Segue abaixo artigo de Christopher Caldwell, do Financial Times, publicado na Folha de S. Paulo deste fim de semana. Vocês verão que muito que eu venho dizendo desde o dia 31/05 está lá. Finalmente alguém na grande imprensa tocou no cerne da questão: por mais desastrada que tenha sido a ação militar israelense, a "flotilha humanitária" da "ONG" ligada ao Hamas foi uma provocação.
Provavelmente, não vai adiantar nada elencar aqui os argumentos que vêm em seguida, assim como não adianta lembrar que o Hamas quer destruir Israel e que já havia terrorismo contra Israel antes de o país ocupar a Faixa de Gaza, em 1967. Os adoradores da morte e inimigos de Israel - ou seja, uns 95% da humanidade, nestes dias - não dão a mínima para fatos e argumentos (e videos): já decidiram que Israel é sempre o culpado e o lado agressor, independentemente do que faça ou deixe de fazer. Mas fica o registro. E a pergunta: se Israel levantar o bloqueio a Gaza amanhã, estaria mais ou menos seguro? Em que isso iria fazer avançar a paz na região?
.Como sempre, é apenas uma pergunta. E, como sempre, ficará sem resposta.
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“Malfeito” e “estúpido” são os adjetivos que foram aplicados aos eventos da segunda-feira passada, quando soldados israelenses mataram nove passageiros e feriram inúmeros mais no navio turco Mavi Marmara.
A frota Gaza Livre, patrocinada por uma organização de caridade turca com laços com o radicalismo islâmico, tinha um objetivo humanitário: levar ajuda a Gaza. Mas como admitiram os líderes da frota, igualmente tinha um objetivo militar: quebrar o bloqueio a Gaza imposto por Israel em 2007.
Quando os participantes em um conflito borram a linha entre civis e combatentes, as boas opções desaparecem. Sob as circunstâncias, a ação não foi nem estúpida nem malfeita. Repeliu com sucesso um ataque às fronteiras de Israel, embora a custo consideravelmente mais elevado do que Israel desejaria.
Há um bloqueio a Gaza porque o Hamas, o partido islâmico que governa o território, quer Israel destruído. Nos últimos anos, foram lançados milhares de foguetes em cidades no sul israelense.
Pode-se discutir se o isolamento do Hamas é sábio, razoável, proporcional ou eficaz. Mas é outra questão se Israel tem o direito de reforçar um bloqueio numa zona de guerra.
As críticas ruidosas à ação israelense tendem a misturar os dois aspectos acima para dizer que porque a) o bloqueio israelense de Gaza é injusto, e b) os passageiros da frota se opõem ao bloqueio, consequentemente, c) no encontro entre Israel e os passageiros, Israel está errado, e os passageiros, certos.
Este é um ponto de vista ilógico e um modelo para a escalada da violência. Imagine o perigo se, na Guerra Fria, as organizações não governamentais do bloco soviético tivessem navegado pequenas frotas em águas dos EUA para protestar sobre o conflito racial americano.
Israel forneceu a evidência de que seus soldados estavam em perigo mortal quando chegaram ao Mavi Marmara -as imagens em vídeo de alta qualidade, que foram liberadas em horas. O governo mostrou que os passageiros trouxeram máscaras de gás e tinham pré-fabricado vídeos de propaganda.
O jornal “The Guardian” relata que três dos turcos mortos procuravam o “martírio” com a operação. Diversas fontes relatam ligações próximas entre o IHH, patrocinador da frota, e o Hamas.
SEM OPÇÕES
Mas as intenções daqueles no barco -se humanitárias, como disseram (publicamente) os organizadores, ou terroristas, como dizem os israelenses- não têm nada a ver com a justiça ou a injustiça da ação. Proteger fronteiras diz respeito à soberania, não a sentimento.
A intenção explícita dos ativistas em violar o bloqueio israelense torna quase certamente a posição precisa do barco menos importante.
A insistência, mesmo entre os aliados israelenses, na visão de que Israel se comportou de modo estúpido apoia-se na ideia de que havia outras opções. O jornalista americano Thomas Friedman e o escritor israelense David Grossman criticaram líderes de Israel por não atuar mais “criativamente”.
Israel foi responsabilizado pelas ações de outros -particularmente, para a deterioração em seu relacionamento com a Turquia. Este ponto de vista é promovido cinicamente por Suat Kiniklioglu, um porta-voz do partido turco AK, que diz que o incidente “danificou irrevogavelmente as relações turco-israelenses em nível bilateral”.
A deterioração das relações turco-israelenses ocorre desde que o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, trouxe o partido AK para o poder com a plataforma de tornar o país mais islâmico.
Não se pode reaver as boas graças do mundo muçulmano com atitude confiante, ou neutra, em relação a Israel. A hostilidade crescente da Turquia em relação a Israel é uma causa, não uma consequência, do incidente do Mavi Marmara.
A coisa mais alarmante da semana passada não foi o ataque. Foi a maneira como a opinião na internet ecoou a opinião dos ativistas e as opiniões de elites políticas e jornalísticas seguiram essa mesma linha.
Que Israel tenha perdido a batalha da opinião pública é desatroso. Mais incômodo é que essa batalha tenha sido perdida antes que os fatos estejam esclarecidos.
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