- Muito bem, meu presidente! Eles terão de nos engolir e digerir!"
“Getúlio foi levado ao suicídio porque era chamado de ladrão e corrupto todo dia. Juscelino Kubitschek era chamado de ladrão todo dia pelos denuncistas da época, a UDN moralizadora - a direita está cheia de ética para vender. Jânio Quadros renunciou por causa de forças ocultas, João Goulart caiu algum tempo depois, depois foi o Collor”.
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A declaração acima, é fácil adivinhar, é de Luiz Inácio Lula da Silva. Ela foi feita em entrevista ontem a uma rádio. Lula estava criticando o que chamou de "denuncismo" contra o presidente do Senado, seu ex-adversário e atual amigo de infância José Sarney.
Não, vocês não leram errado: Lula compara Sarney a Getúlio, Juscelino, Jânio, Jango e... Collor. Colocou todos eles no mesmo saco. Mais: disse que foram eles todos atacados pelas mesmas forças políticas. Todos eles? Todos. Collor também? Collor também. Mas, peraí, Lula não foi a favor do impeachment em 1992? Não foi, é o que o Apedeuta acabou de confessar. Então, foi tudo de mentirinha, tudo jogo de cena para enganar os trouxas? Foi.
Collor, como se sabe, é hoje aliado de Lula, assim como Sarney. Logo, de acordo com o único critério dos petistas para determinar suas alianças, está acima do bem e do mal. Esteve do outro lado um dia, e então era mau; agora, é nosso aliado, então pode tudo.
Assim como fazem pouco caso da lógica e da ética, os lulistas não têm qualquer pudor em falsificar a História, interpretando-a conforme suas próprias conveniências, confiando na amnésia coletiva. Nisso, apenas seguem uma velha tradição da esquerda, inaugurada por Stálin e suas famosas fotografias retocadas. Quando mandava executar algum camarada, Stálin ordenava que a imagem e o nome do fuzilado fossem apagados das fotos e registros oficiais, em que não raro aparecia ao lado dele, Stálin. Com Lula é um pouco diferente: ele faz questão de posar ao lado de quem ainda ontem condenava ao enxofre do inferno. Com isso espera apagar, também, a memória do que disse um dia, reescrevendo a História. Ele dizia ter sido a favor da "ética" e do impeachment de Collor? Pois agora ele compara Fernandinho a Getúlio e a Juscelino. Assim como faz com Sarney, que um dia desses ele chamava de "pai dos ladrões".
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Lula realmente confia na memória curta dos brasileiros. Para ele, Sarney está sendo vítima de uma campanha insidiosa lançada pelas mesmas forças políticas que levaram Getúlio ao suicídio em 1954 e que não deram sossego a Juscelino: a "UDN moralizadora", a "direita" etc. É... Agora adivinhem de que partido era José Sarney nessa mesma época: a... UDN! E logo da "banda de música", a ala, digamos, mais à direita da direitista UDN. Quando veio o golpe de 64, adivinhem de que lado estava o injustiçado Sarney: do lado do partido dos militares, o mesmo lado que teria levado Jânio à renúncia e João Goulart ao exílio.
E Collor? Aqui é que a frase de Lula é mais reveladora. Para o Guia Genial, o neocompanheiro Collor caiu por causa da ação das mesmas forças. Esqueçam aquela conversa toda de corrupção, PC Farias, tráfico de influências, Operação Uruguai etc. Não foi por isso que Collor teve de deixar a presidência, segundo Lula. Foi porque - a frase está lá - "a direita está cheia de ética para vender". Collor, quem diria, é mais uma vítima da "conspiração das elites e da mídia" que o Apedeuta gosta de denunciar de vez em quando. E os carapintadas? Um bando de reacionários moralizadores, de acordo com Lula.
Alguém poderia dizer que a frase foi apenas mais uma gafe, uma infelicidade verbal de Sua Excelência. Não foi. A frase revela todo o, digamos assim, "pensamento político" de Lula da Silva. Se havia alguma dúvida de que o discurso da "ética na política" adotado por Lula e pelo PT nos últimos anos era uma farsa, algo puramente instrumental para chegar ao poder, aí está o próprio Lula para confirmar e dar todo o serviço. É ele mesmo quem diz: Lula era contra o impeachment de Collor. Lula é contra a saída de Sarney.
Lembram aquela conversa do político e do partido mais éticos do Brasil? Pois é. Estão fechados com Collor, Sarney, Renan Calheiros, Almeida Lima e Wellington Salgado. Esses são os novos "progressistas" da política brasileira.
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Até pensei em colocar um ponto de exclamação no título deste post, como fazem os jornais sensacionalistas ("Lula era contra o impeachment de Collor!"), mas preferi colocar reticências... Tamanha é a perplexidade com as reviravoltas de Lula, a "metamorfose ambulante", que notícias assim nem causam mais surpresa. Os lulistas nunca deixarão de nos surpreender.
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Sei que é clichê, mas a frase é adequada: a que ponto chegamos...
Um comentário:
Me façam um chá,não consigo digerir...
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