Pilha de mortos em Auschwitz: Isso, Ahmadinejad também nega
A Igreja Católica está - mais uma vez - sob fogo cerrado. Tudo porque o papa Bento XVI, numa decisão extrememente controversa, resolveu readmitir no seio da Igreja, alguns dias atrás, o arcebispo ultra-conservador Richard Williamson. Williamson, que pertence ao movimento cismático fundado em 1985 pelo falecido arcebispo Marcel Lefèbvre, que não aceita os rumos da Igreja após o Concílio Vaticano II, e que havia sido excomungado juntamente com Lefèbvre, deu uma entrevista a um canal de televisão negando o Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial. A gritaria foi geral. Imediatamente, o rabinato de Israel cortou relações com o Vaticano e o governo da Alemanha, presidido por Angela Merckel, deplorou a decisão da Santa Sé. Com as relações estremecidas com Berlim e Telavive, Bento XVI resolveu voltar atrás em sua decisão de readmitir Williamson, exigindo do arcebispo negacionista uma retratação - sob pena de excomunhão da Igreja. .
A onda de indignação contra Williamson é justa? É justa. Negar o Holocausto nazista é algo inadmissível, e tal atitude, que é crime na Alemanha, deve ser denunciada. Ainda mais se tratando de um prelado da Igreja Católica, tão atacada - muitas vezes, injustamente - por sua suposta condescendência com o genocídio judeu durante o conflito mundial. A questão da morte de 6 milhões de judeus nas mãos dos agentes de Hitler nos anos 30 e 40 é ainda hoje um assunto espinhoso para muita gente, dentro e fora da Igreja. Nessa perspectiva, as pressões sobre a Santa Sé são mais do que corretas e justas: são necessárias. Mas...
Na mesma semana em que o mundo inteiro se encheu de justa indignação contra Bento XVI por sua decisão de readmitir o antissemita Williamson, um outro fato me chamou a atenção. A imprensa norte-americana e mundial anunciou com fanfarra que o governo de Barack Obama iniciou conversações com o Irã. O que isso tem a ver com o caso Williamson? Muita coisa. A notícia do começo das conversações com o Irã foi saudada pelos setores "progressistas" - os mesmos que quase convocaram uma revolta geral contra o papa pelo caso Williamson - como uma esperança de paz. Beleza? Beleza. Mas há um detalhe aí para o qual, ao que parece, quase ninguém deu muita bola: o Irã é, desde 1979, uma teocracia islâmica, na qual vigora a sharia, a lei do Profeta. Seu líder é Mahmoud Ahmadinejad. Assim como o arcebispo católico Williamson, ele nega abertamente, e até com orgulho, que tenha havido o Holocausto nazista. Mais que isso: ele defende abertamente a destruição do Estado de Israel - um novo Holocausto, portanto.
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Por que a condenação de Williamson é algo justo e correto - o que de fato, é - e os acenos de Obama em direção ao Irã de Ahmadinejad são uma "esperança de paz"? Afinal, não são ambos, Williamson e Ahmadinejad, notórios antissemitas e negadores impenitentes do Holocausto? Notem que não se condicionou o início das negociações com o iraniano a nenhuma retratação pública sua em relação aos judeus. Pelo contrário: Ahmadinejad aproveitou o ramo de oliveira estendido pela Casa Branca para reforçar sua coleção de diatribes contra Israel e os EUA, exigindo que Washington, vejam só, peça desculpas pelo apoio ao Estado de Israel, entre outras coisas inaceitáveis. Em outras palavras: ele não deu nenhum sinal, até o momento, de que irá reconhecer o direito de Israel existir, nem de que está realmente interessado na paz na região.
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Além do mais, o arcebispo Williamson, até onde se sabe, é uma voz isolada, e fala por si mesmo. Já Ahmadinejad é um chefe de governo, e tem um poderoso exército à sua disposição. O Irã, aliás, é o principal financiador do Hamas, grupo terrorista que também jurou varrer Israel do mapa, e que travou uma guerra contra Israel no mês passado na Faixa de Gaza. Em um caso, o de Williamson, a questão é, no máximo, um assunto interno da Igreja. No caso de Ahmadinejad, o problema é da humanidade. Por que, então, a condenação exigida se restringe à Igreja Católica, não chegando também aos maiores antissemitas da atualidade, os fanáticos islamitas? Em um caso, indignação. Em outro, júbilo. Alguém me explique isso, por favor.
(Por falar no Hamas, aí vai um parêntese importante: lembram daquele bombardeio de Israel a um prédio da ONU, no dia 6 de janeiro passado, no auge da guerra entre Israel e o Hamas, que teria matado 43 pessoas na Faixa de Gaza e que causou uma onda de furor antiisraelense na opinião pública mundial? Pois é. Era tudo mentira. O tal bombardeio contra o prédio da ONU nunca aconteceu. O bombardeio aconteceu do lado de fora do prédio. Quem admitiu isso foi a própria ONU - na segunda-feira passada, quase um mês depois do bombardeio. Foram os próprios funcionários da ONU que reconheceram que a informação era falsa, e que esconderam isso durante quase um mês. A notícia está no jornal Haaretz, de Israel. Pergunto: onde estão as manchetes nos grandes jornais ocidentais sobre essa farsa? Também não vi ninguém na imprensa humanista ocidental indignar-se contra as execuções de membros do Fatah por militantes do Hamas após a saída das tropas israelenses de Gaza. Fechemos o parêntese.)
De tudo que está aí em cima, o que se depreende é o seguinte: muitos dos que estão indignados com Bento XVI não se opõem ao antissemitismo, mas à Igreja Católica. A prova disso é que aplaudem a decisão de Obama de conversar com o antissemita Ahmadinejad. Para eles, o arcebispo Williamson deve ser punido não por ser antissemita, mas por ser católico. Antissemitas de outras religiões, como Ahmadinejad, segundo essa visão, devem ser não punidos, mas readmitidos na ordem internacional. Difícil entender.
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O antissemitismo é um crime abjeto e imperdoável. A negação do Holocausto também. Seus defensores são inimigos da paz e da humanidade. Daí porque é tão difícil compreender porque o antissemitismo de uns é mais aceitável, ou menos inaceitável, do que o de outros. Em outros tempos, isso se chamava hipocrisia. Hoje, é "tolerância" ou "pragmatismo". O mundo virou mesmo de pernas para o ar.
2 comentários:
É mais um caso que a sociedade internacional usa pesos diferentes para medir a mesma coisa.
O Irã é um celeiro de fanáticos. Não há nada para comemorar nessa tentativa de aproximação; bom mesmo é arregalar os olhos e deixar um pé bem atrás!!!
Valeu.
Para aqueles que negam Holocausto, fiz a seguinte colocação:
HOLOCAUSTO -POPULAÇÃO JUDAICA ANTES E DEPOIS DA II GUERRA.
Uma postagem simples que pode ser resumida da seguinte forma - Antes da IIGuerra - 9.500.000 judeus.
População judaica européia pós guerra - 3.500.000-
Diferença - 6.000.000 judeus assassinados.
Este trexto postei no dia 2/2/2009
Confiram.
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