segunda-feira, março 22, 2010

RESPONDO A UM LEITOR. E APROVEITO PARA LEMBRAR CERTAS REGRAS GRAMATICAIS


Leitor anônimo me escreve. Eu respondo. E aproveito para prestar uma homenagem à Inculta e Bela - cada vez mais Inculta e cada vez menos Bela, por culpa de comentários como o que transcrevo a seguir.
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Acho interessante o fato de que você preza pelo Nobel de Arias e zomba do Nobel de Obama, isso mostra o quão equilibrado você é em suas reflexões.
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Você acredita mesmo então que os Americanos não tem nenhuma responsabilidade com o que acontece na America Latina, eles são vitima de um pensamento esquerdista que não encherga a imconpetencia do proprio umbigo?
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Citando somente o comercio internacional, os EUA e a UE possuem centenas de salvaguardas com os produtos brasileiros, são sobretaxas que tornam nosso produto praticametne inconsumiveis no exterior, isso sem tocar no assunto do algodão no qual os produtores locais são subsidiados pelo governo ou até nosso Etanol. Em contrapartida este ano as medidas governamentais causaram estranheza ao sobretaxar as importações americanas.
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Me deti apenas na área comercial veja o porque os americanos enriqueceram tanto, você conhece a historia a partir da 2 guerra mundial e assim como todos sabe porque os americanos prosperaram tanto, as custa de que, de quem e quantos povos explorados, e no mais Costa Rica é quintal americano e todos sabemos disso.
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Seu leitor anonimo.
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Contei quatorze erros de português (regência, concordância, conjugação, acentuação e ortografia, sem contar os de pontuação, como a falta de vírgulas) no comentário acima. Tratarei disso mais adiante. Por enquanto, vamos aos "argumentos" expostos.
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Primeiro: quem lhe disse que eu sou "equilibrado" em minhas reflexões? Não sou "equilibrado" coisa nenhuma. Para mim, entre Oscar Arias e Barack Obama, assim como entre Bush e Saddam, ou entre Israel e o Irã, fico com os primeiros contra os últimos. "Equilibrado" é um eufemismo para designar os isentistas, os nenhumladistas que acham que todos se equivalem moralmente - o que significa, em 100% dos casos, atacar a democracia e justificar o crime e a opressão. Basta ler qualquer texto meu para perceber que não tenho qualquer pretensão em ser "equilibrado" entre o bem e o mal. Deixo isso para Lula e seus bajuladores.
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Além disso, Oscar Arias ganhou o Nobel da Paz por ter intermediado o processo de paz na América Central nos anos 80. E Obama, o que fez para merecer o prêmio? - concedido 12 (doze) dias depois de sua posse, ainda por cima.
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Não, não digo que os americanos "não têm nenhuma responsabilidade" pelo que ocorre abaixo do Rio Grande. Jamais disse isso. Acredito que os americanos não têm responsabilidade pelo que de pior acontece na América Latina. Diga-me que responsabilidade têm os americanos pela prisão e tortura de opositores políticos em Cuba, ou pela supressão das liberdades na Venezuela, ou pelo narcoterrorismo das FARC, ou pelo Foro de São Paulo, ou pela corrupção do PT. Acredito, sim, que o antiamericanismo é uma excelente forma de transferir responsabilidades e, portanto, perpetuar o atraso. É um discurso feito sob medida para esconder as verdadeiras causas dos problemas e para garantir que eles se perpetuem.
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Sobre comércio internacional: salvaguardas e taxações existem também da parte do governo brasileiro em relação a produtos americanos, assim como europeus ou japoneses, e não vi ninguém até agora, muito menos os americanos, dizendo que o Brasil é responsável pelos problemas nesses países.
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Aliás, é curioso: lembro que, durante a campanha presidencial nos EUA, muita gente no setor empresarial torcia secretamente pelo McCain, porque os republicanos sempre foram mais inclinados ao livre-comércio e ao fim de salvaguardas do que os democratas. Agora vêm os antiamericanos, os mesmos que torceram pelo Obama, e se queixam dele por seu protecionismo... Que irônico, não? (Ou melhor: que esquizofrênico, não?)
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Deixe-me ver se entendi... Então, os americanos enriqueceram às custas de nós, pobres latino-americanos, devido à exploração das multinacionais etc.? Por que será que eu senti um cheiro de mofo aí? Mas tudo bem, vou levar a sério, por um momento, essa discurseira terceiromundista e nacionalisteira (sou uma pessoa caridosa). Digamos, por um instante, que os EUA são mesmo o lobo feroz imperialista de que falam os esquerdistas. Nesse caso, o "quintal" Costa Rica é uma prova de que esse tal imperialismo é uma coisa muito boa. Sim, porque, ao contrário de outros países que bravamente resistem ao imperialismo ianque, como Cuba e Venezuela, o país exibe alguns dos melhores índices econômicos e sociais da América Latina. Se não acredita em mim, faça uma pesquisa e compare. Bendito imperialismo!
