quinta-feira, março 26, 2009

UM LEITOR ME MANDA UM ARTIGO - E ME DÁ MAIS MOTIVOS PARA DEFENDER ISRAEL


Um leitor me mandou um comentário muito interessante. Ele diz que lê constantemente meu blog e tem aprendido um pouco sobre a questão palestino-israelense (ou seja: sobre a luta de Israel contra quem quer destruí-lo, como o Hamas e o Hezbollah, pois a questão palestino-israelense, na prática, deixou de existir com os Acordos de Oslo, em 1993). Ele se diz horrorizado perante as ações do Hamas e toda a barbárie terrorista etc.

Até aí, maravilha. O problema começa com o artigo que ele transcreveu parcialmente, o qual apresenta uma visão totalmente diferente da que venho expondo neste blog, visão esta que seria (ao contrário da minha, presumo), "baseada em fatos". Já vou falar do artigo. Primeiro, vou dizer algumas palavras sobre o autor do mesmo, Norman Finkelstein.

Sem querer cair na armadilha de uma argumentação ad hominen, tão ao gosto das esquerdas ("você é um direitista, logo está errado"), creio que é preciso chamar a atenção, aqui, para o autor do artigo. Ao contrário do que um leitor distraído ou incauto poderia imaginar, Norman Finkelstein está longe, muito longe, de ser um observador "neutro" ou "imparcial" da questão (eu também não sou; aliás, rejeito esse rótulo, como escrevi aqui antes: a diferença é que não finjo sê-lo para não ser acusado de "direitista", ao contrário dos "isentistas" que pregam a neutralidade entre o fuzil e o peito). Pelo contrário: ele é, ao lado de medalhões da esquerda-caviar como Noam Chomsky e Tariq Ali, um dos mais ativos propagandistas anti-Israel no cenário acadêmico e intelectual norte-americano e mundial.

Toda a argumentação de Finkelstein sobre a questão israelo-palestino pode ser sintetizada em duas ideias muito simples: 1) a violência terrorista de grupos como o Hamas e a ação militar israelense se equivalem moralmente; e 2) Israel não tem o direito de se defender (nem de existir).

Finkelstein ficou famoso mundialmente por causa de um pequeno livro, A indústria do Holocausto, no qual, sob o pretexto de criticar a "instrumentalização" do genocídio de 6 milhões de judeus nas mãos dos nazistas com objetivos políticos ("justificar a política de Israel") e mercantis ("obter reparações da Alemanha e da Suiça"), ataca a própria memória do Holocausto. Em outras palavras: confunde propositalmente as duas coisas, aproximando-se bastante de opiniões antissionistas e mesmo antissemitas (não chega ao ponto de negar o Holocausto, mas não está muito longe disso). O fato de ser judeu e, além disso, filho de sobreviventes de campos de concentração nazistas, lhe confere, na opinião de muitos, uma "autoridade" especial para falar do assunto - como se, para falar mal do Brasil, por exemplo, a única coisa necessária fosse ser brasileiro. Por suas opiniões, Finkelstein já perdeu vários empregos universitários (é que lá, ao contrário daqui, eles dão importância ao que é ensinado nas salas de aula). Isso, aliás, pode ser uma vantagem para ele, afinal lhe dá um ar assim, como direi?, de "rebelde", de "mártir" - mesma pose que ele tanto condena nos sobreviventes do Holocausto. Enfim, mais uma "vítima do sistema" - e um perfeito delinquente intelectual.

Já falamos do homem. Falemos agora da obra. No tal trecho de artigo transcrito pelo leitor, Finkelstein afirma o seguinte: “Os registros existem e são muito claros. Qualquer pessoa encontra na Internet, na página do governo de Israel e, também, na página do seu ministério das Relações Exteriores. Israel desrespeitou o cessar-fogo, invadiu Gaza e matou seis ou sete (há controvérsias quanto ao número de assassinados, não quanto ao crime de assassinato) militantes palestinos, dia 4/11/2008. Depois, o Hamas respondeu ou, como se lê nas páginas do governo de Israel, ‘o Hamas retaliou contra Israel e lançou mísseis’".

Resumindo: para Finkelstein, foi Israel, e não o Hamas, o responsável pelo fim da trégua e pela recente guerra em Gaza. O mesmo pode ser dito, por dedução, de todos os conflitos ocorridos entre Israel e os palestinos: são os israelenses que dão o primeiro tiro, mediante uma provocação, e o outro lado apenas reage.

Eu poderia dizer que essa visão é desonesta porque o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, acordado no ano passado, não significou, infelizmente, o fim das hostilidades, sobretudo do Hamas contra Israel. Mas tudo bem: admitamos, por um momento, que Finkelstein está certo, e que foi o lado israelense que deu o primeiro tiro. Isso significa que a culpa pelas mortes e tudo o mais é de Israel, certo? Nada disso. Para o grupo terrorista palestino, qualquer trégua com Israel é apenas temporária, uma oportunidade de reagrupar-se e preparar novos ataques contra Israel. Em outras palavras, o objetivo do grupo é EXTERMINAR ISRAEL E INSTALAR, EM SEU LUGAR, UM ESTADO ISLÂMICO. Parafraseando Finkelstein, os registros são muitos e são claros. Basta pesquisar na Internet.

Prossegue Finkelstein, em sua arenga contra Israel:

Quanto aos motivos, os documentos oficiais também são claros. O jornal Haaretz já informou que Barak, ministro da Defesa de Israel, começou a planejar o massacre de Gaza muito antes.

Vou deixar de lado a conversa de que Barak planejou a ofensiva "antes". Vamos supor - mais uma vez - que isso seja verdade. Nesse caso, o ministro da Defesa de Israel teria planejado com antecipação uma ação militar contra uma força que tem como objetivo último a destruição total de seu país. Estaria, portanto, cumprindo sua função, não acham? Mas essa não é a questão. Vamos nos concentrar nos números do "massacre": durante os dois meses que durou a ofensiva israelense contra o Hamas em Gaza, morreram 1.300 pessoas, muitas delas escudos humanos usados pelo Hamas - principal fonte de indignação da opinião pública (contra o Hamas? Não, contra Israel...). Isso numa área urbana reduzida e densamente povoada.
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É muito? É pouco? Não sei, nem sei se é moral raciocinar nesses termos. Sei apenas que, se a situação fosse inversa, a quantidade de mortos seria certamente multiplicada por dez, ou por mil. Não sei quanto a vocês, mas para mim os números da guerra revelam não um massacre indiscriminado contra a população palestina, mas uma alta dose de precisão e eficiência militares por parte de Israel - que não foi maior, infelizmente, devido ao costume dos islamofascistas do Hamas de usar suas próprias crianças e mulheres como escudos... Mesmo assim, Finkelstein chama o que Israel (e não o Hamas) fez de "massacre" - mesma denominação que ele acha ser "instrumentalizada" pelos judeus atualmente para extrair dividendos políticos ou monetários do Holocausto.
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Finkelstein:
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Quanto às principais razões do massacre [sic], acho, há duas. Número um: restaurar o que Israel chama de ‘capacidade de contenção do exército’, o que, em linguagem de leigo, significa a capacidade de Israel para semear pânico e morte em toda a região e submete-la mediante a pressão das armas, da chantagem, do medo.

Pois é... A capacidade de contenção de Israel é tão-somente - diz Finkelstein - a "capacidade de semear pânico e morte em toda a região e submetê-la mediante a pressão das armas, da chantagem, do medo". Trocando em miúdos: o uso da força por parte de Israel tem como finalidade não caçar e eliminar terroristas que explodem ônibus cheios de gente e disparam foguetes indiscriminadamente contra sua população, mas única e simplesmente levar medo e terror a todo mundo... Assim, por pura maldade. Gente má, esses israelenses, sem dúvida. Nem precisa dizer, mas eu digo assim mesmo: onde está, no texto de Finkelstein, alguma menção ao terrorismo do Hamas e ao objetivo declarado desse grupo de transformar Israel numa pilha de ossos fumegantes? Tudo se resume ao seguinte: Israel é mau, e ponto.

