terça-feira, maio 03, 2011

DESMONTANDO AS FALÁCIAS DESARMAMENTISTAS



Escreveu um leitor, que se apresenta como Julio Nogueira, sobre meu último post:

Lamento por dizer-te isto, mas teus exemplos para justificarem o seu direito de escolher ter uma arma é tão ingênuo como o do senhor Cortez. Vamos a eles:

Eu também lamento, caro leitor, mas pelo fato de você ter escolhido jogar a Lógica e o bom senso na lata do lixo para defender uma tese indefensável. Vamos lá.

1) - Perdeu, playboy! Passa a grana agora senão te dou um teco na fuça!
- Mas, senhor assaltante, espere só um minuto enquanto eu ligo para a Policia...

Ou então:

- Pode começar a rezar canalha, eu vou te matar!
- Calma, distinto assassino: dê-me apenas uns instantes para eu chamar a viatura policial mais próxima...

Você realmente acha que numa situação destas o sujeito X em questão conseguiria se defender se estivesse armado? Creio que numa situação de surpresa destas o sujeito X teria que ser o Rambo pra driblar o assaltante/assassino, puxar sua arma, mirar e ainda acertar o bandido. Que filme é este? "Missão Impossível"? "007 o agente que nunca morre"?

Não acho nem desacho nada, meu caro. Aliás, não discuto probabilidades. É provável que o sujeito, ao se defender de um assalto, leve um tiro, como é provável que não leve e vire um herói. Ninguém pode fazer nenhum tipo de afirmação taxativa nessa área. Pode ser que, ao sair à rua, eu ache um bilhete premiado de loteria, ou pode ser que eu leve um raio na cabeça. Tenho apenas uma certeza: que, em qualquer das situações descritas acima, a vítima, se estivesse armada, teria pelo menos uma chance de se defender. Pode dar errado? Claro que sim, e é um risco que se assume. Mas pelo menos haveria essa chance. Pense em uma tentativa de assassinato, como o massacre de Realengo: o agressor já chega atirando, pronto para matar. A vítima pode ou não estar armada. Se estiver, ela poderá ou não ser morta. Se não estiver... Bom, aí só apelando para o Viva Rio mesmo.

Acorde, meu caro! Estamos falando do mundo real e nele com arma ou sem arma não há tempo para reação. Vamos a um fato real que aconteceu há alguns anos no RJ:

No mundo real, existem várias possibilidades, e não apenas uma. Mas vamos lá.

O homem estava em seu carro com a namorada na rua. De repente apareceu um bandido gritando:

- Perdeu, playboy! Passa a grana agora senão te dou um teco na fuça!

O homem no carro era um policial e andava armado. Não pensou duas vezes, puxou sua arma e atirou no bandido. Acertou em cheio e matou o bandido. Ponto pra ele, ganhou do bandido no tiro. No entanto, para seu azar, o bandido conseguiu apertar o gatilho e acertou a namorada do policial. O bandido morreu e a namorada morreu! Valeu a pena?

OK, então como existe a possibilidade de algo dar errado numa reação a um assalto, então o melhor é não ter o direito a escolher ter ou não uma arma para se defender. Ou seja: como existe o risco de que alguém mais se machuque, o melhor é ficar à mercê da bandidagem. Ou seja: armas são perigosas, melhor não tê-las. Mais que isso: é melhor não poder escolher. Muito lógico.

Mas vejamos essa outra situação. Um bandido desiste de assaltar alguém à simples visão de que a vítima está, ou poderá estar, armada (nem precisa reagir). Preciso responder se vale a pena?

E nem precisa lembrar: casos assim existem. E só acontecem porque o cidadão (ainda) tem o direito a escolher ter ou não uma arma para se defender. E não adianta procurar estatísticas – como, por exemplo: “ter uma arma aumenta a probabilidade de ser morto num assalto” etc., como se não aumentasse, também, a probabilidade de NÃO ser assaltado. Ou você já viu alguém que acabou de espantar um criminoso a tiros procurar uma delegacia para fazer um B.O.? Quantas pessoas só estão vivas porque estavam armadas? Inútil procurar dados sobre isso.

Isso aconteceu com um homem que foi treinado para usar arma de fogo com pelo menos alguma maestria. Imagine se a situação fosse com um homem comum? Não creio que o resultado fosse melhor!

Pode ser que sim, pode ser que não... Só uma certeza permanece: sem o direito a escolher sobre sua defesa, o indivíduo vira uma presa fácil. Com esse direito, ele pelo menos tem uma chance. Sem ele, não tem chance nenhuma. Não haveria treino que desse jeito.

