada com meu texto "Duas Perguntas Inconvenientes sobre o Conflito em Gaza", que aqui publiquei em 5 de janeiro:
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Nossa Gustavo!
Está na hora de você rever os seus conceitos.
Ninguém defende o Hamas ou os seus métodos. Mas uma coisa é uma ação pontual contra uma facção terrorista e outra coisa é o bombardeio massivo contra uma região onde há milhares de civis.
Basta você contar o número de baixas (incluíndo mulheres e crianças) no lado palestino e o número de baixas de Israel. Sabia que até a ONU, inútil por sinal (fugiu completamente dos propósitos aos quais foi criada), já processou vários relatos feitos pelo pessoal da Cruz Vermelha que levariam Israel a ser condenado por crime de guerra?
Sexta-feira, 9 de Janeiro de 2009 18h16min00s BRT
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Confesso que sempre desconfiei de textos que começam com a frase "está na hora de você rever seus conceitos" ou coisa que o valha. Esse tipo de afirmação deveria vir ao final da argumentação, não antes, como uma conclusão, e não como intróito. Dá a impressão de que a pessoa não está muito disposta a apresentar fatos e argumentos, e se baseia, em vez disso, numa frase-clichê. Acredito que seja exatamente esse o caso.
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A primeira divergência que tenho com a leitora diz respeito à seguinte frase: "Ninguém defende o Hamas ou os seus métodos". Há gente que defende isso sim, cara leitora! Se não acredita em mim, veja o que estão dizendo em outros blogues por aí, a maioria de esquerda (mas há sociopatas de ultra-direita também, vide os fascistas). Estes adorariam ver o Hamas cumprir sua promessa de riscar Israel do mapa e afogar sua população num mar de sangue. Claro, a maioria não diz isso abertamente, com todas as letras, mas nem por isso deixa de torcer pelos islamofascistas. Aqueles que se enchem de indignação contra a ação militar israelense, tachando-a de "reação desproporcional", ao mesmo tempo em que fecham os olhos para o caráter TERRORISTA e GENOCIDA do Hamas, acreditando, ingenuamente ou de má fé, que é possível negociar com quem não reconhece o direito de Israel existir, certamente estão torcendo por um lado no conflito - e não é o lado de Israel.
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Concordo inteiramente com você, Ana, quando diz que uma coisa é uma ação pontual contra uma facção terrorista, outra é o bombardeio massivo contra uma região cheia de civis. Porque é exatamente isso - uma ação pontual e seletiva contra o Hamas, não contra a população palestina como um todo - o que as forças de defesa de Israel estão fazendo em Gaza neste exato momento. Acha que eu estou mentindo? Então vejamos os números. Em duas semanas de intensos combates, morreram até o momento cerca de 700 palestinos. A maioria, cerca de 500 - são dados do próprio Hamas - eram terroristas dessa facção genocida. Isso em quase quinze dias de bombardeios, e numa região, a Faixa de Gaza, com 40 quilômetros de extensão por 10 de largura e 1,5 milhão de habitantes, a mais densamente povoada do mundo. Não sei não, mas isso não me parece um "bombardeio massivo" (ou "indiscriminado", como li num artigo um dia desses) contra uma população indefesa. Pelo contrário: parece-me uma ação dirigida seletivamente para destruir o Hamas, no que está sendo bem-sucedida.
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Ainda assim, o.k., você poderia lembrar que cerca de 200 pessoas, inclusive muitas crianças, foram mortas até agora pelas bombas e tiros israelenses. Eu respondo lembrando algo que a quase totalidade da mídia vem ignorando desde que o conflito começou: a prática cínica do Hamas de utilizar a própria população civil palestina como reféns e escudos humanos. A idéia é exatamente provocar o maior dano possível à própria população, expondo-a de propósito às bombas e mísseis israelenses. Isso é vantajoso para o Hamas por vários motivos. Primeiro, para fanáticos desse tipo, a carne das crianças palestinas é artigo barato, e pode render bons dividendos na guerra da propaganda. Segundo, nesse trabalho sujo de manipulação de imagens e de sangue, eles podem contar com uma imprensa inclinada a enxergar Israel como algoz, e não como vítima de uma agressão, o que de fato é. Essa guerra, a da desinformação, infelizmente o Hamas está vencendo. É por esses motivos, cara Ana, que as baixas são tão diferentes de um lado e de outro.
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A ação militar israelense em Gaza, portanto, não tem nada de "massiva" ou "indiscriminada", como são, aí sim, os ataques do Hamas ou do Hezbollah. Daí porque toda a discussão sobre esse aspecto do conflito é irrelevante. Até porque Israel já praticou ações seletivas antes, eliminando líderes individuais do terrorismo palestino - o atual Ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, participou diretamente de uma dessas ações contra líderes da OLP no Líbano, em 1973, episódio mostrado no filme Munique, de Steven Spielberg - e tais ações foram condenadas da mesma maneira. Não faz a menor diferença. A verdadeira questão está resumida nas duas perguntas que faço em meu texto: 1) Israel tem ou não o direito de existir? e 2) tem ou não o direito de se defender? Sem responder a essas duas perguntas fundamentais, nenhum debate racional é possível.
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Quanto a ONU, concordo novamente com você, Ana, pois essa organização realmente fugiu totalmente dos fins para os quais foi criada, sendo hoje um misto de ONG global e de clube de ditadores. Para esses, aliás, ela está longe de ser inútil: é, pelo contrário, um importante instrumento para a defesa de regimes ditatoriais e genocidas, e uma tribuna para todo tipo de ataque contra Israel e os EUA. Basta lembrar como a ONU se opõs à uma ação militar contra Saddam Hussein no Iraque. A mesma organização que exige um cessar-fogo de Israel e que acolhe denúncias de crimes de guerra contra as tropas israelenses se nega a tomar qualquer medida concreta contra os genocidas do Hamas e se omite de forma vergonhosa em casos como o de Darfur, onde já morreram mais de 300 mil pessoas. Será porque os cadáveres do Sudão valem menos do que os palestinos? Nessas circunstâncias, não me surpreenderia nem um pouco se o Hamas estiver utilizando instalações da ONU na Faixa de Gaza para lançar seus mísseis contra Israel. Diante disso, pergunto: Israel deveria abdicar do uso da força para se proteger, e passar a depender, em vez disso, dos bons serviços da ONU?
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Enfim, espero ter ajudado você a "rever seus conceitos". Os meus continuam inalterados. Pelo menos até que me convençam, com fatos e argumentos sólidos, que, entre uma democracia sitiada e um bando de fanáticos terroristas que querem destruí-la e massacrar sua população, eu deveria me colocar ao lado desses últimos e negar à primeira o direito de se proteger.

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