É sempre assim. Ocorre uma crise em Wall Street, as bolsas despencam, os corretores arrancam os cabelos, o governo se vê obrigado a injetar dinheiro para salvar o sistema, e os inimigos do mercado e da sociedade aberta têm verdadeiros orgasmos, anunciando o tão esperado - e, para eles, sonhado - apocalipse. "O capitalismo morreu, o capitalismo morreu!", é o que repetem para si mesmos, nesses momentos, como um mantra. É. Eles têm razão. O capitalismo morreu. Mais uma vez. Sua primeira morte foi em 1929, com o crash da Bolsa de Valores de Nova York e o início da Grande Depressão dos anos 30. Depois, morreu novamente, no começo dos anos 60, quando o então chefão da falecida União Soviética, Nikita Krushev, anunciou em tom solene que eles, os comunistas, iam enterrar os capitalistas. Finalmente, sua missa de sétimo dia ocorreu em meados dos anos 70, quando os mercados entraram em parafuso por causa da crise do petróleo. E foi morrendo e ressuscitando, morrendo e ressuscitando... O capitalismo, em sua encarnação atual de "neoliberalismo", morreu. E vai ressuscitar de novo. E de novo, e de novo. Para consternação dos Veríssimos e Sáderes, que continuarão proclamando, com ares professorais, sua morte iminente e inexorável, como previra o inefável Marx.
Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que os esquerdistas, nesse caso como em todos os outros, confundem a realidade com a própria vontade, o que é típico de mentes psicopatas. Acreditam que os 700 bilhões injetados por Bush na economia são o prenúncio do fim do capitalismo (ou do "neoliberalismo", como gostam de dizer) e o início de uma era de ouro de intervencionismo e dirigismo estatal porque assim o desejam. Está sendo assim agora, como o foi antes, e o será depois. Não contentes com essa manifestação de voluntarismo triunfalista travestido de análise econômica, os companheiros também adoram posar de moralistas, acusando o governo Bush - além de tudo, é o governo Bush! - de usar o dinheiro do contribuinte para salvar banqueiros e empresas da falência, como FHC teria feito com o PROER no caso dos bancos. Aqui, seja por auto-ilusão, seja por desonestidade intelectual, seja pelas duas coisas, confundem salvação do sistema com maracutaias - única forma pela qual eles conseguem engatar um raciocínio.
Uma coisa é socorrer empresa falida, como se tornou comum no nosso "capitalismo" de compadres, baseado no uso e abuso do dinheiro público para compensar a incompetência e os desmandos de empresários que vivem de mamar nas tetas da vaca sagrada estatal - algo de que os petralhas entendem bastante. Outra coisa, muito diferente, é manter os fundamentos e a estabilidade do sistema econômico, impedindo uma reação em cadeia que pode degenerar em colapso para todos. É para isso, a propósito, que existe o Estado. Ou, como diz Reinaldo Azevedo em seu blog: "É evidente que o estado não deve socorrer empresa quebrada. Que quebre! É do jogo. Mas é preciso distinguir esse tipo de intervenção, muito comum em Banânia, da chamada crise sistêmica, da quebradeira geral — que não puniria apenas as empresas incompetentes e os especuladores. Também o dinheirinho no banco do homem comum, que é o verdadeiro dono da grande massa do meio circulante do sistema, iria para a cucuia."
Um comentário:
Gustavo,
Seu pensamento a respeito do capitalismo não deixa de ser um clichê,no entanto, em parte, concordo com o conteúdo e discordo integralmente da forma. Para quem se declara experiente nesse tipo de análise, falta a serenidade e humildade próprias daquele que, vendo-se no topo, deve compadecer-se dos incauto ou ignóbeis da base. Até os não intelectuais honestos já sabem do mal que aflige toda a sociedade que respira o capitalismo e nem há necessidade de ser psicopata para engatar um raciocínio assim. O motivo dos refluxos (quebradeira) e fluxos (injeção de dinheiro público) vitais do capitalismo está insculpido naquilo que não queremos ver porque é simples demais: a corrupção dos sentimentos. O livre mercado regulado pelo Estado é vital, sobretudo quando o Estado intervem para evitar um mal maior - você disse muito bem -, contudo, que a facilidade do socorro não incentive a irresponsabilidade e a incompetência na gestão dos interesses e do dinheiro públicos. Isso, sim, é o que deveria ser enfatizado no seu artigo, não ater-se a proclamar o óbvio. A propósito, sugiro que faça uma leitura (sem querer ofender seu currículum)do pensamento de Tony Judt, em sua mais recente obra "O Mal Ronda a Terra", quando trata do Culto do Privado.
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