terça-feira, maio 31, 2011

UMA IDÉIA VIAJANDONA



"A liberdade sem a sabedoria e sem a virtude é o pior dos males possíveis".(Edmund Burke)


Os maconheiros (ainda é assim que se chama, não?) estão em plena ofensiva pela "descriminalização" da erva do capeta. E estão exultantes. Contam, para tanto, com um reforço de peso: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (nessas horas, ninguém na esquerda, que está à frente da tese maconhista, lembra que FHC é um "neoliberal", mas deixa pra lá).

Pois bem. O sociólogo FHC entrou de cabeça na "luta" para "descriminalizar" a cannabis. Ele acredita, quero crer que sinceramente, que esse é o melhor caminho para resolver o problema da violência e da criminalidade que acompanham o vício de puxar um baseado. Chegou mesmo a protagonizar um documentário sobre o assunto.

Já falei e repito: considero esse lero-lero de "legalize já" uma das maiores besteiras que já apareceram nos últimos tempos. A "causa" maconhista, definitivamente, não é para quem tem os neurônios em ordem. Coisa de vagabundos ou de iludidos (acho que FHC está na segunda categoria).

O problema da bandeira maconhista é que ela está, com o perdão do trocadilho, viciada desde o início. Os defensores da idéia maconhista afirmam que querem discutir o assunto (como se todos os que fossem contra a legalizaçào estivessem, na verdade, contra o debate, o que é uma grossa pilantragem). OK, vamos discutir. Em primeiro lugar, vamos usar as palavras certas. Os maconhistas dizem que querem a descriminalização - eles chamam de "regulamentação" - do negócio. Ora, o tema já está regulamentado no Brasil. Portanto, não é de regulamentar que se trata.

Outra coisa: os maconheiros alegam que sua "causa" é em defesa da liberdade individual etc. e tal. Já falei o que penso sobre isso, e não quero me repetir. Vez ou outra, eles organizam uma "marcha da maconha", com slogans favoráveis à legalização e ao uso da erva – o que é crime de apologia as drogas, mas vá lá. Há alguns dias, mais uma dessas marchas foi reprimida pela PM em São Paulo. Os maconheiros reclamaram. Disseram que era um absurdo, uma violência etc. e tal. Quase ninguém lembrou que os distintos maconheiros levaram borrachada e gás lacrimogeneo não porque estivessem queimando um fuminho ou provocando a polícia (o que muitos estavam de fato fazendo), mas porque estavam atrapalhando o trânsito, impedindo a liberdade de ir e vir dos cidadãos. É a “liberdade” maconhista em ação…

Voltando a FHC. Não assisti ainda ao documentário a que me referi, mas, pelo que vi na internet, posso dizer que é algo que confirma que é preciso estar muito fumado para defender a causa maconheira. No filme, o sociólogio FHC defende, ao lado de outras personalidades, como Jimmy Carter, Bill Clinton (e... Paulo Coelho!), a tese de que a "guerra às drogas fracassou". Gostaria de saber do quê exatamente ele está falando, essa tal "guerra às drogas". Trata-se de uma expressão que tem tanto significado quanto "guerra ao terrorismo" (ou "guerra à guerra"). A guerra não é contra a maconha ou a cocaína, mas contra quem as trafica. E é sim, contra quem usa essas substâncias, abastecendo o narcotráfico.

Além do mais, fico encafifado: se a "guerra às drogas", como diz FHC, fracassou no mundo todo, e a solução, portanto, é legalizar o tráfico, o que isso significa exatamente? A meu ver, significa uma rendição ao crime. Mais ou menos assim: o narcotráfico existe, e ele mata milhares de jovens todos os anos. Os esforços para contê-lo e botar os bandidos na cadeia não estão dando certo. Vamos, então, desistir da luta.

Maravilha, não? Fico aqui me perguntando: se a defesa da lei e da ordem – ou seja: da democracia – não está funcionando, então que se dane a lei e a ordem! Por que não legalizar o roubo e o assassinato de vez? Faria todo sentido, não acham?

No documentário, FHC aparece visitando vários países da Europa, como Portugal, Holanda e Suiça. Ele quer "aprender com a experiência" desses países no trato da questão, segundo diz. Neles, o consumo e o comércio de maconha – e de outras drogas, como a heroína, mas isso não convém dizer – estão liberados. O Estado, inclusive, fornece um kit com seringas para viciados, como forma, dizem, de "administrar o dano", tratando a questão como um problema não policial, mas “de saúde pública”, como se fosse um tratamento contra vermes. Um ministro português aparece afirmando que nos últimos tempos o número de viciados no país diminuiu bastante, querendo sugerir que isso teria ocorrido por causa de semelhante medida adotada pelas autoridades locais. Estou ansioso para descobrir que relação causal existe entre a distribuição de kits com seringas e a diminuiçào do vício. OK, admito por um instante que seja mesmo verdade a tal redução do vício em Portugal. Nesse caso, admito muito modestamente que não sei por que ela ocorreu. Só tenho uma certeza: é preciso ser vidente e ter poderes mágicos para afirmar que isso seria devido à distribuição das tais seringas.

