quarta-feira, agosto 06, 2008

PARIS HILTON NA CASA BRANCA

Barack Obama em campanha: "sim, nós podemos!"


Vou falar sobre as eleições nos EUA, porque, sobre as daqui, realmente não dá. O pleito municipal deste ano, como quase toda eleição do tipo, pelo que se viu até agora, vai ser de dar engulhos. Então, falemos das eleições lá na terra do Jorgibúshi.
.
Paris Hilton anunciou que está pensando em se candidatar nas próximas eleições americanas. Se você acaba de chegar de uma temporada de alguns anos em Marte e não sabe quem é Paris Hilton, eu digo quem é: Paris Hilton é aquela patricinha americana que ficou famosa no mundo inteiro porque... porque... por que mesmo? Ah lembrei: ela é uma super-hiper-ultra-mega celebridade porque é... porque é uma celebridade, ora. O que a levou a cogitar da hipótese de se lançar candidata ao cargo supremo da maior potência do planeta? Um vídeo - como sempre, mais um - lançado pela candidatura de John McCain, sobre Barack Obama. No vídeo, uma das coisas mais certeiras e bem-boladas dos últimos tempos, o candidato democrata e queridinho das esquerdas é mostrado como o que de fato é: uma figura messiânica, comparada a Moisés (o "escolhido"), aclamado por meio mundo e de quem se espera ser capaz de separar as águas do Mar Vermelho, e, no quesito celebridade, a Paris Hilton e Britney Spears. O vídeo coloca a questão: "ele é o escolhido, mas... está preparado para liderar?" Em outras palavras: qual a qualificação de Obama para querer ser presidente dos EUA a não ser o fato de ser... de ser... uma celebridade, ora? Daí porque Paris Hilton está pensando também em se lançar à política: se ele pode, por que não eu? Deve ter pensado, com seus Tico e Teco: "yes, I can!"
.
Barack Obama é a Paris Hilton da política americana. Assim como a socialite loira de miolo mole, ele é conhecido não pelo que tem a dizer, por suas idéias - se é que as tem -, ou por qualquer coisa do gênero, mas unicamente porque... porque... porque é uma celebridade, ora! E celebridades não precisam ser nada além disso: celebridades. O rosto de Obama, com aquele sorriso de Caetano Veloso e aquele jeito de político-que-finge-não-ser-político, já conquistou as capas das principais revistas do mundo, como um pop star, um Michael Jackson antes da decadência. Não por acaso, Hollywood o adora, e muitos astros do cinema americano - a televisão deles - já entraram de cabeça no oba-oba obamista. Se um ET aterrissasse hoje no planeta, teria a nítida impressão de que ele, Obama, já é o presidente dos EUA, ou que está concorrendo à presidência sozinho. Como ocorre com todas as celebridades, seu nome e seu rosto estão sendo constantemente promovidos pela imprensa, que não cessa de lhe cobrir de epítetos grandiosos e favoráveis: o "Kennedy negro", o "presidente da esperança" - o Escolhido, enfim. Alguns dias atrás, Obama esteve na Europa, onde se encontrou com chefes de estado e fez um comício-monstro em Berlim para 200 mil pessoas, que o ovacionaram como um verdadeiro Messias. Mais uma vez, Obama não tinha muito o que falar: bastava ser ele mesmo, Obama. Bastou repetir, pela enésima vez, aquele papo chocho e os clichês sobre "mudança" e "sim, nós podemos", e as multidões foram ao delírio, provando que Obama é mesmo o futuro presidente da... Alemanha. Isso prova que Paris Hilton tem mais uma coisa em comum com Obama: afinal, ela também sabe usar a língua, como demonstra aquele video famoso dela na internet... Como não poderia deixar de ser, a febre obamista já cruzou o oceano - como diria o geógrafo Lula - e aportou por essas bandas, levando de roldão nossa intelligentsia, que, como sabemos, é mais do oba! que do epa! Outro dia, Arnaldo Jabor - que fala mal de Lula mas, para compensar o velho coração esquerdista, adora criticar o Bush - chegou a dizer que Obama é "sexy". Paris Hilton e Britney Spears também são.
