Alguns anos atrás, uma família em Minas Gerais foi processada pelo Ministério Público por ter se recusado, durante anos, a enviar seus filhos para a escola. Não para que eles trabalhassem na roça ou pedissem dinheiro nos sinais de trânsito, mas por outro motivo, mais compreensível. Em vez de matricular os adolescentes em instituições de ensino públicas ou particulares, seus pais preferiram educá-los em casa mesmo, onde receberam toda a educação fundamental e média.
O advogado dos pais teve, então, a seguinte idéia, na verdade um desafio: propôs a realização de um exame, no qual se poderia averiguar o nível de conhecimento dos rapazes. O exame foi feito e, em todas as matérias, eles obtiveram nota igual ou superior à da média dos alunos regularmente matriculados. Estavam devidamente capacitados, do ponto de vista intelectual, para passarem no vestibular e ingressarem na universidade.
A história, que mal saiu na imprensa, é realmente surreal, apesar de verdadeira. Nos EUA, educar os filhos em casa, da maneira que a família considera mais adequada, é um direito praticado por milhares de pessoas – o nome disso é homeschooling. No Brasil, é crime, ainda por cima chamado de “abandono intelectual”. Mais surrealista ainda é o fato de que, ao fazer essa opção, a família decidiu proporcionar-lhes exatamente aquilo que há muito tempo não se encontra mais nas escolas brasileiras: uma educação decente e de qualidade.
Ao optar pelo homeschooling, os pais pouparam seus filhos de serem submetidos sistematicamente a sessões de lavagem cerebral por molestadores juvenis, que consideram “educação” um sinônimo de doutrinação ideológica, baseada na vulgata marxistóide mais vagabunda. Salvaram-nos de serem usados como cobaias em “experimentos didáticos” por doutrinadores travestidos de professores, que acham normal falar e escrever “nóis pega os peixe” e consideram o respeito à gramática, como mostrou o livro recentemente aprovado pelo MEC, coisa de preconceituosos e elitistas. Os rapazes escaparam, também, de ser obrigados a assistir a vídeos e a ler cartilhas enaltecedoras da "diversidade sexual", livrando-se, assim, de serem doutrinados, em plenos anos de formação psicológica, sobre as virtudes redentoras do lesbianismo e da sodomia. Em vez disso, seus pais, certamente conhecendo a realidade do ensino no Brasil, resolveram dar a eles o que não encontrariam nas escolas brasileiras. E ainda foram acusados de “abandono intelectual”…
Não é segredo para ninguém que aquilo que se convencionou chamar de educação no Brasil de hoje não passa da mais pura vigarice, de um verdadeiro crime de lesa-inteligência a serviço de ideologias imbecis e de partidos políticos sem nenhum compromisso com o progresso mental da população. Essa realidade, que existe há pelo menos quatro décadas, foi agravada nos últimos anos, com a subida ao poder de um presidente que se gaba – e que é louvado por isso – de suas poucas luzes. O MEC foi tomado de assalto por uma turma comandada por um ministro especialista em marxismo que não sabe soletrar a palavra “cabeçalho” e que transformou uma das poucas coisas que funciona(va)m no país, o ENEM, em motivo de piada e em símbolo de incompetência. Nada mais simbólico do Brasil de hoje do que o fato de que existem mais ex-BBBs do que arqueólogos, e que um palhaço analfabeto seja membro da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Nunca na história deste país o apedeutismo, o culto da ignorância, foi tão disseminado e contou com tamanho apoio e estímulo oficiais.
Tal fato, por mais gritante que seja, passa geralmente despercebido. Pior: não é avaliado como deveria. Fale em ensino no Brasil e a primeira coisa que você ouvirá será, provavelmente, algo como “é preciso mais verbas para as escolas” etc. Tendo nascido e sido criado em família de professores, acostumei-me com queixas por melhores salários para a categoria (um tio meu, professor de Química em uma escola pública, era um dos mais queixosos; descobri há pouco que o ultimo curso de aperfeiçoamento profissional que ele fez foi em 1971…).
É incrível como, no Brasil, o dinheiro é considerado a solução para tudo. É um traço de nosso caráter nacional. O problema não é a falta de recursos. Ao contrário do que se costuma dizer, o Estado brasileiro gasta muito com educação no Brasil (se gasta bem, aí é outra coisa). Se dependesse do volume de dinheiro público gasto com o setor, o Brasil estaria na vanguarda da produção científica mundial. A parte principal da culpa pela má qualidade do que se ensina nas salas de aula recai, obviamente, em quem a ministra, ou seja: os professores.
