segunda-feira, julho 02, 2007

TENTANDO DEBATER COM ESQUERDISTAS


Às vezes me perguntam por que gasto tanto do meu (escasso) tempo livre fustigando os esquerdistas. Vez ou outra eu também me pego fazendo-me essa pergunta. Afinal, meu objetivo, quando resolvi fazer este blog, foi suscitar um debate com os membros dessa estranha e irrequieta fauna, que ora está no poder no Brasil e em parte da América Latina. E uma das coisas que mais repugnam um esquerdista, seja de que matiz for, é o livre debate, o confronto honesto de idéias. Já mostrei meu blog a vários conhecidos meus que militam ou militaram um dia nas hostes de esquerda e até agora, por qualquer motivo, a maioria deles se recusou a tecer qualquer comentário, pelo menos a publicá-lo aqui. Logo, à primeira vista, eu estaria perseguindo um objetivo inalcançável.

No entanto, uma força maior me faz prosseguir nesse intento. Que os esquerdistas são refratários ao debate, já sei faz tempo, nem tenho mais qualquer ilusão a esse respeito. Mas nem por isso acho que se deve deixar de referir-se a eles. Por um motivo simples: ao se recusarem ao debate, ao buscarem desqualificar quem os refuta, muitas vezes apelando para a calúnia, para o não-debate, os esquerdistas não cansam de fornecer munição a seus detratores. Como sou um crítico impenitente da esquerda e como sempre fiz questão de debater, em vez de calar, não resisto à tentação de falar mal deles, mesmo correndo o risco de virar um chato.

Para que fique claro o que quero dizer, e para que não me acusem de preconceito ou falta de conhecimento de causa, dou aqui uma receita que considero útil para tratar com esquerdistas. É a única maneira de "debater" com eles.

A primeira coisa que se deve ter em mente, quando se trata de esquerdistas militantes, é a impossibilidade de esses senhores travarem um debate racional e civilizado, segundo as normas da lógica e até mesmo da etiqueta. Não adianta tentar: pela própria essência de suas idéias, eles são incapazes de sustentar seu pensamento com fatos e argumentos lógicos. Pela única e simples razão de que não querem o debate, o choque de opiniões contrárias. Querem o aplauso, a adesão incondicional e incontestável. E, para alcançar esse objetivo, estão dispostos a qualquer coisa, inclusive a lançar mão da calúnia e da intimidação física.

Não que os esquerdistas sejam todos canalhas ou idiotas - e muitos certamente o são -, não que o façam por pura e simples estupidez, mas porque sua condição ideológica de herdeiros de Marx e Lênin os impede de pensar e agir com um pingo de honestidade, de se comportarem com um mínimo de decência e de boa-fé. O que caracteriza o pensamento de esquerda atual, herdeiro do marxismo, é a certeza. Não a certeza decorrente da investigação racional da realidade, a certeza como conclusão ou veredicto, mas como princípio teológico, como pressuposto do próprio pensamento, sem a necessidade de fatos que o comprovem ou não. Tem sido assim desde pelo menos a publicação do Manifesto Comunista, desde que Marx e Engels proclamaram a verdade irrefutável da luta de classes e da necessidade da revolução proletária. Desde esse texto fundador, espécie de Evangelho sagrado dos esquerdistas, aqueles que professam as teses de esquerda se consideram membros de uma supra-humanidade, os únicos e legítimos depositários da Verdade revelada, a quem caberia a missão histórica de construir uma nova humanidade.

Para esses indivíduos iluminados, membros especialíssimos de um clube seleto, todo conhecimento que contrarie ou ponha em dúvida essa Revelação só pode ser falso, não merecendo sequer ser objeto de estudo. Conheci um militante trotskista, estudante de Ciência Política na Universidade, que só lia textos marxistas. Perguntado por que não se interessava por outros autores, ele me veio com a seguinte resposta: "para quê, se nenhum deles vai ajudar a fazer a Revolução?" É assim que "pensam" os esquerdistas. Não se trataria mais de debater, de trocar idéias, mas de impor, de empurrar goela abaixo os pressupostos do materialismo dialético para "fazer a revolução". Para que debater, para que buscar o conhecimento, se já se conhece A Verdade?

