quarta-feira, março 17, 2010

A GRANDEZA QUE LULA JAMAIS TERÁ


Em 1979, o senador alagoano Teotônio Vilela surpreendeu o Brasil. Naquele ano, o parlamentar da ARENA, percebendo a maré contra a ditadura e a favor da democracia que tomava conta de todos - foi o ano da Anistia e da volta dos exilados políticos -, bandeou-se para o lado do MDB, o partido da oposição ao regime militar. Até morrer, de câncer, em 1983, o velho político conservador, rico usineiro ligado às oligarquias em Alagoas, ex-udenista e apoiador entusiasmado do golpe de 64, tornou-se um símbolo da redemocratização, um dos lutadores mais aguerridos pelo fim do arbítrio e pela volta das liberdades civis. Milton Nascimento dedicou-lhe uma bela canção, O Menestrel das Alagoas, parte da trilha sonora política dos anos 80.(Quem é esse viajante/Quem é esse menestrel/Que espalha esperança/E transforma sal em mel?)

Um dia, em visita a presos políticos brasileiros, que faziam greve de fome contra as condições carcerárias a que eram submetidos pelo regime dos generais, reivindicando, entre outras coisas, não ser misturados aos criminosos comuns, Teotônio Vilela aproximou-se deles e, ajoelhando-se, entre lágrimas, humildemente pediu-lhes perdão. "Perdão por não ter visto antes essa barbárie", foram as palavras emocionadas e emocionantes do Menestrel das Alagoas.

Não está claro se a guinada de Teotônio Vilela, de apoiador a opositor do regime militar, ocorreu por convicção democrática ou por cálculo político. Provavelmente, jamais saberemos. Mas uma coisa é certa: seu gesto de contrição foi genuíno. Seu arrependimento, até prova em contrário, foi sincero. Seu pedido de perdão foi um momento da consciência nacional. Por sua atitude de grandeza, Teotônio Vilela é até hoje lembrado como um gigante da luta pela democracia no Brasil. Uma voz da razão.

Bem diferente foi a atitude de Luiz Inácio Lula da Silva quando, em visita a seus amigos Raúl e Fidel Castro em Cuba, ignorou solenemente o pedido de socorro de dissidentes cubanos. Mais que isso: chamou de "pretexto" a greve de fome como forma de luta pelos direitos humanos na ilha-cárcere. Mais que isso: comparou a bandidos comuns os opositores dos Castro. Mais que isso: legitimou a repressão de que são vítimas. Mais que isso: acusou um deles, Orlando Zapata Tamayo, morto após 85 dias de greve de fome, pela própria morte. Seus auxiliares diretos não ficaram atrás em ignomínia. Celso Amorim tentou pôr panos quentes, e aproveitou para dar mais corda no culto da personalidade do chefe, ao comparar a greve de fome até a morte de Zapata com o jejum de quatro dias que Lula fez em 1980, à base de guloseimas escondidas. Marco Aurélio Garcia banalizou a repressão na ilha-presídio, dizendo que violações aos direitos humanos ocorrem no mundo todo.

Entre os prisioneiros políticos a quem Teotônio Vilela suplicou pelo perdão por seus anos de apoio a um regime que torturava e matava estavam terroristas condenados por crimes de sangue, como assassinato, seqüestro, assaltos a banco e atentados à bomba. Dificilmente algum deles, se estivesse no lugar de Vilela, faria o mesmo em relação a seus inimigos aprisionados. Não eram prisioneiros de consciência, detidos pelo "crime" de discordarem do governo. Orlando Zapata Tamayo era. Assim como Guillermo Fariñas, outro opositor do totalitarismo castrista, também em greve de fome contra o regime arbitrário idolatrado por Lula e pela esquerda brasileira. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Fariñas deixou claro o abismo moral que separa Lula de Teotônio Vilela: "Considero Lula da Silva um assassino, um cúmplice da tirania dos Castro".

Teotônio Vilela era um político de direita que não se furtou em pedir perdão às vítimas do regime autoritário que apoiara e em abraçar a causa da democracia e dos direitos humanos. Até então, ele era visto apenas como um conservador, um velho oligarca nordestino, até mesmo um reacionário. Teve a hombridade de reconhecer que estava do lado errado e se arrependeu disso, passando à História como o Menestrel das Alagoas, um monumento de decência, um arauto do Bem e do Justo. Lula não teve essa grandeza, nem a terá.
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Teotônio Vilela era de direita. Lula, embora diga que não, é de esquerda. Qual dos dois, Vilela ou Lula, é um progressista, um humanista, um defensor da liberdade e da humanidade?

Um comentário:

Anônimo disse...

Cabe novamente:

"Eis aqui um pequeno exemplo de poder: Imaginemos que sois o novo rei de um país e desejais ter a segurança de continuar sendo. Então, convocais separadamente duas pessoas das quais tendes a certeza de que elas farão o que lhes direis. Para uma dareis diretrizes “de esquerda” e a financiareis para que ela possa criar um partido. Com a outra agireis da mesma forma, fazendo-a criar um partido “de direita”.

Acabais de dar vida a dois partidos de oposição, financiais a propaganda, os votos, as ações e estais exatamente a par de seus mínimos planos. O que significa que controlais os dois. Para que um partido tenha vantagem sobre o outro, só tendes de lhe dar mais dinheiro. Os dois chefes de partido crêem ter-vos a seu lado, e sois assim “amigo” dos dois." - texto de Jan Van Helsig