A hegemonia lulo-petista no Brasil é tão avassaladora que lembrar o que Dilma dizia até há pouco tempo sobre o aborto - ou o que Lula dizia, antes de chegar ao poder, sobre o assistencialismo e seus aliados de hoje, sem falar nas inegáveis relações do PT com as FARC - é imediatamente descartado como "baixaria" ou como "tática do medo", enquanto que mentir sobre si mesmo e sobre seus adversários é visto como a suprema manifestação da verdade. A questão importante é se fatos sobre uma candidata ao cargo máximo do país devem ser mencionados ou não. É se mentiras deslavadas lançadas sobre seus adversários devem ou não ser desmascaradas. Em 2006, a candidatura de Lula espalhou o boato de que o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, iria privatizar a Petrobras e o Banco do Brasil. Era mentira. Ninguém na imprensa chamou isso de baixaria ou de tática do medo. Alckmin perdeu a eleição. Lula ganhou.
Hoje, a mesma imprensa "neutra" e "imparcial" que tratou um boato contra o tucano Alckmin como se fosse fato trata um fato sobre Dilma como se fosse um boato. Com isso, presta um desserviço à verdade, e ajuda a consolidar uma mentira. Para não passar por conservadora ou "de direita", dá sua chancela moral a uma tentativa de manipulação. Mais que isso: desvia o rumo do debate, transformando-o num plebiscito sobre o aborto em si. A questão não é sobre a moralidade ou não do aborto. É sobre a moralidade ou não de mentir para ganhar uma eleição.
Se Dilma Rousseff se declarasse claramente a favor da estatização de todas as propriedades do país e da legalização do aborto, ela poderia até perder votos, mas sairia dignificada, a meu ver, como uma pessoa honesta, que não foge de uma questão polêmica para agradar a platéia e vencer uma eleição. Seria, enfim, uma política com alma, e não - o que é confirmado a cada dia - uma criação artificial e uma escrava do marketing. Como ela não faz isso, só posso concluir pela segunda alternativa.
A candidata que chama de factóide a violação de sigilos bancários de filhas de adversários políticos acha que é baixaria lembrar o que dizia sobre um assunto há menos de tres anos. Considera de extremo mau gosto recordar o que ela mesma disse, com todas as letras, mas não vê nenhuma baixaria em preparar dossiês e invadir sigilos alheios - sem falar em programas de governo fajutos, entregues às pressas ao TSE para substituir outro texto, mais radical (e, pelo visto, mais sincero). Vai ver que de bom gosto é esconder essas coisas, e apelar para a falsidade pura e simples.
Estamos assistindo a um processo de destruição e substituição da memória coletiva, no estilo orwelliano. Como escreveu o colunista da VEJA, Reinaldo Azevedo, temos, nesse caso, uma clara dicotomia: de um lado, a verdade reacionária; de outro, a mentira progressista. Entre uma e outra, parte da imprensa ficou com a mentira progressista. Reacionária ou não, eu fico com a verdade.
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