Mas o pior ainda está por vir, caro leitor. Vejam só o que Finkelstein diz:

A segunda razão pela qual Israel atacou Gaza é culpa do Hamas: o Hamas começou a dar sinais muito claros de que deseja construir um novo acordo diplomático a respeito das fronteiras demarcadas desde junho de 1967 e jamais respeitadas por Israel. Em outras palavras, Hamas sinalizou que está interessado em fazer respeitar exatamente os mesmos termos e conceitos que toda a comunidade internacional respeita e que, em vez de resolver os problemas a canhão e com campanhas de mentiras por jornais e televisão, estaria interessado em construir um acordo diplomático.

Creio que, depois disso que está aí em cima, fica faltando muito pouco sobre o que argumentar. É exatamente isso que vocês leram, minha gente: o Hamas, esse agrupamento de almas doces e gentis, queria "construir um acordo diplomático"... São amantes da paz e da diplomacia, uns verdadeiros anjos. Mas aí vieram os israelenses cruéis, com sua sede de sangue, e estragaram tudo... Que coisa, não?

Eu poderia repetir aqui pela enésima vez quais são os objetivos, nada secretos, do Hamas, mas aí eu estaria apenas repetindo a mim mesmo. Dou a palavra, portanto, ao próprio Hamas:

O Hamas quer “trabalhar para impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina” (Artigo 6º) (detalhe: “Palestina” aqui, é a histórica: ou seja, o território que hoje inclui Israel, Gaza e Cisjordânia.) Essa formulação prega a destruição de Israel e a criação de um Estado islâmico, governado pela sharia (a lei muçulmana).

(Citando Maomé): “A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o [...].” (Artigo 7º).

"Alá é a finalidade, o Profeta o modelo a ser seguido, o Alcorão a Constituição, a Jihad é o caminho e a morte por Alá é a sublime aspiração". (Artigo 8º)

O Hamas declara que a Palestina é um “Waqf”: terra sagrada e inalienável para os muçulmanos até o Dia da Ressurreição e que, pela origem religiosa, não pode, no todo ou em parte, ser negociada ou devolvida a ninguém (Artigo 11).

De onde eu tirei o que vai acima? Da CARTA DE FUNDAÇÃO DO HAMAS, de 1988, que é até hoje o principal documento do grupo, sem ter passado por nenhuma revisão. Ela é facilmente encontrada na Internet.

Que coisa meiga, não acham? E é esse o grupo que quer "construir um acordo diplomático..."

Na conclusão, o leitor que me mandou o artigo, impressionado pela argumentação persuasiva de Finkelstein, afirma o seguinte:

O artigo continua, mas creio já ter posto uma boa parte, para demonstrar uma opinião (baseada em fatos) bem diferente da tua, o que me fez colocar em dúvida boa parte do que você vem dizendo. Afinal, descobri que o Hamas foi eleito. Sim, eleito! Isso muda tudo. Há democracia entre os palestinos. Não são um bando de fanáticos terroristas como você vem dizendo. Depois também descobri que Israel promovia e, depois que Hamas foi eleito, aumentou ainda mais o bloqueio econômico aos palestinos. Isto é grave! E por último, descobri que Israel insatisfeito com a vitória democrática do Hamas, vem tentando derrubar este governo. Como explicar estes fatos???

