quinta-feira, novembro 06, 2008

LULA, O CASTRISTA


"Não há nada que justifique na história da humanidade o bloqueio [sic] a Cuba". A frase é de Lula, ao aproveitar uma entrevista coletiva para fazer seu primeiro pedido ao novo presidente eleito dos EUA, Barack Obama. Lula quer que os EUA acabem com o "bloqueio" (na verdade, um embargo comercial norte-americano) à ilha de seus ídolos, Fidel e Raúl Castro, que ele considera "injustificável" e "insensível".

De todas as mentiras e balelas inventadas pela esquerda nos últimos cem anos, a de que Cuba só seria o que é hoje por causa do tal "bloqueio imperialista e genocida" americano é, certamente, uma das mais persistentes. E uma das que mais ofendem a inteligência. Como já afirmei aqui, não há qualquer bloqueio dos EUA contra Cuba. Há, sim, um embargo comercial, o que é algo bem diferente. E que, mesmo assim, não impede a ilha de comerciar livremente com a maioria dos países (inclusive o Brasil), recebendo milhões de dólares de exilados anticastristas que vivem nos EUA, que os remetem anualmente para suas famílias que permaneceram na ilha (a maioria, desconfio, contra a própria vontade). Na prática, portanto, o tal "bloqueio" não passa de uma desculpa retórica da ditadura cubana para justificar a repressão no país (não por acaso, os cubanos chamam o embargo, à boca pequena, de "o pretexto"). O único bloqueio imposto a Cuba é o da ditadura cubana contra seus próprios cidadãos, desprovidos de todos os direitos, a começar pelo de escolher livremente seus governantes ou de sair da ilha-cárcere. É o bloqueio da falta de liberdade, da ausência de eleições livres, do partido único, da polícia secreta, do paredón. Contra esse bloqueio Lula não fala nada. Nem vai falar.

Vamos recordar a história: o embargo foi instituído em 1962, como represália dos EUA à encampação das propriedades norte-americanas na ilha, mas também aos fuzilamentos sumários, que ocorrem a partir de 1959. Até mesmo por uma questão cronológica, não dá para dizer que o "bloqueio" seja a causa do descalabro econômico em que mergulhou a ilha a partir de então, nem muito menos da falta de liberdade em Cuba. As duas coisas se devem unicamente - repito, unicamente - à incompetência do totalitarismo castrista. Durante nada menos do que trinta anos, de 1961 a 1991, Cuba se beneficiou de uma generosa ajuda econômica da extinta URSS, na forma de subsídios, no valor de cerca de 100 bilhões de dólares. É dinheiro suficiente para alavancar a economia de qualquer país. O que se viu, entretanto, foi um festival de má-utilização de recursos, como é típico de regimes totalitários: muito desperdício com programas fracassados socialistas, muita gastança inútil em guerras no estrangeiro. No começo dos anos 80, com toda a mesada da URSS, a renda per capita de Cuba já havia declinado do terceiro para o 15o lugar na América Latina, e a população sobrevivia na base da libreta de racionamento. O país já estava no buraco. Não me venham dizer que isso é culpa do "bloqueio" americano, por favor.

Suponhamos, por um momento, que Obama, ou qualquer outro presidente americano, faça o que Lula deseja e resolva negociar o fim do embargo com Cuba. Imaginemos a seguinte troca: os EUA levantam o embargo à ilha e os irmãos Castro convocam eleições livres e democráticas, libertando os presos políticos e eliminando a censura à imprensa. O mesmo para Guantánamo: os americanos fecham a prisão e devolvem a base aos cubanos, em troca da permissão do governo de Raúl Castro para a formação de partidos políticos plurais na ilha. Será que Raúl aceitaria esse trato? Duvido.

