Comentando meu texto "Um diálogo sobre discursos (ou: da necessidade de recolocar frases no contexto)", um leitor, movido pela curiosidade ou pela malícia, escreveu-me fazendo três perguntas. O tema é o conflito israelo-palestino (que eu prefiro chamar de luta de Israel contra o terrorismo, pois o conflito israelo-palestino, desde os Acordos de Oslo de 1993, já deixou há muito de existir). Ele vai em vermelho. Minhas respostas vão em preto.
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Gustavo,
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Se for capaz, peço que responda sinceramente estas questões:
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1) Por que é justo Israel defender seu país atacando os Palestinos, mas é injusto os Palestinos defenderem seu povo atacando os israelenses?
A questão é desonesta. Israel não ataca os palestinos. Ataca, isto sim, grupos como o Hamas, que usam os palestinos como escudos. O Hamas não defende os palestinos atacando os israelenses. Ataca Israel porque quer destruí-lo, e com isso arrasta propositalmente a população civil palestina para a guerra. A Israel não resta outra alternativa senão se defender. Como? Tentando neutralizar a capacidade destrutiva do Hamas, por exemplo.
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Vou tentar ser mais didático: imagine uma situação em que um criminoso faz reféns e começa a disparar contra você. O objetivo do dito criminoso não é outro senão exterminá-lo, riscar você do mapa. O que você faria? Reagiria, tentando eliminar essa ameaça, sob o risco de atingir os reféns, ou não faria nada, ficaria sentado, servindo de alvo, para não provocar danos colaterais?
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2) Por que é justo os judeus terem um país próprio, mas injusto os palestinos terem um país para eles?
Epa! Alto lá! Quem está dizendo que é injusto os palestinos terem um país para si? Diga onde, quando, eu disse algo remotamente parecido com isso. Nem eu, nem muito menos Israel se opõe à existência de um Estado palestino. Pelo contrário! Desde os Acordos de Oslo, em 1993, a solução dos dois Estados - um israelense e um palestino - foi acordada entre as duas partes, Israel e o Fatah. A questão, portanto, já está resolvida. Quem não aceita essa solução, meu caro, não é Israel, são grupos como o Hamas, que não querem saber de dois Estados convivendo lado a lado, pois simplesmente juraram varrer Israel do mapa. A questão prima pela ignorância - ou pela má-fé.
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Apenas um adendo: Israel está longe de ser um Estado exclusivamente judeu. Há israelenses judeus, cristãos, ateus e até árabes muçulmanos (cerca de 1,5 milhão). Isso porque se trata de um país democrático - o único, aliás, do Oriente Médio. Agora, imagine o que seria dos judeus caso o Hamas ou o Hezbollah alcancem seu objetivo de instaurar uma teocracia islâmica na região...
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3) Por fim, a mais importante, por que é justo que Israel invada e tome a terra dos palestinos (que nela já estavam antes dos judeus), mas é injusto que os palestinos retomem dos judeus a terra que é deles por direito e usufruto?
Primeiro: não é verdade que Israel "invadiu e tomou" a "terra dos palestinos". O Estado de Israel foi criado por uma Resolução da ONU, em 1947, que previa também a criação de um Estado Árabe. Até então, a região estava sob mandato britânico, como esteve antes sob domínio otomano (turco) até a Primeira Guerra Mundial. Segundo: nesse período todo, nunca deixou de existir uma presença judaica na região, ao lado dos árabes (é um mito a ideia de que os judeus "vieram depois"). Terceiro: quanto aos palestinos, só se começou a falar deles depois da derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967 - até então, a luta era entre "árabes" e "israelenses". A idéia de um Estado palestino (e não árabe) só surge muito depois, e contra a vontade dos governantes ÁRABES, é bom que se diga. Em suma: a questão peca por absoluta falta de sentido lógico e histórico.
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É impressionante como, entre o terrorismo de quem quer destruir um Estado democrático e o direito deste de se defender, ainda há quem defenda o primeiro, e negue o segundo, alegando, inclusive, pretensos objetivos humanistas. É triste ter que responder esse tipo de pergunta, mas é necessário, infelizmente.
Um comentário:
Gustavo,
Parece-me que a resposta 2 foi bem respondida e não cabe voltarmos nela. No entanto, a primeira e a terceira ainda não se resolveram.
Quanto a primeira, você utilizou como exemplo um criminoso que faz reféns e dispara contra você. Temos como opção (segundo você disse) atirar contra o criminoso ou não. Considero que na minha opinião, um policial deveria fazer de tudo para preservar os reféns. Ou seja, inocentes não devem morrer, pois isto seria injusto. Um criminoso sempre será criminoso e matará inocentes (isto vale para um terrorista). Mas um policial não deve se valer da mesma opinião e matar inocentes com o intuito único de se defender do criminoso. A vida do inocente é tão valiosa quanto.
Na terceira, você disse a palavra mágica: ONU. Lembremos que os palestinos não aceitaram a divisão estabelecida pela ONU, pois consideram-na injusta. E, portanto, a criação de Israel se deu com a tomada de territórios que eram considerados dos palestinos pelos próprios. Lembremos também que Israel tomou a faixa de Gaza e passou a administrá-la.
Por último, novas perguntas: Por que você sempre é contra o Islã? Por que é ruim fazer acordos, mas bom fazer a guerra? Por que é errado Obama negociar com Ahmadinejad ao invés de atirar misseis no Irã?
Não queremos mais guerras. Somente pela diplomacia poderemos atingir a paz.
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