São três as afirmações feitas no parágrafo acima. Vamos a cada uma delas (comento em seguida):

1) O Hamas foi eleito democraticamente; logo, existe democracia entre os palestinos;

2) Logo, o Hamas não é um grupo de fanáticos terroristas; e

3) Israel impôs o bloqueio econômico à Faixa de Gaza porque está insatisfeito com o resultado das eleições e a "vitória democrática do Hamas".

Vamos lá:

1) Sim, o Hamas foi eleito. Mas isso, ao contrário do que conclui o leitor, não muda nada. Por quê? Porque não basta chegar ao poder pelo voto, é preciso governar democraticamente. É isso, mais do que a simples eleição direta, o que caracteriza a democracia (essa é uma verdade tão elementar que me dá até uma certa vergonha ter de repeti-la aqui).
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Eu poderia citar o exemplo de Hitler, que chegou ao poder na Alemanha também pelas urnas, ou de Hugo Chávez, que está usando a democracia para destruí-la na Venezuela, mas acho esses exemplos históricos bastante manjados. Vou me limitar a lembrar o que o próprio Hamas vem fazendo, desde que foi democraticamente conduzido ao poder na Faixa de Gaza: intensificou seus ataques com foguetes contra Israel (só em 2006, ano em que tomou o poder, foram 4.000) e passou a fio de espada centenas de militantes da facção rival Fatah, no que foi, na prática, um golpe de Estado. Além disso, impôs um regime de absoluto terror sobre a população palestina da Faixa de Gaza, baseado na lei islâmica. Do mesmo modo, seus pistoleiros fuzilaram dezenas de palestinos acusados de "traição" logo após a saída das tropas israelenses, e continuam a fazê-lo. Democraticamente.
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Tudo isso, nem precisa dizer, são fatos, não opiniões. É só pesquisar (aliás, pergunto: por que nada disso mereceu o mesmo destaque e o mesmo tratamento das notícias sobre os bombardeios - fictícios, revelou-se depois - de Israel a escolas da ONU em Gaza? Por que não se viu nenhum protesto?). Portanto, dizer que "há democracia entre os palestinos" é concorrer ao prêmio Lorota do Ano. Há tanta democracia na Faixa de Gaza quanto há no Irã.

2) Dizer que a vitória do Hamas nas eleições torna legítimo seu governo - e os ataques contra Israel - já é demais. Afirmar que, por causa disso, o Hamas não é uma organização terrorista é simplesmente cometer um atentado contra a inteligência. É o mesmo que dizer que Hitler e os nazistas - a inspiração dessa gente - não eram racistas e genocidas. Afinal, eles foram eleitos democraticamente...

3) Israel não impôs o bloqueio a Gaza e não quer derrubar o Hamas porque está "insatisfeito com a vitória democrática do Hamas". Impôs o bloqueio e quer acabar com o Hamas porque este jurou varrer Israel do mapa. Fale-se o que se quiser de Israel, mas por favor não digam que Israel quer exterminar os palestinos (até porque, se o quisesse, já o teria feito) ou, então, convertê-los à força ao judaísmo. Não ver essa diferença é fechar os olhos para as diferenças entre os nazistas (e seus êmulos, os islamofascistas) e suas vítimas.

Resumindo, a situação é a seguinte:

- Há um país, Israel, que luta para garantir sua sobrevivência;

- Seus inimigos, como o Hamas, querem riscá-lo do mapa e usar as cinzas de sua população como fertilizante;

- Diante dessa ameaça clara e iminente, não resta outra coisa a Israel senão se defender, tentando prevenir ataques terroristas;

- Há uma legião de idiotas úteis e militontos que não levam nada disso em conta e acham que Israel é a encarnação do mal. Um deles é Norman Finkelstein.

Presumo que o leitor pretendia me convencer que estou errado ao defender Israel de quem quer aniquilá-lo, e que a razão está com o Hamas. Se foi esse o caso, sinto informar, mas o efeito foi exatamente o contrário: ele só me deu mais motivos para reforçar minha opinião. Israel tem o direito de existir e se defender. O resto é justificação da barbárie.

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