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Analisemos agora a qualidade do idioma em que foi escrito o comentário, que imagino ser o Português:
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- O verbo "prezar" (sinônimos: respeitar, considerar) tem a mesma regência e mesma conjugação de verbos derivados, como "desprezar". Não se diz "você preza pelo", mas você preza "o/a" ou "os/as", ou "o quê", "quem". Por exemplo: "Prezo quem usa corretamente as regras gramaticas". E: "Desprezo quem violenta a Língua Portuguesa".
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- O verbo "ter", no sentido de "possuir", deve concordar com o sujeito, como qualquer verbo, aliás. Isso significa que, na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, ele leva acento circunflexo, justamente para distinguir-se da terceira pessoa do singular. Assim, o correto é "eles não têm".
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- Quem tem responsabilidade a tem por alguma coisa ou alguém, e não "com". O certo é "eles têm responsabilidade pelo que acontece", e não "com o que".
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- Assim como os verbos concordam com o sujeito, os substantivos também concordam com os artigos e pronomes. O correto não é "as vitima", e sim "as vítimas" - e com acento agudo, pois do contrário o substantivo se transforma em verbo.
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- O que significa "encherga"? Conheço o verbo enxergar, com "x". E "imconpetencia"? Só conheço a palavra "incompetência", que designa quem é incapaz de escrever corretamente no próprio idioma.
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- O que é "enchergar a imconpetencia do próprio umbigo" (sic)?
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- Imagino que o caro leitor quis dizer "comércio", não "comercio". A primeira palavra é substantivo; a segunda, verbo.
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- Até onde sei, a palavra salvaguarda não leva "com" como complemento. O certo é "salvaguardas aos produtos brasileiros", ou "contra os produtos brasileiros".
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- "Praticametne" eu até deixo passar, deve ter sido erro de digitação. Mas, "inconsumiveis"? Onde foi parar o acento agudo no segundo "i"? E cadê a concordância do adjetivo com o substantivo ao qual aquele se refere, "produto", que vem no singular (logo, deveria ser "inconsumível", e não "inconsumíveis")?
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- Desconheço essa construção verbal, "me deti". Além de a posição do pronome estar incorreta - em começo de frase, ou após pausa, usa-se ênclise, não próclise -, confesso que ignoro totalmente o que significa a palavra "deti". Presumo, por pura especulação minha, que o que o autor quis dizer foi detive-me - o verbo pronominal "deter-se" conjugado na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo, da mesma forma que o verbo "ter" ("eu tive, tu tiveste, ele teve..."). É assim que se escreve.
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- Do mesmo modo, a palavra "porque", junta e sem acento, denota resposta, para se diferenciar de "por que", usada como pergunta. Quando é precedida do artigo definido "o" ou "os", deve levar, necessariamente, acento circunflexo, transformando-se em "o porquê". Por exemplo: "Não entendo o porquê de alguém se sujeitar a tanta humilhação".
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- Novamente, o uso errado do "porque" na frase "(...) você (...) sabe porque os americanos prosperaram". O "porque", junto e sem acento, é usado como resposta, como disse acima. Quando é usado como explicação, podendo ser acrescido da palavra "razão" ou "motivo", ou quando pode ser substituído por "pelo qual" e derivados ("pela qual", "pelos quais", "pelas quais") vem separado e sem acento. Exemplos: "Eu sei por que é importante estudar a Gramática". "Esse é o motivo por que você deve ler o que escreve".
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- A expressão "as custa de" carece de qualquer sentido. Se o leitor quis dizer "às custas de", com crase e no plural, aí sim, temos um exemplo de uma expressão da Língua Portuguesa, e não de um barbarismo.
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- Finalmente, o correto é "anônimo" (ou "anónimo", se for em Portugal), com acento circunflexo no primeiro "o", e não "anonimo".
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Por que corrijo o português dos outros? Não por pedantismo, mas porque o bom uso do idioma significa também o bom uso da Lógica. Onde falta um, geralmente - quase sempre - falta o outro. E é esse precisamente o caso. Mais uma vez.

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