sexta-feira, março 12, 2010

POLÍTICA EXTERNA DEPENDENTE... E INDECENTE


Sempre que olho para a atual política externa brasileira, a pergunta que me vem à mente é: como podem inverter tão cinicamente a realidade?

Os porta-vozes do governo Lula se gabam da "independência" da diplomacia lulista. Orgulham-se das "demonstrações de soberania" do Itamaraty diante das "grandes potências". Batem ufanisticamente no peito e dizem que agora - e somente agora - o Brasil é um país respeitado (antes, devia ser um Burundi ou um Haiti). E isso graças a Lula, o maior líder da História do Universo, que refundou um país destroçado e sem rumo e que, nos momentos de folga entre uma obra e outra do PAC, fez a Grande Muralha da China e as Pirâmides do Egito. Ao mesmo tempo, acusam os governos anteriores de "ajoelhar-se" e de "subverviência" a outros países - em especial, aos EUA. Como se a data da Independência do Brasil fosse 2003, e não 1822.

É mais uma mentira da era Lula. Nunca o Brasil teve uma diplomacia tão dependente, tão pouco soberana. Nem mesmo na época do governo Dutra ou durante o regime militar - que os esquerdistas adoram citar como paradigmas de submissão diplomática aos EUA, o que está, aliás, longe da verdade -, a política externa brasileira esteve tão subordinada a Washington. Nunca antes na história destepaiz o Brasil dependeu tanto de outros para dizer o que pensa.

Desde 2003, o antiamericanismo é a única pauta da política externa brasileira. Pegue qualquer tema da agenda internacional - meio ambiente, comércio exterior, desamarmento, sem falar em temas como Cuba, Irã, Venezuela ou Honduras -, e o que se verá é o seguinte raciocínio do governo brasileiro: os EUA são a favor ou são contra? Se são contra, somos a favor; se são a favor, somos contra.

É um processo curioso de inversão psicológica. Os estrategistas do governo Lula acreditam que, ao apoiar incondicionalmente tiranias como a cubana ou a iraniana, estão mostrando independência. É exatamente o contrário. Ao atrelar suas decisões a uma lógica de confronto com os EUA, o governo Lula, em sua ânsia de mostrar "soberania", mostra-se na verdade dependente do que pensa e faz a Casa Branca. As decisões que moldam a ação internacional do Brasil passam a ser tomadas em Washington, não em Brasília. É como aquele aluno chato que, por birra, faz tudo ao contrário do que o professor diz: ele acredita estar agindo de forma independente, mas, em sua rebeldia juvenil, não percebe que está sendo pautado. Não age conforme a própria consciência, mas em função de outra pessoa. Está ainda em fase de formação de sua personalidade, então sente necessidade de se definir em relação ao "outro" - sendo o outro, nesse caso, uma figura de autoridade. Enfim, precisa aparentar independência e rebelar-se, pois não "se garante".

Qualquer psicólogo diria que isso revela apenas insegurança, além de imaturidade. Nesse caso, uma imaturidade incompatível com quem pretende ser um dia uma "potência mundial". Por um estranho paradoxo, ao embarcar na retórica antimericana, o País recusa-se a ter voz própria sobre temas candentes das relações internacionais. Isso ocorre em casos como o do Irã, em que o Itamaraty, para afrontar os EUA, não hesita mesmo em se isolar internacionalmente, dando um tiro no próprio pé. Lula e seus aduladores abraçaram a defesa incondicional - faço questao de repetir - de regimes ditatoriais e genocidas em nome do antiamericanismo, e não dos interesses nacionais brasileiros - e a defesa da democracia e dos direitos humanos, queiram ou não os lulistas, é do interesse da sociedade brasileira. O resultado é duplamente contraproducente: além de se associar ao que de pior existe na humanidade, o País demonstra falta de um pensamento próprio a propósito desses temas, em nome de um geiselianismo de quinta categoria. Afinal, o Brasil não tem nada a dizer ao mundo sobre democracia e direitos humanos? Esses temas não estão na pauta de sua agenda internacional?
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Façam o seguinte exercício: imaginem que um dia os EUA resolvam dar uma guinada e mudem radicalmente sua política em relação ao Irã ou a Cuba. Que passem a defender as ditaduras desses países, com os quais estão em guerra há décadas. O que fará o Itamaraty lulista? Persistirá em sua política atual ou irá ajustá-la às novas condições, mudando o discurso anterior para adequá-lo à nova posição norte-americana? Em qualquer caso, onde está uma posição firme e definida do governo brasileiro na questão, baseada na defesa dos interesses nacionais, e não nos movimentos da Casa Branca?

Vez ou outra, os defensores da diplomacia lulista se referem às "mentes colonizadas" que gostariam que o Brasil regredisse à condição de colônia e ao "alinhamento automático" com os EUA. Curiosamente, são os mesmos que advogam o alinhamento automático - aí sim - com as piores ditaduras do planeta, por nenhum motivo aparente senão mostrar "soberania". Apóiam a parte podre da humanidade porque os EUA estão do outro lado. Dificilmente alguém achará exemplo melhor de como funciona uma mente colonizada, incapaz de pensamento e ação próprios.

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Está mais do que na hora de o Brasil se livrar de sua subordinação mental aos EUA. O caminho para isso é mostrar que defende a democracia e a liberdade como princípios válidos universalmente, e que não hesita em fazê-lo por causa de quem quer que seja. Nunca antes na história a diplomacia brasileira foi tão subserviente. E indecente.

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