Na parte desenvolvida do mundo, os professores são geralmente os melhores alunos de suas disciplinas, que buscam, assim, compartllhar o conhecimento adquirido. No Brasil, é o contrário: ninguém quer ser professor, e as cátedras são assumidas, com raras exceções, pelos piores. Essa falta de prestígio não pode ser atribuída simplesmente a uma política governamental. Os professores no Brasil geralmente não atuam como mestres, mas como sindicalistas. Estão mais interessados em atacar o capitalismo e em fazer greve por melhores salários (e que sempre - sempre - só prejudicam os alunos que querem estudar) do que em preparar uma aula decente. E não só nas escolas públicas. Fiz o primeiro grau numa escola particular, católica, uma das melhores da cidade. Lembro que a professora de História, admiradora da Revolução Cubana e da teologia da libertação, não cansava de repetir que o capitalismo era um sistema mau e perverso e que o socialismo era a solução para a humanidade. Eu tinha dez anos de idade. Se eu tivesse estudado em casa, sem a chatice de ir à escola todos os dias, não teria perdido tanto tempo, e talvez tivesse aprendido mais e melhor.
Essa realidade, infelizmente, pouco mudou. De fato, a cada dia fica pior. Nos exames internacionais, os alunos brasileiros invariavelmente tiram os ùltimos lugares em habilidades básicas, como leitura e Matemática. Digam-me o nome de um (1, hum) acadêmico brasileiro da área de ciências humanas que tenha escrito alguma obra relevante nos últimos cinqüenta anos, reconhecida internacionalmente. Simplesmente não há ninguém. Nas escolas, predomina o desprezo pelo que chamam de “educação bancária” – em suma: o conhecimento de matérias como Português, História e Matemática. Mais importante é a “conscientização” ou a “cidadania”. O ensino técnico, então, é considerado mera formação de mão-de-obra para o capitalismo (quem me dera se assim fosse: provavelmente, seríamos hoje uma Coréia do Sul ou uma Cingapura). Aliás, é engraçado: nas faculdades de pedagogia, Paulo Freire é visto como um deus. Curiosamente, porém, não conheço um único caso de alguém alfabetizado pelo método genial e revolucionário que dizem que ele inventou. As escolas deixaram de ser lugares de ensino para se tornarem assembléias sindicais e bocas-de-fumo, em que estudantes não estudam e professores não ensinam. Depois estes ainda reclamam que são tratados com desrespeito e até com violência nas salas de aula.
O resultado dessa visão demagógica da educação é que, todos os anos, milhares de alunos saem das escolas ótimos militantes, prontos para gritar slogans contra o capitalismo e a globalização, mas incapazes de ler, escrever e contar direito. Não é por acaso que, ao lado de algumas ilhas de excelência (quase sempre em cursos de exatas, menos expostos à doutrinação marxista), exista um oceano de mediocridade. Universidades que antes eram consideradas de ponta, como a UnB, viraram antros de vigarice acadêmica e de intolerância ideológica, verdadeiras madraçais do pensamento único esquerdista, em que a principal atividade acadêmica de muitos alunos é passar o tempo fumando maconha em sala de aula. Quanto à UNE, que em outros tempos foi um farol da luta pela democracia e pela educação, converteu-se numa repartição pública, em que zelosos burocratas estudantis do PCdoB dedicam-se a fazer propaganda a favor do governo que tem Collor e Sarney como aliados.
Em geral, são os mesmos que estão hoje à frente da UNE e da UnB os que adoram botar a culpa no “governo” (menos, claro, o federal, ou os com ele mancomunados) pelo estado lamentável da educação no Brasil. Até parece que vivemos em um país cuja sociedade valoriza a cultura e o conhecimento. Lembro de uma conversa que tive uma vez com um sujeito do povo, há alguns anos. Ele veio me dizer que não queria que seus filhos fossem muito inteligentes, “porque se não iam passar por doidos”. É isso. Entre ser ignorante e “passar por doido” numa roda de amigos, melhor ficar com a primeira opção. Ou seja: a ignorância é a norma, a inteligência é a esquisitice... Os esquerdiotas apenas deram uma mãozinha, adaptando esse raciocínio imbecil: para que estudar, companheiro, e aprender a ler e a falar certo, essa coisa de burguês?
Quando vejo um esquerdista pró-petista e pró-governo falar em educação, primeiro me dá vontade de rir, depois de agarrar uma arma. Com que direito vêm falar no assunto, quando os mais intelectualizados dentre eles escrevem “mulçumano” e “a tempos é assim”?
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