segunda-feira, fevereiro 22, 2010

ONDE ESTÁ A DIREITA?

Como vocês sabem, ontem foi o lançamento oficial da candidatura Dilma Rousseff à Presidência da República. O fato ocorreu em Brasília, em algo chamado pomposamente de IV Congresso do PT - na verdade, um convescote para homologar a candidatura criada pelo capo di tutti capi como alternativa à candidatura José Dirceu, que gorou por causa do escândalo do mensalão em 2005.

Aí você poderá perguntar: a candidata do governo, do PT, da esquerda, já está aí, com o bloco na rua. E a oposição, a direita, onde é que está?
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Pois aí é que está. Não existe oposição, muito menos direita, no Brasil. Como já escrevi aqui diversas vezes, e aproveito para repetir.
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"Como assim, não há direita no Brasil?", alguém certamente perguntaria, e citaria esta ou aquela sigla, este ou aquele senador ou deputado. O simples fato de considerar A ou B um representante "da direita" nestas terras confirma o que digo: basta alguém se mostrar um pouquinho mais crítico ao governo e ao lulo-petismo, e lá vem o anátema terrivel: é "de direita"... Invariavelmente, é alguém das hostes esquerdistas que apõe esse rótulo, pois há muito é a esquerda que determina quem é e quem não é, no Brasil, "de direita". Sem querer, inconscientemente, muita gente repete esse discurso, sempre com o cuidado de não parecer, também, "de direita". E, assim, todos se convertem, sem o saber, em esquerdistas. É isso que se chama, em linguagem esquerdista, "hegemonia".
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Repito: não existe direita no Brasil. Dêem uma olhada nos principais partidos políticos brasileiros. Sabemos quem é a esquerda, o PT, mesmo que os ultra-esquerdistas, como os bocós do PSOL e do PSTU, insistam em dizer que não, porque, para eles, os petistas não são esquerdistas o suficiente... O PSDB, defensor da social-democracia à européia, está, apesar do que dizem os petistas - para quem os tucanos também não são suficientemente de esquerda, logo só podem ser "de direita" -, até mais à esquerda do que o PT em certos assuntos. O "centro" - ou, nesse caso mais apropriadamente, "o pântano" - seria o PMDB, que há muito deixou de ser um partido político para virar um conglomerado de interesses pessoais (e que está do lado do governo Lula, aliás - Sarney e Renan Calheiros que o digam). Quem seria a direita, então? O DEM? Irá compor com o PSDB de José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Repito a pergunta: onde está a direita?

Este ano teremos mais uma farsa gigantesca. As eleições presidenciais, no Brasil, há muito não são mais do que campeonatos de esquerdismo, em que os candidatos se esforçam em se mostrar cada um mais à esquerda, mais estatista e mais antiliberal, do que o outro. Qualquer que seja o candidato eleito nas urnas em 3 de outubro, há, pelo menos, uma certeza: será um político de esquerda. Ou, se preferirem, não será alguém de direita. Isso porque - infelizmente - não existem partidos e políticos de direita no Brasil.

Isso, para os esquerdistas evidentemente, é algo bom. Mas, para a democracia, é algo extremamente negativo. Toda democracia que se preze possui partidos de direita sólidos e estruturados. É assim em qualquer país avançado. No Brasil, não. Aqui, uma eleição em que pontifiquem somente candidatos de esquerda, ou identificados com as teses de esquerda, é considerada um "avanço". O próprio Lula disse isso um dia desses, em mais uma de suas frases de porta de sindicato, ao se referir aos "trogloditas da direita". Uma eleição somente com candidatos esquerdistas é tão desinteressante e tão pouco democrática quanto uma que só tenha candidatos de direita, ou de centro. Mas, infelizmente, dizer que alguém é de direita, no Brasil, é xingamento - mesmo que os trogloditas de verdade, como Collor e Maluf, sejam hoje lulistas de carteirinha. Será que todos os eleitores brasileiros são de esquerda? Onde está o pluralismo?

Isso revela a pouca maturidade do sistema partidário brasileiro. Afinal, a alternância no poder, não só de pessoas e partidos, mas sobretudo de ideologias, é um dos pilares da democracia. Há pouco tempo o Chile, que viveu uma ditadura feroz até 1990, teve eleições presidenciais. Venceu o conservador e direitista Sebastián Piñeira, que sucederá a socialista - logo, inegavelmente de esquerda - Michele Bachelet. E isso apesar de Bachelet ter quase 80% de aprovação popular. No Brasil, 80% de popularidade é a senha não para o respeito à democracia e à alternância no poder, mas para planos continuístas. Isso demonstra como estamos atrasados em relação a alguns de nossos vizinhos.

Além do mais, a falta de alternância verdadeira - o que já chamei aqui, referindo-me à falsa dicotomia PT-PSDB, de duopólio esquerdista - gera um outro fenômeno colateral: a irrelevância dos partidos. É o caso do PT. Desde que surgiu, em 1980, o partido passou décadas se dizendo diferente dos demais partidos. Nesse processo, colocou-se contra TODOS os principais avanços e conquistas da sociedade brasileira nos últimos trinta anos. O PT foi contra a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1984, recusou-se a assinar a Constituição de 88, opõs-se ao Plano Real, ao Proer e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora, colhe os frutos de tudo isso, apresentando-se como fiador - até mesmo como o fundador - da democracia e da estabilidade econômica. Quer dizer: apropria-se do que os outros fizeram, como se fosse conquista sua, quando foi contra cada um desses avanços.

O que o PT pode fazer no campo econômico, e mesmo social, que o PSDB ou o DEM já não tenham feito ou que possam fazer, mais e melhor, no futuro? Essa é a questão que revela como as diferenças entre os adversários nas próximas eleições presidenciais são superficiais e mesmo inexistentes. "O Brasil mudou, e nós mudamos também", é o que mais se ouve os petistas dizerem. Ou seja: o principal mérito do PT, para ganhar eleições, é apresentar-se como igual a seus adversários, é deixar de ser PT.

O que sobra, então, do PT? Sobra o projeto totalitário, a ânsia em tutelar e censurar a imprensa e em controlar a sociedade. Isso se revela tanto nos mensalões e na condescendência com os bandidos do MST quanto no alinhamento automático com ditaduras como a cubana e a iraniana. O PT, na verdade, não passa de um PSDB piorado. Assim como o governo Lula não passa de uma versão mais rombuda e mais à esquerda do governo FHC. Seus oponentes, por sua vez, estão no mesmo campo político-ideológico.

Onde está a direita?

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

RELEMBRANDO HONDURAS: O QUE ELES DISSERAM


Militante do PUM em ação contra a "mídia golpista".


Vocês se lembram, claro, de Honduras. Recordam-se, certamente, do vexame que o Itamaraty lulista deu naquele país, sobre o qual já escrevi extensamente aqui. O Brasil condenou um "golpe" que não existiu e deu apoio incondicional a um golpista de verdade que tentou rasgar a Constituição do país, oferecendo-lhe inclusive a Embaixada em Tegucigalpa como seu escritório político e palanque. Terminou desmascarado como cúmplice de uma tentativa de golpe bolivariana tramada juntamente com Hugo Chávez.

Pois é. Andei vasculhando na internet para saber o que os jornalistas brasileiros andaram dizendo na epoca. Deparei-me com o seguinte texto, no blog de Paulo Henrique Amorim, do dia 25/09/2009 - quatro dias depois de mané zé laia ter transformado a Embaixada brasileira em seu cafofo.

O que o assalariado da Igreja Universal do Reino de Deus escreveu a respeito? Disse o Bofe de Elite:
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Honduras é o neo-golpe. Por isso o PIG (*) gosta tanto dele
O "neo-golpe" de que fala o gigante é o que o Congresso e o Judiciário, juntamente com os militares e a sociedade civil hondurenha, fizeram em 28/06/2009, quando afastaram LEGALMENTE zé laia do poder. Já falarei sobre o que é o tal PIG e seu rival, o PUM.

O PiG (*) gosta do Golpe de Estado em Honduras, porque ele é o Golpe que o PiG (*) quer dar no Brasil e não consegue.

É o Golpe by proxy.
Antigamente, quem dava o Golpe eram os militares, com a mão de gato dos americanos.
Ainda falta me convencer que defender a Lei e destituir um presidente que tentou violar a Constituição, ao convocar uma consulta ilegal e inconstitucional, é "golpe". Sendo que, nesse caso, não foram nem os militares, nem os americanos, que deram o tal "golpe"- os militares agiram em cumprimento de uma ordem legal do Congresso e do STF hondurenhos, e os americanos ficaram contra, como Lula e Paulo Henrique Tamborim.
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Tinha sempre a desculpa de o presidente de inclinação trabalhista (Allende, Jango) querer dar um Golpe e o Golpe era um Contra-Golpe para salvar a democracia.
"Inclinação trabalhista" foi ótimo... Allende era marxista convicto, não escondia de ninguém sua intenção de construir, no Chile, o "socialismo por meios legais". E isso tendo sido eleito com pouco mais de 30% dos votos. Jango não só queria, como estava preparando um golpe. O próprio Brizola, que Paulo Henrique Tamborim sabe quem foi, admitiu isso. Desculpa?
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O Elio Gaspari, por exemplo, autor de interminável obra para provar que Geisel e Golbery são o Washington e o Thomas Jefferson da Democracia brasileira, rodou, rodou e não conseguiu demonstrar que Jango ia dar um Golpe.

Isso não cola mais.
E o que o Brizola disse das intenções golpistas de seu cunhado Jango, que Gaspari menciona em seus livros, não cola? E os Grupos de Onze, as Ligas Camponesas, as revoltas dos sargentos e dos marinheiros, a agitação sindical, a tentativa de estado de sítio etc.? Nada disso cola?

