terça-feira, janeiro 18, 2011

UM SINISTRO DÉJÀ VU (OU: O ELOGIO DA INCOMPETÊNCIA)


O Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo choram os mortos na região serrana fluminense por causa das chuvas torrenciais e já se está armando mais uma picaretagem dos lulo-petistas em cima da tragédia. Enquanto todos choram, Sérgio Cabral, o novo inimputável da política brasileira (ele herdou esse posto do Apedeuta), e Dilma Rousseff, a gerentona durona e, dizem, "eficiente", dão um show de sumiço e incompetência. Mas dizer isso, neste momento, não é de bom-tom, decretou a imprensa devotada à criação de mais um mito político. A mesma imprensa que vomita boçalidades sobre Franco da Rocha, em São Paulo, acha feio acusar de incompetência os que governam (?) o Rio – e o Brasil. É a “imparcialidade” jornalística em ação...

Não, não vou escrever nada sobre o espetáculo de desídia e inépcia que o governo (?) de Cabral e Dilma estão dando no Rio. Não vou falar que, graças à ineficiência escandalosa destes, vidas poderiam ter sido salvas e o número de mortos, que já ultrapassa 600, poderia ser bem menor. Não vou falar que, até agora, não se viu um único caminhão do Exército na área devastada pelas enchentes. Nem que são os voluntários, e não os serviços públicos, que estão fazendo a diferença nos salvamentos. Sobre nada disso vou falar. Vou me limitar a lembrar do que escrevi aqui no ano passado, quando mais uma calamidade de água e lama se abateu sobre o mesmo estado governado (?) por Cabral, que pelo visto só chora pelos royalties do petróleo. Escrevi, então, o seguinte texto (em 9 de abril de 2010):

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AS CHUVAS E A POLITICAGEM

Uma das coisas mais nojentas que existem é a tentativa de politizar desastres naturais. Mesmo que não sejam tão naturais assim. Como a chuva torrencial que desabou sobre o Rio de Janeiro nesta semana - e que já deixou, segundo as últimas contagens, mais de 180 mortos. É por isso que as declarações de Lula e sua turma nesses dias exalam a esgoto.

A tragédia no Rio provocou uma onda de pesar e solidariedade raras vezes vista antes no Brasil. Jornalistas, políticos, artistas, todos enfim, demonstraram um ar compungido e de respeito às vítimas, no melhor espírito "somos todos cariocas (ou fluminenses)". De repente, todos pareceram se unir, concentrando-se no socorro aos desabrigados e deixando a política de lado, como os americanos depois do 11 de setembro. E isso é muito bom. É algo extremamente louvável. Tragédias como a do Rio não devem mesmo ser exploradas politicamente por ninguém. Quem o fizer deve ser execrado em praça pública e expulso da convivência com gente decente. Mortos não têm partido.

Exatamente por isso, a pergunta que fica no ar é: por que essa atitude serena, equilibrada, "isenta", não foi adotada por muitos que hoje choram os mortos no Rio quando das chuvas que atingiram São Paulo, há apenas algumas semanas? Por que ninguém disse, então, "agora, somos todos paulistas"?

Em São Paulo, choveu durante 47 dias ininterruptos, e o número de mortos foi bem menor do que os mais de cem que morreram no Rio (detalhe: em apenas UM DIA de temporal). Mesmo assim, petistas e assemelhados deleitaram-se com o episódio, mal contendo a alegria em atacar a "incompetência" e a "negligência" do prefeito Kassab e do agora ex-governador José Serra, em busca de dividendos eleitorais. A mesma atitude serena e compungida que os petistas e seus aliados na imprensa demonstram agora em relação aos mortos no Rio não tiveram em relação aos mortos de São Paulo. Será que é porque São Paulo é governada por tucanos e o Rio por aliados de Lula e Dilma Rousseff? Não, isso seria pensar muito mal dessa gente boa e honesta, não é mesmo?

O pior é que motivo para acusar a irresponsabilidade das autoridades lulistas na catástrofe fluminense é o que não falta. Um dia depois de um barranco desabar em Niterói e deixar mais de 200 pessoas desaparecidas, soterrando casas que haviam sido construídas em cima de um lixão (com conhecimento da prefeitura), os jornais noticiam que o governo Lula transferiu nos últimos tempos, via Ministério da Integração Nacional, algo como 64% do orçamento em "ajuda de emergência" para a Bahia, cabendo ao Estado do Rio de Janeiro 0,9% do total. O Ministério da Integração Regional, a quem cabe, entre outras atribuições, lidar com calamidades, era comandado até a semana passada por Geddel Vieira Lima (apelido: "agatunado"), que vem a ser baiano e está de olho na cadeira de governador do Estado nas eleições deste ano. O atual governador da Bahia, por sua vez, é Jaques Wagner, do PT. Lula reagiu à notícia da maneira que lhe é peculiar: chamou-a de "leviandade", considerando-a, certamente, uma tentativa calhorda de se politizar uma questão que deveria estar acima de picuinhas eleitorais. É, Lula, você tem razão. Calamidades como a do Rio devem mesmo estar acima de considerações políticas. Pergunte a Geddel Vieira Lima.

Mas, pensando bem, por que se surpreender com mais essa tragédia anunciada, tornada ainda mais grave e revoltante pela leviandade petista? Afinal, esse é o mesmo governo que considerou uma "intervenção imperialista" a pronta ajuda dos EUA às vítimas do terremoto no Haiti, transformando o desastre numa ocasião para uma disputa mesquinha com Washington em nome do "protagonismo internacional", não foi?

Nem São Pedro escapou da policanalhada lulista. Ninguém está a salvo.
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P.S.: George W. Bush quase foi crucificado por causa do desastre do furacão Katrina em Nova Orleans, em 2005. A imprensa americana atacou a demora do governo em socorrer os desabrigados. Houve até quem pedisse o impeachment do governo, por incompetência. E Cabral e Dilma, quando isso vai acontecer com eles?

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