Em outras palavras, para ver se entendem: pode ser que, ao manejar uma faca na cozinha, eu prepare um belo prato ou tenha um corte profundo, podendo vir a falecer em virtude de homorragia. Deve-se então proibir o cidadão de ter acesso às facas?

Mas tudo isso é bobagem, porque afinal não defendo que o cidadão deva ter armas de fogo em casa. Digo apenas que ele tem o DIREITO DE ESCOLHER tê-las ou não, em vez de deixar essa escolha nas mãos do Estado. Eu, por exemplo, escolhi não ter armas de fogo. E quero continuar a ter esse direito. Parece que é isso que os desarmamentistas menos entendem (ou fingem que não entendem, sei lá).

Em seguida, o leitor me cita novamente, para apresentar uma curiosa teoria sobre os regimes totalitários.

2) o desarmamento civil, com a proibição da venda e posse legal de todo tipo de armas de fogo, foi uma idéia implementada em regimes como os de Hitler e Stálin. Quem poderia proteger o cidadão desses regimes?
Resposta:

Hitler: O povo alemão em massa apoiava o partido Nazista. Por que você acha que, mesmo armados, o povo representaria algum tipo de resistência?

Argumento interessante. Pode ser resumido assim: o povo alemão amava Hitler (e os judeus e dissidentes? deixa pra lá), logo não importa se tivesse o direito a se armar, porque não representaria nenhum tipo de resistência ao regime etc. Nesse caso, seria mais lógico a ditadura nazista ter permitido a todos possuírem armas legalmente, não acha? Sim, porque se todos amavam o tirano, então por que retirar-lhes esse direito?

Imagino que os nazistas assim procederam porque o INDIVIDUO, nesse tipo de regime, precisa ser domado e submetido pelo Estado. Daí a primeira coisa que tais tiranias fazem é desarmar a população. Isso porque sabem que, armados – ou com o direito a ter ou não uma arma de fogo legal –, é mais difícil transformar todos em militantes e vacas de presépio do Partido.

Stalin: O governo de Stalin foi um dos mais (senão o maior de todos) tiranos do mundo. Por que você acha que o homem comum conseguiria resistir ao "governo de ferro" mesmo que armado? Acho que Stalin teria um motivo a mais para trucidar ainda mais a população.
Até.

Pois é. Stálin, assim como Hitler, trucidou a população porque esta estava desarmada. Será que ele poderia ter feito o que fez se encontrasse pela frente individuos em pleno gozo de seus direitos (como o de armar-se, por exemplo)? Vai ver foi exatamente por isso que ele desarmou a todos.

Outro leitor, o Eduardo Cortez, confirmou minha impressão de que não entendeu patavina do que escrevi a respeito do assunto (ou, então, é um grande gaiato mesmo). Vejam como ele interpretou o direito de escolha:

Mas o que é isso? Quer dizer que o que deve prevalecer é o meu direito de escolher? Que seja!

Quero então, ter o direito de poder escolher ter ou não ter uma bomba em casa. Quero também ter o direito de escolher ter mais de uma mulher legalmente. Quero ter o direito de escolher dirigir na contra mão, ultrapassar o sinal vermelho, andar pelado na rua, cobiçar e obter a mulher do próximo, gritar num hospital, pegar o que eu quiser na feira, sem que seja punido por isso. Também quero ter o direito de escolher se atiro ou não atiro com minha arma no cachorro do vizinho, ou quem sabe o direito de escolher entrar em qualquer residência ao meu bel-prazer?

Com esse teu DIREITO DE ESCOLHER podemos ir longe. Por que não deixar o Irã escolher se quer ter ou não quer ter uma bomba atômica?

O argumento é o mesmo, mas creio que nesse caso você seria do contra, não é mesmo?

Ai, ai... É assim que esse pessoal entende o direito a escolher sobre sua própria segurança. Direito que os norte-americanos e os suiços, para citar apenas alguns povos bárbaros, têm garantido em suas constituições. Ter o direito a escolher – nem falo em ter ou não, mas em poder escolher – comprar um revólver ou uma espingarda legalmente registrados é o mesmo que escolher ter uma bomba em casa, casar com quantas mulheres quiser, dirigir na contra-mão, ultrapassar o sinal vermelho, andar pelado na rua etc. Só faltou – aliás, não faltou, não – dizer: “e por que não ter uma bomba atômica”?

