quinta-feira, fevereiro 19, 2009

RESPOSTA A UMA BOA ALMA (OU: POR QUE O PACIFISMO NÃO É UMA BOA PALAVRA)


O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, que acreditava poder apaziguar Hitler, mostrando o acordo assinado com o ditador alemão em Munique em 1938, e que seria "a paz de nosso tempo": ele também achava a guerra intolerável

Escrevi alguns posts respondendo a um leitor que, de uns dias para cá, vem tentando me convencer que Israel não tem o direito de se defender. Parece que ele não se deu por satisfeito com minhas observações. Respondo-lhe, então, mais uma vez. Como vocês verão, ele é pacifista; eu, não. Ele acha que a ação de Israel e do Hamas são a única e mesma coisa; eu, não. Ele acredita que a força jamais deve ser empregada, em nenhuma circunstância; eu, não. Ele é, enfim, uma boa pessoa, uma alma piedosa. Ele em vermelho, eu em preto, como sempre.

Gustavo,

Entendo o que queira dizer, mas é difícil aceitar de todo. Sou pacifista (creio que esta é uma boa palavra), e não consigo aceitar nenhum tipo de violência. Não aceito a manifestação do Hamas e nem a de Israel. Não creio que ser contra a violência (venha ela de quem vier) seja ser necessariamente contra Israel. Vejo o mundo por uma perspectiva diferente, onde me é intolerável qualquer tipo de guerra.
Não peço ao caro leitor que aceite o que eu digo. Peço-lhe apenas que aceite os fatos. E os fatos são inquestionáveis: há um país, Israel, que há sessenta anos enfrenta inimigos que querem destruí-lo e transformar sua população em adubo. E há quem ignore completamente isso, defendendo que Israel "dialogue" com quem quer provocar um novo Holocausto. Ponto e parágrafo.

O leitor se declara pacifista e contrário a qualquer tipo de violência, seja de onde vier. Nesse caso, só confirmou para mim o que eu já tinha concluído há muito tempo: que o pacifismo, na verdade, não passa de uma desculpa para fechar os olhos para uma forma de violência - sobretudo, se essa violência vier acompanhada de um verniz de defesa dos "oprimidos" contra os "opressores" etc. Isso pode ocorrer por malícia ou por ingenuidade. Se eu não fosse caridoso, eu diria que é por malícia. Como sou caridoso, digo que é por ingenuidade.

Vamos deixar os eufemismos de lado e chamar as coisas pelo nome: a que "manifestações" do Hamas o leitor se refere? À prática de lançar foguetes a esmo contra Israel, esperando com isso provocar o máximo possível de mortes e feridos entre a população israelense? Ou à prática de enviar homens-bombas (muitos dos quais, adolescentes que sofreram lavagem cerebral ou com problemas mentais) para, também de forma indiscriminada, matar e mutilar o maior número possível de civis israelenses? Gostaria que o leitor fosse um pouco mais claro.

Do mesmo modo, gostaria de saber exatamente qual manifestação de Israel ele condena. Seria a prática de reagir da única maneira possível aos atos de terrorismo genocida descritos acima, ou seja, caçando os responsáveis e punindo-os, onde quer que estejam? Seria a prática de recorrer à força para neutralizar e deter quem não reconhece seu direito de existir e jurou riscá-lo do mapa e transformar o país num mar de sangue?

Se o leitor condena igualmente as duas formas de ação, se realmente não vê diferença alguma entre elas, se de fato acha que ambas se equivalem do ponto de vista moral e ético, então, só posso concluir uma coisa: para ele, não há qualquer diferença entre o criminoso e a vítima, ou entre o agressor e o agredido. O Hamas e o Hezbollah agradecem comovidos.

O leitor afirma que, para ele, é intolerável qualquer tipo de guerra. Essa é uma afirmação muito fácil de ser feita, é como dizer que a dor é algo intolerável. Já afirmei antes que a guerra nunca é uma boa opção, mas isso não quer dizer que, em certas situações, não seja a única opção possível. Aqueles que tentaram apaziguar Hitler na década de 30 também consideravam a guerra algo intolerável, e acredito que alguns deles tinham até boas intenções. Nada disso impediu a carnificina que veio em seguida. Pelo contrário: foi justamente esse pacifismo, essa "perspectiva diferente", que preparou o caminho da tragédia. Pergunto: por mais intolerável que seja a guerra, havia outro meio de impedir a barbárie nazista?