Obama não é Nixon, não é Johnson, não é Bush.
Na época, Obama ainda ainda era visto como aliado dos petistas-bolivarianos, pois os EUA também condenaram o "golpe" que não houve e pressionaram Honduras a aceitar o retorno do "democrata" zé laia. Hoje, não sei se PHA diria a mesma coisa do ídolo da esquerda mundial, pois até ele, Obama, se deu conta de que é difícil chamar de golpe um movimento que preserva a lei e mantém as eleições. Com isso e mais o Afeganistão, é possível que PHA tenha mudado de idéia a respeito do ex-demiurgo.

Então, é preciso um “neo-Golpe”, como o neo-liberalismo, que jaz num rodapé da História.
É mesmo? Diga-me em que país o tal "neo-liberalismo" - da maneira como o entende a esquerda e o PHA - foi implantado in totum? (Uma dica: no Brasil, é que não foi.) Como jaz no rodapé da História algo que nunca existiu? (Ao contrário do comunismo, que este sim existiu, e que, se depender da vontade dos PHAs da vida, vai continuar insepulto.)

(Aliás, Golpe e neo-liberalismo andavam de mãos dadas. O primeiro teórico do Estado Mínimo foi Mussolini. Quem, primeiro, o colocou em prática foi o General Pinochet, com a ajuda dos Chicago Boys. Aqui, foi o Farol.)
Fala sério! Mussolini e "estado mínimo" combinam tanto quanto PHA e honestidade intelectual. Desde quando o fascismo, regime que tinha no lema "Tudo com o Estado, nada contra o Estado", tem alguma coisa a ver com o "neo-liberalismo"? É exatamente o contrário! É verdade que o regime militar autoritário (e não fascista) de Pinochet realizou reformas liberais na economia, mas e o que dizer do governo Geisel, o presidente que mais criou estatais em todos os tempos?

Como funciona o “neo-Golpe” ?
Simples.
Acusa-se o Presidente da República de montar um “Semanão” para corromper a oposição.
Ou seja: para PHA, o mensalão de 2005 não existiu... (deve ter sido uma "conspiração das elites").

Acusa-se o Presidente da República de ter aspirações continuistas, com um terceiro mandato.
Para ele, isso também não existiu...
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Instala-se uma CPI no Congresso.
Vai depor um Varão de Plutarco, notável parlamentar de ilibada reputação, Roberto Madison.
Atentem bem para isso: a idéia aqui é desqualificar o depoente (Roberto Jefferson), para que ninguém leve em conta o depoimento. Ou seja: o que vale é o mensageiro, não a mensagem.

Ele brada: a corrupção está ali ao lado, no Palácio do Vale !
E está mesmo. Que o diga o Ministério Público e os 40 indiciados no processo do mensalão.

É um mar de lama.
Idem.

O Presidente da Câmara, Thomas Noblat, declara o impeachment do Presidente da República.
Infelizmente isso não aconteceu.

O Governo e a situação recorrem.

O Presidente Supremo do Supremo Gilmar Diamantino, notável educador, nas férias do Supremo concede duas liminares em 48 horas aos Golpistas.


E o Presidente da República tem que deixar o país em direção ao Uruguai.
Por que não Cuba? Ou a Venezuela? Ou o Irã?

O presidente interino convoca eleições presidenciais.
Tudo dentro da Lei e da Ordem, como diz no PiG (*) e brada a urubóloga Miriam Leitão, uma das trombetas do Golpe.

[...]

É assim o “neo-Golpe”.

Dentro da Lei.

Ele só é possível porque o PiG (*) de Honduras e o PiG (*) do Brasil trabalham incansavelmente pelo Golpe.

Um presidente de inclinações trabalhistas – Zelaya é um proprietário rural, como Jango – não tem o direito de ajudar os pobres.
Vejam como zé laia, o "presidente de inclinações trabalhistas", estava ajudando os pobres: rasgando a Constituição de Honduras, em especial o artigo 239... Mas PHA não leu a Constituição de Honduras. Por isso acha que a saída de zé laia foi "golpe".

O PiG (*) não perdoa.

E aí se sai com essas sandices, como a que está na primeira página da Folha (**) : “Golpistas acusam Lula de intromissão”.

Intromissão, como ?
Sem querer, PHA deixa cair parte da máscara: a manchete é uma sandice, sem dúvida. Não porque não tenha havido intervenção brasileira (houve), mas porque não foram "golpistas" os que acusaram Lula de intromissão. O único golpista na história toda estava dentro da Embaixada brasileira, tentando voltar na marra ao poder.


Ainda assim seria um ex-presidente deposto legalmente, conforme a Constituição que ele tentou violar. Não seria "golpe".

Até onde eu sei, permitir que a própria Embaixada seja transformada em escritório de agitação política por políticos caídos em desgraça caracteriza intromissão nos negócios internos de outro país. Ou não caracteriza?

[...]

O PiG (*) faz em Honduras um ensaio do Golpe que quer dar aqui.
Tenho só uma coisa a dizer:

Que pena que isso não é verdade!

Em Honduras, ainda há gente valente e briosa, que defende a Lei contra quem quer estuprá-la. Já no Brasil... Temos Lula. E Paulo Henrique Tamborete de Forró.

Agora você deve estar se perguntando: o que raios é PIG?

Respondo: PIG é a sigla de "Partido da Imprensa Golpista". É uma gracinha inventada pelos petralhossauros e petralhotários para tentar fazer mofa com a "mídia" (é assim que eles chamam a imprensa, sobretudo a que não se rende a seus planos totalitários) e, de quebra, alimentar o misto de vitimismo e teoria conspiratória que passa, hoje, por esquerdismo. É algo saído das mesmas mentes que acreditam que o mensalão foi um complô da "zelite".

Engraçado, não?

O mais engraçado é que, no caso de Honduras, o conjunto da "mídia", inclusive a poderosa Rede Globo, caiu como um patinho no conto do "golpe" dado em Honduras contra o "mártir" zé laia, repetindo feito disco arranhado: "foi golpe", "foi golpe". Ou seja: de PIG não teve nada.

Dos grandes veículos de comunicação, apenas a revista VEJA se deu ao trabalho de ler a Constituição de Honduras e compará-la com os fatos.

Que partidinho mixurica esse tal de PIG, heim? Limita-se à VEJA e à Editora Abril...

E ainda tem quem nos queira fazer crer que esse tipo de coisa existe, e que é capaz até de derrubar presidente.
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Pois é. Isso não cola.
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Ainda bem que existe o PUM - Partido Unificado dos Mentirosos.

Eis como age o PUM.

Um recém-convertido ao bolivarianismo tenta um golpe para se eternizar no poder. Para tanto, tenta impor uma consulta ilegal e inconstitucional, usando as Forças Armadas.

O Exército, cumprindo determinação legal do Congresso e do Judiciário, age a tempo e aplica o que está na Constituição, retirando-o do poder.

O PUM entra imediatamente em ação, e no dia seguinte todos estão gritando, indignados: "foi golpe".

Muita gente cai na esparrela, graças à propaganda insistente do PUM.

O golpista deposto, com o apoio do PUM, entra clandestinamente no país e se assenhora da embaixada de outro país, cujos governantes são membros do PUM. De lá, passa a defender a guerra civil. O PUM aplaude, e exige sanções duras contra os "golpistas" que aplicaram a Lei.

Os novos governantes aplicam o que está na Constituição, mantêm as eleições, preservam as garantias individuais e a democracia. Mas ainda assim o PUM diz que houve golpe, e não reconhece a legitimidade do governo constitucional.

Para o PUM, houve golpe, porque o companheiro deposto por tentar estuprar a Constituição estava de pijamas quando o prenderam.

Paulo Henrique Bofe de Elite Tamborim é um dos porta-vozes do PUM. Um homem de grande estatura física e moral.

Esse é o PUM. Um partido com muitos adeptos no Brasil.

É LULA. MAS PODE CHAMAR DE A ESSÊNCIA DO MAL


Luiz Inácio deu uma entrevista ao Estado de S. Paulo, publicada hoje, 19/02. O que disse o Apedeuta? O de sempre: negou que o mensalão existiu, fez o elogio dos próprios aliados corruptos, como Zé Sarney, justificou a violação da lei eleitoral, aproveitou para surfar na desgraça das chuvas em São Paulo para fazer mais campanha eleitoreira antecipada etc. etc.

Não vou comentar nada disso aqui. Até porque outros já o fizeram, e com muita competência, aliás. Vou me concentrar apenas no final da entrevista. Vejam:

Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.

Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

A "essa coisa" a que se refere Lula, e que, segundo ele, "está mal resolvida" é o fato de o Irã, uma ditadura teocrática, estar desenvolvendo, ao arrepio do direito e da comunidade internacionais, um projeto nuclear secreto que visa a produzir armas nucleares. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que esteve aqui em novembro passado, e que, entre outras pérolas de sabedoria, nega o Holocausto de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, já deixou claro para quem quiser saber que quer varrer Israel do mapa. Ele inclusive trabalha ativamente para isso, apoiando com armas e dinheiro os terroristas do Hamas e do Hezbollah. Seu ministro da Defesa, aliás, tem contra si um mandado de prisão internacional por estar envolvido num atentado à bomba contra uma associação judaica, ataque que deixou 85 mortos em 1994 - isso aqui do lado, em Buenos Aires. Ou seja: seu governo tem como ponto de (des)honra a destruição de outro país e o aniquilamento de sua população. Com a bomba atômica, ele estará mais perto de alcançar esse seu objetivo.

É essa a "coisa mal resolvida" a respeito do Irã de que fala Lula. E o Brasil ainda apóia isso!

