A onda de indignação que tomou conta do País desde que vieram à tona as primeiras denúncias de corrupção na administração federal, e que atingiu o auge no apagão aéreo, poderia ser o começo de uma tomada de consciência cívica por parte do povo brasileiro, tão afeito a líderes populistas e tão avesso a coisas sérias. Poderia. Porque, infelizmente, é doloroso admitir, estamos diante de mais uma onda passageira de hipocrisia e farisaísmo, travestida de indignação moralista.
Convenci-me disso depois de ver, na abertura da cerimônia do Pan, as vaias ao Presidente da República. Aquele poderia ter sido um momento fatal para o atual (des) governo lulista. Poderia. Porque, na mesma cerimônia, os mesmos quase 90 mil indignados cidadãos que vaiaram estrepitosamente o Apedeuta bateram palmas entusiasmadas quando viram entrar a delegação de Cuba, ao mesmo tempo em que uivaram de reprovação à entrada da delegação norte-americana.
Aquilo me deixou encafifado, como se diz em minha terra. Como a mesma multidão que quase pôs o Maracanã abaixo quando foi anunciada a presença do Grande Molusco no estádio, a ponto de tê-lo impedido de ir ao microfone e anunciar oficialmente a abertura dos Jogos, aplaudiu até fazer calo na mão os representantes da ilha-prisão de Fidel Castro, enquanto vaiava os atletas de Tio Sam? Logo acendeu-se a luz de alerta. Tem algo estranho aí, pus-me a pensar. Não precisei queimar muitos neurônios para concluir: o problema é a ideologia, estúpido!
Sim, o problema é a ideologia. O que isso quer dizer? Quer dizer que os que vaiaram Lula e os atletas dos EUA ainda ignoram completamente - e, desconfio, continuarão a ignorar - um detalhe fundamental. Na verdade, mais que um detalhe, a própria essência desse (des) governo que está aí: que a corrupção lulista, os escândalos do Mensalão e do Valerioduto, o caos aéreo, o "relaxa e goza", o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia, as contínuas demonstrações de incompetência e de desrespeito ao povo brasileiro pelos companheiros, tudo isso não ocorre de forma isolada, não são fatos aleatórios. São, isto sim, produto de décadas de um elaborado, paciente, minucioso trabalho de infiltração e preparação ideológica por parte de um diligente e dedicado exército de intelectuais, jornalistas, artistas, empresários, políticos e ongueiros que, durante cerca de trinta anos, prepararam o terreno para a tomada do aparelho de Estado, a começar pela chamada "sociedade civil".
O objetivo desse trabalho de décadas não é outro senão transformar o Brasil e a América Latina num substituto da falecida URSS, de acordo com os pressupostos revolucionários do marxismo-leninismo (gramsciano). Tais objetivos estão consubstanciados no Foro de São Paulo, organização criada em 1990 por Lula e Fidel Castro para articular a ação dos partidos e grupos comunistas da América Latina, desde o PT até os narcotraficantes das FARC, e cuja simples existência é até hoje sistematicamente negada e camuflada pelos órgãos de comunicação (TV, rádio, revistas e jornais) - alguns deles até posam de oposição, mas na verdade trabalham para o governo (eu mesmo, até pouco tempo atrás, achava que essa conversa de Foro de São Paulo era só invenção paranóica do Olavo de Carvalho. Mas, depois de o próprio Lula em pessoa ter-se referido ao supostamente inexistente Foro, em discurso na cerimônia de formatura de minha turma no Itamaraty, em 2005, mudei de idéia e passei a dar mais atenção ao fato). Se a multidão que vaiou Lula soubesse disso, certamente não teria vaiado a delegação dos EUA. Muito menos aplaudido a de Cuba.
Os brasileiros ainda não se deram conta de que a roubalheira e a incompetência demonstradas diariamente pelos lulistas não ocorrem no vácuo, não vêm do nada. Vêm de um esquema político muito maior, do qual Lula e o PT são apenas uma peça, a qual pode ser facilmente substituída. É isso que explica a corrupção reinante nos altos e baixos escalões da administração lulista. Para atingir seus objetivos políticos, os petistas e seus aliados não hesitaram em levar ao pé da letra o lema "os fins justificam os meios". É isso também o que explica a ausência total de manifestações de massa contra o governo. É que, graças a esse trabalho de infiltração e de propaganda, os lulo-petistas conseguiram o monopólio das ruas, controlando as principais instituições da chamada "sociedade civil" (partidos, sindicatos, igrejas, ONGs etc.), às quais se soma, agora, o controle do aparelho estatal. Isso foi feito por anos a fio, de forma quase silenciosa, sem que nos déssemos conta. Tudo seguindo à risca os ensinamentos de Lênin e de Gramsci.
Os aplausos a Cuba e as vaias aos EUA, na mesma noite e na mesma ocasião das vaias a Lula, demonstram que o povo brasileiro (e não só a classe média) está totalmente confuso e desorientado diante do (des) governo Lula. Revelam que ainda não relacionou a corrupção e incompetência lulistas a suas raízes ideológicas. Sem fazer essa associação, sem ligar causa e efeito, a indignação ficará restrita a episódios de menor importância, como as frases de Tia Marta e o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia que, retirados de seu contexto ideológico, não passam de demonstrações de grosseria e de falta de educação. Enquanto a população não tomar consciência do que lhe vem sendo sistematicamente escondido há pelo menos dezessete anos, nenhuma vaia ou editorial indignado será capaz de abalar o curso desse esquema previamente montado. Em vez de se denunciar o plano totalitário levado a cabo há décadas, escolheu-se criticar os maus modos dos governantes. É o mesmo que criticar o carrasco por cuspir no chão.
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