Procurei nos jornais e revistas, além da internet, alguma análise mais crítica, ou, pelo menos, menos servil sobre o discurso de Obama. Com exceção do Reinaldo Azevedo e do Diogo Mainardi, não encontrei nada, nadinha. Este último, aliás, escreveu na VEJA um dos textos mais lúcidos que eu li nos últimos tempos, uma análise concisa e demolidora do enorme vazio intelectual que perpassa a retórica obamista (veja no final do post). Tirando esses dois arautos da "direita" midiática - logo, espiões da CIA e do imperialismo ianque, além de dedos-duros da ditadura militar de 64 e lacaios de Wall Street e do General Pinochet, segundo nossas esquerdas, elas sim donas da verdade e da razão -, só encontrei, ao invés de crítica, muita louvação, muita babação de ovo e sabujice. Tudo embalado por um "Discurso histórico de Obama inaugura nova relação com mundo árabe" aqui, um "Obama propõe novo começo nas relaçoes com o Islã" acolá, e outros chavões do tipo, junto com as louvações de praxe.
"Novo começo", é? Sei... A quase totalidade da imprensa mundial (a mesma "mídia burguesa" e "de direita", lembram?), ao que parece, jogou às favas o espírito crítico e comprou gostosamente a gigantesca operação de marketing que é Obama, e tem assinado embaixo de toda e qualquer palavra ou ação sua, ainda que seja - como, de fato, é (vide Afeganistão, por exemplo) - apenas mais um pouco do mesmo, com uma roupagem change. Obama, o novo Messias, está em plena campanha de relações públicas junto aos países árabes e muçulmanos, e é nesse contexto que deve ser entendido seu discurso no Cairo. Até aí, nada demais. Qual o problema, então? O problema, atentai leitor!, é que o discurso de Obama não passou de uma coleção de platitudes e lugares-comuns sobre o Islã e os muçulmanos, ditos com aquele vazio grandiloquente que tanto o caracteriza e que parece encantar as redações dos jornais aqui e alhures. Mais: incorreu em erros históricos, quando, ao tentar qualificar o Islã como uma "religião de paz", apelou para um passado mítico islâmico, de suposta harmonia e tolerância com outras crenças, inclusive de luminosidade científica e intelectual - tese desmentida de forma cabal pela História (vide a expansão islâmica a partir do século VII e a ocupação da Península Ibérica, feitas todas na ponta da espada), bem como todos os dias pelo noticiário (onde estão os "moderados" líderes islâmicos na hora de condenar, sem ambiguidade, os atentados terroristas do Hamas e do Hizbollah?). Mais ainda: serviu para reforçar os argumentos dos que odeiam os EUA e o Ocidente, ao transmitir a noção de que não haveria terrorismo islamita se não fosse por causa dos... EUA e do Ocidente! Enfim, uma mistura de anacronismo histórico com o velho Blame America First. Uma empulhação total.
Nada disso, é claro, importa para nove em cada dez meios de imprensa. Afinal, foi ela, a grande imprensa norte-americana ("burguesa", "de direita" etc.) que pariu e amamentou o mito Obama, deixando de cumprir seu papel básico de apurar sobre seu passado e suas relações - políticas e pessoais - até agora mal-explicadas com figuras sinistras como Bill Ayers e Jeremiah Wright para se debruçar sobre os vestidos e penteados de Sarah Palin, como demonstra de forma bastante didática o jornalista (ainda sobraram alguns) Bernard Goldberg, em seu livro imperdível A Slobbering Love Affair: The True (and Pathetic) Story of the Torrid Romance Between Barack Obama and the Mainstream Media (numa tradução livre: Um Caso de Amor Babão: A Verdadeira e Patética História do Tórrido Romance Entre Barack Obama e a Grande Imprensa). Não é surpresa, portanto, que discursos como o do Cairo já nasçam "históricos" antes mesmo de serem pronunciados, mesmo que se baseiem, como de fato se baseiam, numa interpretação completamente mitológica e falseada do Islã e de sua História.
Isso se aplica também a qualquer coisa que Obama faça em política externa. Quem não se lembra dos acenos de Obama à teocracia islamita do Irã do louco Mahmoud Ahmadinejad, o mesmo que esnobou o convite do Itamaraty para visitar o Brasil no mês passado? Pois este já respondeu prontamente à política de "mão estendida" da Casa Branca... intensificando seu programa nuclear e testando um míssil capaz de atingir Israel! Outro louco, o ditador Kim Jong-il da Coreia do Norte, provavelmente estimulado pelas sábias palavras de paz e concórdia de Obama, também se aproveitou desse "novo momento" das relações dos EUA com o restante do mundo, anunciada com pompa e fanfarra pelo demiurgo Obama, lançando mísseis e ameaçando o mundo com a arma atômica. E os assasinos e terroristas do Hamas, certamente, devem estar se sentindo o máximo depois de terem sido colocados no mesmo nível político dos malvados israelenses pelo presidente dos EUA - e de terem visto o New York Times aplaudir entusiasticamente isso.
Barack Obama, em sua viagem ao Egito, tentou reconciliar o mundo maometano com os Estados Unidos. Em vez de bombardear os terroristas com um Predator, ele os bombardeou com platitudes: "O ciclo de suspeita e desentendimento tem de acabar... Estou aqui em busca de um recomeço... Baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo... Em princípios comuns – princípios de justiça e de progresso, de tolerância e de dignidade para todos os seres humanos". Dá até para imaginar um carrasco pashtun, subitamente iluminado pelo discurso de Barack Obama, largando suas pedras, um instante antes de apedrejar uma adúltera.
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