Também não posso deixar de me espantar: se bancar o vício com dinheiro do Erário é o caminho para diminuir o número de viciados em drogas como a heroína, então por que o governo não faz o mesmo em relação a outras vítimas de outras drogas, como o álcool e o tabaco? Por que, em vez disso, o governo gasta milhões em campanhas contra o alcoolismo e o tabagismo? Gente, um ministro português descobriu que distribuir kits a viciados ajuda a diminuir o vício, vejam que genial! Por que não começamos imediatamente a distribuir um kit-cachaça e um kit-cigarro? (Seria o "bolsa-viajandão", que tal?) Garanto que os alcoólatras e fumantes deixariam na hora o vício.

Por falar em álcool e cigarro, é curioso como os maconheiros adoram falar mal dessas substâncias, ao mesmo tempo em que defendem a liberação das drogas ilícitas. Um dos argumentos é que fazem mais mal à saúde do que a maconha etc. É, pode ser. Comidas gordurosas e biscoito de chocolate tambem fazem mal à saúde. O Ministério da Saúde, aliás, não cansa de alertar para o consumo desses produtos, chegando mesmo a querer proibir a propaganda para crianças. Ainda vamos legalizar a maconha e proibir o biscoito de chocolate.

Na verdade, FHC não precisaria ter ido à Holanda ou à Suiça para ver os efeitos das drogas na sociedade e nos indivíduos. Ele poderia constatar isso, e com muito mais clareza, visitando a periferia de alguma grande cidade brasileira. Poderia começar com Valparaíso de Goiás, pertinho de Brasília, onde todos os dias morre um adolescente baleado em algum tiroteio entre traficantes. Ou então, se não quiser ir muito longe, pode dar uma passada na Cracolândia, em pleno centro de São Paulo. Sugiro tentar a fórmula européia junto aos zumbis que zanzam pelo local. Nesse caso, quem sabe a distribuição de um "kit-crack" surtiria algum efeito positivo sobre aquelas pessoas, imitando o que já foi tentado (sem sucesso) há alguns anos na Suiça. Aliás, o governo da Holanda acabou de decretar que a venda de maconha em cafés para estrangeiros está proibida. Conseguem adivinhar por quê? É que os turistas estavam aproveitando a liberalidade das leis holandesas para traficar. Pois é...

O título do documentário em que FHC propõe a descriminação da maconha (e de outras drogas, porque a questão não se limita à cannabis) é "Quebrando um tabu". A meu ver, o verdadeiro tabu foi quebrado há uns três anos, em uma cena do filme Tropa de Elite, de José Padilha. Reproduzo o diálogo, que demorou uns 40 anos para ser mostrado em um filme brasileiro:

(Numa operação numa favela carioca, o Capitão Nascimento acaba de matar um traficante que resistiu à prisão à bala. Na boca-de-fumo, várias pessoas são presas, inclusive uma que se identifica como "estudante", que lá estava se abastecendo de erva – bondade do diretor: eles não costumam subir o morro para ficarem boladões. Segue o diálogo).

- Capitão Nascimento (apontando o cadáver crivado de balas do traficante): - Você aí! Me diga: quem foi que matou esse aqui?

- "Estudante": - Foi o senhor, capitão.

- Capitão Nascimento: - Quem?

- "Estudante": - Foi o senhor quem matou.

- Capitão Nascimento: - Nada disso! Quem matou foi você, seu maconheiro! (e seguem alguns bons cascudos no “estudante”).

Para mim, só este diálogo já valeu o filme. E vale por uns dez documentários pró-maconhistas estrelados por FHC.

2 comentários:

fernando disse...

eu lembro que alguns anos atrás, o ministério da saude fez um comercial onde aparece um garoto mascando chiclé, e uma hora puxavam seu brinco e fazia um som de descarga de privada, dando a entender que quem usava drogas só tinha um tipo de coisa na cabeça... e esse pessoal, incluindo nosso FHC parecem ter de sobra.

Anônimo disse...

Nossa!, fundamentar teu argumento com "Tropa de Elite" realmente é espetacular. Capitão Nacimento realmente é um gênio, a mais suprema inteligência do país!!!

POr favor, acorda! Teu argumento tem vários furos que não te faz realmente aprofundar a questão por um preconceito a priori de que legalizar as drogas é ruim.

Dizer que legalizar as drogas é o mesmo que legalizar o tráfico é um argumento incorreto. Se legalizadas, as drogas seriam vendidas da mesma maneira que outras drogas legalizadas são vendidas: passando por uma industrialização, depois comércio legal e consumidor. O governo passaria a cobrar impostos (como é feito com cigarro e bebida) e teria com isso uma boa arrecadação. Isso com certeza reduziri o poder do tráfico. Pra que comprar ilegalmente se agora já se pode comprar na legalidade?

Dizer que a legalização das drogas é o mesmo que legalizar o roubo e o assassinato só pode ser alguma piada de mal gosto. Você trata a substância (droga) como sendo em si criminosa, o que é um erro. Crime é o tráfico de drogas. Se as drogas forem legalizadas, estaremos vendendo legalmente uma substância (como muitas outras são vendidas de forma legal) por uma outra via que não será mais o narcotráfico. Quem ganharia com isso seriam os empresários que tivessem capital para investir nessa nova indústria, e não os traficantes.