Uma vez que vêem a si mesmos como os detentores do monopólio da Verdade, os esquerdistas passam a enxergar o mundo com cores maniqueístas, sem espaço para a dúvida ou a discussão franca. Assim como os teólogos cristãos da Idade Média, acreditam que seus postulados estão isentos de provas racionais, afirmando a verdade de sua proposições pelo método performativo, segundo o qual uma afirmação torna-se verdadeira pelo simples fato de ter sido enunciada. Daí a que se considerem não só os donos da Verdade, mas também da Moral, da Ética, da Justiça, da Bondade, da Honestidade etc. Aqueles que não comungam de suas idéias, a "direita", só podem ser, segundo essa linha de raciocínio, representantes dos valores opostos, ou seja, da mentira, da imoralidade, da anti-ética, da injustiça, da maldade, da desonestidade etc. Para que pensar, para que colocar as idéias sob o teste da lógica e da racionalidade? A certeza ideológica - ou teológica - é muito mais útil, além de mais cômoda.

Segue-se daí que os esquerdistas são incapazes de abordar um argumento contrário sem lançar mão de argumentos ad hominem, o que demonstra sua falta essencial de honestidade. Experimente criticar o governo Lula ou a ditadura de Fidel Castro, por exemplo, e o esquerdista do outro lado dará pulinhos de raiva, cobrindo-o de uma cascata de insultos, que poderão variar dos tradicionais "elitista" e "reacionário", até os mais criativos e conspiratórios "lacaio do imperialismo" e "agente da CIA". Fundamente suas observações em fatos e argumentos sólidos, citando este ou aquele livro, e você receberá de volta não uma refutação racional do texto mencionado, mas imprecações contra a honra pessoal do autor, ou seja, ataques não contra a mensagem, mas contra o mensageiro ("é um conservador", um "direitista" - como se "conservador" e "direitista" fossem ofensas gravíssimas...). Prossiga em sua análise e você correrá o risco de ouvir, do lado oposto, palavras de baixo calão referentes à sua genitora ou a certa parte de sua anatomia, gritadas de forma histérica e a plenos pulmões (por alguma razão, esse pessoal acredita que a verdade de uma frase é diretamente proporcional aos decibéis), ou então alguma insinuação bem pouco sutil a respeito de sua sexualidade. Insista um pouco mais, apontando as incoerências e contradições de seus interlocutores, e você poderá perder algo mais precioso do que a liberdade de expressar-se, como os "revolucionários" do MR-8 sugeriram em relação ao Diogo Mainardi...

Também não se espere dos esquerdistas nenhum compromisso com a coerência. A recusa voluntária em pensar, o apego a dogmas pré-estabelecidos como verdades absolutas e irrefutáveis - características do pensamento mágico, pré-racional -, tornam irrelevante para os discípulos dessa religião secular chamar a atenção para suas próprias contradições. Uma vez que a finalidade, o objetivo último das esquerdas, não é alcançar a verdade - esta já foi alcançada, lembram? -, mas tomar e manter o poder, a coerência pode ser deixada de lado sem constrangimentos. Lula e o PT construiram cuidadosamente, durante décadas, a imagem de representantes da Honestidade e da Ética na política? Pois aí está o atual governo para demonstrar a falácia desse mito, gesticulando desesperadamente que "todos fazem igual". As esquerdas tomaram para si a defesa das liberdades civis e dos direitos humanos no Brasil? Pois não cansam de justificar as violações das liberdades civis e dos direitos humanos em países como Cuba, por exemplo. As esquerdas levantam hoje a bandeira do direito ao aborto em favor da liberdade de escolha para a mulher? Três décadas atrás opunham-se ao controle da natalidade como uma forma de imperialismo. Batem-se atualmente pelos direitos dos homossexuais, a ponto de defenderem um projeto de lei que torna crime qualquer demonstração de "homofobia"? Pois omitem que em Cuba os homossexuais chegaram a ser encerrados em campos de trabalhos forçados para "reeducação". Aparecem como os campeões da luta contra o racismo e pelos direitos das minorias? Pois tratam de pôr debaixo do tapete as perseguições movidas pelos regimes comunistas contra suas próprias minorias étnicas. E assim por diante.

Portanto, mesmo sabendo que essa gente não quer conversa, acredito que é um dever desmascarar suas imposturas, sua arrogância, sua estupidez, sua intolerância travestida de bom-mocismo, a irracionalidade e falsidade essenciais de seus slogans. Mais do que um passatempo, isso para mim é um serviço de utilidade pública. Um dever cívico.

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