Nem precisaria comentar nada aqui, mas lá vai: para gente que “pensa” desse jeito, não existem direitos, mas somente “licenças”, o abuso de direitos. Não haveria o direito de o indivíduo decidir pela sua própria segurança, portanto, porque isso seria abrir um precedente: “hoje ele tem um revólver 32; amanhã terá um avião bombardeiro” etc.

O leitor não tem qualquer senso de proporções, e acha que elaborou um argumento brilhante. Não sabe a diferença entre poder escolher ter ou não uma arma de fogo de forma legal e ter uma bomba de nêutrons. Eu me surpreenderia se ele soubesse a diferença entre uma mosca e um rinoceronte.

Para ficar mais claro, vou tentar reproduzir aqui o mesmo raciocínio do leitor aplicado a outro exemplo:

Mas o que é isso? Liberdade de ir e vir? Que seja!

Quero ter a liberdade, então, de pisar no calo do sujeito mais próximo, de chutar mendigos na calçada, de sapatear em cima de cimento molhado, de dar pontapé em velhinhos e criancinhas etc.

Viram que lógica fantástica?

Enfim, esta foi uma pequena mostra de como funciona a mente dos desarmametistas, essas pessoas maravilhosas e inteligentíssimas, como se acabou de ver.

5 comentários:

Julio disse...

Caro, parece que você não entendeu muito bem o que eu disse e já foi apelando para insultos. Vamos tentar esclarecer. Abaixo cito duas passagens tuas:

“Não acho nem desacho nada, meu caro. Aliás, não discuto probabilidades. É provável que o sujeito, ao se defender de um assalto, leve um tiro, como é provável que não leve e vire um herói. Ninguém pode fazer nenhum tipo de afirmação taxativa nessa área. Pode ser que, ao sair à rua, eu ache um bilhete premiado de loteria, ou pode ser que eu leve um raio na cabeça. Tenho apenas uma certeza: que, em qualquer das situações descritas acima, a vítima, se estivesse armada, teria pelo menos uma chance de se defender. Pode dar errado? Claro que sim, e é um risco que se assume. Mas pelo menos haveria essa chance. Pense em uma tentativa de assassinato, como o massacre de Realengo: o agressor já chega atirando, pronto para matar. A vítima pode ou não estar armada. Se estiver, ela poderá ou não ser morta. Se não estiver... Bom, aí só apelando para o Viva Rio mesmo.”

(...)

“OK, então como existe a possibilidade de algo dar errado numa reação a um assalto, então o melhor é não ter o direito a escolher ter ou não uma arma para se defender. Ou seja: como existe o risco de que alguém mais se machuce, o melhor é ficar à mercê da bandidagem. Ou seja: armas são perigosas, melhor não tê-las. Mais que isso: é melhor não poder escolher. Muito lógico.”

Sinceramente quero que se dane o “Viva Rio”. Quero aqui discutir o pressuposto primeiro que você coloca: direito de escolher. Penso que a possibilidade de poder escolher algo é preciso que antes se possa se utilizar adequadamente este algo, senão é imprudência. Estamos falando de algo letal (uma arma de fogo) que tem o poder de ferir e em último caso matar. Portanto, não pode ser comparado com objetos diferentes. Uma faca de cozinha pode ser usada para matar, mas seu caráter instrumental é para cozinhar e não para matar. Já uma arma de fogo é bem diferente. Se ela for ser utilizada para defesa pessoal, espera-se que no mínimo este que a impunha saiba utilizá-la. Por exemplo, eu tenho o direito de escolher ter um carro ou não, mas se eu o tiver e quiser dirigi-lo, devo antes saber dirigir e também tirar uma licença para isto. Com a arma isto não acontece. Com o meu direito de ter uma arma posso tê-la e usá-la sem ao menos saber como se aperta o gatilho. Que segurança um homem pode ter ao possuir uma arma se não sabe como usá-la?

Achar que não há probabilidade de um homem que saiba usar uma arma se sair melhor ao utilizá-la do que aquele que não sabe é o mesmo que dizer que treinar e aprender para melhorar em algo não serve de nada. Afinal, creio que alguém que saiba dirigir (e treine diariamente) há dez anos seja melhor na direção do que aquele que nunca apertou o pé num acelerador.

Por fim, reafirmo que uma situação de surpresa é bem diferente. Se alguém já foi rendido pelo assaltante, a probabilidade de uma reação do assaltado terminar mal é bem maior do que se o assaltado resolver passar seu dinheiro para o assaltante. Ainda mais se o assaltado não for preparado para utilizar arma de fogo. Sou velho, gordo, sedentário e nunca sequer toquei em uma arma de fogo. Não acho que numa situação dessas o meu direito de escolher ter uma arma mude a situação de ser assaltado (ou morto).

Anônimo disse...

HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA. PERFEITO O POSTO! MORRI DE RIR AQUI!
Cara, você foi brilhante. Nada haver os comentários deles.

Anônimo disse...

Ah, e dá uma lida nesse texto aqui, que ninguém até agora parece ter encontrado na net, que faz PIADA sobre o DESARMAMENTO:
http://tibartz.wordpress.com/2011/05/01/desarmamento/
Parabéns, pelo blog, cara. Você tem talento. xD

Bruno Souza disse...

Boa noite Gustavo.

Tenho lido, últimamente, bastante dos seus artigos e críticas diversas. Procurei esse tipo de leitura, esse tipo de blog, de comentários pois, estou muito cansado e, até revoltado de toda essa palhaçada que ouvimos, vemos e lemos em tv´s e jornais; ou seja, nosso cotidiano está realmente carente de ideias e ideais inteligentes ou no minimo, está faltando-nos, a oportunidade de nos indignarmos com descência, se é que isso existe, de discordármos e, na mesma proporção, respondê-las.
Talvez pos isso, os eventos de MMA e outras lutas estejam se tornando tão populares, é um dos poucos lugares onde ainda se pode dá porrada em quem nos dá, igualmente, uma porrara.(Esse "dá" que graças ao bom Deus, não tem nenhuma relação com o "dá", boilistico dos dias atuais).
Bem, tenho acompanhado muitas discussões nesse espaço. leio atentamente cada uma delas e penso que depois dessas leituras já não me sinto mais tão sozinho.
Mas há algo que disse, que respondeu a um leitor que, me deixou bastante intrigado, já sabia essa história, já havia lido sobre esses governos tiranos mas, nunca havia parado pra pensar o que sua frase me fez pensar:
"Imagino que os nazistas assim procederam porque o INDIVIDUO, nesse tipo de regime, precisa ser domado e submetido pelo Estado. Daí a primeira coisa que tais tiranias fazem é desarmar a população. Isso porque sabem que, armados – ou com o direito a ter ou não uma arma de fogo legal –, é mais difícil transformar todos em militantes e vacas de presépio do Partido"
Gustavo, depois do que escreveu, comecei a pensar na possibilidade do nosso governo se tornar ainda mais tirano.
Hoje, existe um gasto de energia, de dinheiro e neurônios (ou não), para fazer o cidadão cumprir seus deveres, seja através do das politicas governamentais, das leis, das autoritárias autoridades, dos impostos e tudo o mais, mas, é inversamente desproporcional quando se trata de se fazer cumprir nossos direitos, ou seja, é meu direito, assegurado em constituição receber atendimentos médicos, ter moradia, ir e vir, liberdade de expressão, etc, porém posso, em alguns desses itens, levar meses (no caso do tratamento hospitalar, quando em carácter de urgência), anos ou até mesmo morrer sem possuir (no caso da moradia)e fazer valer esses direitos constitucionais, em contraponto, se atrasar prestação de plano de saúde que, sou obrigado a ter, já que meu direito soberano não é levado a sério, da casa refinanciada, se chamo alguém de bicha (essa é mais nova), em fim, se não cumpro qualquer dever, no menor espaço de tempo possivel, tudo me é tirado (quanto ao "tudo", enteda "o que conseguir ter").
Entenda bem, não sou contra as leis, contra a policia, tenho ciência que a ordem é nescessária para a vida em sociedade (O tarzam não viveria muito tempo) mas fico angústiado com existe todo um aparato legal, braçal, boçal para assegurar, com elevada eficiência (vide Imposto de renda e processo eleitoral)o cumprimento dos nossos deveres mas, eles quase que não saem do papel, ou de uma mesa, ou da ponta de uma caneta, quando se trata de nossos direitos.
Sei que rodei bastante mas o ponto central e, aqui encaminho minha pergunta: Será que não estamos caminhando para um modelo de governo mais tirano ainda?
É uma democracia mas sou obrigado a ir votar.
Eu não posso me defender mais o bandido pode me atacar e, pior, tenho que colocar um adesivo na testa dizendo que não tenho arma, pra tornar a vida dele mais fácil coitado, tão injustiçado...
O viado pode me cantar, desrespeitar minha opção sexual mas não posso nem mostrar minha indignação, nem chamá-lo de bambi.
Qual será o próximo passo? Vão nos colocar plaquetas de identificação, números de série?
Gustavo, obrigado, boa noite e parabéns por ser "Contra". Também sou, ainda que isso me faça só.

Bruno Souza disse...

"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"