Sobre a comparação com o Iraque: Lula diz que a intervenção no Iraque em 2003 foi uma "mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha" (juro que um dia vou escrever um livro sobre a maneira peculiar de o Apedeuta construir as frases...). E quer dizer com isso, certamente, que o Irã seria um caso parecido etc. e tal. Fica parecendo que os EUA e seus aliados sabiam que Saddam Hussein não tinha armas de destruição em massa e inventaram a coisa toda para levar adiante a guerra. Aliás, é assim que muita gente pensa ainda hoje.

Pois é, meus caros. O problema é que os EUA NÃO SABIAM que Saddam Hussein não tinha as tais armas químicas. Foi JUSTAMENTE POR ISSO que os EUA e seus aliados se decidiram pela guerra - PORQUE NINGUÉM SABIA. Saddam ficou doze anos brincando de gato e rato com a ONU, descumprindo seguidas resoluções (dezessete!) do Conselho de Segurança, impedindo o acesso de inspetores a seus arsenais etc. Diante dessa dúvida - e do perigo representado pela ditadura iraquiana, que já havia, inclusive, usado essas armas contra a própria população curda, em 1988 -, os EUA e seus aliados decidiram que seria melhor agir logo, em vez de esperar para ver. Ou seja: não houve "mentira" nenhuma, a não ser as mentiras inventadas pelo ditador Saddam Hussein, que agora deve estar se lamentando no inferno.

Quanto ao Bustani, outra balela do Apedeuta: ele não foi "decapitado a pedido do governo americano" para que "não dissesse que o Iraque não tinha armas químicas". Isso é falso. Ele foi, sim, retirado do cargo por pressão dos EUA, que agiram, pode-se dizer, de forma arrogante. Mas o motivo não foi esse. O motivo de sua queda da direção da OPAQ ele mesmo deixa claro qual foi. Leiam o que ele disse em entrevista à revista VEJA (edição 1749, 1/05/2002, páginas amarelas):

Parte de minha função era atrair novos países para dentro da organização, algo que fiz com enorme sucesso. O número de Estados membros saltou de 87 para 145 países, entre eles o Irã e o Sudão. Há cinco anos, tento convencer o Iraque a entrar para a Opaq, mas não consegui convencer seus representantes. Não havia sinal algum de que estivessem prestes a mudar de idéia. Caso o Iraque entrasse na Opaq, teria de aceitar as inspeções. Talvez haja interesses contrários a isso.

Ou seja: ele, Bustani, caiu não porque soubesse que o Iraque não tinha as tais armas proibidas - ninguém sabia -, mas porque tentou atrair o Iraque para a organização que presidia, coisa que o regime de Saddam rejeitou categoricamente por cinco anos. Ele queria que o Iraque fizesse parte da OPAQ e se submetesse às inspeções, mas Saddam disse não e continuou com seu jogo de mentiras com a ONU. Os EUA se cansaram desse joguinho e pediram a saída do brasileiro da organização, pois concluíram - acertadamente, diga-se - que ele estava sendo enganado pelo ditador iraquiano. Pode-se acusar os EUA de arrogância, mas não se pode dizer, como faz Lula, que o diplomata brasileiro perdeu seu cargo "para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque". Simplesmente porque isso seria impossível, como o próprio Bustani admite, ainda que por vias oblíquas.
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Além de a análise do caso iraquiano ser equivocada, para dizer o mínimo, a comparação que Lula faz com o caso do Irã não tem qualquer fundamento. Pois Ahmadinejad já deixou claro que seu programa nuclear não tem nada de pacífico. Ou seja: nem esconder a realidade, como fazia Saddam, ele se dá ao luxo de fazer. Somente Lula e o Itamaraty parecem não ter percebido isso ainda. Ou perceberam, mas, por algum motivo difícil de entender, prosseguem com essa política suicida.
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Mas o melhor vem em seguida. No final da entrevista, Lula diz o seguinte:

O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
Eu acho que a Venezuela é uma democracia.

E o seu governo aqui é o quê?
É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.

Precisa comentar?
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COMISSÃO DA VERDADE OU DA MEIA-VERDADE?


Vítima de atentado à bomba por terroristas de esquerda, Recife, 25.07.66:
a "Comissão da Verdade" do governo Lula vai tratar de casos assim?
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Assisti, um dia desses, a um debate interessante na TV Câmara. TV Câmara? Pois é. É raro, mas às vezes acontece de passar alguma coisa que vale a pena ver ali, além de documentários soporíferos sobre o bumba-meu-boi e discursos analfabetos de deputados idem. O assunto do debate era a tal "Comissão da Verdade" que o governo quer criar para, em suas palavras, "investigar as violações aos direitos humanos durante a ditadura militar de 1964", como parte do pacote chamado 3o Plano Nacional de Direitos Humanos - ou Plano Nacional-Socialista dos Direitos Humanos, como já está sendo chamado.

Preparei-me para mudar de canal ou desligar a TV e ler um livro, mas, como o tema me interessa e é bastante polêmico, já tendo até levado à demissão de general que se pronunciou contra a coisa, resolvi insistir. Frente a frente, havia dois deputados, um a favor e outro "mais ou menos contra" o projeto tal como está, além de dois professores universitários e um coronel, representante do Exército. Um dos deputados, aliás do PT, ficou balbuciando o tempo todo platitudes como "a ditadura foi terrível" e "é preciso apurar a verdade", lembrando seu passado de militante e perseguido político etc. O que era "mais ou menos contra", do PSDB, ficou calado a maior parte do tempo, quebrando o silêncio apenas para falar que era contra a Comissão "do jeito que está". Um dos professores, creio eu uma socióloga, tentou articular um discurso militante em defesa da revisão da Lei de Anistia de 1979, colocando-se contra o que chamou de "lógica da Guerra Fria" ou "lógica de ameaças" dos que se opõem à iniciativa dos ministros Paulo Vanucchi e Tarso Genro. Aproveitou e tascou que os militares "deveriam pedir desculpas" por 1964 e pelo que se seguiu...

Imaginei que iria presenciar um monólogo esquerdista, desses que passam, no Brasil, por "debate", mas nada disso! Tive uma grata surpresa. O coronel do Exército, representante das Forças Armadas, não se intimidou por estar em minoria. Pelo contrário. De maneira firme, porém ponderada, calma, didática, ele deu uma verdadeira aula aos esquerdistas presentes, principalmente à tal professora que queria que os militares se flagelassem em público. Sua superioridade intelectual e moral sobre os demais debatedores ficou claríssima. Ele explicou que a Anistia não teve nada a ver com "justiça", tendo sido, antes, um pacto político para viabilizar a democracia. Como tal, tratou-se de um ato que extinguiu os crimes e a punibilidade dos mesmos. Não foi, como disse a professora, uma anistia "auto-imposta" para garantir a impunidade dos agentes da repressão política, mas uma conquista da sociedade brasileira, inclusive da esquerda, que se organizou, na época, em vários Comitês pela Anistia (um dos deputados presentes tinha sido membro de um desses comitês). Respondeu, ainda, que, se a Anistia não vale e deve ser revogada porque o regime era de exceção (portanto, "ilegítimo"), então toda a legislação produzida após 1964, como a que criou o FGTS, deveria ser anulada. Finalmente, deixou claro que, entre tratados internacionais e a legislação nacional, é esta que vale.

Quanto à "lógica da Guerra Fria" ou "lógica de ameaças" a que se referiu a professora, o coronel (cujo nome, infelizmente, não retive) poderia ter dito mais. Poderia ter dito, por exemplo, que, por trás desse discurso aparentemente anódino, esconde-se um claro viés ideológico. A lógica da Guerra Fria se expressa, por exemplo, na forma da tentativa de revogar a Anistia a fim de punir apenas um dos lados - o dos militares, claro -, enquanto deixa de fora os terroristas de esquerda, que mataram, assaltaram e seqüestraram. Aliás, em todo o debate os que interpelaram o coronel não falaram em momento algum as palavras "terrorista" e "terrorismo". Já o coronel não se furtou em falar de tortura, lembrando, inclusive, que ela também foi praticada pela esquerda radical - e citou um caso específico, ocorrido na chamada guerrllha do Araguaia, em que um adolescente de 17 anos foi retalhado a facão pelos "guerrilheiros" na frente de sua família.

"A repressão foi uma opção dos militares", repetia a professora revanchista, como se isso invalidasse o fato de que a luta armada também foi uma escolha consciente da esquerda radical, que desejava derrubar o governo para instalar, em seu lugar, uma ditadura comunista (e isso, como bem lembrou o coronel, antes já de 1964). "Os militares têm que pedir desculpas", insistia - como se a corporação militar como um todo, que saiu do regime extremamente bem avaliada pela maioria da população (o que não inclui, obviamente, os esquerdistas), e cujos generais acreditam, não sem razão, que salvaram o Brasil do comunismo em 1964, devesse alguma desculpa. Quanto a isso, aliás, o coronel recordou o que quase ninguém, ali, queria lembrar: as vítimas e mesmo não tão vítimas assim do regime de 64 estão sendo agraciadas com fartas indenizações do Erário público. Já aqueles que caíram vitimados por balas e bombas da esquerda armada, muitos deles cidadãos comuns, sem qualquer relação com a luta política travada então, quando é que receberão pelo menos um pedido de desculpas de seus algozes? Se é de perdão que se está falando, por que os esquerdistas não se desculpam perante eles e suas famílias? Por que, em vez disso, endeusam terroristas?

As observações do coronel, claro, ficaram sem resposta. E não poderia ser diferente. Sua análise do regime de 64 e da luta armada, assim como da Anistia, foi impecável. Seu desmascaramento do revanchismo esquerdista, agora travestido de "Comissão da Verdade", foi total e irrefutável. Ficou claro que, qualquer tentativa de rever a Anistia não passa de uma forma de duplo padrão ideológico a fim de beneficiar a esquerda. Além do mais, a idéia de que os militares deveriam "pedir desculpas" pelo que fizeram é ridícula: primeiro, porque em 1964 eles não tomaram o poder sozinhos (tratou-se de um golpe, ou contra-golpe, civil-militar); segundo, porque tiveram amplo apoio popular; terceiro, porque os terroristas de esquerda eram uma ínfima minoria, não representando, de maneira alguma, os anseios da sociedade; e quarto, porque no Brasil, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na Argentina, não houve um confronto entre a instituição militar como um todo e a população, e os militares que estiveram diretamente envolvidos nas atividades da repressão política foram uma fração pequeníssima das Forças Armadas. Finalmente, os militares concordaram em perdoar os terroristas e em devolver o poder aos civis, retirando-se da vida política - pode-se imaginar o mesmo acontecendo em Cuba, por exemplo? Os militares, com a exceção da minoria de torturadores e assassinos, não fizeram nada de que possam se envergonhar. Por que deveriam pedir desculpas?

Das observações certeiras do representante dos militares no debate da TV Câmara, e dos argumentos toscos de seus contendores, ficou claro para mim o seguinte: se fosse constituída eqüitativamente por representantes dos dois lados, com o objetivo de apurar as circunstâncias da repressão e da luta armada (e não somente da repressão, como se pretende), a tal "Comissão da Verdade" seria, de fato, uma oportunidade de restaurar a verdade histórica e, de certo modo, fazer justiça à memória e à História nacionais. Como não é esse o intento de seus idealizadores, a conclusão óbvia é que ela não passa de um palco para julgar o regime de 64 e impor a "justiça dos vencidos", isto é, o revanchismo. Não será, portanto, uma Comissão da Verdade, mas da meia-verdade. Ou da meia-mentira.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

RESPOSTA A UM DEVOTO OBAMISTA


De volta aos poucos do carnaval, como sempre me deparo com a estultice. Um engraçadinho (anônimo, claro) solta o seguinte grunhido, sobre meu texto "Fale mal de Deus, mas não de Obama (ou: "é tudo culpa do Bush")" (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2010/01/fale-mal-de-deus-mas-nao-de-obama.html) - que é, por sua vez, uma resposta a outro comentário, provavelmente saído do mesmo cérebro:

Deixa ver se entendi.... quando elogiamos Lula pelos méritos de seu governo você diz " É merito do Fernando Henrique, Lula apenas deu sequencia ao que ele começou".. quando dizemos que Obama não vai resolver em um ano o que Bush levou oito para fazar você diz que é balela.... A direita consegue patetica e incoerente, é justamente por isso que naufragou na America Latina, vejamos o quanto a sua direita sobrevive na Europa.

Agora é minha vez: deixe-me ver se entendi... O obabacamaníaco não entendeu minha crítica sarcástica a Santo Obama, o demiurgo que iria resolver em um passe de mágica todos os problemas dos EUA e do universo e que iria tornar o mundo um lugar mais seguro com a força do sorriso e da boa-vontade? Não captou minhas observações sobre o erro de apaziguar ditadores e terroristas em troca de, sei lá, "paz"? Pois até Obama parece ter entendido, como está claro na linguagem mais dura dos EUA em relação ao Irã...

Mais uma vez, os pronomes denunciam. O leitor anônimo - nunca achei que o anonimato tivesse sido inventado para esconder a vergonha, mas estou cada vez mais convencido de que sim, essa é sua função - diz que quando "elogiamos" ("nós", quem? quem seria o sujeito da frase?) Lula pelos "méritos de seu governo", eu, o do contra, torço o nariz e, certamente só pra chatear, digo que é mérito do FHC, pois "Lula apenas deu sequência ao que ele começou". Não só deu sequência, como se APROPRIOU do que havia de bom no governo anterior, esqueceu-se de dizer. E, ao se apropriar do que antes condenava, apresentando-se como "fundador da nação", deu uma contribuição sem precedentes à lista de maiores mentiras já ditas em todos os tempos, justificando a frase, que deveria ser o slogan de seu governo: O QUE É BOM NÃO É NOVO, E O QUE É NOVO NÃO É BOM. Por isso desço o malho nos petralhas. Entendeu?

Agora Obama. Aqui, pelo visto, vou ter que apertar a tecla SAP. Não tem outro jeito: só assim esses energúmenos entendem... No post, eu mango dos devotos da fé obâmica, que acreditaram que Obama iria resolver em um ano o que o satanizado Bush não conseguiu em oito. Por alguma razão, o leitor sem nome e sem miolos percebeu nisso alguma relação com o governo Lula e FHC... Pois bem: durante oito anos, Bush mandou bala nos terroristas, com razoável sucesso - aponte um atentado terrorista bem-sucedido nos EUA depois de 11/09/2001. E, por causa disso, levou pau todos os dias dos mesmos que votaram em Obama. Ele, Obama, foi eleito com a promessa, entre outras coisas, de reverter as políticas de Bush, o que incluiria fechar Guantánamo e realizar as esperanças dos pacifistas etc. Seria de esperar, portanto, que ele diminuísse as tropas no Afeganistão, entre outras coisas. Muito bem. Mais de um ano se passou, e o que fez Obama? Não só manteve as tropas, como anunciou um aumento nas mesmas. Quanto a Guantánamo, a base continua lá. Em outras palavras: a mesma política de Bush, até ampliada.

Estou dizendo que ele, Obama, fez errado? Mais uma vez, ligando a tecla SAP: Não! Ele está certo! A maneira de combater o Taliban e a Al-Qaeda é mesmo com balas, e não com flores. É com tropas, não com afagos. Onde está, então, a minha crítica? No fato de que, até um ano atrás, ele e seus cabos eleitorais estavam atirando pedras em Bush exatamente por ele seguir essa mesma política que agora, talvez com dor no coração, eles, os obamistas, estão seguindo. Pode-se dizer que há aqui um paralelo com as críticas (falsas) de Lula et caterva à política econômica de FHC? Pode-se, sim. Em ambos os casos, os esquerdistas enganaram muita gente. E é por isso que os critico.
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Pra ficar mais claro: SE TIVESSE UM MÍNIMO DE DECÊNCIA, LULA PEDIRIA DESCULPAS A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PELOS ANOS DE OPOSIÇÃO IRRESPONSÁVEL À ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA, QUE AGORA CINICAMENTE REIVINDICA COMO UMA CRIAÇÃO DELE, LULA. Do mesmo modo, OBAMA DEVERIA RECONHECER QUE A POLÍTICA DE GEORGE W. BUSH PARA COMBATER O TERRORISMO ISLAMITA NÃO ESTAVA NO ESSENCIAL ERRADA, TANTO QUE AGORA NÃO FAZ MAIS DO QUE COPIAR E AMPLIAR ESSA POLÍTICA. DEVERIAM RECONHECER, ENFIM, QUE O DISCURSO ANTERIOR ERA FALSO, PURA DEMAGOGIA ELEITOREIRA. Mas, francamente, não acredito que eles farão isso.
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Ficou claro? Ou terei que desenhar?
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Outra coisa: de onde o ilustre leitor desconhecido retirou a genial conclusão de que a "direita" (além de tudo "patética" e "incoerente") naufragou na América Latina? De quem, ou do quê, está falando, exatamente? Será que é de Honduras, onde a "esquerda", representada por um latifundiário bigodudo que vê raios de alta freqüência dirigidos contra sua cabeça, foi enxotada por um movimento cívico constitucional, para desconsolo de Lula e de Celso Amorim? E, quanto à Europa, quem é mesmo que governa os países mais importantes da região, como a Alemanha, a Itália, a França (sim, apesar do marido de celebridade e camelô de caças que é Sarkozy) etc.? Mas deixa pra lá, isso já é assunto para outro post.

Uma última observação: fique tranqüilo, caro leitor. Apesar do que está aí em cima, saiba que lhe tenho uma grande estima. É que, justamente por eu ser um reaça e um direitista, tenho em alta conta a fé das pessoas, mesmo se for em Obama ou em Lula. Afinal, respeito todas as religiões.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

ARRUDA NA CADEIA! VIVA! E OS MENSALEIROS E ALOPRADOS?


O governador do DF, José Roberto Arruda, está preso na Políca Federal. Ótimo! É onde ele deve estar mesmo! Lugar de corrupto é na cadeia. Vamos comemorar! U-huuuu!

Agora, vamos esperar que os seguintes mensaleiros e quadrilheiros tenham o mesmo destino:

- Delúbio Soares;

- Sílvio Pereira;

- Antônio Palocci;

- José Genoíno;

- José Dirceu;

- Os assassinos de Celso Daniel;

- Os aloprados fazedores de dossiês;
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- Enfim, os 40 indiciados pelo mensalão;
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E, principalmente,

O maior de todos: O CHEFE

Vamos lá, petistas do DF! Tenho certeza de que, éticos como são, vocês vão também pedir a cabeça desses que estão aí em cima. Afinal, a Justiça está acima das utopias e das conveniências políticas, não?

