O ex-presidente Lula - ele abandonou o cargo há meses, trocando-o pelo de chefe de facção política em tempo integral -, acusou Serra de fazer teatrinho e querer criar um "factóide" (sempre que seus adversários denunciam seus malfeitos, os lulo-petistas dizem ser um factóide). Isso foi um dia antes de o Jornal Nacional desmentir a versão divulgada pelo SBT e pela Record, que mostram apenas a imagem do que parece uma inofensiva bola de papel arremessada contra Serra. O JN preferiu mostrar também as imagens do celular de um jornalista da Folha de S. Paulo, feitas 15 minutos depois em meio ao tumulto, que mostram o que parece ser um objeto pesado atingindo a cabeça do candidato tucano - imagens atestadas como autênticas por um perito.
Resumo da ópera(bufa): O candidato rival dos lulo-petistas foi vítima de agressão por uma horda de militantes possuídos pelo ódio que agiram como um bando de gorilas ou como tropa de choque fascista, e isso está provado cientificamente pela análise pericial das imagens. O (ex)presidente da República, que, em vez de repudiar a agressão - como faria se fosse um estadista, e não um chefe de torcida -, açula seus seguidores à intolerância, é o chefe dessa milícia de camisas-pardas (ou vermelhas). E nada disso, assim como a análise das imagens, vai mudar a versão lulo-petista: "foi uma bolinha de papel"...
O episódio todo, que parece pequeno, é extremamente grave. Além de demonstrar o desprezo boçal de um presidente da República transformado em animador de comício pelas regras da democracia e da civilização - pela primeira vez na história do Pais, um candidato à Presidência da República foi vítima de agressão física, instigada pelo ocupante do Palácio do Planalto, que ainda por cima acusa a vítima -, o fato comprova, na verdade, um padrão, monotonamente seguido pelos lulo-petistas sempre que divulgados fatos que não lhes convêm ou agradam (como as declarações de Dilma sobre o aborto, por exemplo):
Desde 2003, esse padrão tem-se repetido com freqüência quase religiosa. Com poucas variações, até as palavras são as mesmas. Além das que estão aí em cima, "conspiração das elites golpistas" é um termo-chave (ou chavão) empregado constantemente, bem como atribuir tudo a um "excesso" de alguns poucos "aloprados". Dizer-se traído (mas com o cuidado de omitir o nome do suposto traidor) também pode ser útil para livrar a cara do chefe.
Dizem que, em um dos processos de Moscou, quando o ditador soviético Josef Stálin resolveu exterminar seus potenciais inimigos na década de 30, um dos réus, convencido da inutilidade de qualquer defesa no tribunal - os veredictos estavam decididos antes do próprio julgamento -, virou-se para um dos membros do Partido e perguntou: "o que devo pensar?" Com os lulo-petistas, ocorre o mesmo. Se vêem um fato que não lhes convém, não analisam se é ou não verdade: viram-se e perguntam para o chefe: "o que devo pensar?" É que já abdicaram de pensar há muito tempo.
George Orwell, em sua obra-prima 1984, resume de forma genial esse processo de construção mental: se alguém lhe mostra quatro dedos, e o Grande Irmão diz que, em vez de quatro, são cinco, você nega o que está diante de seus olhos e diz que são cinco. Mais: depois de algum tempo, passa a acreditar que, de fato, são cinco.
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