Tinha prometido a mim mesmo que não ia mais falar das cenas de cinismo explicitas protagonizadas pelo Aiatolula e por seu cumpincha totalitário, Raúl Castro, ao comentarem a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo em Cuba, ontem. Mas não posso evitar fazer mais um comentário. Simplesmente o fedor da coisa é grande demais para ser ignorado. Como acontece com uma cloaca de esgoto a céu aberto, é impossível fingir que esta não existe. É preciso encarar a porcaria. Como uma questão de saúde pública.
A imagem acima está nos principais jornais de hoje. Ela mostra Lula, num exercício de metalinguagem macabra, tirando uma foto de seu ídolo, o mico mandante Fidel, que posa ao lado do irmão Raúl e de Franklin Martins, atual ministro da Comunicação de Lula, ex-dirigente do MR-8 e ex-seqüestrador do embaixador dos EUA no Brasil em 1969. Reparem os sorrisos. Franklin Martins está em êxtase, com o braço enlaçando o ombro do santo de sua devoção. Lula, por trás da câmera, também está mais feliz do que pinto no lixo, parecendo turista japonês na Disneilândia.
Alguém definiu a imagem acima como pornográfica. Discordo. Chamá-la de pornográfica seria uma injustiça. Afinal, a pornografia tem lá sua utilidade, e, dependendo da maneira como é feita, pode até ter, vá lá, algum valor artístico ou estético. É, além disso, tirando aberrações como zoofilia e pedofilia, algo inofensivo. Saudável até, dependendo das circunstâncias.
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Não, a foto acima não é pornográfica. É pior que isso: é macabra. Sinistra. Diabólica, ao revelar a boçalidade do poder, a indiferença para com a vida e os direitos humanos. Os indivíduos na foto estão zombando de suas vítimas, desdenhando de seu sofrimento. Estão refestelando-se em cima de 100 mil cadáveres. É a imagem do mal.
Ontem, mais um desses cadáveres entrou para a lista das vítimas do totalitarismo cubano. Orlando Zapata Tamayo, preso desde 2003 e condenado a mais de 30 anos de prisão por defender a democracia para a ilha, morreu após 85 dias de greve de fome. Nos momentos de agonia final, os carcereiros do regime lhe negaram água, levando seus rins à falência. Há um video no site de Yoani Sánchez, Generación Y, gravado clandestinamente, que mostra a mãe de Tamayo, Reina, do lado de fora do IML de Havana, descrevendo em pormenores as torturas sofridas pelo filho na prisão. Pode-se perceber que se trata de uma pessoa de condição social bastante humilde, dessas que os esquerdistas brasileiros adoram apadrinhar como representantes legítimos dos "excluídos" ou da "classe oprimida". O problema é que Dona Reina e seu filho, para Lula e os petistas, estão "do lado errado", entendem? Em uma entrevista, a mãe de Tamayo menciona que ele não recebeu o mesmo tratamento dado pela ditadura de Fulgencio Batista a Fidel e a Raúl Castro quando estes estiveram presos, após a primeira tentativa de tomada do poder, em 1953. Perto dos Castro, Batista era um mero aprendiz.
Há três dias, 42 dissidentes cubanos pediram a Lula que falasse com Raúl e Fidel sobre a falta de liberdades e a situação dos presos políticos em Cuba. O fato estava nos jornais. Mas Lula diz que não recebeu nenhuma carta protocolada dos dissidentes. E ainda aproveitou para dar mais uma de suas conhecidas lições de moral, dizendo que "as pessoas precisam perder a mania de dizer que escreveram uma carta, guardar para si e depois dizer que mandaram" etc. É Lula em seu papel de Lula, repetindo em escala internacional o já famoso "não sei de nada, não vi nada".
Vira e mexe Lula gosta de lembrar que também já esteve preso, que tambem foi hóspede de uma ditadura etc. É Lula em outro papel de que gosta muito: o de vítima. Foi em 1980. Ele esteve detido por um mês na Polícia Federal em São Paulo, por causa de uma greve ilegal, tendo como carcereiro o então delegado e hoje senador Romeu Tuma. Na ocasião - há um vídeo na internet em que ele lembra o episódio -, Lula afirma que, à certa altura, os outros sindicalistas presos decidiram fazer uma greve de fome. Lula topou, mas teve o cuidado de guardar um saco de balas Paulistinha debaixo do travesseiro... Ele diz também que foi muito bem tratado na cadeia, e que terminou amigo de Romeu Tuma, que ao final do jejum dos presos presenteou-os com uma "lula à dorée". Lula diz que aproveitou a estada na prisão para tentar convencer os investigadores de polícia a montarem um sindicato. Entre uma reunião e outra, sabemos graças a Cesar Queiroz Benjamin, ele tentava conhecer melhor, digamos assim, o "menino do MEP", sendo rechaçado a cotoveladas. Enquanto isso, o governo Figueiredo tremia de medo das pressões da sociedade, tanto internas como internacionais, pela sua libertação. Essa foi a experiência de "preso político" de Lula da Silva.
Lula jamais soube o que é sobreviver numa prisão de ditadura de verdade. Orlando Zapata Tamayo sabia. Ele e mais milhares de cubanos. Seus gritos de dor jamais chegarão aos ouvidos de Lula e Franklin Martins. Eles estão muito ocupados adulando um tirano moribundo em seu tour ideológico pela ilha-cárcere para se importar com coisas desimportantes. Como direitos humanos, por exemplo.
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