quarta-feira, junho 02, 2010

A NAU DOS INSENSATOS. OU: O TRIUNFO DOS ADORADORES DA MORTE


O Triunfo da Morte, de Pieter Brughel, o Velho (1562)
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"Israel ataca comboio humanitário", berraram as manchetes no mundo inteiro, acrescentando o número de mortos (falou-se primeiro em mais de dez, depois parou-se em nove) e feridos (cerca de trinta). "Mundo condena Israel", anuncia, em letras garrafais, o noticiário. Seguem-se imagens de manifestantes indignados queimando a bandeira com a Estrela de Davi, exigindo vingança. Em vários países, a polícia tem trabalho para conter multidões enfurecidas que tentam invadir embaixadas e consulados israelenses. Uma reunião extraordínária do Conselho de Segurança da ONU é convocada pela Turquia, que chama o ocorrido de "terrorismo de Estado" e exige o fim do bloqueio israelense a Gaza. Vários países condenam veementemente o "ataque" israelense, "em águas internacionais", de uma "organização humanitária" que só queria levar remédios e alimentos aos refugiados palestinos... Ao mesmo tempo, exige-se uma investigação internacional para apurar as circunstâncias do incidente. Mas de nada adianta: o veredicto já está dado, antes de qualquer investigação ou julgamento. Israel - mais uma vez - é culpado.

Assim que li as manchetes e as notas de repúdio - inclusive a nota que o governo brasileiro divulgou sobre o episódio -, imediatamente imaginei a cena: os soldados israelenses, armados até os dentes, invadem a embarcação da "ONG" turca e já chegam cuspindo fogo. Começam, do nada, a metralhar, sem dó nem piedade, pacifistas indefesos, que tentam se render, implorando, inutilmente, por misericórdia. Um soldado, tomado de furor homicida, pisa no pescoço de sua vítima, sufocando-a até a morte. Outro, enlouquecido, mira intencionalmente nas pessoas no convés do navio, em um tiro ao alvo macabro. Outro ainda, por pura malvadeza, diverte-se abrindo fogo contra mulheres e crianças.

Juro que foi isso que pensei assim que li as notícias que, desde segunda-feira, vêm bombardeando nossos olhos e ouvidos. Israel enlouqueceu, pensei na hora, imaginando que o que se lia e ouvia na imprensa nacional e internacional fosse a mais pura descrição da verdade. Confesso que chegou mesmo a passar pela minha mente, num átimo, que os soldados israelenses teriam perdido a razão e despejado nos manifestantes da "ONG" turca todo seu ódio represado por décadas de terrorismo islamita. Mas havia um vídeo...

Não sei se vocês viram o vídeo. Está na internet. Ele mostra claramente o que realmente aconteceu a bordo do navio. Desculpem, mas não vi ali nenhum "massacre", nenhum ato de "terrorismo". Aliás, vi sim: vi um comando da Marinha israelense descendo com cordas de um helicóptero no navio e, antes mesmo de tocar os pés no convés, ser cercado e atacado por uma turba ensandencida armada de pedaços de ferro e facas. Vi os militares israelenses, que lá estavam para interceptar o navio e fazer cumprir um bloqueio naval (que pode ou não ter suas razões de ser, mas isso é outra história), ser agredidos com brutalidade inaudita por dezenas de pessoas fanatizadas e dispostas a provocar uma cena de sangue. Um dos militares é espancado e atirado do convés (não dá para ver se para o convés inferior ou direto no mar). Enquanto isso, alguém joga o que parece ser um coquetel molotov contra os soldados, que procuram se defender da melhor maneira que podem. O saldo da batalha, pelo lado israelense: sete militares feridos, alguns com gravidade, dois deles à bala. Nessas circunstâncias, e num ambiente diminuto do convés de um navio, em meio a toda confusão, é até um milagre que o número de mortos tenha sido nove, e não trinta ou quarenta. Fossem os ativistas a empunhar fuzis e metralhadoras, certamente não teria sobrado um soldado israelense para contar a história. Quem atacou quem?