.
Agora que a imprensa - dos EUA, da Alemanha, do Brasil, das Ilhas Salomão - já elegeu Obama para a Casa Branca, o Oscar, o Prêmio Nobel e o Colégio dos Cardeais, acho que é hora de chamar a atenção para alguns fatos, que talvez sirvam para estragar a festa da turma do "já ganhou". Sei que é chato, mas ir ao dentista também é, e nem por isso deixa de ser algo necessário. Vamos lá. Ontem foi divulgado - discretamente, como convém - que Obama e McCain estão tecnicamente empatados. Nas semanas anteriores, a vantagem de Obama nas pesquisas era de 3%, o que significa também um empate técnico (mas, pela cobertura da imprensa, era como se fosse uns 30% ou mais). A candidatura Obama, ao que tudo indica, parece estar começando a fazer água, como a de John Kerry em 2004 e a de Al Gore em 2000. Por quê? Porque, ao que parece, os americanos estão atrás de eleger um novo presidente da República, alguém que vai comandar o país pelos próximos quatro - ou oito - anos, e não uma Paris Hilton ou uma Britney Spears.
.
Ainda mais - e isso está começando a pesar nas pesquisas -, o candidato em questão traz em sua biografia uma série de lacunas, que tenta a todo custo esconder do público. Há alguns dias, uma revista, a New Yorker - aliás, de esquerda - estampou em sua capa uma gravura de Obama vestido de terrorista, com um turbante árabe, juntamente com sua esposa no Salão Oval da Casa Branca, com uma bandeira dos EUA alimentando a lareira ao fundo. Foi um deus-nos-acuda: muita gente - a patrulha "politicamente correta" que compõe a tropa de choque obamista - protestou, com a fúria de radicais islâmicos, contra o que considerou uma manifestação de "preconceito" contra o candidato negro (mulato, cá entre nós). O que ninguém lembrou de dizer é que a gravura era apenas uma representação do discurso e da imagem do candidato. De pai muçulmano, Obama jura de pés juntos que não segue a fé do Profeta. Nada demais: por mim, ele poderia ser umbandista, ou acreditar em duendes, e não iria fazer diferença. O problema é que ele também jurava de pés juntos e com a mão em cima da Bíblia - ou do Corão - que o pastor da igreja que freqüentou durante vinte anos - e que foi, aliás, seu mentor -, Jeremiah Wright - aquele que, nos seus sermões, amaldiçoava com todas as letras os EUA -, era um sujeito ponderado e equilibrado. Diante disso, fica fácil acreditar que Obama seja até mesmo - quem sabe? - um agente da Al-Qaeda infiltrado.
.
A atual eleição americana é uma escolha entre o conhecido e uma incógnita, entre o certo e o duvidoso (e põe duvidoso nisso). Basta fazer uma rápida comparação entre os dois candidatos. John McCain pode não ter o mesmo glamour de Obama, nem sua juventude, nem os mesmos nomes do show business a apoiá-lo - nem o mesmo caixa abarrotado de campanha -, mas os americanos, pelo menos, sabem quem ele é e o que pensa. Seu passado, se para nós não quer dizer muita coisa, o credencia para candidatar-se, nos EUA, a qualquer posto que quiser: ex-piloto da Marinha, abatido sobre as selvas vietnamitas, prisioneiro de guerra no Vietnã por cinco anos - enfim, um verdadeiro herói de guerra, como Kennedy também foi - muito menos, aliás, do que McCain. Se lhe faltam quaisquer outras qualidades, sua lealdade ao país em que nasceu, pelo menos, está mais do que comprovada. Em época de guerra ao terrorismo - na verdade, ao terrorismo islamita -, convenhamos, isso faz alguma diferença. E Obama? Bem, Obama é uma celebridade. Então, tá.

Antes eu desconfiava que dizer que Obama é só um produto de marketing era só conversa mole de republicanos reacionários. Depois que vi o rosto dele, Obama, na capa da Rolling Stone (edição brasileira), não tive mais dúvidas. Entre Obama e Paris Hilton, pelo menos esta última parece ser mais sincera. Ou menos estrela.

Nenhum comentário: