quarta-feira, julho 25, 2007

LIÇÕES DE UMA VAIA, OU O INCRÍVEL PRESIDENTE QUE SUMIU


A monumental vaia ao Grande Molusco no estádio do Maracanã, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, assim como a reação apalermada de Lula ao acidente da TAM em Congonhas, alguns dias depois, trazem lições bastante valiosas para compreender isso que aí está e que, na falta de palavra melhor, convencionou-se chamar de governo.

Primeiro, a vaia. Tornou-se comum dizer que a popularidade de Lula repousaria no assistencialismo e no paternalismo estatal às camadas mais pobres, felizes em sua ignorância, contentes por ganharem 60 reais por mês de esmola do, vá lá, governo. Nesse sentido, os apupos ao supremo mandatário da nação, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, teriam sido uma demonstração da classe média, de gente que lê jornal e viaja de avião. Outros, como o ministro do Esporte, preferem o caminho mais fácil e dizem que foi tudo uma coisa orquestrada, culpando o César Maia. Além do mais, no Maracanã, dizem, vaia-se até minuto de silêncio.

Tais explicações, obviamente, não procedem. Pelo simples motivo de que a popularidade de Lula não se deve somente aos miseráveis, que pelo menos podem dizer que têm um, vá lá, governo chefiado por um indivíduo ainda mais ignorante do que eles. Deve-se, acima de tudo, a décadas de trabalho minucioso de preparação ideológica, do qual fizeram parte também setores importantes da mídia e das elites - sim, da mesma "zelite" que Lula durante tanto tempo fustigou como culpada de todos os males defte paif. Foram esses mesmos companheiros que deram corda ao mito do ex-metalúrgico, o qual durante trinta anos acostumou-se a ser elogiado, adulado, bajulado, afagado de todas as maneiras possíveis pela mesma burguesia oportunista que sempre mamou nas tetas do Estado-patrão, do Estado-provedor, do Estado-empresário brasileiro. São os empreiteiros que fizeram a festa com os trabalhos do Pan, superfaturando milhões com a construção de megaestádios e vilas olímpicas. São os seus cortesãos, aqueles que sempre sentam na frente nas cerimônias oficiais, que aplaudem com mais entusiasmo cada palavra do Apedeuta como se fosse a Verdade revelada saída da boca do messias encarnado. Esses setores da classe alta estão felicíssimos com o, vá lá, governo Lula.

Para além das explicações simplistas, padrão luta de classes, dos lulistas, o que me chamou a atenção foi o jeito como Lula e seus asseclas encararam o episódio. Mais especificamente, como Lula empalideceu diante da vaia gigantesca. Quem assistiu à cena na TV sabe: Lula estava lívido. Ele simplesmente não podia acreditar que aquelas vaias, aqueles assovios de reprovação, eram para ele, Luiz Inácio. O rosto encrispado de Lula, o sorriso amarelo, o constrangimento, dele e de seus assessores, lembraram-me a cena do ditador romeno Nicolae Ceaucescu, diante daquela manifestação inesperada da oposição, que deflagrou o movimento popular que resultou em sua queda e fuzilamento, em 1989. Assim como Ceaucescu, Lula foi pego totalmente de surpresa. Assim como o ditador romeno, ele esperava ir para uma festa, oficial e bem-comportada, onde seria protocolarmente ovacionado, e não estrepitosamente vaiado. "Por que não me amam?", deveria estar pensando Lula, assim como Ceaucescu, quase vinte anos antes. Lula estava paralisado pelas vaias, tanto que desistiu de ir ao microfone e declarar abertos os Jogos. Com medo de que a cena se repita, também já anunciou que não vai à festa de encerramento. Acovardou-se. Amarelou.

Agora, o acidente da TAM. Todos viram, ou melhor, não viram, a reação do, vá lá, governo após o avião espatifar-se em Congonhas. A reação de Lula foi semelhante a que teve no Maracanã: recolheu-se, escondido, só se pronunciando sobre o desastre três dias depois. Aconselhado por seus marqueteiros, fez um discurso chocho, vazio como todos os seus pronunciamentos, virando o rostinho para cá e para lá, para melhor enquadrar na câmera e tentar dar mais ênfase àquilo que dizia: nada. E só. No resto do tempo, escolheu o caminho mais fácil. Sumiu. Desapareceu. Escafedeu-se.

