sexta-feira, fevereiro 19, 2010

É LULA. MAS PODE CHAMAR DE A ESSÊNCIA DO MAL


Luiz Inácio deu uma entrevista ao Estado de S. Paulo, publicada hoje, 19/02. O que disse o Apedeuta? O de sempre: negou que o mensalão existiu, fez o elogio dos próprios aliados corruptos, como Zé Sarney, justificou a violação da lei eleitoral, aproveitou para surfar na desgraça das chuvas em São Paulo para fazer mais campanha eleitoreira antecipada etc. etc.

Não vou comentar nada disso aqui. Até porque outros já o fizeram, e com muita competência, aliás. Vou me concentrar apenas no final da entrevista. Vejam:

Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.

Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

A "essa coisa" a que se refere Lula, e que, segundo ele, "está mal resolvida" é o fato de o Irã, uma ditadura teocrática, estar desenvolvendo, ao arrepio do direito e da comunidade internacionais, um projeto nuclear secreto que visa a produzir armas nucleares. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que esteve aqui em novembro passado, e que, entre outras pérolas de sabedoria, nega o Holocausto de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, já deixou claro para quem quiser saber que quer varrer Israel do mapa. Ele inclusive trabalha ativamente para isso, apoiando com armas e dinheiro os terroristas do Hamas e do Hezbollah. Seu ministro da Defesa, aliás, tem contra si um mandado de prisão internacional por estar envolvido num atentado à bomba contra uma associação judaica, ataque que deixou 85 mortos em 1994 - isso aqui do lado, em Buenos Aires. Ou seja: seu governo tem como ponto de (des)honra a destruição de outro país e o aniquilamento de sua população. Com a bomba atômica, ele estará mais perto de alcançar esse seu objetivo.

É essa a "coisa mal resolvida" a respeito do Irã de que fala Lula. E o Brasil ainda apóia isso!

Sobre a comparação com o Iraque: Lula diz que a intervenção no Iraque em 2003 foi uma "mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha" (juro que um dia vou escrever um livro sobre a maneira peculiar de o Apedeuta construir as frases...). E quer dizer com isso, certamente, que o Irã seria um caso parecido etc. e tal. Fica parecendo que os EUA e seus aliados sabiam que Saddam Hussein não tinha armas de destruição em massa e inventaram a coisa toda para levar adiante a guerra. Aliás, é assim que muita gente pensa ainda hoje.

Pois é, meus caros. O problema é que os EUA NÃO SABIAM que Saddam Hussein não tinha as tais armas químicas. Foi JUSTAMENTE POR ISSO que os EUA e seus aliados se decidiram pela guerra - PORQUE NINGUÉM SABIA. Saddam ficou doze anos brincando de gato e rato com a ONU, descumprindo seguidas resoluções (dezessete!) do Conselho de Segurança, impedindo o acesso de inspetores a seus arsenais etc. Diante dessa dúvida - e do perigo representado pela ditadura iraquiana, que já havia, inclusive, usado essas armas contra a própria população curda, em 1988 -, os EUA e seus aliados decidiram que seria melhor agir logo, em vez de esperar para ver. Ou seja: não houve "mentira" nenhuma, a não ser as mentiras inventadas pelo ditador Saddam Hussein, que agora deve estar se lamentando no inferno.

Quanto ao Bustani, outra balela do Apedeuta: ele não foi "decapitado a pedido do governo americano" para que "não dissesse que o Iraque não tinha armas químicas". Isso é falso. Ele foi, sim, retirado do cargo por pressão dos EUA, que agiram, pode-se dizer, de forma arrogante. Mas o motivo não foi esse. O motivo de sua queda da direção da OPAQ ele mesmo deixa claro qual foi. Leiam o que ele disse em entrevista à revista VEJA (edição 1749, 1/05/2002, páginas amarelas):

Parte de minha função era atrair novos países para dentro da organização, algo que fiz com enorme sucesso. O número de Estados membros saltou de 87 para 145 países, entre eles o Irã e o Sudão. Há cinco anos, tento convencer o Iraque a entrar para a Opaq, mas não consegui convencer seus representantes. Não havia sinal algum de que estivessem prestes a mudar de idéia. Caso o Iraque entrasse na Opaq, teria de aceitar as inspeções. Talvez haja interesses contrários a isso.

Ou seja: ele, Bustani, caiu não porque soubesse que o Iraque não tinha as tais armas proibidas - ninguém sabia -, mas porque tentou atrair o Iraque para a organização que presidia, coisa que o regime de Saddam rejeitou categoricamente por cinco anos. Ele queria que o Iraque fizesse parte da OPAQ e se submetesse às inspeções, mas Saddam disse não e continuou com seu jogo de mentiras com a ONU. Os EUA se cansaram desse joguinho e pediram a saída do brasileiro da organização, pois concluíram - acertadamente, diga-se - que ele estava sendo enganado pelo ditador iraquiano. Pode-se acusar os EUA de arrogância, mas não se pode dizer, como faz Lula, que o diplomata brasileiro perdeu seu cargo "para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque". Simplesmente porque isso seria impossível, como o próprio Bustani admite, ainda que por vias oblíquas.
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Além de a análise do caso iraquiano ser equivocada, para dizer o mínimo, a comparação que Lula faz com o caso do Irã não tem qualquer fundamento. Pois Ahmadinejad já deixou claro que seu programa nuclear não tem nada de pacífico. Ou seja: nem esconder a realidade, como fazia Saddam, ele se dá ao luxo de fazer. Somente Lula e o Itamaraty parecem não ter percebido isso ainda. Ou perceberam, mas, por algum motivo difícil de entender, prosseguem com essa política suicida.
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Mas o melhor vem em seguida. No final da entrevista, Lula diz o seguinte:

O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
Eu acho que a Venezuela é uma democracia.

E o seu governo aqui é o quê?
É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.

Precisa comentar?
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