Escrevo este texto meio que às pressas na tarde de 4 de novembro, quando ainda não foi divulgado o resultado da eleição americana. O novo presidente dos EUA só será anunciado, diz a TV, às 11 horas da noite, horário de Washington. Portanto, quando não se sabe ainda quem ganhou a eleição. Independentemente do resultado, porém, creio que já é possível tirar algumas conclusões a respeito do pleito presidencial na terra do Tio Sam.
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A primeira conclusão, na verdade, não é sobre as eleições, mas sobre como a imprensa - de lá e de cá - cobriu a campanha dos dois candidatos. O que houve não foi a cobertura da eleição nos EUA: foi a cobertura da eleição de Obama. Desde o momento em que o candidato democrata entrou na corrida presidencial, não passou um único dia sem que a palavra "histórico" não fosse utilizada para se referir a ele. Pela primeira vez, viu-se um candidato que fazia discursos que já nasciam "históricos" antes mesmo de serem pronunciados. Além disso, todos os pontos nebulosos de sua biografia - e são muitos! -, como sua verdadeira nacionalidade, além de seu relacionamento com figuras sinistras como Jeremiah Wright e William Ayers, foram rapidamente encobertos pela imprensa, que preferiu falar das gafes e do penteado de Sarah Palin a dar crédito ao que chamou, desdenhosamente, de "rumores da internet". Com uma cobertura favorável assim, além de gratuita, Obama nem precisaria dos milhões a mais de seu caixa de campanha.
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Isso nos leva à segunda conclusão. De fato, a campanha deste ano nos EUA foi sui generis. Obama foi eleito muito antes do dia de hoje, pela grande mídia americana, por Hollywood, pela Globo, pela Folha de S. Paulo, por Arnaldo Jabor... Aliás, acabo de ler um texto dele, Jabor, em que, com seu estilo habitual, ele chama todos os eleitores de McCain de idiotas e racistas. Desde o dia em que se definiu a candidatura democrata, apenas um resultado - a eleição de Obama - foi apresentado como legítimo. Desconfio até que, se der zebra e McCain sair vitorioso das urnas, se erguerá um coro de vozes alegando que a eleição foi uma fraude e pedindo sua anulação, levando a uma crise institucional. Sabem como é: Obama já ganhou, somente imbecis e a Ku-Klux-Klan não irão votar nele...
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Eleito ou não Barack Obama para a presidência dos EUA, a democracia norte-americana sairá enfraquecida. A campanha obamista foi um pretexto para que os inimigos dos EUA e da democracia despejassem seu antiamericanismo mais estúpido e boçal. E, agora, com o álibi perfeito: vitorioso, Obama será louvado por todos os adversários da liberdade, como Ahmadinejad, Hugo Chávez e Fidel Castro. Se for derrotado, estará comprovada, para essa gente, o caráter racista e discriminatório do "sistema" americano. O mundo inteiro caiu nessa armadilha.
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Quem vai ganhar? Obama? McCain? Pouco importa. O que vale mesmo é que nunca na História se viu um espetáculo tão grotesco de unanimismo em torno de uma figura de passado obscuro e biografia nebulosa, alçado meteoricamente de ongueiro à condição de líder messiânico mundial. Isso sim, é histórico. Uma farsa histórica.
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