Vou logo avisando: se você é uma Poliana lesa, do tipo que acha que os governos só querem o nosso bem e que avisos contra as intenções totalitárias de certos políticos não passam de "rumores de internet", ou de devaneios de alguns doidos solitários de extrema-direita, então não leia este texto. Não perca seu tempo, nem o meu. Você não vai gostar do que vou dizer. Pior: poderá concordar com o que está escrito aqui e, nesse caso, seu mundo cor-de-rosa virá abaixo.
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Está feita a advertência. Vamos lá.
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Se ainda restava alguma dúvida de que o governo Lula está comprometido até o último fio de barba com a corriola bolivariana que quer destruir a democracia na América Latina, os acontecimentos em Honduras a enterraram para sempre. Se havia ainda alguma ilusão no lulismo como uma alternativa "moderada" e "vegetariana" ao radicalismo carnívoro chavista, os fatos desta semana demonstraram com didatismo que ambos estão do mesmo lado, fazem parte do mesmo plano totalitário para subverter as instituições e instalar regimes antidemocráticos no continente.
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O abrigo ao golpista bolivariano Manuel Zelaya - subitamente promovido a "vítima de golpe" e a democrata - na embaixada do Brasil em Tegucigalpa vem demonstrar aquilo que venho afirmando há tempos neste blog: que Lula, Chávez, Castro, Morales, Correa, Ortega, Lugo, Kirchner, Funes, a OEA, a ONU (com o Secretário-Geral Miguel d'Escoto) e Babaca Obama estão todos irmanados, fazem todos parte do mesmo time. Em que pesem diferenças pontuais ou cosméticas, todos esses senhores têm um único e mesmo objetivo final: a substituição de governos democráticos por ditaduras personalistas e caudilhescas, regidas pelos princípios emanados do Foro de São Paulo.
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Ao conceder o refúgio a Zelaya, o governo brasileiro rasgou o último véu que lhe dava alguma respeitabilidade e que encobria sua cumplicidade com o projeto bolivariano. Zelaya, o próprio chanceler Celso Amorim admitiu, não está na embaixada do Brasil - para onde se mudou com a mulher e mais uma penca de militantes - na condição de asilado político. Não lhe foi concedido asilo, em primeiro lugar, porque ele não está sendo vítima de perseguição política, ocasião em que o asilo é previsto segundo a lei internacional, e desde que o asilado se comprometa a não se envolver em atividades políticas. Pelo contrário, Zelaya entrou no país, clandestinamente e com o apoio de Hugo Chávez, para retomar o poder - na porrada, se preciso. Para tanto, ele transformou a embaixada do Brasil em seu escritório político, de onde está insuflando a insurreição e a guerra civil no país. Além disso, há fortes indícios de que a entrada de Zelaya em Honduras foi planejada durante visita dele ao Brasil, há cerca de um mês. Em outras palavras: a embaixada do Brasil virou um QG do golpismo bolivariano, e o Brasil está interferindo, juntamente com Chávez e Daniel Ortega, nos assuntos internos de Honduras. Pergunto: onde foram parar os princípios da não-interferência e do respeito à soberania?
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As evidências de que o aparecimento de Zelaya na embaixada do Brasil não ocorreu por acaso se acumulam a cada dia, assim como as desculpas esfarrapadas para encobrir a participação do Brasil no deflagrar da crise. Ontem vi o senador Aloízio Mercadante dizer com a cara mais séria do mundo (a mesma com a qual "revogou o irrevogável" no caso Sarney, há apenas alguns dias), que Zelaya escolheu a embaixada brasileira por causa do "papel de relevância e da respeitabilidade do Brasil no cenário internacional". Sei... O que o excelentíssimo senador não explicou é a estranha coincidência do fato com a ida de Lula às Nações Unidas. No dia seguinte, lá estava Lula, discursando na Assembléia-Geral da ONU, no seu elemento. Sobre o que ele falou? Além de vociferar contra os "golpistas" que expulsaram o companheiro Zelaya e pedir seu "imediato retorno" ao poder, ele aproveitou para defender, pela enésima vez, o fim do embargo norte-americano a Cuba... Se eu acreditasse em gnomos, diria que foi mera coincidência. Como não acredito, digo que foi uma manobra orquestrada.