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

DE GOLPE ELES ENTENDEM

Em meu último post, recordei uma frase do chanceler Celso Amorim, dita no auge da confusão monumental em que o Brasil se meteu - e da qual saiu chamuscado - em Honduras. Perguntado por que o Brasil defendia sanções pesadas contra o governo hondurenho de Roberto Micheletti, ao mesmo tempo em que se opunha ao embargo norte-americano a Cuba, o chanceler brasileiro negou que isso caracterizasse duplo padrão, pois, segundo disse (em 7/07/2009): “Cuba foi uma revolução, enquanto Honduras foi um golpe de Estado típico de uma direita que não tem mais lugar na América Latina” etc.
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A frase merece uma análise mais profunda. Na verdade, trata-se de uma das declarações mais reveladoras sobre a atual política externa brasileira. Vamos lá.
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Em duas linhas, duas mentiras: 1) em Honduras houve um golpe de estado; e 2) em Cuba o que houve foi uma revolução, não um golpe de estado. O corolário daí decorrente é, como não poderia deixar de ser, igualmente falso e mentiroso: logo, a política do Brasil para os dois países está correta, é uma política democrática etc. etc.
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Sobre Honduras, já escrevi bastante aqui, e basta rolar o blog para baixo para perceber que não houve golpe algum, a não ser o tentado por Manuel Zelaya e sua turma, com o apoio de Lula e de Hugo Chávez. Uma rápida olhada na Constituição do país deixa claro quem é golpista e quem não é na história toda. Ademais, de que "direita" o excelentíssimo chanceler está falando? Seriam os mais de 70% da população hondurenha que apoiaram o afastamento legal de Zelaya? Aliás, é bom lembrar: ele, Zelaya, é um latifundiário que viu no bolivarianismo o caminho ideal para se perpetuar no poder, e foram seus próprios ex-companheiros de partido que o tiraram da presidência para preservar a Lei. Se há alguém que representa a "direita", ainda por cima "que não tem mais lugar na América Latina", no sentido em que quis imprimir à palavra o chanceler - de coisa atrasada, reacionária mesmo - é ele, Zelaya. É ele, e não os que o tiraram do poder, que representa a tradição caudilhesca e autoritária que, infelizmente, caracteriza a história da América Latina. (Nada disso, claro, faz qualquer diferença para nosso chanceler - para ele, a "direita" é sempre o lado mau, mesmo que defenda a Constituição contra quem tenta estuprá-la...)
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Não, senhor chanceler: não é quem afasta legalmente, DE FORMA CONSTITUCIONAL, caudilhos e aprendizes de ditador, que "não tem mais lugar na América Latina". É quem tenta, usando inclusive os meios legais, violar a Lei e impor um regime personalista e antidemocrático. Esse tipo de gente, sim, não tem nem deve ter lugar, na América Latina e em parte alguma. O lugar a que pertencem é a lata de lixo da História. É lá que eles devem ser atirados. Eles e os que os apóiam.
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Quanto a Cuba, também já escrevi um bocado, e vale a pena lembrar alguns fatos ignorados por Sua Excelência. O primeiro deles é que revolução e golpe de estado não são conceitos excludentes, antitéticos. Pelo contrário: basta uma análise mais acurada do que aconteceu na ilha-presídio desde 1959 para perceber, sem muito esforço, que o que ocorreu foi, sim, um golpe de estado. O maior golpe da história da América Latina.
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Em Cuba, para começo de conversa, os revolucionários de Fidel e Raúl Castro não derrubaram o ditador Fulgencio Batista e tomaram o poder para instalar uma ditadura comunista. Em 1959, nenhuma proclamação dos guerrilheiros falava em comunismo, socialismo ou o que fosse, mas em restaurar a democracia e a Constituição liberal de 1940. Isso incluía eleições livres e diretas, coisa que os cubanos aguardam até hoje. Pois bem. O que fez Fidel Castro pouco após tomar o poder? Mandou todas essas promessas às favas, e instaurou uma ditadura pessoal, totalitária, claramente comunista. Nesse processo, mandou prender e fuzilar muitos que participaram da luta contra Batista, como Huber Matos, um dos principais comandantes revolucionários, condenado a 20 anos de cárcere por discordar da comunização da ilha. Se isso não foi um golpe, então não sei o que o termo significa. (E não me venham dizer que Fidel levou a ilha em direção ao comunismo e à URSS por pressão dos EUA: seus planos de concentração total do poder vêm desde, pelo menos, a época de Sierra Maestra. Os EUA não tiveram nenhum papel na transformação de Cuba numa tirania totalitária comunista, que se deve tão-somente às ambições políticas e pessoais de Fidel Castro. Além do mais, se o mundo inteiro não conseguiu trazer Cuba para o lado da democracia em cinqüenta anos, como é possível que os EUA tenham "empurrado" a ilha para o socialismo?)
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Tudo isso é narrado minuciosamente em dezenas, centenas de livros e depoimentos, muitos deles de ex-integrantes do establishment castrista que pularam fora do barco do totalitarismo, inclusive uma filha e uma irmã de Fidel. Posso indicar uma biblioteca inteira, se quiserem. Mas parece que nosso chanceler prefere a versão fantasiosa e romântica dos acontecimentos, aquela que apresenta Fidel Castro como um humanista, não como um ditador. É uma pena. Pelo visto, ele deve ter aprendido sobre a Revolução Cubana lendo os livros de Frei Betto e Emir Sader.
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Em resumo, o que o excelentíssimo ministro brasileiro das Relações Exteriores afirmou foi o seguinte:
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- Preservar a Lei é "golpe" quando o deposto é alguém "de esquerda";
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- Um golpe dado por um companheiro de esquerda não é golpe, é "revolução";
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- A "direita" é golpista; a esquerda, não.
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Em Honduras, o Brasil apoiou o lado golpista contra a democracia, tachando de golpista a "direita" que se opõs ao golpe em preparação para preservar as instituições. Em Cuba, o Brasil apóia há anos uma ditadura baseada na traição dos ideais revolucionários, originalmente liberais e democráticos - do mesmo modo, a "direita", aqui, é quem se opõs e se opõe a essa enganação, inclusive pagando com a prisão e a morte. Agora, as mesmas forças por trás da atual política externa brasileira estão urdindo um golpe internamente, no Brasil, mediante o PNDH-3. É preciso reconhecer: de golpe, os esquerdistas entendem.

O BRASIL NO EIXO DO MAL


O Brasil agora é parte do Eixo do Mal. Graças a Lula e a Celso Amorim.
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O mundo inteiro - e incluo aí o governo Obama, que já critiquei duramente aqui neste blog, além da Velha Europa e da Rússsia - já se deu conta do perigo que representa a tirania teocrática do Irã de Mahmoud Ahmadinejad, que insiste em produzir urânio enriquecido para ter a bomba atômica e destruir Israel. Ontem, Obama fez um discurso defendendo sanções mais duras contra o Irã. Mas o governo brasileiro não está nem aí. Pior: está sim, mas de braços dados com a teocracia iraniana contra a humanidade.
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Ontem também, Celso Amorim colocou-se contra as sanções da ONU ao Irã, pois estas "só prejudicam os pobres". Esqueceu-se que, há pouco tempo, era o mais ardoroso defensor de sanções internacionais contra a pobre Honduras, que destituiu constitucionalmente um presidente que tentou rasgar a Constituição do país. Em uma entrevista, o chanceler do Aiatolula afirmou que era a favor de sanções contra Honduras, mas contra o embargo a Cuba porque "em Cuba houve uma revolução, enquanto em Honduras houve um golpe de estado desfechado pela direita mais tradicional da América Latina". A conclusão, óbvia e inevitável, é: sanções podem, mas só contra regimes "de direita", jamais contra ditaduras comunistas ou tiranias teocráticas patrocinadoras do terrorismo. Dificil conceber confissão maior de double standards do que essa.
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É impressionante o grau de alinhamento do Itamaraty com o que há de pior na humanidade. E mais impressionante ainda é como isso não está sendo denunciado como deveria. Afinal, trata-se de um escândalo muito pior do que qualquer mensalão. Além disso, pode-se tentar entender o que leva o governo Lula a envolver-se na farsa bolivariana de Honduras, ou a justificar os ataques cada vez mais constantes de Hugo Chávez à democracia dentro e fora da Venezuela, ou as manifestações explícitas de ciúmes diante da pronta ajuda norte-americana às vítimas do terremoto no Haiti. Pode-se, inclusive, entender a postura omissa (e, na prática, favorável) em relação aos narcoterroristas das FARC - afinal, assim como Chávez e Morales, eles são companheiros dos petistas no Foro de São Paulo. Mas, francamente, o que dizer do caso do Irã? O que ganha o Brasil ao se aliar politicamente a Ahmadinejad?
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Tanto do ponto de vista moral, como do ponto de vista do realismo político, o apoio incondicional a ditaduras não acrescenta nada de positivo às ambições internacionais do Brasil. É um tiro no próprio pé: além de levar à humilhação do País, isolando-o no cenário mundial, o apoio a Ahmadinejad - sem falar em figuras como Chávez, os Castro e Evo Morales - apenas afasta a possibilidade de o Brasil um dia vir a ser membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Isso porque o Irã é visto com desconfiança pelos países árabes, que o governo Lula também desesperadamente corteja, e de cujo apoio depende sua candidatura ao Conselho de Segurança. Ninguém no Itamaraty pareceu lembrar que os árabes desconfiam das ambições do "Império Persa" tanto quanto se opõem a Israel, e que as chances de o Brasil contar com o apoio do mundo árabe em seu pleito para uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU diminuem a cada declaração favorável ao regime dos aiatolás (além do mais, xiita, quando 90% dos muçulmanos sao sunitas). Não se trata somente, portanto, de algo moralmente indefensável, mas, também, de um erro crasso, de algo contraproducente.
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A política externa brasileira é um desastre. É uma coleção de fracassos, em um governo do qual já se disse, acertadamente, que o que é bom não é novo, e o que é novo não é bom. Honduras e o Irã são os exemplos mais eloqüentes, mas não são os únicos. No ano passado, o Brasil apoiou a candidatura de um antissemita e queimador de livros para a direção da UNESCO, órgão encarregado de zelar justamente pela cultura no mundo, a despeito do fato de haver um candidato brasileiro ao pleito - e viu a candidatura que apoiou ser derrotada miseravelmente. Ou seja: entre a desonra e a humilhação da derrota, ficou com as duas coisas. Se tivesse agido de caso pensado contra os próprios interesses nacionais, não teria feito melhor (ou pior). Esta tem sido uma constante nos últimos sete anos.
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Assim como é desastrosa, a diplomacia lulista é megalomaníaca - ou megalonanica. Sob Lula e Celso Amorim, o governo brasileiro transformou a mania de grandeza em motor de sua atuação internacional. Tudo o que tem conseguido é diminuir ainda mais ante a parte do mundo que presta, associando-se aos piores regimes que existem. A VEJA desta semana publicou uma matéria em que examina as notas oficiais divulgadas pelo Itamaraty desde 2003. Fica clara a preferência ideológica por regimes como o de Cuba e da Venezuela em detrimento de outros, como Israel e os EUA. Trata-se, sem sombra de dúvida, de um duplo padrão, moral e político. E, mesmo assim, a diplomacia lulista é vista com respeito por muita gente dita racional. Os psicólogos certamente dirão que a megalomania ignora o fracasso e a própria realidade para se concentrar em suas fantasias.
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Que a diplomacia brasileira atual seja louvada por gente supostamente esclarecida é algo que só pode ser explicado ou pela ignorância ou pela má-fé ideológica, ou por uma espécie de lavagem cerebral. A postura abertamente ideológica do Itamaraty não está em contradição apenas com os princípios da moral e com os interesses nacionais permanentes brasileiros. É uma afronta à democracia. Em particular, à própria Constituição brasileira de 1988. Esta estabelece, em seu artigo 4, os princípios que devem nortear as relações internacionais do Brasil:
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Artigo 4º
A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
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Há idiotas que acham que o apoio a ditaduras como a cubana e às ambições nucleares de Ahmadinejad se justifica como uma forma de "mostrar soberania" ante os "países ricos" etc. A esses cretinos adeptos do terceiro-mundismo e do antiamericanismo mais rombudo eu respondo que o Brasil deve se colocar ao lado da democracia e dos direitos humanos não por causa do que pensam A ou B, mas POR CAUSA DELE MESMO. Ou, se preferirem, por causa do que está aí em cima.
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Felizmente para os lulistas, a política externa não é um tema muito popular no Brasil. Se o povo brasileiro desse a ela metade da atenção que dá ao futebol ou às fofocas sobre celebridades, acharia motivos de sobra para sair às ruas e pedir o fim do governo.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

