segunda-feira, junho 29, 2009

HONDURAS: A ESCOLINHA DO PROFESSOR CHÁVEZ


Hugo Chávez e Manuel Zelaya, ajustando os ponteiros da "revolução bolivariana": golpismo travestido de "resistência"


A notícia assustou muita gente. Na pequena Honduras, um grupo de militares inconformados resolve se mobilizar e depõe um presidente constitucionalmente eleito. No dia seguinte, o presidente deposto parte para o exílio e é decretado toque de recolher. Imediatamente, uma sensação desconfortável de déjà vu toma conta de quase todos, à medida que as palavras "golpe militar" e "golpe de estado" se apossam das manchetes, remetendo ao que seria mais uma típica quartelada latino-americana. Parece que já vimos esse filme antes, não?
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Sim e não. Convém olhar um pouco mais de perto a situação naquele país da América Central antes de qualquer juízo precipitado.
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Quem leu os jornais ou assistiu ao noticiário ficou com a impressão de que o governo deposto de Honduras era formado por democratas e amantes da liberdade, do tipo que só deseja o bem para seu povo, e que os militares que o depuseram são gorilas do tipo Pinochet ou Médici. Ambas as impressões estão erradas. Totalmente erradas.
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Não, o que houve em Honduras não tem nada a ver com o que ocorreu no Chile em 1973, ou no Brasil em 1964. Em primeiro lugar, o golpe - vamos chamá-lo de golpe - ocorreu sem que nenhum tiro, nem mesmo um traque, fosse disparado (convenhamos, na longa história de quarteladas e golpes cruentos na América Latina, isso não é pouca coisa). O presidente deposto, Manuel Zelaya, não foi preso, nem morto, mas despachado para a Costa Rica. Não se lhe tocou em um fio de cabelo, assim como não se tocou, até agora - e faço questão de ressaltar o "até agora" -, em um fio de cabelo de seus simpatizantes, que puderam até fazer uma manifestação contra o terrível golpe no dia seguinte sem serem incomodados pela polícia. Até onde se sabe, não há prisões em massa, nem fuzilamentos a granel.
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Em segundo lugar - e o mais importante -, quem deu o golpe (mais uma vez, chamemo-lo assim), não foram os militares apenas, mas - e atentem para esse fato! - o Legislativo e o Judiciário. Isso mesmo: foi o próprio Congresso hondurenho, juntamente com a Suprema Corte, que se insurgiu contra o governo, declarando-o ilegal. A demissão do comandante do Exército, a que se seguiu a renúncia, em solidariedade a este, dos comandantes da Marinha e da Força Aérea, foi a gota d'água. Os militares resolveram agir por solicitação legal de dois Poderes da República, que haviam sido atropelados pelo Executivo. Até o momento, portanto, os "golpistas" seguiram estritamente a ordem constitucional.
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Por outro lado, sim, o ocorrido em Honduras tem relação com golpes passados. Melhor dizendo, o presidente deposto, Manuel Zelaya, assemelha-se, em muitos aspectos, a um Salvador Allende ou a um João Goulart. Isso porque tanto ele quanto aqueles - ao contrário do que foi repetido ad nauseam por seus hagiógrafos - não morriam de amores pela democracia. Pelo contrário: Allende e Goulart, e agora Zelaya, tinham inclinações nitidamente golpistas (sem aspas) e autoritárias. Allende, pouco antes de ser derrubado, fora colocado fora da lei pelo Congresso chileno, com o qual vinha há tempos se indispondo devido a sua aliança com radicais marxistas e seu projeto de contruir o socialismo no país andino. Goulart, e isso também quase ninguém lembra, caiu porque jogou a hierarquia e a disciplina militares às favas e se apoiou em sargentos e marinheiros para instalar uma república sindicalista no País. Zelaya, por sua vez, tentou passar por cima dos outros Poderes, ao convocar um referendo ilegal e inconstitucional, visando a se perpetuar no poder, seguindo os passos de Hugo Chávez. Como aprendiz de tiranete, preparava assim um golpe civil, usando os próprios mecanismos da democracia para destruí-la. Zelaya era - é - um golpista bolivariano, que estava pressionando o Legislativo e o Judiciário de Honduras para convocar um plebiscito inconstitucional e modificar a Constituição, no pior estilo chavista. Havia passado por cima dos demais Poderes, com o fito de reproduzir, em terras hondurenhas, a experiência bolivariana da Venezuela. Não sei quanto a vocês, mas o nome disso é golpismo.