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Lula deixou claro, ao falar para a imprensa, que "não podemos mais aceitar golpes" (menos os bolivarianos, claro). Justificou o abrigo a Zelaya na embaixada como se fosse a coisa mais natural do mundo. O Brasil de fato assumiu a vanguarda no cerco a Honduras. Desde que Zelaya foi deposto e expulso do país, em 28/06, o governo brasileiro cancelou a emissão de vistos a cidadãos hondurenhos e, há alguns dias, encabeçou uma manobra para expulsar o representante do "governo de fato" hondurenho do Conselho de Direitos Humanos da ONU (onde, aliás, o Brasil faz boa figura, defendendo governos democráticos como os de Cuba e do Sudão...). Para mostrar que está mesmo comprometido com os valores democráticos, nosso Líder Iluminado encontrou-se com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad em Nova York. Coroando uma semana cheia de glórias para a diplomacia brasileira, o candidato apoiado pelo Brasil para a direção da UNESCO, o egípcio Farouk Hosni - o mesmo que disse que queimaria livros israelenses - foi derrotado (vejam como a política externa do governo Lula é um sucesso: entre a desonra e a derrota, escolheu a desonra - e teve a derrota...). Lula já está questionando a legitimidade do resultado que sair das eleições previstas para acontecerem em novembro em Honduras, por serem organizadas pelo "governo de fato". Logo ele, Lula, que reconheceu a vitória fraudulenta de Ahmadinejad nas eleições no Irã, antes mesmo dos aiatolás daquele país, e que comparou as mortes de manifestantes pró-democracia pela polícia iraniana a um arranca-rabo entre vascaínos e flamenguistas... Decisão típica de democratas, sem dúvida.
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Agora, com a embaixada em Tegucigalpa cercada por militares, os bolivarianos brasileiros tentam transformar o fato em motivo de patriotada, advertindo contra qualquer ataque ao prédio da representação brasileira. Deveriam ter pensado nisso antes de terem dado abrigo a um golpista, metendo-se na realidade interna do país e jogando a não-intervenção na lata de lixo. É certo que o prédio da embaixada, assim como a integridade física do pessoal brasileiro ali instalado, é inviolável. Assim como é a soberania de Honduras, que o governo Lula, ao permitir que Zelaya use a embaixada para fazer comício e instigar seus militantes, violou abertamente. De fato, a embaixada, por ser território brasileiro no exterior, deve ser preservada e protegida - de ser usada como base para um político golpista atiçar a guerra civil no país, em primeiro lugar. Já começou a correr sangue em Honduras, e a conta dos mortos e feridos deve ser entregue a Lula (e a Chávez, e a Ortega, e a Obama etc.).
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É preciso que fique claro, até que todos entendam: golpista é Zelaya, não Roberto Micheletti. O "golpe" foi defechado para impedir que Zelaya levasse adiante um referendo declarado ilegal e inconstitucional pelo Judiciário e pelo Legislativo do país. A Constituição de Honduras, embora vaga em alguns pontos importantes, deixa claro que quem insistir em mudar a lei para reeleger-se perderá automaticamente o mandato e será considerado traidor da pátria. Foi por isso que Zelaya caiu. Quem é golpista?
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Realmente, estranho "golpe" esse, desfechado pelas Forças Armadas com o apoio total do Congresso e do Judiciário para preservar a Constituição do país, ameaçada por um referendo ilegal e inconstitucional... Até onde eu sei, golpes de Estado são seguidos, quase sempre, do fechamento do Congresso e da instauração de alguma forma de ditadura militar, com censura permanente à imprensa, prisões arbitrárias de opositores políticos e, em alguns casos, tortura e fuzilamentos. Nada disso se verificou, até agora, em Honduras. E isso mesmo com todo o cerco internacional e midiático ao país. Também deve ser o primeiro golpe em toda a História que manteve o calendário eleitoral - eleições presidenciais estão previstas para ocorrer em 29 de novembro, e o governo provisório promete entregar o poder ao vitorioso nas urnas. O mesmo não pode ser dito de países tratados com carinho devocional por Lula e outros governantes esquerdistas, como Cuba. Foram as instituições de Honduras - o Congresso, o Judiciário, e, sim, as Forças Armadas, que também fazem parte da sociedade -, com o apoio da maioria da população, que se mobilizaram e destituíram Zelaya. Este foi deposto para que a lei fosse cumprida. Se um dia houve, na História da América Latina, um movimento verdadeiramente popular e democrático, foi esse.
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De fato, os "golpistas" cometeram um erro grave: deveriam ter prendido Zelaya, levando-o a julgamento, em vez de tè-lo expulsado do país. Com isso, deram ensejo a que os bolivarianos de todos os matizes explorassem ao máximo a estória de que Zelaya foi "seqüestrado e expulso no meio da noite, de pijamas etc." - como se isso, e não a ruptura da legalidade constitucional, caracterizasse golpe de Estado. Subestimaram o alcance e a capacidade de mobilização da maré chavista-bolivariana, que já controla nove governos na América Latina, e conta com o apoio, ou com a leniência covarde, de Lula e de Obama. Desse modo, permitiram que Zelaya, do exterior e com o apoio confesso de Chávez e oculto de Lula, preparasse o caminho para o retorno ao país e promovesse, pela propaganda sistemática, uma inversão da realidade, apresentando-se e sendo apresentado como líder democrata, enquanto a defesa das instituições e da Constituição em Honduras era transformada em "golpismo".