GUSTAVO VS. GUSTAVO


Só agora vi, navegando na internet, que alguém, por coincidência um xará meu, deu-se à pachorra de comentar uma cartinha que mandei para a PIAUÍ, em agosto do ano passado, em que comento um artigo de Slavoj Zizek publicado naquela revista dos bem-pensantes (ver aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2009/08/olha-eu-ai-de-novo.html).

Fiquei intrigado com os, digamos, "argumentos" usados pelo gentil leitor em sua carta de "resposta". Tão intrigado que vou transcrever aqui o (longo) texto dele na íntegra. Assim, quem sabe, alguém poderá me explicar o que ele quis dizer em 505 palavras e 3.233 caracteres.
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Para quem conseguir ler até o final, meu comentário (ou tréplica) vem depois.
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É com certo pesar e (relativamente à realidade é) com certo pessimismo que leio as linhas do meu duplamente xará, daquele Gustavo Henrique de Brasília. Xará que, como morador (do centro) daquela Disneylândia que é a Capital Federal, pode tão bem e com tamanha propriedade não captar o teor das patentes preocupações do filósofo e com toda a urgência, bem como com a atualidade dos temas abordados, com a peculiaridade e a perspicácia costumeira de Slavoj Zizek. Sujeito (histórico em vias voluntárias de conscientização constante) que é muito mais psicanalista, filósofo e esloveno do que aquele típico "comedor de criancinhas", estereótipo enxergado (ou mal visto) pelo meu xará, e que, inegavelmente, ainda habita o imaginário de todos aqueles que se re encaixam, cotidiana e hipnoticamente, à todas as modalidade de mal-estar inerente aos processos civilizatórios contemporâneos...

Estes que quando não são, conforme as palavras de Jacques Rancière, membros ou inseridos no corpo social como "parte de parte alguma", são aqueles que, pela pretendida manutenção dos "compromissos entre o Estado e Sociedade Organizada" não compreendem o teor tanto da urgência e da essência do que se entende por "comunismo". Ou da coletivização de problemas e de soluções ou, ainda, do tornar "comum" a dinâmica de solução de impasses e da majoração do nível de importância de certos interesses, de indiscutíveis (e urgentemente repensáveis) integrações (entre natureza e civilização, por meio da ciência e da tecnologia), de problemas e de soluções enxergados e mediados por uma gestão comum. Comum e comunista no sentido de coletivo, desde a base social até aos seus fins civilizatórios...

Mas, porém, e infelizmente, quando não são estes "conservadores", tradicionalmente auto-intitulados de "direita" ou de "liberais" (mas, estes mesmos que são também os primeiros a publicarem em letras garrafais, quando conveniente, "somos todos socialistas agora", com a imagem da mão do Estado em uma aliança ("socialista"?) com o mercado em frangalhos; e aqui me refiro à uma edição - e à sua capa - da revista estadunidense ou, sem o adjetivo pátrio, "liberal-conservadora", Newsweek, de fevereiro de 2009, quando da celebração da socialização das perdas do mercado, certamente festejada pelo meu outrora referido xará; mas, quando não é ele ou não são os deles a falarem assim) são assim mesmo que falam e pensam a maioria dos apadrinhados pelos ideais e pelas idéias desta síntese que decorre da junção da (suposta ou meramente positivada e, de fato, utópica) democracia e, na crista da onda do século 21 - e envolto às marés e aos maremotos das crises, também, do livre-mercado.

Torcendo todos (mesmo que inconscientemente) para que este (tal mercado) esteja sempre apto à ser salvo pela mão forte do Estado. Deste ente que supostamente é o representante, fiel gerente e garante dos interesses coletivos, mas que, de fato, apenas mantém longe da comida e da festa os órfãos (entorpecidos pela "cola-de-sapateiro" transvalorada, quando o órfão consegue se manter empregado, nos bem sabidos e famigerados "sonhos de consumo" e nos demais "ópios sociais"... Sejam comportamentais e falaciosamente culturais ou sejam estes meramente tecnológicos).
Gustavo Henrique Ferreira, Uberlândia (MG)


Agora, meu comentário (depois de ler e reler o que está escrito aí em cima):

NUM INTENDI U KÊLE FALÔÔÔÔÔ....

P.S.: E pensar que já "pensei" desse jeito...
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sexta-feira, fevereiro 05, 2010

A PALANQUEIRA SUPERPOP

Dilma em campanha: "gente como a gente"
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Dilma Rousseff esteve ontem no programa Superpop, da intelectual Luciana Giménez, na Rede TV!. Entre platitudes e trivialidades, destinadas a mostrar a chefona como "gente como a gente", e interrompidas de dois em dois minutos por aplausos ensaiadíssimos da platéia (parei de contar quantas vezes a aplaudiram quando chegou a vinte...), ela falou que queria ser bailarina quando criança, ameaçou cantar e fez uma omelete. Não sapateou nem equilibrou uma bola no nariz dançando o créu, porque não deu tempo.

Não vou falar aqui da tosca construção da personagem, nem da tentativa forçada de parecer simpática para a platéia, nem do nível abissal dos programas escolhidos pelos petistas para se "comunicarem" com o povão (a primeira entrevista de Lula após chegar à presidência foi no Programa do Ratinho...). Tampouco vou me alongar sobre a maneira engrolada e tatibitate com que a ministra-candidata deixou todos um pouco mais confusos ao tentar explicar o apagão do ano passado (que ela chama de "blecaute"), dizendo que este teria sido melhor do que o dos outros. Vou me concentrar apenas numa coisa, de muito mais gravidade:

Que colar hor-ro-ro-so era aquele, ministra? Não tinha nada mais fashion? Parecia uns cogumelos enfileirados. Ah, aquele colar... aquele colar não dá, né ministra? Cadê o Ronaldo Ésper?