Logo que assisti ao video da abordagem da Marinha israelense ao navio Mavi Marmara, pensei comigo mesmo: "Pronto! Agora tudo está esclarecido. Os soldados israelenses reagiram a uma provocação dos ativistas, que atacaram primeiro. Estes queriam sangue, e os comandos reagiram da maneira como soldados fazem quando atacados". Mas quê! Nada disso. Não bastam imagens, decretaram os inimigos de Israel. Não bastam as cenas que todos viram. Os militantes anti-Israel, disfarçados de "comboio humanitário/pacifista" continuaram com sua ladainha: Israel é culpado, e ponto final! Houve mesmo quem repetisse um velho chavão, segundo o qual Israel, com ações como a da segunda-feira no Mediterrâneo, se equivaleria moralmente ao Hamas...

Afinal, o comboio era "humanitário", dizem, e essa palavra - "humanitário" -, nos lábios dos que gritam palavras de ordem contra Israel, tornou-se uma senha para desconsiderar o que as câmeras mostraram. Além do mais, estava em "águas internacionais". A ação de Israel, de defesa do bloqueio, portanto, foi absurda e ilegal. Os ativistas que tentaram linchar os soldados de Israel estavam, assim, apenas se defendendo. Mesmo que o navio tivesse sido abordado com flores e música emo, estaria caracterizada a brutalidade etc.

"Missão humanitária", é? Vejamos. O comboio era organizado por uma "ONG" turca ligada ao Hamas, que de "humanitário" ou "pacifista" não tem nada. (A menos que matar civis em atentados homicidas-suicidas e usar a própria população como escudos humanos seja considerado um gesto de puro amor à humanidade.) Mas isso não é tudo. Os organizadores do comboio sabiam que Israel não iria permitir que furassem o bloqueio naval a Gaza, ou seja: que deixassem as "águas internacionais". Sabiam que, em situações como essa, a Marinha israelense tem ordens de interceptar qualquer embarcação, civil ou militar, que tente furar o bloqueio. E foi exatamente o que aconteceu. Os israelenses avisaram, repetidas vezes, que o comboio teria que dar meia-volta. Ou, então, teria que aceitar ser escoltado até o porto de Ashdod, onde a carga seria vistoriada para verificar se, de fato, levava somente "ajuda humanitária" ou algo mais. Nesse caso, deixaram claro as autoridades israelenses, estas se ofereciam a levar a ajuda humanitária por terra até Gaza, uma distância de poucos quilômetros. Os palestinos receberiam a ajuda e todos ficariam felizes.

Mas isso não era o bastante, pensaram os organizadores da tal "flotilha da liberdade". Fazer chegar comida e medicamentos aos palestinos em Gaza não era o suficiente. Não foi para isso que se organizou o comboio. Não foi com esse objetivo que se gastou tanto dinheiro e publicidade, inclusive com ampla repercussão na mídia e cerca de 750 militantes de várias nacionalidades. Não! Era preciso causar um incidente, provocar os israelenses a uma reação desmedida. Permitir que os navios fossem escoltados até o porto mais próximo e desembarcassem sua carga para que esta fosse entregue, sem problemas, a seu destino? Não teria a mesma dramaticidade. Certamente, não iria criar manchetes. Não iria indispor o "mundo" contra Israel. Era preciso mais. Era preciso furar o bloqueio. Era preciso provocar Israel. Era preciso sangue.

Como conseguir esse efeito dramático esperado, esse golpe propagandístico de tamanho impacto e magnitude? A resposta também já estava pronta: com cadáveres. Mártires. O resto está no video. E o "mundo" caiu como um patinho em mais essa provocação antiisraelense. Missão humanitária? Qual? Onde?

Ainda que os soldados israelenses tivessem provocado, de caso pensado, um massacre, afundando as embarcações ou metralhando os ativistas a partir dos helicópteros, o que poderiam ter feito se quisessem, isso não retiraria o caráter de provocação do tal "comboio humanitário". Este não passou de uma bem urdida, bem articulada, ação de guerra psicológica, destinada a deixar os israelenses em maus lençóis perante a opinião pública internacional, mostrando-os, mais uma vez, como bandidos e malvados. Não havia como Israel ter agido de outra maneira. Os ativistas da "ONG" turca IHH sabiam disso. Seus amigos do Hamas também. Aliás, parece que aqueles aprenderam com estes últimos a causar mortes civis para incriminar Israel. Além de amigos, parecem ser discípulos aplicados.

Como demonstra o tom marcadamente anti-Israel do noticiário nestes dias, quase todos pegaram carona, ou se deixaram levar, por essa nau dos insensatos. Os adoradores da morte venceram. A mentira, assim como o terrorismo, funciona.
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