E por falar em Goebbels...
Quem esteve por aqui dando o ar de sua (des)graça nestes dias foi o cineasta norte-americano e idiota útil profissional Oliver Stone. O diretor de JFK e de W (duas bombas que eu desrecomendo a qualquer um que queira manter a cabeça no lugar) veio para promover seu mais novo filme, Ao Sul da Fronteira, e, de quebra, puxar o saco de Lula e de Dilma Rousseff, com quem se encontrou (o que será que conversaram?). Tudo dentro do figurino "gringo-com-complexo-de-culpa-abraçando-os-inimigos-do-império".
Oliver Stone (ou "Stoned" - chapado, em inglês -, como é chamado por seus conterrâneos) é um dos maiores representantes da "esquerda holywoodiana", ao lado de outros notórios farsantes, como o balofo Michael Moore. Ao Sul da Fronteira é um lixo, não passa de uma peça de propaganda ideológica travestida de "documentário" sobre os governos neopopulistas de esquerda na América Latina, como os dos caudilhos Hugo Chávez e Evo Morales, que Stone, assim como outro perfeito idiota, o paquistanês Tariq Ali, acredita serem parte de um "eixo da esperança". No filme, ele aparece em animados bate-papos com Raúl Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, os quais seriam os representantes do "novo" no continente - um ditador de plantão que substitui o irmão, ambos no poder há mais de 50 anos, entre outros seus replicantes, representantes do "novo", vejam só... Faz questão de servir de tapete e de palanque para que eles façam sua demagogia antiamericana e anticapitalista - ou seja: antidemocrática -, chegando ao ponto de mostrar o índio de butique Evo Morales, por exemplo, batendo uma bolinha, na linha "gente como a gente". Enfim, uma peça publicitária que poderia ter saído de algum panfleto do PT ou das oficinas do Departamento de Propaganda do Partido Comunista Cubano. Frei Betto e Emir Sader devem estar babando de inveja.
Stone também entrevista, no filme, Lula. Para ele, o Apedeuta também é da corriola bolivariana. O Filho do Barril aparece discursando, digo, conversando com seu admirador americano, com sua proverbial modéstia. "Pela primeira vez o povo está sendo tratado como seres humanos neztepaiz", trombeteia o Noço Guia. Como se antes, digamos no período em que FHC esteve na Presidência, o povo brasileiro vivesse em jaulas e fosse tratado à base de ração e chicotada.
Bravatas lulistas à parte, tenho de admitir que o filme de Oliver Stone tem, pelo menos, um mérito. Ao colocar Lula ao lado de Chávez e Morales, ele viu algo que muita gente, no Brasil e no exterior, ainda se recusa a ver, apesar de ser cada vez mais evidente: que Lula, ao contrário do que muitos pensam (ou melhor: afirmam porque não pensam), é amigo e companheiro desses tiranetes, está com eles e não abre. É, na verdade, um cúmplice dessa corja.
Este é um fato para o qual poucos dão a devida importância, e que muitos ignoram completamente. Há quem acredite sinceramente que Lula é um antídoto ou um anteparo às loucuras de Chávez e Morales, um representante da "esquerda vegetariana" contra a "esquerda carnivora". Outro dia li um artigo que dizia que Lula é o "anti-Chávez". Na superfície, no estilo, pode até ser - Chávez adota o estilo sargentão, posando de Bolívar redivivo e inimigo das oligarquias, enquanto Lula faz o gênero conciliador, amigo de infância de quem antes esculhambava, como Sarney e Collor. Mas, na essência, há pouca ou nenhuma diferença entre o coronel venezuelano e "o Cara".
Lula não é o "anti-Chávez". Pelo contrário: ele está fechado com Chávez - e com Morales, Correa, Ortega, os Castro etc. - há muito tempo. Basta dar uma rápida olhada na política externa lulista - o apoio aos atentados à liberdade de expressão na Venezuela, a "neutralidade" em relação às FARC, os paparicos à ditadura totalitária de Cuba, o apoio a um golpista bolivariano em Honduras etc. - para constatar esse fato. O que isso tudo prova, senão o fato inegável de que a diplomacia brasileira, hoje, não passa de uma extensão dos delírios bolivarianos? Sem falar, claro, no maior tabu da imprensa brasileira nos últimos vinte anos, o Foro de São Paulo. Mas ainda assim há quem resista a considerar Lula parte da turma, e o veja como uma exceção, um democrata, um estadista e um líder respeitável. Por quê?
A resposta é óbvia, mas, como tudo que é óbvio, é difícil de ser assimilada pelos bem-pensantes. Chávez, Morales e Correa assumiram o poder em países em profunda crise, com a economia e as instituições em frangalhos, em alguns casos, como na Bolívia, à beira da convulsão social. Eles são, na realidade, o produto da degeneração econômica e política de seus países. Lula, ao contrário, herdou um país com instituições democráticas sólidas e a economia saneada (a tal "herança maldita" de que os petistas falavam até há pouco). Sua popularidade se deve unicamente ao que outros fizeram antes dele, e ao que ele se opôs anteriormente com fúria bravateira. Malandramente, cinicamente, ele agora reivindica essas conquistas como suas, colhendo o que outros plantaram. A ponto de hoje querer vender uma candidata à sua sucessão sob o slogan de que "não podemos voltar ao passado". E isso depois de ter tentado destruir todas essas conquistas no nascedouro! Em português claro, isso se chama estelionato. Mas pouca gente está prestando atenção.
O fato de ter tido a sorte de herdar um país economicamente estabilizado - com uma ajudinha de seus adversários tucanos - não faz de Lula o político sério e responsável que muitos na "zelite" acham que ele é. Muito pelo contrário. A economia, para Lula e os lulistas, é um meio, não um fim, para atingirem seus objetivos. Do mesmo modo que a democracia, para essa patota, não passa de um instrumento. O Lula verdadeiro, o Lula sem máscara, deve ser buscado nos escândalos de corrupção, no desprezo pelas regras democráticas, nas tentativas de calar a imprensa. Ou, então, na política externa, nas alianças com figuras como Chávez e Ahmadinejad. É a estabilidade econômica, da qual ele foi o principal inimigo no passado, que lhe garante o poder e permite suas aventuras no exterior a favor dos inimigos da democracia. É essa a essência do governo Lula, sua razão de ser, e não a manutenção do superávit primário e das metas de inflação. Sua relação com a economia, assim como com a democracia e a ética, é puramente instrumental, não filosófica.
É por não entenderem o que está acima que muitos analistas ditos sérios, em especial muitos economistas liberais, consideram Lula o máximo e seu governo um primor de lucidez e responsabilidade. Só podem fazer isso, claro, ignorando voluntariamente os laços dos lulistas com quem representa o oposto da liberdade e da democracia. Quando olham para Lula, vêem sinceridade e conversão genuína onde só há oportunismo e picaretagem política. Até um bocó como Oliver Stone percebeu isso.
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