Pergunto-te: Que direito tem os EUA de atacar o Irã se o quiserem? Talvez Israel pudesse atacar, mas os EUA? Não vejo porque o mundo deveria permitir isto... A morte de um único inocente não vale para mim o bônus que se possa ganhar posteriormente com a guerra.
Respondo a sua pergunta: nem os EUA, nem o Brasil, nem as Ilhas Fiji, nem Botsuana, têm o direito de atacar o Irã ou qualquer outro país "se o quiserem". A questão, mais uma vez, é desonesta: não se trata de atacar pela mera vontade, como se fosse por capricho, mas porque há boas razões para fazê-lo. Os Aliados não atacaram a Alemanha nazista porque "quiseram", mas porque a Alemanha nazista era uma ameaça à paz e à humanidade. Mesmo assim, não creio que os EUA deveriam atacar o Irã - em momento algum eu defendo isso. Defendo, sim, é que um acordo de paz entre os EUA e o Irã sob Ahmadinejad é uma farsa e uma fantasia. Pelo menos enquanto os líderes iranianos continuarem a defender a destruição de Israel e a patrocinar o terrorismo do Hamas e do Hezbollah. Assim como defendo que dialogar com o Hamas ou o Hezbollah é um passaporte para o suicídio. Preciso explicar por quê?

PS: Agradeço a paciência e as explicações.
De nada. Estarei aqui sempre disposto a esclarecer esse e mais pontos. Vou me permitir apenas mais uma observação.

É muito fácil se dizer pacifista, declarar-se contra a violência de uma maneira geral e idílica, condenar todas as guerras e depois ir dormir com a consciência tranqüila. Mas isso não elimina o fato de que há quem se aproveite do pacifismo, ingênuo ou não, para promover massacres e atrocidades contra a humanidade. Dizer-se contra toda forma de violência é o mesmo que se dizer igualmente contra o bandido e a polícia. É o mesmo que defender o fim das leis, pois a lei nada mais é do que a violência organizada para manter a paz e a ordem na sociedade. É defender, pois, a inação e o imobilismo contra a violência terrorista e genocida. É, enfim, preparar o caminho para o terror e a morte de milhões de pessoas - o exato oposto da paz, portanto.

É um erro dos mais terríveis acreditar que, ao não fazer nada diante da morte, ou ao condenar em geral a violência, está-se deixando de tomar partido. No caso de Israel, grupos de fanáticos como o Hamas só precisam da condescendência, não do apoio explícito, da opinião mundial para porem em prática seus planos assassinos. Só precisam que se condene Israel, ou que se coloque a ação israelense no mesmo patamar moral que o deles próprios, para alcançar legitimidade. E isso estão conseguindo, graças à propaganda midiática que insiste em equiparar a violência dos dois lados.

P.S.: É por essas e outras que não sou pacifista. Definitivamente, o pacifismo não é uma boa palavra.

3 comentários:

Humberto disse...

Concordo contigo, a guerra é legítima, defender seu território é legitíssimo. Por isso os palestinos se insurgem com bombas e pedras. Para que Israel fique em seu quintal e não invada quintal alheio.
Enquanto Israel invadir e implementar assentamentos judeus na palestina, vai levar bomba. E merece!
Agora que o “Mr. Assentamento”(Bibi) vai tomar posse, tem tudo pra ser uma festa de bomba.
Custa o judeu respeitar o território que não é seu? Precisa agir de modo provocativo, incentivando o ódio contra sí?
O dia em que existir uma entidade internacional com autoridade, pra impor que se cumpra a divisão da palestina não com um mas com DOIS Estados, e que se imponha o respeito às fronteiras, sem ocupações, sem assentamentos ilegais, aí sim, poderá se crimimalizar a insurgência(de ambos os lados), de outro modo, fica difícil.
É preciso reconhecer que a insurgência primeira, vem dos invasores judeus, com seus muros e soldados, sua imposição. A violência gerada,é consequência.
Os donos do mundo são fiadores desse estado de coisas, o troco pode ser tanto uma palestina insurgente, como um “onze-de-setembro”.
Um abraço.

Humberto Silva

Anônimo disse...

Gustavo,

Não concordo com o comentário acima do senhor Humberto. Continuo a ser pacifista. Sou contra a todo o tipo de manifestação do Hamas. Você quer que eu diga que manifestações? Ok, sou contra aos homens-bomba, sou contra os misseis atirados contra Israel, sou contra todo o tipo de violência terrorista do Hamas! No entanto, também sou contra as manifestações bélicas de Israel. Você também quer que eu as diga? Ok, sou contra os misseis de Israel que destroem habitações inocentes, aos ataques israelenses que matam (querendo ou não) crianças e demais inocentes! Não interessa se o alvo é um terrorista, se os misseis acertam inocentes, Israel está errado! Sou contra a separação de famílias palestinas devido a guerra. Minha perspectiva é pelos inocentes, sempre!

Grato,

Felipe

Stefano di Pastena disse...

Nada mais covarde, mentalmente preguiçoso e, sobretudo, PERIGOSO, do que um apazigüador. Nas mãos destes desfibrados comodistas, o mundo acabaria em três meses.