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Há outras semelhanças. Nos casos brasileiro e chileno, o que houve foi a disputa entre dois golpismos, um de direita e outro de esquerda. Venceu o de direita. Os golpistas de esquerda, derrotados, passaram a se dizer democratas. E muitos cairam nessa conversa mole, e a repetem ainda hoje. Do mesmo modo, os apoiadores bolivarianos de Zelaya - incluindo Lula - falam em - "atentado contra a democracia" e em "resistência". Quando Zelaya se preparava para rasgar a Constituição, ninguém falava nisso. Agora que ele foi deposto, seus aliados bolivarianos apelam para esse tipo de clichê. Não por acaso, Zelaya foi direto de Honduras para uma reunião da Alba, a tal Aliança Bolivariana das Américas, criada por Hugo Chávez e pelo Mico Mandante Fidel Castro para se contrapor ao "império". Nada poderia ser mais claro.
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"Ah mas o mundo todo, a ONU, a OEA, até os EUA, condenaram o golpe" etc. etc. Sei, e isso só reforça minha convicção de que Zelaya deveria ser afastado. A capacidade dessa gente de enganar a todos, ou de todos se deixarem enganar por sua discurseira populista-autoritária, é infinita. Há apenas um mês, a OEA abriu as portas para a reentrada da tirania cubana na organização. Escrevi, aliás, um post sobre o assunto. Natural, portanto, que agora exija o retorno de Zelaya ao poder, sem qualquer tipo de garantia de que não irá, caso seja reempossado, tentar violar novamente a Constituição (a propósito: alguém está se fazendo essa pergunta?). Quanto a Barack Obama, também já deixei claro minha opinião sobre ele - basta dizer que ele não é bem assim um, digamos, opositor fervoroso de ditadores (vejam o caso de Ahmadinejad no Irã). Quanto à ONU, sua Assembléia-Geral é presidida por um ex-ministro do governo sandinista da Nicarágua, Miguel D'Escoto. Precisa dizer mais?
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Nem é preciso ir muito longe para verificar o naipe demagógico dos que agora se enchem de indignação pelo afastamento de Zelaya. O governo Lula - o mesmo cujo titular reconheceu, antes mesmo dos aiatolás iranianos, a vitória extremamente duvidosa de Ahmadinejad no Irã, e que comparou a sangrenta repressão da polícia iraniana aos opositores a uma partida de futebol - se recusa a reconhecer o novo governo hondurenho. O mesmo governo que, vejam só, apóia descaradamente tiranias como as de Cuba e da Venezuela, e que aceita até mesmo ser humilhado por Bolívia e Equador, agora condena o "golpismo" em Honduras. Lula já disse que na Venezuela chavista há "democracia até demais". É bem capaz que diga o mesmo das intenções autoritárias de Zelaya. Também, pudera: ele é da turma, se é que vocês me entendem.
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Sou contra todos os golpes de estado, militares ou civis. E Manuel Zelaya, ao tentar rasgar a Constituição, quis dar um golpe civil, a exemplo de seu mentor Hugo Chávez. Isso está claríssimo. Fechar os olhos para esse fato é prova da mais tacanha estupidez, ou da mais desavergonhada vigarice. O golpismo em Honduras não veio dos militares, nem do Congresso, nem da Suprema Corte. Veio de Zelaya. Agora, em plena campanha para reassumir o poder, ele posa de vestal da democracia.
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Por trás da crise institucional em Honduras, não é difícil perceber, está Hugo Chávez e seu sonho de exportar a "revolução bolivariana". Com o apoio ou o silêncio cúmplice de Obama, Lula e idiotas úteis de todos os quilates, ele está conseguindo. O bufão de Caracas está fazendo escola, já tendo sob sua influência oito países latino-americanos. Sob Zelaya, Honduras seria mais um deles. Por evitarem que isso acontecesse, os parlamentares, juízes e militares hondurenhos estão sendo chamados de golpistas, e Zelaya, de democrata. Nunca a frase de Lênin foi seguida tão ao pé da letra: "Acuse-os do que você faz; xingue-os do que você é". Há poucas coisas certas na vida, mas esta é uma delas: sempre haverá idiotas que engolirão a isca.

Um comentário:

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