segunda-feira, fevereiro 16, 2009

MATOU A PAU

Segue texto de hoje do blog do Reinaldo Azevedo, sobre a patetice que virou o caso da brasileira que teria sido agredida e marcada a canivete por skinheads neonazistas na Suiça. A notícia foi anunciada, alguns dias atrás, como um exemplo de agressão covarde e xenofobia ("brasileira torturada por neonazistas perde bebês gêmeos"), provocando indignação e revolta. Passaram-se alguns dias, alguns detalhes do caso vieram a público, a polícia suiça revelou que a moça, que ao que tudo indica sofre de algum tipo de distúrbio mental, não estava grávida no momento da agressão (ao que parece, nem antes) e que os ferimentos teriam sido auto-infligidos. Como que por encanto, a cobertura pela imprensa mudou drasticamente de tom ("brasileira diz que foi agredida por neonazistas"...). No meio tempo, o governo do Brasil e, em especial, o Itamaraty, fez papel de palhaço, transformando o caso numa patriotada ridícula e numa patética demonstração de orgulho terceiromundista contra os "racistas" ricos, ameaçando ir até a Comissão de Direitos Humanos da ONU contra a Suiça... RA, como de praxe, recoloca as coisas em seu devido lugar. Matou a pau.
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A HORA DOS RIDÍCULOS
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Os que deram partida nas reações histéricas contra a Suíça e os suíços ainda não se renderam e continuam em suas ridicularias, agora lembrando episódios em que a polícia do país teria sido violenta com estrangeiros. Como não têm o bom senso de se desculpar pela patacoada e dizer simplesmente um “erramos”, ficam em busca de argumentos para justificar a acusação. É o chamado “PECAC”. O PECAC é o Paradigma Eliane Cantanhede de Atribuição de Culpas: a Suíça pode não ser culpada agora, mas já foi um dia. E é a verdadeira responsável por ter sido acusada daquilo que não fez. Assim, se Paula tivesse sido agredida por neonazistas, seria uma vítima, e a Suíça, a ré. Como, tudo indica, isso não aconteceu, a Suíça, então, é ré, e Paula, a vítima. Entenderam, ou preciso repetir o, digamos assim, argumento???
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Agora, parece, a moça já flerta com a possibilidade de ter sofrido um aborto antes da agressão. Entendo. Aborto de gêmeos, três meses de gestação, mas sem qualquer anormalidade que chamasse a atenção, como cólica ou sangramento... Deus do céu! Essa história, reitero, é terrível para família de Paula e para ela própria. Ajudaria muito se a delinqüência intelectual, política, ideológica e jornalística que resolveu transformar o caso numa guerra dos “opressores” contra os “oprimidos” retirasse o time de campo. DIREI DE NOVO: AINDA QUE OS SUÍÇOS APRESENTASSEM AMANHÃ OS TRÊS SUPOSTOS NEONAZISTAS QUE TERIAM AGREDIDO A BRASILEIRA, TRATAR-SE-IA DE UM CASO DE TRÊS NEONAZISTAS AGREDINDO UMA BRASILEIRA. A reação do Itamaraty continuaria ridícula; a reação de setores da imprensa continuaria ridícula; a baixa exploração nacionalisteira dos urubus continuaria ridícula.
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E, claro, se ridículo faltasse nessa história, bastaria chamar Marco Aurélio Top Top Garcia, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais. E ele compareceu ao debate. Leiam: “Se não tivéssemos tido uma reação naquele momento, fundada nas informações que nos chegavam, que a grande verdade é essa, o governo sem dúvida nenhuma seria acusado de leniência no que diz respeito à defesa dessa cidadã brasileira". Não sei se percebem a sutileza do Rei do Tártaro. Há uma insinuação de que o governo foi induzido a erro pela... imprensa. Ocorre que um governo, especialmente a sua chancelaria, existe justamente para que a moderação tome o lugar da imprudência.
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A propósito: militantes dos sem-terra paraguaios — que têm contanto, diga-se, com o MST tupiniquim — estão pondo agricultores brasileiros para correr, tomando-lhes a propriedade, a produção, as máquinas... Cadê a reação de Celso Amorim e deste inefável Garcia?
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Ridículos todos eles. Ridículos no sentido mesquinho e infame da ridicularia.
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Comento
A história toda é muito esquisita, e ainda é cedo para especular sobre se a brasileira Paula Oliveira foi ou não agredida, e se perdeu ou não os bebês que disse estar esperando. Nem sou médico legista para dar a última palavra sobre os detalhes até agora pouco esclarecidos desse caso em particular (embora, tendo visto as fotos da suposta agressão, fiquei intrigado com a estranha simetria dos cortes nas pernas da suposta vítima, e um caso de aborto de gêmeos deveria ter deixado pelo menos alguns vestígios no local...). Uma conclusão, porém, sairá inevitavelmente desse episódio: independentente de qual seja o resultado final das investigações, o Brasil fez um tremendo papelão, tentando aproveitar o caso para demonstrar ao mundo todo nosso complexo de inferioridade, travestido de revolta contra os brancos racistas xenófobos suiços - como se fosse a Suiça, o povo suiço, o "país rico" enfim, e não um bando de neonazistas (se é que existiram) o lado agressor. De qualquer maneira, graças a mais essa mancada de Lula, Celso Amorim e companhia, o Brasil ficou um pouco mais bananeiro perante o mundo. Um pouco mais ridículo, como diz Reinaldo Azevedo. .

É curioso como estamos sempre predispostos a aceitar como verdade, sem questionar, qualquer rumor como uma manifestação de racismo e intolerância em países como a Suiça, mesmo correndo o risco de passarmos por idiotas. Ao mesmo tempo, estamos condicionados a fechar os olhos e até a justificar casos concretos de ódio e intolerância contra outros conterrâneos nossos em países como o Paraguai e a Bolívia, mesmo quando os fatos são irrefutáveis. Do mesmo modo, rasgamos as vestes de indignação contra uma suposta demonstração de intolerância racista na Europa, mas somos em geral condescendentes, quando não apoiamos abertamente, o terrorismo genocida do Hamas contra Israel, encarando com naturalidade o fato de alguns quererem convertê-lo num monte de cinzas e ossos, em um novo Holocausto.

Esse duplo padrão não raro leva a desmentidos constrangedores, que dificilmente aparecem na grande mídia. Por exemplo: alguns dias atrás, funcionários da ONU admitiram que o suposto bombardeio israelense a uma escola da organização na Faixa de Gaza em 6 de janeiro ocorreu fora do edifício da escola. Mas nenhum grande jornal ocidental apresentou o desmentido com o mesmo estardalhaço com que noticiou o suposto ataque israelense à escola da ONU, que ocorreu, vejam só, quase um mês antes... A Israel, assim como à Suiça no caso da brasileira supostamente agredida, não se concedeu o benefício da dúvida.
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Certamente, estamos diante de mais um caso de histeria patrioteira, de complexo de vira-lata que dispensa provas e se baseia tão-só, ao que parece, numa visão estereotipada e preconceituosa, balizada pela dicotomia "países ricos" (ou centrais) versus "países pobres" (ou periféricos). É mais uma prova de que os fatos são teimosos, e quase nunca justificam as teorias. Principalmente se a teoria em questão é um terceiromundismo de quinta categoria.

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