terça-feira, fevereiro 09, 2010

GUSTAVO VS. GUSTAVO


Só agora vi, navegando na internet, que alguém, por coincidência um xará meu, deu-se à pachorra de comentar uma cartinha que mandei para a PIAUÍ, em agosto do ano passado, em que comento um artigo de Slavoj Zizek publicado naquela revista dos bem-pensantes (ver aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2009/08/olha-eu-ai-de-novo.html).

Fiquei intrigado com os, digamos, "argumentos" usados pelo gentil leitor em sua carta de "resposta". Tão intrigado que vou transcrever aqui o (longo) texto dele na íntegra. Assim, quem sabe, alguém poderá me explicar o que ele quis dizer em 505 palavras e 3.233 caracteres.
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Para quem conseguir ler até o final, meu comentário (ou tréplica) vem depois.
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É com certo pesar e (relativamente à realidade é) com certo pessimismo que leio as linhas do meu duplamente xará, daquele Gustavo Henrique de Brasília. Xará que, como morador (do centro) daquela Disneylândia que é a Capital Federal, pode tão bem e com tamanha propriedade não captar o teor das patentes preocupações do filósofo e com toda a urgência, bem como com a atualidade dos temas abordados, com a peculiaridade e a perspicácia costumeira de Slavoj Zizek. Sujeito (histórico em vias voluntárias de conscientização constante) que é muito mais psicanalista, filósofo e esloveno do que aquele típico "comedor de criancinhas", estereótipo enxergado (ou mal visto) pelo meu xará, e que, inegavelmente, ainda habita o imaginário de todos aqueles que se re encaixam, cotidiana e hipnoticamente, à todas as modalidade de mal-estar inerente aos processos civilizatórios contemporâneos...

Estes que quando não são, conforme as palavras de Jacques Rancière, membros ou inseridos no corpo social como "parte de parte alguma", são aqueles que, pela pretendida manutenção dos "compromissos entre o Estado e Sociedade Organizada" não compreendem o teor tanto da urgência e da essência do que se entende por "comunismo". Ou da coletivização de problemas e de soluções ou, ainda, do tornar "comum" a dinâmica de solução de impasses e da majoração do nível de importância de certos interesses, de indiscutíveis (e urgentemente repensáveis) integrações (entre natureza e civilização, por meio da ciência e da tecnologia), de problemas e de soluções enxergados e mediados por uma gestão comum. Comum e comunista no sentido de coletivo, desde a base social até aos seus fins civilizatórios...

Mas, porém, e infelizmente, quando não são estes "conservadores", tradicionalmente auto-intitulados de "direita" ou de "liberais" (mas, estes mesmos que são também os primeiros a publicarem em letras garrafais, quando conveniente, "somos todos socialistas agora", com a imagem da mão do Estado em uma aliança ("socialista"?) com o mercado em frangalhos; e aqui me refiro à uma edição - e à sua capa - da revista estadunidense ou, sem o adjetivo pátrio, "liberal-conservadora", Newsweek, de fevereiro de 2009, quando da celebração da socialização das perdas do mercado, certamente festejada pelo meu outrora referido xará; mas, quando não é ele ou não são os deles a falarem assim) são assim mesmo que falam e pensam a maioria dos apadrinhados pelos ideais e pelas idéias desta síntese que decorre da junção da (suposta ou meramente positivada e, de fato, utópica) democracia e, na crista da onda do século 21 - e envolto às marés e aos maremotos das crises, também, do livre-mercado.

Torcendo todos (mesmo que inconscientemente) para que este (tal mercado) esteja sempre apto à ser salvo pela mão forte do Estado. Deste ente que supostamente é o representante, fiel gerente e garante dos interesses coletivos, mas que, de fato, apenas mantém longe da comida e da festa os órfãos (entorpecidos pela "cola-de-sapateiro" transvalorada, quando o órfão consegue se manter empregado, nos bem sabidos e famigerados "sonhos de consumo" e nos demais "ópios sociais"... Sejam comportamentais e falaciosamente culturais ou sejam estes meramente tecnológicos).
Gustavo Henrique Ferreira, Uberlândia (MG)


Agora, meu comentário (depois de ler e reler o que está escrito aí em cima):

NUM INTENDI U KÊLE FALÔÔÔÔÔ....

P.S.: E pensar que já "pensei" desse jeito...
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Um comentário:

José Ricardo Weiss disse...

Bem, Gustavo, a fala pastosa e supostamente intelectual dos seu duplamente xará é aquela típica dos esquerdistas mais, digamos, aculturados.
Ele defende, como sempre defendem todos os esquerdistas atuais, que o "socialismo real" nunca foi o socialismo de Marx/Engels - e ainda diz a bobagem de que o comunismo nada mais é do que a "coletivização de problemas e de soluções".
Sabemos bem que tolos assim conseguem assanhar os incautos com as promessas do paraíso na terra, pela formação do "novo homem", esquecendo-se que o homem não é - e jamais será - a criatura gregária que eles, qual rainhas num formigueiro, irão mandar trabalhar nos gulags da terra de sonhos que eles criaram em suas idéias estapafúrdias.
Ademais, como sempre foi pecualiar a tais "pensadores", esquecem-se que o mercado sempre reergueu-se, qual fênix, independentemente de o demônio-Estado ter-se metido a ajudar ou não - e estes seres abissais sempre tentando enterrá-lo definitivamente, mas, felizmente, nunca conseguindo.
De forma contrária, apesar da negação constante, o que foi sepultado e desceu à mansão dos mortos, foi o tão adorado socialismo/comunismo.
Sorrateiramente "esquece" os ditâmes de Gramsci de promover a dominação cultural e chama o editorial da Newsweek de "liberal-conservador", já que, muito provavelmente, somente viu a capa da referida publicação, sem sequer saber quais são os princípios que norteiam tanto as idéias conservadoras quanto as liberais - sequer deve ter-se aproximado de um escrito de Mises, um Russel Kirk, uma Ayn Rand, um Schumpeter.
No mais, é a velha lenga-lenga esquerdista querendo parecer profundo conhecedor da "alma humana".