Essas demonstrações explícitas de tibieza e de covardia por parte de quem supostamente deveria estar no comando do País, assim como o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia, não me causaram surpresa. Lula já demonstrou em diversas ocasiões sua incapacidade de suportar críticas e enfrentar situações adversas. É assim hoje, com as vaias no Maracanã e com o apagão aéreo, assim como foi sempre. Nas últimas eleições presidenciais, lembremos, ele fugiu o quanto pôde do debate com os demais candidatos. Antes, em 2002, dera mostras claras de nervosismo, sempre que instado a responder alguma pergunta mais embaraçosa. Já como presidente, adiou até não mais poder a primeira entrevista coletiva de imprensa. Sem falar nas várias tentativas de controlar a mídia, que vão desde a expulsão de um jornalista estrangeiro até querer impor a censura aos meios de comunicação. Não por acaso, o verbo que mais se aplicou a Lula nesses últimos tempos foi "blindar" - depois de décadas de endeusamento de sua personalidade, que resultou na criação do maior mito político da História nacional, Lula cercou-se de assessores e marqueteiros, que trataram de a todo custo blindá-lo contra qualquer crítica, isto é, de preservar o mito contra a realidade. O que Lula e sua turma querem não é o debate, não é enfrentar responsabilidades. É aplauso. Como os ditadores, querem ser amados, não cobrados ou contestados.

Daí a surpresa de Lula diante das vaias no Maracanã e a paralisia que o acometeu após a tragédia em Congonhas, à qual se soma a falta de ação do, vá lá, governo desde que surgiram os primeiros escândalos de corrupção. Daí também que os discursos de Lula soem tão ocos, tão vazios de significado. Já tive a oportunidade - o.k., oportunidade não é bem a palavra, mas vá lá - de assistir ao vivo a alguns discursos de Lula. É sempre a mesma ladainha, a mesma lengalenga, o mesmo arrastar infinito de chavões e lugares-comuns. Quando, em alguma cerimônia oficial, tem que ler algum texto cuidadosamente preparado por algum assessor, tarefa que considera tão penosa quanto caminhar de esteira, Luiz Inácio mostra um enfado e um tédio gigantescos, falando monotonamente, esbarrando nesta ou naquela palavra mais complicada. Quando, diante de um microfone, fala de improviso, mostra um desembaraço surpreendente: agita-se, transforma-se, gesticula, esbraveja, arregala os olhos, eleva a voz, como um pastor num púlpito, dando-se o direito até mesmo de distribuir conselhos sobre a vida sexual dos cidadãos. Observando com mais atenção, pode-se mesmo vislumbrar um fio de saliva escorrendo no canto de sua boca. Há algo de intrinsecamente neurótico, de essencialmente histérico, nesses rompantes verborrágicos, nos cacoetes verbais, nos "sabe" e "ou seja", nas expressões às vezes chulas, nas caras e bocas que faz nosso presidente. É a contrapartida carismática da blindagem populista, o disfarce retórico da incompetência e da fraude.
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Certa ocasião, Winston Churchill, que acabava de assumir o cargo de primeiro-ministro, foi vaiado pela multidão. Sem se deixar abater, mostrando toda sua fleuma e presença de espírito, ele respondeu: "Grande é o povo que pode vaiar seu primeiro-ministro. Grande é o povo cujo primeiro-ministro vem a público prestar contas do seu governo e é vaiado". Logo as vaias se converteram em aplausos. Também pudera. Aquelas eram palavras de um estadista. Não de um arrivista despreparado e covarde.
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P.S.: Ainda não cheguei ao ponto de afirmar, como Olavo de Carvalho, que a destruição das instituições do Estado a que estamos assistindo - inclusive da infra-estrutura aérea - é parte deliberada e inseparável do esquema gramsciano-comunista de tomada e manutenção do poder. Mas, diante de tantas mostras explícitas de incompetência e descaso, assim como das repetidas fugas à responsabilidade de Lula e seus asseclas, estou começando a pensar em mudar de idéia.

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