sexta-feira, março 26, 2010

LULA, O PACIFISTA (OU: COMO CONSEGUIR A PAZ CONVERSANDO COM QUEM NÃO QUER... A PAZ!)


O cavalheiro à direita também não queria a paz...
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“As pessoas não percebem que o acordo no Oriente Médio não acontece exatamente porque não se conversa com quem não quer a paz”.

“Não se conversa com todos os interlocutores que estão envolvidos. Por exemplo, quem é que vai conversar com o Hamas? Com o Hezbollah? Quem é que vai conversar com a Síria? Quem é que vai conversar com Irã?”

As palavras acima, vocês já devem ter adivinhado, foram ditas por ele, vocês-sabem-quem. O presidente do mundo e candidato a Messias Universal as proferiu em um evento no dia 25, para comemorar o Dia da Cultura Árabe, em São Paulo. Houve quem aplaudisse. Ele disse outras barbaridades sobre outros assuntos também, como a crise econômica mundial (que não teria sido tão grave no Brasil por causa da "diversificação dos contatos comerciais com o mundo árabe" etc.). Mas fico com as duas afirmações lapidares acima. Elas resumem com exatidão quem é, o que é e o que "pensa" nosso Mestre e Guia Genial, o estadista global, o homem que mais entende de política externa na História do Universo, a ponto de agora querer ensinar a paz a israelenses, palestinos, árabes e iranianos.

Quer saber como destrinchar o nó e alcançar a paz no conflito do Oriente Médio, que já dura mais de sessenta anos? A ONU não sabe, os EUA não sabem, a União Européia não sabe. Mas Lula sabe. Lula tem a resposta. Basta conversar com todo mundo, diz o Demiurgo. Com todo mundo? Com todo mundo. Com quem quer a paz? Sim, claro. E com quem NÃO QUER a paz também? Também, segundo Lula. Aliás, principalmente com estes. É aí que está a grande sacada! De acordo com esse grande sábio, só não há paz na região exatamente porque não se conversa com os inimigos da... paz! Segundo esse raciocínio brilhante, os israelenses, ao invés de se defenderem quando atacados, deveriam baixar as armas e se deixar imolar. Outros já tentaram no passado, inclusive com idéias de uma "solução final" para o "problema judaico". Mas com o Hamas, o Hezbollah, a Síria e o Irã seria diferente, afirma Lula... Ele deve achar que os seis milhões de judeus mortos pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial não foram o bastante. Deve acreditar que morreram tantos porque alguns, uma minoria, resistiram, e que, se todos tivessem se deixado assassinar passivamente e conversado com seus carrascos, o Holocausto não teria existido.

Não é genial? Acho que, a essa altura, Barack Obama e Benjamin Netanyahu devem estar batendo a cabeça na parede e se perguntando: "Como é que eu não pensei nisso antes?" O Hamas, o Hezbollah, a Síria, o Irã - que patrocinam os dois primeiros -, enfim, todos os que não querem a paz, que fazem tudo para sabotá-la, os que não reconhecem o direito do outro existir são... interlocutores da paz! Ora vejam só! Que descoberta incrível! Basta chamá-los para conversar, segundo Lula, que eles irão parar de lançar homens-bomba contra alvos israelenses e vão desistir do seu plano juramentado de transformar Israel numa pilha de ossos e num mar de sangue. Onde está a Academia Sueca, que não deu ainda o Prêmio Nobel a esse grande pacifista, a esse eminente pensador e filósofo da paz?

Fico cá pensando: imagine que um louco fanático com idéias homicidas e armado atés os dentes jurou que vai lhe matar e a toda sua família. Ele não reconhece seu direito a continuar respirando, e já deixou claro, com palavras e atos, que não sossegará enquanto não lhe vir com a boca cheia de formiga ou debaixo de sete palmos de terra. Ele não quer a paz, quer a guerra. Você, claro, como bom pacifista e seguidor de Lula, não tomará nenhuma providência para se defender. Em vez disso, irá ignorar essa intenção de seu inimigo e, imitando Gandhi, vai chamá-lo para um jantar ou para um bate-papo no bar. O que irão debater? Tenho um palpite: a data de seu enterro...

Já citei várias vezes esse exemplo, mas não custa nada repetir: em 1938, gente pacifista e bem-intencionada acreditou que era possível garantir a paz conversando com quem não queria a paz. Resultado: em vez da paz, tiveram a guerra, a mais destrutiva de todos os tempos. E a vergonha eterna de ter ajudado a desencadeá-la. Mas Lula não sabe do que estou falando. Ele não conhece História. Ele não sabe nada.

Estou comparando Lula com o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, que passou para a História como o idiota enganado por Hitler com a promessa de "paz para o nosso tempo" e que foi, involuntariamente, um dos causadores da Segunda Guerra Mundial? Estou sendo injusto. Com Chamberlain, não com Lula. O inglês era pelo menos bem-intencionado, e acreditava que poderia apaziguar o ditador nazista, atendendo suas exigências territoriais em troca de paz. Lula é diferente. Ele não é um bobalhão equivocado, um estadista iludido pelas boas intenções. É, isso sim, um aliado incondicional da tirania iraniana. O que significa dizer: também do Hamas e do Hezbollah, que aquela patrocina e financia. Ao contrário de Chamberlain, Lula escolheu um lado - o lado dos que não querem a paz, dos que lutam contra ela.

Assim como tem lado e acredita ter descoberto a fórmula mágica para a paz no Oriente Médio, Lula já escolheu um culpado: Israel. Para ele, a culpa pelo conflito na região é dos israelenses, que não se deixam matar pelos "interlocutores" do Hamas e do Hezbollah. Assim como deve acreditar que foi deles, dos judeus, e não dos nazistas, a culpa pelo Holocausto. Para Lula, terroristas são interlocutores confiáveis numa negociação para a paz. Para Lula, a paz é feita por quem a despreza.

Em maio, Lula estará em visita ao Irã. Vai retribuir a visita espalhafatosa que seu amigo e interlocutor Mahmoud Ahmadinejad fez a Brasília, em novembro. O iraniano já disse que não quer a paz com Israel. Pelo contrário: quer destruir Israel, varrê-lo do mapa, exterminar sua população. E trabalha intensamente nesse sentido, dando armas aos terroristas do Hamas e do Hezbollah. Mas isso, para Lula, não tem importância. Sob ahmadinejad, o Irã está afrontando o mundo com um programa nuclear secreto, que até cegos de nascença já perceberam que visa a obter armas nucleares e que tem endereço certo: Israel. Mas isso, para Lula, não importa. O importante é que é preciso conversar com todo mundo, principalmente com quem não quer a paz. Com isso, Lula e Celso Amorim esperam dar um grande passo à frente, e elevar o Brasil à condição de importante mediador do conflito mais antigo do mundo. Só não sabem que o salto, no caso, será para um abismo. E que o Brasil irá, sim, converter-se em medidador internacional, mas de uma negociação para trocar cadáveres. Ou cinzas.

Lula acha que a questão do Oriente Médio é igual a uma negociação entre a CUT e a FIESP. Acredita, sinceramente ou não, que tem algo a dizer sobre o assunto, e que todos devem ouvi-lo. E ainda há quem ache que eu pego demais no pé de Lula e de sua política externa aloprada e megalonanica.

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