segunda-feira, julho 09, 2007

CONSPIRAÇÃO CONTRA A INTELIGÊNCIA


Sempre fui extremamente cético quanto a teorias conspiratórias. Principalmente aquelas do tipo "quem matou Kennedy" ou "11 de setembro", que não passam de variações sobre o mesmo tema da CIA-Pentágono-complexo industrial-militar norte-americano-querendo-dominar-o-mundo. Mas esse pessoal da esquerda politicamente correta me força a mudar de idéia. Eles exageram, em suas tentativas emburrecedoras de impor a todos sua visão ideológica, retirada de desbotadas cartilhas marxistas ou copiadas dos politicamente corretos de países que costumam atacar, como os EUA.

É o caso do que está acontecendo neste exato momento na Universidade de Brasília (UnB). Não sei se vocês estão a par da gravidade do que ocorre atualmente na instituição fundada por Darcy Ribeiro, um dos maiores apologistas da mestiçagem brasileira (inclusive, a meu ver, de forma completamente equivocada, mas isso não vem ao caso agora). Um professor do Departamento de Ciência Política da referida universidade, Paulo Kramer, acaba de ser punido com vários dias de suspensão pela diretoria da UnB. Motivo: numa aula, o referido professor teve a ousadia de usar a palavra "crioulada" para se referir ao movimento negro - perdão, afro-descendente - dos EUA. Um estudante, que vem a ser meu xará, não gostou do que ouviu e foi se queixar ao reitor, que agora passou um pito no mestre. O tal estudante, cujo nível de melanina na pele não é mais alto do que o meu, é militante do tal "movimento negro" que tanto barulho fez nos últimos anos em defesa do sistema de cotas raciais. Sistema este, como se sabe, adotado pela UnB, a partir de critérios que também todos conhecemos, e com resultados, digamos assim, também bastante conhecidos, vide o caso dos irmãos gêmeos idênticos, um declarado branco e outro, negro - ops, afro-descendente -, pelo tal sistema de cotas...

A punição ao professor Paulo Kramer é um desses fatos que, se não fossem trágicos por seu significado, seriam cômicos. Punir um professor pelo que ele diz em sala de aula, seja sobre o que for, não é apenas censura e intolerância. É burrice, pura e simplesmente. Puni-lo por ter usado uma expressão - "crioulada", "crioulo" - de uso corrente no vocabulário popular (a ponto de ter sido empregada, recentemente, por ninguém menos do que Sua Excelência em pessoa, o Grande Molusco, quando lembrava em discurso, pela enésima vez, sua infância pobre e sofrida, perante uma platéia de bem nutridos e embevecidos empresários), é mais do que simples obtusidade mental - é um alerta, um sinal de que caminhamos para um tipo de totalitarismo.

Além de constituir uma forma inequívoca de censura verbal - estúpida, cretina, grotesca como toda censura, além de seletiva -, a punição ao professor da UnB traz embutida a marca de uma verdadeira conspiração. No caso, uma conspiração contra a própria razão de ser da Universidade - o lugar do conhecimento e do debate por excelência. Mais que isso: trata-se de uma conspiração contra uma das poucas coisas boas que o Brasil (ainda) tem - a ausência de discriminação racial aberta, o legado de cinco séculos de mestiçagem, a convivência entre raças e grupos étnicos diversos, sem que isso tenha criado uma separação intransponível entre as mesmas. De acordo com a lógica inerente à punição, deveriam ser proibidas quase todas as marchinhas de carnaval, como aquela que diz, "o seu cabelo não nega a mulata...", ou músicas como "sarará crioulo" (aliás, uma celebração da negritude). Trocando em miúdos, o que se quer é impedir todos de manifestarem-se livremente. É proibir, enfim, o próprio Brasil.

Já afirmei e repito: o que se convencionou chamar de "movimento negro" no Brasil, em particular sua vertente mais radical incrustada nas universidades, é na verdade uma associação de mentes paranóicas e antidemocráticas, que, a pretexto de "corrigir uma injustiça histórica", têm por objetivo último a imposição de uma separação racial radical à sociedade. Na realidade, o que buscam é mesmo a criação de um outro país, bem diferente do Brasil: um país mais parecido com o sul dos EUA nos anos 60 ou com a África do Sul do apartheid, mas com o sinal invertido - um país bicolor, sem mestiços ou nuances entre as raças. Logo, um país imaginário, onde certamente suas mentes habitam e de onde retiram as estatísticas distorcidas que costumam brandir para "provar" a existência de racismo no Brasil (por exemplo, excluindo propositalmente os pardos, rotulados indistintamente como "negros"). A paranóia e a desonestidade desse pessoal já foram tão longe que até briga de estudantes por causa do barulho da música em festinhas acabou virando demonstração de perseguição racista... Tendo invertido por completo a realidade, tentando a todo custo adaptá-la a seu esquema (literalmente) branco-e-preto do mundo, não é de estranhar que acabem trabalhando por aquilo que dizem combater: em nome da luta contra o racismo, estão conseguindo institucionalizá-lo, com o sistema de cotas e, agora, com a instituição de uma polícia da linguagem nas salas de aulas. Um passo rumo a uma forma de doublespeak, de polícia do pensamento orwelliana.

Com punições arbitrárias e idiotas como a infligida ao professor Paulo Kramer, a UnB comprova aquilo de que eu desconfiava há tempos: tendo deixado há muito de ser ambientes de estudo sério e de pesquisa, as universidades brasileiras converteram-se em verdadeiras madrassas, em túmulos do pensamento crítico e paraísos de agitação política, em templos da empulhação ideológica e da vigarice intelectual. Uma assembléia de estudantes e professores durante a invasão e depredação - desculpem, ocupação - da reitoria da USP, por exemplo, terminou com os presentes entoando vivas ao Hezbollah e pregando a destruição do Estado de Israel... Isso demonstra a que ponto se chegou, e é apenas uma pequena amostra do que ainda poderá vir por aí.

Em outro lugar escrevi que denunciar as imposturas dos esquerdopatas é um dever cívico. Na verdade, é mais que isso: é uma questão de saúde pública. De saneamento básico.

P.S.: E antes que me proíbam de falar o que penso, da maneira que eu quiser, aproveito que - ainda - posso valer-me da liberdade de expressão que os "militantes negros" querem varrer do mapa para dizer com todas as letras: CRIOULADA! CRIOULADA!

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