Mas então, por que diabos existe o embargo? A resposta está num fato ignorado pelos fãs de Fidel e sua ditadura jurássica: desde que os irmãos Castro tomaram o poder, no longuínquo ano de 1959, cerca de dois milhões de cubanos e seus descendentes fugiram da ilha-prisão, da ilha-Alcatraz, em busca de liberdade. A maioria desses refugiados nunca teve nenhuma relação com o regime deposto por Fidel e os barbudos. São pessoas que, em sua imensa maioria, perderam tudo que tinham, inclusive a liberdade, e não encontraram outro caminho senão agarrar-se a uma bóia e atirar-se ao mar, rezando para não morrerem afogados ou virarem comida de tubarão na travessia. Muitos fugiram quando ficou claro que Fidel não cumpriria sua promessa de convocar eleições livres e restaurar a Constituição democrática de 1940, implantando, em lugar disso, sua ditadura pessoal apoiada pelos comunistas.

Mesmo assim, a propaganda castrista considera todos os exilados e dissidentes uns gusanos, literalmente, "vermes", no pior estilo stalinista. Vou repetir quantos são: dois milhões. Cuba tem 11 milhões de habitantes. Numa conta rápida, se Cuba fosse o Brasil, seria algo como 40 milhões - quarenta milhões! - de refugiados políticos. Pois bem. São esses exilados, concentrados principalmente na Flórida, que pressionam os congressistas americanos para manter o embargo. Para os EUA, pouco se lhes dá manter o embargo ou não: trata-se de uma questão interna da política norte-americana. O embargo é a melhor maneira de pressionar o regime cubano e obter algumas reformas? Pode-se discutir isso. Mas pode-se censurar os exilados cubanos por quererem que a ditadura de Fidel e Raúl seja pressionada? Sinceramente, creio que não.

Tudo isso prova apenas uma coisa: o embargo é uma desculpa do regime de Havana e de seus apoiadores, como Lula, para a eternização da ditadura mais sanguinária da história da América Latina e a mais antiga do planeta. Nada mais do que isso. Dissidentes foram presos? É culpa do "bloqueio". Mais um que tentou fugir da ilha foi fuzilado? É culpa do "bloqueio". Falta carne e papel higiênico no mercado? Culpe o "bloqueio", claro. O país não tem eleições democráticas nem imprensa livre? Idem, ibidem. E assim por diante. E muitos trouxas caem nesse truque, ou com ele compactuam. O regime cubano é uma ditadura sustentada por democracias. Uma aberração, em todos os sentidos. Uma aberração cheia de amigos, como Lula.

A mentira da vez é dizer que é preciso "ajudar" o governo cubano, impedir seu "isolamento", a fim de contribuir para a "democratização" da ilha. Este é o discurso oficial brasileiro. É uma farsa, está óbvio. Cuba já recebeu - e recebe - ajuda demais de outros países, e até agora isso não fez o país avançar um milímetro em direção à democracia. Pelo contrário: serviu apenas para reforçar e fortalecer a ditadura, que só se mantém devido à repressão política e aos amigos que tem no exterior. A História demonstra que regimes totalitários são irreformáveis, e que ou entram em colapso ou se perpetuam.

Para termo de comparação, lembremos que o regime racista do apartheid na África do Sul, por exemplo, não desapareceu por causa de nenhuma "ajuda" recebida do exterior, mas devido a um cerco ferrenho e intransigente das democracias ocidentais e dos demais países africanos, que incluiu até mesmo um boicote no campo esportivo. Algo semelhante ocorreu com outras ditaduras latino-americanas, como a de Fulgencio Batista, na própria Cuba. Esta só caiu, ao contrário da lenda revolucionária criada posteriormente e sistematicamente explorada por Fidel Castro, porque perdeu o apoio dos EUA, e não por causa da luta de guerrilha na Sierra Maestra. Lula esteve em Cuba há alguns dias. Na ocasião, anunciou a intenção de seu governo de tornar o Brasil o principal parceiro de Cuba. Assim como Hugo Chávez, ele deve estar preocupado com o destino da ilha-presídio. Vai que um dia aquilo ali vira uma democracia...

Não há nada na história da humanidade e do universo que explique a devoção dos lulistas pela castradura cubana. Assim como já fizeram com a ética e a coerência, Lula e os petistas já mandaram a democracia para o beleléu. Ou para a Cuba que os pariu.

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