segunda-feira, junho 22, 2009

NÃO SOU MORALISTA - POR ISSO REPUDIO A MORAL DELES

Se tem uma coisa que realmente me tira do sério é ser chamado de "moralista". Esse adjetivo me causa um repúdio instintivo, mais até do que os caricatos "reaça" e "direitão" com o quais sou geralmente brindado, e que me provocam mais riso do que raiva. Sei que às vezes pode parecer que sou isso mesmo, e que posso ser assim interpretado. Mas, acreditem, não tenho nada de moralista, pelo menos não na acepção corrente do termo. Tenho, aliás, fortes razões para não ser. Acompanhem-me, por favor.
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Tenho horror, asco, ojeriza, repúdio a ser chamado de, ou considerado, moralista. E não faço isso por qualquer concessão minha ao relativismo moral ou ao politicamente correto, essa moda filosófica que parece ter vindo para ficar em certos círculos e que encobre, na maioria dos casos, o medo de ter uma opinião. Nada disso. Rejeito o rótulo por uma questão racional ou, se preferirem, de coerência.

Em primeiro lugar, o que caracteriza o moralista é sua pretensão de "converter" alguém a suas idéias. Não tenho essa pretensão, que julgo, aliás, arrogante. Não "prego" nada, para ninguém. Quem "prega" é martelo ou padre (ou pastor, ou mulá etc.). Acima de tudo, quem "prega" quer seguidores. Eu quero, no máximo, leitores. E mesmo que eu não tivesse nenhum, continuaria escrevendo. Escrevo não para converter quem quer que seja ao que eu penso, mas para desabafar, como uma espécie de terapia, ou como uma trincheira na qual me refugio ante a mediocridade reinante à minha volta. Acredito que é a consciência individual, e não qualquer imposição de fora, o verdadeiro repositório da liberdade. É por esse motivo, aliás, que não participo de nenhum "movimento", mesmo que eu o considere justo. Não me calo, mas também não tenho vocação para palmatória do mundo.
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Em segundo lugar, o moralista se caracteriza pela pretensão de julgar ou regular a vida pessoal, confundindo-a com a vida social e política. É, assim, uma espécie de juiz da virtude alheia, inclusive do comportamento privado de cada um. Também não tenho essa pretensão totalitária. Para mim, a vida pessoal, como o próprio nome indica, é pessoal, ou seja, pertence a cada um, e não à Família, à Igreja, ao Partido ou ao Estado. A vida particular das outras pessoas não me interessa nem um pouco. Se for descoberto, por exemplo, que Lula tem uma filha fora do casamento, ou que Obama tem uma amante, isso vai me interessar tanto quanto, digamos, o nome do costureiro que faz os vestidos de dona Marisa ou de Michelle Obama. Ou seja: nada! Tenho mesmo uma visão meio pessimista sobre a natureza humana, e acredito que todas as pessoas, sem exceção, escondem ou já esconderam algum segredo íntimo. Concordo plenamente com a frase de Nelson Rodrigues, segundo a qual, se conhecêssemos a vida sexual de cada um, ninguém se cumprimentaria. Mas isso, como já disse, não é da minha conta. Esses assuntos não me dizem respeito absolutamente, e não tenho nada a dizer sobre eles. Moralistas são os aiatolás do Irã, não eu.
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Claro, quando a questão diz respeito a assuntos de Estado, ou da política, a coisa muda de figura. Mas aí já está além da esfera puramente pessoal, e por isso - e somente por isso - merece comentário. Se Carlos Minc gosta de fumar um baseado depois do expediente, é problema dele, não tenho nada a ver com isso. Mas se ele, na condição de ministro de Estado, participa de uma passeata pela liberalização da maconha, ao lado de um bando de doidões cantando "vou apertar, mas não vou acender agora", obviamente isso não constitui mais uma questão pessoal, dele, Minc: é um ministro de Estado fazendo a apologia da droga e da ilegalidade. Do mesmo modo, se Renan Calheiros, quando era presidente do Senado, teve uma filha com a amante, isso não me diz respeito: o que me interessa na questão é que suas contas pessoais eram pagas por um lobista de empreiteira, motivo pelo qual ele perdeu o cargo (mas, pelo visto, não o poder). Também não dou a mínima se, na cabeça dessa gente, suas ações - políticas, não pessoais - não tiveram nada de imorais: isso só mostra a moral torta deles (também não vale dizer que o outro fez igual para fugir à responsabilidade, como sói acontecer). Para usar outro exemplo: se dois homens ou duas mulheres, maiores de idade, se apaixonarem e decidirem viver juntos como marido-marido ou mulher-mulher, isso tampouco é da minha conta. Mas isso não lhes dá o direito de quererem usar o poder coercitivo do Estado para calar e punir judicialmente quem, por qualquer motivo (religiosos, por exemplo), tem uma opinião diferente sobre esse tipo de união. Espero ter sido claro.
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Do mesmo modo, quando Lula compara o assassinato e espancamento de opositores do regime fundamentalista do Irã a uma briga entre vascaínos e flamenguistas, ou quando afirma que José Sarney não é uma "pessoa comum", rasgando o princípio constitucional da igualdade de todos perante a Lei e legitimando assim uma mentalidade colonial, ele não está emitindo uma simples opinião pessoal, dele. Em casa, em sua vida particular, o cidadão Luiz Inácio da Silva pode fazer, dizer ou pensar o que quiser. Mas o presidente Lula não tem o direito de banalizar a barbárie e justificar a impunidade. Quem me interessa é o político, não o indivíduo.
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Em outras palavras: minha crítica aos desmandos de petistas e esquerdistas em geral não é moralista, embora a conduta deles seja imoral e eles cometam atentados contra a ética todos os dias. Em meus textos, uso mais a Razão do que a Moral, embora, nos casos de Lula e de Minc, Razão e Ética sejam a mesma coisa. Minha crítica a esses senhores e suas práticas não significa que eu me arvore em polícia de costumes. Fui claro?
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Os esquerdistas e seu principais representantes no Brasil, os petistas, se arrogaram durante décadas o papel de vestais, reivindicando para si a condição de únicos defensores da ética na política. É por isso, e não pelo que fazem na cama ou no armário, que precisam ser desmascarados. Não é preciso ser moralista ou madre Teresa de Calcutá para perceber coisa tão óbvia.

Um comentário:

Geraldo, S. disse...

Não é de espantar que, neste mundo em que vivemos, este texto estivesse até então sem comentário algum. Minha pergunta é: depois que a Religião morrer, quanto tempo será que a Moral (leia-se: "petrificação conceitual absolutista") vai suportar, soberana? Porém, posso - e, infelizmente, sou impelido a acreditar - estar sendo otimista ao cogitar a possibilidade da "superação".