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

RUMO À FARSA ELEITORAL


Mal a campanha eleitoral deste ano começou - e ela começou, como comprova a crise de hipertensão de Lula - e sou tomado por uma sensação desconfortável e familiar de déjà-vu. É a mesma sensação que tive nas campanhas anteriores para a Presidência da República. De um lado, uma candidata obviamente despreparada, apesar da pose e do marketing oficial, lançada por um governo e por um partido de esquerda; de outro, uma oposição desconcertada e sem discurso, também de esquerda.
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Em outro post apontei para esse estranho fenômeno da política nacional (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/11/pt-e-psdb-o-duoplio-esquerdista.html). Petistas e tucanos, apesar de toda a troca de farpas, ou quiçá por causa disso, são como irmãos gêmeos, que se amam e se odeiam ao mesmo tempo. Quanto mais brigam, mais afloram as semelhanças entre eles. Trata-se, obviamente, de uma falsa polarização, que não esconde a existência, no Brasil, de um duopólio esquerdista: desde quando o PSDB, nascido de uma cisão do PMDB em 1988, nas cadeiras da USP e tendo como figuras de proa o ex-presidente da UNE José Serra e o sociólogo marxiano (em suas próprias palavras) Fernando Henrique Cardoso, é um partido "de direita"? Mais: desde quando os oito anos do governo FHC (1995-2002), em que foram feitas algumas (tímidas) reformas econômicas, foram marcados pelo "neoliberalismo"? Isso só demonstra, a meu ver, a inexistência de qualquer coisa, entre nós, que possa se encaixar no rótulo de "direita" ou "liberal", e, conseqüentemente, o predomínio de uma visão de esquerda, segundo a qual tudo aquilo que não for radical o suficiente, ou esquerdista o suficiente, é automaticamente "de direita".
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PSDB e FHC, "neoliberais"? Então vejamos. Durante o período em que FHC esteve na presidência, os tucanos realizaram algumas reformas econômicas importantes, como a privatização das teles. Fizeram-nas não porque fossem adeptos entusiasmados do livre mercado e da livre iniciativa, por convicção ideológica ou programática, mas por uma imposição da realidade. Ou seja: de forma envergonhada, quase pedindo desculpas. A estabilização da moeda, principal conquista do governo FHC, surgiu dessa maneira. Lula e o PT sabem disso, a tal ponto que mantiveram essas conquistas do governo anterior (tomando o cuidado, claro, de reivindicá-las para si). E ninguém, pelo menos ninguém em seu juízo perfeito, afirma que o governo Lula é "neoliberal".
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Outro exemplo: o Bolsa-Cabresto, também conhecido como "Bolsa-Família". Em entrevistas e declarações, os caciques do PSDB já deixaram claro que consideram o programa necessário e importante, e negam que vão revogá-lo se vencerem as eleições. Dizem, corretamente, que foram eles, os tucanos, que inventaram a coisa, e que os petistas apenas se apropriaram dos programas anteriores, dando-lhes um novo rótulo. Reivindicam, enfim, a paternidade da idéia. Alguma crítica mais mordaz contra o assistencialismo, alguma observação sobre como programas como esse não passam de uma forma de coronelismo e de um estímulo à estadodependência?
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Fatos como esse mostram que a discussão plebiscitária PT X PSDB, ou Lula X FHC, que irá certamente caracterizar as próximas eleições, é na verdade um falso debate, uma falsa polarização. Ao que tudo indica, teremos um repeteco do que houve em 2006, quando o tucano Geraldo Alckmin, escolhido para perder a eleição, negou-se a defender as privatizações, transformando a eleição numa disputa para saber quem era mais estatista, mais esquerdista e mais antiliberal. Em 2002, não foi diferente: todos os candidatos, sobretudo os dois principais, colocavam-se no campo da esquerda, recusando-se a defender abertamente propostas que pudessem ser consideradas "neoliberais". E o mesmo em 1998, em 1994... O que se tem visto, desde a redemocratização em 1985, com a interrupção do governo Collor em 1990-92, é uma alternância no poder entre duas vertentes esquerdistas, uma socialista, outra social-democrata. Diante disso, não surpreende que o nível das campanhas seja tão baixo: não há praticamente o que se discutir de essencial, apenas variações sobre o mesmo tema.
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Tamanha é a hegemonia das patrulhas esquerdistas na política brasileira que é difícil para o cidadão comum enxergar até essa realidade mais que óbvia. "A esquerda somos nós", disse à VEJA o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, em uma entrevista em que ataca duramente o PT e Dilma Russeff. Como se ser "de esquerda" fosse necessariamente uma virtude (por esse raciocínio, ser "de direita" é pactuar com o demo). Isso mostra até que ponto o discurso esquerdista é hegemônico no Brasil, não havendo qualquer alternativa ideológica a ele: até mesmo para atacar a esquerda no Brasil, é preciso ser de esquerda, ter um discurso de esquerda.
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A epítome dessa falsa polarização é a teoria das "duas esquerdas", que tem sido bastante evocada nos últimos tempos. Segundo essa teoria, usada por "especialistas" para explicar fenômenos como o chavismo, haveria duas esquerdas, uma "carnívora", ou radical, e outra, "vegetariana", moderada e civilizada. Lula e o PT fariam parte da ala "vegetariana", enquanto Chávez e Morales seriam "carnívoros". Tal teoria, evidentemente, não leva em consideração a afinidade quase total entre Lula e os companheiros bolivarianos, demonstrada no apoio incondicional do governo lulista às peripécias autoritárias de Chávez e sua turma. Se há uma esquerda "vegetariana", em contraposição a uma "carnívora", certamente não é o PT: é o PSDB.
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(Em tempo: não estou dizendo que PT e PSDB são "todos iguais". Quem diz isso não entendeu nada, ou se faz de sonso. Estou dizendo que pertencem ao mesmo campo político-ideológico. A esquerda, como se sabe, jamais foi monolítica. Dizer mais que isso já seria apertar a tecla SAP.)
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É por causa de falsas dicotomias como essa que não vejo nada de realmente novo saindo das urnas em outubro próximo. Não que as eleições não sejam importantes: elas são, e constituem um dos fundamentos da democracia. É justamente por isso que os candidatos precisam representar as mais variadas correntes políticas e ideológicas, a fim de dar conta de toda a complexidade do tecido social, e não apenas variações do mesmo discurso esquerdista. Além disso, é um erro grosseiro acreditar que a política se limita ao ato de votar, ou que começa e termina nas eleições. Enquanto predominar o duopólio esquerdista na política brasileira, vou continuar a justificar meu voto.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

A MISÉRIA DA ESQUERDA



É raro ver, nesses tempos de politicamente correto e silêncio complacente, um texto como o que vai em seguida. Principalmente por ter sido escrito por um colunista da Folha de S. Paulo, um jornal que, obcecado em não desagradar a gregos e baianos, costuma confundir "não ter lado" com justiça. Por isso, faço questão de transcrever o texto aqui na íntegra. Saiu na Folha em 1 de fevereiro. O autor é Fernando de Barros e Silva. A ele, meu aplauso.
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QUE ESQUERDA É ESSA?
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Como retrato da esquerda, o Fórum Social Mundial nos oferece uma imagem melancólica. De um lado, o evento, encerrado ontem, se presta a ser um palco de aclamação do lulismo; de outro, reitera sem mais dogmas anticapitalistas, fazendo tabula rasa do legado ruinoso dos experimentos coletivistas do século 20.
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Em sua 10ª edição, o fórum agrega uma esquerda que transita entre o novo pragmatismo e a utopia de antigamente, sem que se detenha na crítica de nenhum dos polos. Adesista e fundamentalista ao mesmo tempo, essa esquerda age como quem quer usufruir todos os benefícios possíveis deste mundo (lulista), sem prejuízo de manter intacto o clichê do "outro mundo possível".
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Entre o radicalismo vazio e o apego ao poder, haveria uma trilha menos cômoda. Algo como o compromisso com a redução das desigualdades, com o combate à corrupção em todas as suas formas e a defesa da democracia e do pluralismo -tudo combinado numa perspectiva reformista, que se paute pelo realismo sem abrir mão de princípios.
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Não é isso, como se sabe, o que seduz os funcionários da utopia. Mas que esquerda é essa que vira as costas aos estudantes venezuelanos e não se manifesta contra a escalada autoritária de Chávez? Que esquerda é essa, para quem o mensalão não existiu ou acha que "a vida é assim mesmo"? Que esquerda é essa, capaz de defender a barba de Fidel Castro e o bigode de José Sarney?
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Não há dúvida de que existe uma maioria bem intencionada entre os participantes do fórum. Mas o evento se tornou coisa de profissionais. Com raríssimas exceções, os intelectuais que contam não perdem mais tempo por lá. Restou um lúmpen "pensante" que fez do fórum o seu negócio. Gente, aliás, que cansou de esperar Godot e hoje enche as burras à custa do lulismo. São parasitas do Estado que adoram ressuscitar o fantasma neoliberal diante de plateias embasbacadas para manter viva a sua boquinha. Será possível ainda ser de esquerda sem parecer idiota ou espertalhão?

terça-feira, fevereiro 02, 2010

A TRAJETÓRIA DE UM REVOLUCIONÁRIO ARREPENDIDO (UMA HISTÓRIA DOS ANOS 60)


Estou lendo um livro intitulado American Extremists, de dois professores universitários norte-americanos, John George e Laird Wilcox. Na página 115, deparo com uma história que daria um filme. Resolvi pesquisar na internet por mais detalhes. Vou resumir a história aqui para vocês. Acho que ela merece ser contada.

Desde cedo, Anthony Bryant esteve às voltas com a violência.

Nascido numa família pobre, ainda adolescente ele se envolve com gangues de negros na Califórnia. Sua primeira condenação por roubo vem em 1961.

Em 1964, foi condenado por posse e tráfico de maconha. Na prisão, tem contato com militantes negros como Eldridge Cleaver e com a ideologia do “black power”. Radicaliza-se, abraçando as idéias extremistas de Frantz Fanon e Malcolm X.

É a década de 60, o período mais turbulento da História recente dos Estados Unidos. Os movimentos pelos direitos civis e as manifestações contra a Guerra do Vietnã estão no auge. Os estudantes protestam. A “Nova Esquerda” toma as ruas.

Em 1968, após cumprir sua pena de prisão, Anthony Bryant se filia ao Partido dos Panteras Negras (Black Panther Party), organização radical que luta pelo “poder negro”, fundada dois anos antes. Ele se convence de que somente uma “revolução” poderá levar os negros norte-americanos ao poder e acabar com o racismo no país. Torna-se um dos mais radicais militantes da organização, recebendo o apelido de “Mr. Eliminator” (“Sr. Exterminador”). Ele está em guerra com os EUA.

Em 1969, Bryant passa das palavras à ação. Armado com um revólver, ele seqüestra o vôo 97 da National Airlines, que ia de Nova York a Miami, ordenando que o avião seja desviado para a ilha de Cuba. Seu plano é ser recebido pelas autoridades cubanas e delas receber armas para dar início a uma insurreição nos EUA. “Prefiro morar numa prisão em Cuba a viver nos EUA”, pensava então.

Ao chegar ao aeroporto de Havana, Bryant é, porém, detido pela polícia de Fidel Castro. Cometera um erro: roubara os passageiros, entre os quais um agente do regime castrista, que carregava uma mala cheia de notas de 100 dólares. Em vez da recepção triunfal e das armas que esperava receber, Bryant é atirado numa masmorra, onde permanecerá por 11 anos e meio.