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Esse tipo de charlatanismo chegou ao ponto do absurdo, com Lula e seus asseclas falando em "volta à democracia", como se o que Zelaya tentou fazer antes de ser expelido do poder - rasgar a Constituição - correspondesse a um comportamento democrático. O mesmo fizeram os deputados do PSOL e do PCdoB que leram um manifesto de "solidariedade ao povo hondurenho" em frente à embaixada de Honduras em Brasília, exigindo o retorno de Zelaya ao poder - o que ele tenta fazer na marra. Se os bolivarianos brasileiros se dessem ao trabalho de ler a Constituição hondurenha, aprenderiam que esta deixa claro, nos artigos 237 e 239, que o presidente que tentar mudar as regras do país para reeleger-se perde automaticamente o mandato e até a cidadania. A propósito, onde estavam Lula e Celso Amorim, bem como os parlamentares do PSOL e do PCdoB, quando Zelaya estava afrontando acintosamente as instituições do país?
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Para os gorilas de esquerda, a democracia se encerra no ato de votar. Daí porque acham que o "governante eleito pela vontade do povo" tem carta-branca para fazer o que quiser - inclusive acabar com a democracia, se assim lhe der na telha. Acreditam que esta é um simples instrumento para tomar o poder, ou para fazer a "revolução", depois da qual, encerrada sua utilidade, não hesitarão em dela se desfazer, como um trapo velho. Era assim que pensava Hitler. E é assim que pensam os Chávez, Zelayas e Lulas de hoje.
.Resumindo, em negrito e em letra de fôrma, no caso de alguém ainda não ter entendido:
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PELA PRIMEIRA VEZ NA AMÉRICA LATINA, UM PAÍS SE LEVANTOU CONTRA O SOLAPAMENTO DA DEMOCRACIA PELO POPULISMO CHAVISTA. PELA PRIMEIRA VEZ, HOUVE UMA MOBILIZAÇÃO BEM-SUCEDIDA PARA EXPULSAR UM CAUDILHO BOLIVARIANO QUE TENTOU ESTUPRAR A CONSTITUIÇÃO VISANDO A ETERNIZAR-SE NO PODER. PELA PRIMEIRA VEZ, O CHAVISMO FOI RECHAÇADO EM UM PAÍS, DE FORMA LEGAL E CONSTITUCIONAL. E ESSE PAÍS, QUE LUTA A DURAS PENAS PARA CONSOLIDAR SUA FRÁGIL DEMOCRACIA, É ALVO DA HOSTILIDADE E DO ISOLAMENTO INTERNACIONAIS POR ESSE MOTIVO. ENQUANTO ISSO, A TIRANIA TOTALITÁRIA DE CUBA, UMA DAS DITADURAS MAIS ODIENTAS DO PLANETA, É TRATADA A PÃO-DE-LÓ NA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, E LULA TROCA AFAGOS COM O ANTISSEMITA E NEGADOR DO HOLOCAUSTO AHMADINEJAD NAS NAÇÕES UNIDAS.
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O que está aí em cima, desnecessário dizer, não é nenhum segredo; é algo fácil de constatar. Não é opinião, é algo que pode ser verificado com uma simples pesquisa de notícias na internet. Parte da imprensa brasileira sabe que o que está acima é verdade, mas, por covardia, prefere se calar. Para não ser tachada de "reacionária" ou "direitista", cede à patrulha e prefere ignorar os fatos.
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O governo Lula se orgulha da "ousadia" de sua política externa, da qual a transformação da representaçao diplomática brasileira na capital hondurenha em escritório de agitação política de Manuel Zelaya seria um exemplo. Pena que isso se expresse no apoio a ditadores e a aprendizes de ditador, bem como à destruição da democracia em outros países. Quando é para fazer coro contra os "países ricos" em reuniões internacionais, o Brasil se mostra muito valente. Quando se trata de condenar tiranias como a cubana e a iraniana e firmar posição em defesa da democracia, porém, a diplomacia brasileira é, para dizer o mínimo, bastante tímida. De leão, o Brasil vira um gatinho. Defender a liberdade e os direitos humanos em Cuba, na Venezuela e no Irã - isso, sim, seria a maior prova de ousadia que se poderia dar.
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Há algumas semanas, a The Economist publicou matéria de capa em que perguntava: "De que lado está o Brasil?" Creio que a crise em Honduras responde essa pergunta.
2 comentários:
Oi, Gustavo, estava curioso para ouvir a sua opinião sobre o assunto...
Ontem já havia postado sobre o tema no meu blog:
http://walrusnosamba.blogspot.com/
Se puder, passe por lá.
abs.
Guilherme
O Brasil, com o grande molusco, tem jogado no lixo toda a nossa tradiçao racionalista e respeito ao direito e à democracia do barao de Rio Branco. Onde fomos parar? Queria ter orgulho da minha naçao. Que fiasco este em Honduras.
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