quinta-feira, março 04, 2010

COMO JUSTIFICAR UMA TIRANIA SEM PARECER QUE O ESTÁ FAZENDO


Aí alguém me escreve sobre o post "Um comentário para ficar preocupado":
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De Cuba são úteis as heranças do favela-bairro (mal empregado no Brasil), e médico de família (que não justifica a verba miserável destinada a saúde brasileira). Lembrando que os exemplos não justificam a tirania na ilha.
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Odeio dar aula de "Massinha I" para quem não consegue tomar sorvete sem sujar a testa ou se recusa a raciocinar em posição ereta, mas lá vai. Sou um cara paciente.
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Quem enxerga alguma coisa "útil" em um regime como o de Cuba está, mesmo que diga que não, justificando-o. Isso porque está obrigado, pela lógica, a reconhecer os aspectos "úteis" dos seguintes regimes:
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da ex-URSS (1917-1991): o programa espacial e a erradicação do analfabetismo;
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da ex-Alemanha Oriental (1949-1990): os quilos de medalhas olímpicas que o regime comunista ganhava a mais do que a Alemanha Ocidental, capitalista (aliás, Cuba também é conhecida pelo desempenho de seus atletas em competições internacionais);
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da Coréia do Norte (desde 1948): a ausência de engarrafamentos no trânsito e as coreografias em massa ("olha: aulas de balé para as crianças!");
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da Alemanha nazista (1933-1945): a eliminação do desemprego, o sistema de saúde pública, a previdência social, a construção de estradas, a legislação de proteção ao meio ambiente (by Herman Göring);
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da Itália fascista (1922-1943): os trens chegando na hora e a legislação trabalhista.
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Agora imaginem alguém apontando para as "conquistas" referidas acima dos regimes totalitários. Imaginem alguém chamando a atenção para esses fatos para mostrar que tais ditaduras tinham, enfim, um "lado positivo" e "louvável". Com que outro objetivo o faria senão para JUSTIFICAR a tirania? Por que o caso de Cuba seria diferente?
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Qualquer indivíduo que tiver a ousadia de se referir aos aspectos "úteis" ou "positivos" das tiranias citadas acima, invocando para qualquer uma delas o status de "ditadura benigna", deve estar preparado para ser, com razão, execrado em praça pública como um cúmplice de assassinato ou, na melhor das hipóteses, como um idiota útil a serviço dessas ditaduras. Mas é isso exatamente o que muita gente, de boa ou má fé, faz em relação à tirania dos Castro em Cuba: esta seria uma ditadura, mas "do bem", ou seja, que censura, prende, tortura e mata, mas faz isso tudo para o bem do povo...
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Vou repetir para que fique bem claro: ainda que - notem bem: ainda que - Cuba tivesse o melhor sistema de saúde pública e os melhores programas sociais do mundo, ainda que o país fosse um paraíso de igualdade em que todos fossem bem alimentados, fortes e saudáveis, isso não justificaria em absolutamente nada a ausência de liberdades na ilha-presídio. Não justificaria a existência de presos políticos, os fuzilamentos ou a censura.
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O único motivo que leva alguém a mencionar supostas "conquistas sociais" da castradura cubana, ou de qualquer outra ditadura, é a ânsia em justificar a opressão. E não há nada de útil nisso, a não ser para a tirania. Há, sim, muita ingenuidade ou muita canalhice.

Um comentário:

Zek disse...

Ano passado teve um dos maiores concertos da historia em Cuba, com artistas renomados se apresentando por lá na "ilha prisão", inclusive o conhecido " orishas" um grupo cubano que entra e sai da ilha a todo momento, por que ilha presidio??