Durante o período em que esteve preso em Cuba, em condições subumanas, Bryan presencia espancamentos de prisioneiros e fuzilamentos. É então que sua visão de Cuba como um “paraíso socialista dos trabalhadores” vem abaixo.

Em 1980, após quase doze anos de prisão, ele é solto, como um dos 30 norte-americanos detidos na ilha liberados em uma barganha entre o ditador Fidel Castro e o presidente dos EUA, Jimmy Carter. São-lhe oferecidas três opções: permanecer em Cuba, ir a um terceiro país ou retornar aos EUA, onde uma pena de 20 anos o aguarda por causa do seqüestro do vôo 97 da National Airlines. Bryant escolhe voltar aos EUA. Sua pena é comutada e ele readquire seus direitos de cidadão norte-americano. Seu discurso agora era outro: “Prefiro viver numa prisão nos EUA a morar em Cuba”.

De volta a seu país e à liberdade, Bryant se envolve com a organização anti-castrista Comandos L, criada pelo seu companheiro de cela, Tony Cuesta. Em 1992, ele é acusado de transportar armas em seu barco para a organização. É absolvido em 1993.

Em 1984, Anthony Bryant, agora um militante anticomunista, publica um livro, Hijack (“Seqüestro”), no qual descreve sua experiência como revolucionário negro e sua desilusão com o radicalismo de esquerda, e com o regime cubano em particular. Ele pretendia transformar o livro em filme.

Tendo rejeitado por completo as idéias radicais da juventude, Bryant passa a dar palestras nas quais alerta para os perigos do socialismo que, segundo ele, estava dominando os EUA. Em entrevista ao jornal The Telegraph em 1985, ele acusa vários líderes negros norte-americanos, como o reverendo Jesse Jackson, Louis Farrakhan (chefe da Nação do Islã) e Andrew Young de estarem a serviço do comunismo. “Eles não representam ninguém a não ser suas bocas grandes”, declara.

Sobre seus anos de revolta, escreveu ele em Hijack:


Eu era negro e amargo, armado, desesperado e perigoso, em guerra contra os Estados Unidos da América.”
Disse ainda (em entrevista para The Telegraph, 12/12/1985):

“Eu era um revolucionário. Acreditava que, se você quer mudança, você encosta um 38 na cabeça de alguém e aperta o gatilho”. (Observação do autor: esta é a mais sucinta descrição do que é um revolucionário que já li.)

“Não quero ver o povo americano passar agora por essa sujeira chamada socialismo. Testemunhei milhares de espancamentos selvagens nas prisões cubanas. Essa é a realidade de Fidel Castro”

Em outra entrevista, em 1987, Bryant disse:

"Vivi no ventre do monstro... Quando eu estava em Cuba, testemunhei três execuções. Vi-os dançarem em volta dos corpos. Colocaram guardas para nos vigiar e nos batiam excessivamente. Mas eu tive que ir lá para descobrir essas coisas".

Nos últimos anos, Bryant renunciou completamente à violência como meio de mudança, inclusive para Cuba. Para ele, só uma mudança pacífica era desejável.

Anthony Bryant morreu em Miami, Flórida, de leucemia, em dezembro de 1999. Tinha 60 anos de idade.

Um último comentário

A história acima, rocambolesca como é, daria um filme, sem dúvida. Mas, estranhamente, nenhum produtor de Hollywood se interessou ainda em levá-la às telas. Deve achar que uma história assim, de desilusão ideológica, retiraria muito do charme e poder de sedução que os anos 60 ainda exercem sobre os desavisados. Sem falar na realidade da ditadura cubana, bem diferente do que se costuma ver nos cinemas (Benicio Del Toro que o diga...).
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Muita gente, principalmente quem não era nascido à época, tem saudades dos anos 60, de sua aura de "rebeldia" e "liberdade". Do mesmo modo, o regime cubano dos irmãos Castro conta entre nós com muitos fiéis admiradores. Há quem, inclusive, deseje implantar por aqui a mesma ideologia extremista dos Black Panthers, ignorando, curiosamente, que em Cuba o racismo é uma realidade nas altas esferas oficiais. Tony Bryant, que conheceu bem tudo isso, aprendeu a duras penas que a verdade é bem diferente.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

SÍNDROME DE BRÜNO


Neste fim de semana dei boas gargalhadas com o impagável Brüno, do criador de Borat, Sacha Baron Cohen. O filme é mesmo hilariante, tão bom quanto o anterior. O personagem, um estilista austríaco, "gay, loiro e depilado", consegue ser ainda mais ultrajante do que Borat, ao afrontar acintosamente o politicamente correto.

Assim como o simplório falso repórter do Cazaquistão, Brüno não poupa ninguém: modelos de cabeça oca, celebridades do showbiz, políticos, homossexuais, evangélicos, negros - ele adota um bebê africano em troca de um iPod -, machões. Tudo em nome da fama, que ele persegue obsessivamente: após constatar que os maiores astros de Hollywood são héteros, ele se dispõe a fazer um curso com um pastor evangélico para deixar de ser gay, que inclui participar em uma festa de swing, ou troca de casais. Tudo extremamente ofensivo - e muito divertido.

Se Borat era uma paródia do multiculturalismo, com seu repórter cazaque apaixonado por Pamela Anderson, Brüno é uma crítica nada sutil ao mundo vazio das celebridades, que também abusam do figurino “do bem” e “politicamente correto” para aparecer bem na fita. Em busca dos holofotes, Brüno topa fazer qualquer coisa – qualquer coisa mesmo. Ele fica sabendo que, nos EUA, artistas de Hollywood costumam usar os serviços de uma “agência de caridade” e não tem dúvidas: vai à tal agência e, em conversa com duas loiras que o atendem, pergunta qual a causa mais “in” do momento, de preferência uma em que não haja ainda muita gente famosa envolvida. Após lembrarem, entre outras causas, da luta contra o aquecimento global, as assessoras de bondades midiáticas crêem ter encontrado a mais adequada ao fashionista austríaco. “Tem um lugar na África... Dafar”, responde uma delas, referindo-se a Darfur, no Sudão. “Fica ali, tipo, no Iraque”, diz a conselheira de caridade para VIPs.

É então que vem minha cena favorita. Disposto a ficar famoso a qualquer preço, o fútil e afetado Brüno embarca para a “Terra Média” (o Oriente Médio), onde se oferece para mediar a paz entre palestinos e israelenses. Lá vai ele, todo serelepe, de Dolce & Gabbana, tentar aparecer como o grande benfeitor e peacemaker da região, quem sabe de olho em um Prêmio Nobel. O resto deixo que vocês mesmos assistam.

Vi a cena e me lembrei, entre uma risada e outra, de como a realidade pode ser muito mais absurda – e ridícula – do que a ficção mais amalucada. Sim, vocês sabem muito bem de quem estou falando: de Lula e sua diplomacia aloprada. Assim como Brüno, os gênios do Itamaraty lulista fazem tudo para aparecer. E, assim como ele, parecem não ter qualquer noção do que estão fazendo. No final do ano passado, logo após a visita historicamente vergonhosa do maluco Mahmoud Ahmadinejad a Brasília, os porta-vozes da diplomacia brasileira anunciaram, com pompa e sem circunstância, qual seria o próximo salto ousado da política externa brasileira: nada mais, nada menos, do que a mediação entre Israel e o Irã de Ahmadinejad! Mais que isso: o governo Lula se oferecia, magnanimamente, para pôr fim a mais de sessenta anos de conflito na região, intermediando um diálogo entre o governo israelense e o Hamas. (Pelo menos Brüno foi mais modesto: ele tentou reconciliar um israelense e um membro do Fatah, grupo palestino que, ao contrário do Hamas e do Irã, reconhece o direito de Israel existir. Nesse ponto, o Itamaraty o superou.)


O exemplo acima mostra que, quando se trata de ridicularia, o Brasil é mesmo uma potência mundial. Se Sacha Baron Cohen viesse fazer um filme no Brasil, encontraria um terreno fértil para todo tipo de gag e piada pronta. Sob Lula e seu chanceler, Celso Amorim, a política externa brasileira virou motivo de chacota, menos para os lulo-petistas e seus simpatizantes, que acham que ela é um sucesso. A megalomania do Itamaraty chegou a um ponto nunca alcançado antes. O exemplo do Oriente Médio é apenas um deles. Em nome de uma "nova arquitetura mundial do poder", o Brasil tem entrado em uma roubada atrás da outra, visando a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Só tem conseguido colecionar derrotas humilhantes, como em Honduras. Lá, o Brasil interveio, esperando aparecer como líder da região. Só conseguiu aparecer como cúmplice do golpismo bolivariano.

A mais recente - e, talvez, a mais absurda - demonstração da "síndrome de Brüno" dos megalonanicos está ocorrendo no Haiti. A comoção mundial pelo terremoto que devastou o país só não é maior do que a ciumeira antiamericana da diplomacia brasileira diante da rápida resposta humanitária do Tio Sam. Mesmo com Obama na Casa Branca, os sábios itamaratianos chiaram com a ajuda dos EUA, que lhes pareceu uma intervenção militar unilateral. Celso Amorim chegou a reclamar do fato de os EUA terem tomado conta do aeroporto de Porto Príncipe (que fora destruído pelo terremoto e só voltou a entrar em operação por causa dos - adivinhem - EUA...). Em reunião internacional sobre o Haiti, diante da proposta de um "Plano Marshall" para reconstruir o país, sentiu os brios nacionais atingidos e sugeriu que o plano se chamasse "Plano Lula". Nem Brüno faria melhor (ou pior).

Esse é o retrato da política externa brasileira nos tempos de Lula: antiamericanismo, mania de grandeza, "protagonismo" destrambelhado. E muita vaidade. Nada mais do que isso. Por que não chamar Brüno para o Ministério das Relações Exteriores?