sexta-feira, março 26, 2010

"FODA-SE A CONSTITUIÇÃO!"


Lula fez um discurso no dia 25 em que deixou claro para quem quiser saber qual a idéia que ele tem sobre o que deve ser a imprensa no califado lulista. Afirmou, pela enésima vez, que imprensa boa é a que fala bem dele, Lula. Certamente inspirado pelo exemplo de sua ilha do coração, onde manda e desmanda há mais de cinqüenta anos um par de tiranos decrépitos, e onde a única imprensa existente é a que diz a "coisa certa" (ou seja: a favor do governo), ele, Lula, deitou falação contra um de seus principais inimigos, a liberdade de imprensa.

O Estadão não perdoou. Reproduzo aqui o editorial de hoje, dia 26. Ele menciona um episódio que já citei aqui, envolvendo um jornalista estrangeiro, e que é bastante revelador do apreço que nosso presidente tem pelas leis do País. É mais um texto que deveria ser guardado para ser lido daqui a alguns anos, quando os historiadores se debruçarão sobre essa quadra tenebrosa que estamos atravessando.

Mais uma vez: parabéns ao Estadão!

*
Luiz Inácio Lula da Silva não é o primeiro nem será o último chefe de governo, em qualquer instância e de qualquer país democrático, a se queixar da imprensa. Para não ir muito atrás, nem muito longe, o que se falava mal da mídia no Palácio do Planalto do presidente Fernando Henrique e o que se fala no Palácio dos Bandeirantes do ainda governador José Serra, por exemplo, ocupariam páginas inteiras de um periódico. Jornalistas - essa a reclamação recorrente nos palácios de todas as cores - ignoram na maior parte do tempo o que se faz de bom (e o esforço que isso demanda), só destacam o que vai mal (sem se aprofundar nas causas dos problemas) e preferem a fofoca aos fatos relevantes (porque estes dão mais trabalho para apurar).

Há, no entanto, uma diferença - não de grau, mas de natureza - entre os protestos dos que se julgam injustiçados pelos meios de comunicação e os sistemáticos ataques de Lula à imprensa a que acusa, indistintamente, de tratar o seu governo com “má-fé”. Governadores e prefeitos, ministros e secretários podem deplorar a suposta miopia do noticiário, mas reconhecem a carga inerente de tensão no seu relacionamento com o jornalismo que a eles não se subordina. Já o caso de Lula é obsessão. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, ele está em campanha para demolir a credibilidade dos órgãos de informação. As suas diatribes, como a de anteontem, durante um evento, são uma mistura de vezo autoritário com ressentimento de classe, agravada pelo descontrole emocional diante da mera expectativa de receber críticas.

No passado, Lula dizia que não teria se tornado o que se tornou, a ponto de disputar a Presidência da República, não fosse a liberdade de imprensa no Brasil. Foi ela quem de fato propeliu o seu nome, cobrindo passo a passo a sua trajetória, fossem quais fossem os julgamentos que pudesse fazer a seu respeito. Isso não mudou, mas o que Lula hoje entende por liberdade de imprensa é uma caricatura grotesca. “É triste”, investiu, “quando as pessoas têm o direito de escrever as coisas certas e escrevem as coisas erradas.” Nas democracias, as pessoas têm o direito de escrever ? ponto. Nas ditaduras, quem diz o que é certo ou errado é o ditador. Para Lula, o certo seria a imprensa dizer que o PAC é uma maravilha. O errado, informar que apenas 11% de suas obras foram concluídas e 54% não saíram do papel.

Certo também seria a imprensa olhar para o outro lado enquanto ele promove, com assombroso despudor, a candidatura Dilma Rousseff. Na mesma ocasião em que vociferou contra a mídia, deu a deixa para a platéia gritar o nome da ministra, ao afirmar: “Eu não posso dizer quem vai ser (o sucessor), eu não posso dizer, porque, porque? vamos aguardar.” Errado é noticiar que Dilma inaugura obras que não estão concluídas. Lula afirma que a imprensa tem predileção pela desgraça “para dizer: “viu, o menino não era letrado, o menino nasceu para ser torneiro mecânico. A partir daí já é abuso”". Ele jamais se cansará de fazer praça de suas origens ? menos por justo orgulho do que para insuflar o eleitorado pobre. Mas nunca pôs a sua formidável popularidade a serviço da educação, dizendo algo como “se sou o que sou sem ter estudado, imaginem o que eu seria se tivesse”.

Os historiadores do futuro certamente terão muito a dizer sobre a contribuição do governo Lula para o prosseguimento das transformações pelas quais o País começou a passar nos anos 1990. Tampouco deixarão de registrar que a democracia lhe deve a decisão de não buscar um terceiro mandato mediante emenda constitucional. Mas haverão de lembrar que nunca antes neste país, em regime democrático, um presidente havia manifestado tanto ódio pela imprensa livre. Lula é o governante que, com pouco mais de um ano no poder, tentou expulsar do País o correspondente do New York Times por ter escrito uma reportagem (de duvidosa qualidade, por sinal) sobre o que seria o seu gosto pela bebida. Alertado pelo então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, de que a expulsão seria inconstitucional (o jornalista era casado com uma brasileira), Lula explodiu: “F-se a Constituição.”

Um comentário:

Unknown disse...

Lula e sua mídia alienadora!
Presidente como esse merece IMPITIMAM,se é que ainda existe nesse país livre e de todos.
Vamos impedir que o LULA possa exercer o cargo de manipulador do nosso povo BRASILEIRO!!