A semana que passou foi marcada talvez pelo momento mais baixo, dentre muitos momentos semelhantes, na história do Partido dos Trabalhadores. Digo "talvez" porque, com os petistas, infelizmente, jamais se pode dizer que a crise atual será a última, e que eles atingiram o fundo do poço. Quase certamente, o escândalo atual será esquecido, como foram tantos outros, apenas para ser substituído por outro, ainda mais cabeludo. É assim com essa gente. O poço, para eles, é como as contas públicas: não tem fundo.
Refiro-me, claro, à Operação Salvem o Sarney, ditada desde o gabinete do presidente da República - mas podem chamar Operação Dilma 2010, que dá na mesma. Se havia ainda alguma dúvida - e, acreditem, ainda há quem as tenha - de que o PT nada mais é do que uma correia de transmissão da vontade de Lula, e que esta é atualmente a mesma de figuras como Sarney, Collor e Renan Calheiros, a farsa encenada no tal "conselho de ética" no Senado tratou de enterrá-la para sempre. Irrevogavelmente, como diria o senador Aloízio Mercadante, o Irrevogável, que deu um novo sentido à palavra no episódio, depois de uma conversa com o chefe.
Como acontece quando a vergonha é grande demais para esconder, a salvação do neocompanheiro Sarney gerou algumas defecções na grei petista. A mais notável foi a da senadora Marina Silva, que se bandeou lá para o lado dos verdes, onde aliás sempre esteve. Saiu dizendo que o governo Lula não dá bola para as "causas sociais" etc. Como se fosse somente agora, com a pantomima do Senado, que estivesse claro que coisas como Bolsa Família e Fome Zero nunca passaram de um engodo para iludir os trouxas e perpetuar o que dizem combater. Mais honesto foi, a meu ver, o senador Flávio Arns, que, talvez por estar no primeiro mandato, pôde se dar ao luxo de certa sinceridade. Só errou, e errou feio, ao dizer que o PT jogou no lixo seu ideário etc. e tal. O "ideário" do PT, como está demonstrado com clareza quase pornográfica, nunca foi outro senão o poder, única e simplesmente. Assim como o único compromisso de Lula é com Lula. Se era para pular fora do barco e se mostrar decepcionado com um partido que teria rasgado suas bandeiras, a defecção de Arns está pelo menos quatro anos e um mensalão atrasada.
Do mesmo modo, como a glória tem mil pais, mas a vergonha é órfã, não faltará também quem tente, numa hora dessas, descolar o PT da figura de Lula, como se o opróbrio devesse recair somente sobre o PT, e não sobre Sua Excelência, o presidente da República. Falso. Se há algo que a atitide da tropa de choque pró-Sarney deixou claríssimo é que Lula é o PT, e o PT é Lula. Mercadante que o diga. O petismo e o lulismo são inseparáveis. Não haveria PT sem a figura de Lula que o unisse e lhe desse sustentação, assim como não haveria Lula sem o esquerdismo acadêmico que grassa no País há uns cinqüenta anos no mínimo, e que tratou de elevar o ex-operário à condição de santo. Lula é uma invenção da intelligentsia tanto quanto o PT foi uma mentira de sociólogos.
Hoje, aliás, a definição do que é Lula e do que é o PT está até mais abrangente. Pelo que se viu nesses últimos meses, Lula (e o PT) é Sarney, é Collior, é Renan Calheiros.
O que fica do papelão que o PT promoveu no caso Sarney é que o petismo, como ideologia, foi mesmo pro saco. Na verdade, o petismo, a versão tupiniquim mais elaborada do esquerdismo, foi uma ilusão popular, do tipo que é analisado por Charles Mackay em seu livro clássico. Mas engana-se quem pensa que os esquerdistas bocós e utopistas de galinheiro irão aposentar de vez seus sonhos revolucionários. O petismo pode ser um cadáver, mas o lulismo está aí, firme e forte. Será preciso muito mais do que um José Sarney para que ele vá para o lugar que lhe é de direito - a lata de lixo da História.
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Acendamos uma vela, portanto. Não para o lulismo, pois infelizmente este ainda nos atormentará por algum tempo. Mas para a vergonha na cara.
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