As duas frases foram pronunciadas nesta semana. Comento depois.
"Uma menina de nove anos dá com frequência melhor resultado na cama do que uma jovem de 20".
“É lícito matar quem quer que apele à discórdia se não for possível impedi-lo. É lícito matar, por intermédio da justiça, todo predicador da depravação das crenças ou de atos, se se revela impossível de impedi-lo por sanções menores que a morte”.
Quem fez as afirmações acima? Aí vão três opções. Escolha a sua:
a) um pedófilo e um psicopata, justificadores do estupro de menores e do assassinato puro e simples;
b) dois honrados cidadãos, respeitados por suas comunidades;
c) dois teólogos muçulmanos, fiéis e piedosos cumpridores da Lei do Profeta.
Se você escolheu a opção "a", acertou em cheio. Se optou pelas alternativas "b" ou "c", também está certo. As três opções estão corretas.
A primeira afirmação foi feita pelo renomado teólogo marroquino Mohamed Ben Abderrahman Al Maghraoui, numa fatwa, um decreto muçulmano, em que fala das vantagens do casamento com meninas de 9 anos de idade, escreve o jornal espanhol El País. Al Maghraoui é um pensador islâmico bastante respeitado em seu país.
A segunda frase foi dita pelo xeque saudita Saleh Al-Louheïdane, membro do Conselho Superior dos Ulemás e presidente do Alto Conselho de Justiça da Arábia Saudita. Al-Louheïdane estava justificando uma fatwa contra os que promovem a fitna (discórdia) entre os muçulmanos, como os produtores e atores de filmes e programas de TV considerados obscenos e ofensivos, de alguma maneira, à fé islâmica. Para ele, assim como para Osama Bin Laden e para o aiatolá Khomeini, é lícito exterminar quem mostre cenas julgadas indecentes ou pronuncie palavras blasfemas, como, por exemplo, os contadores de piadas indecorosas e as mulheres que desfilem de maiô ou biquíni em concursos de miss. É perfeitamente lícito matá-los. Mais que isso: é um dever de todo bom muçulmano fazê-lo. Um dever sagrado, chancelado pela religião.
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Fatos como os citados acima não deveriam deixar dúvidas sobre o caráter bárbaro e criminoso de certas crenças. Mas sempre haverá quem procure justificar seus autores, por mais absurdas que sejam tais declarações. Quem quer apostar que os arautos do relativismo e do politicamente correto, os defensores do "respeito às diferenças", os multiculturalistas, já têm pronta a resposta para tamanho disparate? No mínimo, dirão que os dois clérigos mencionados aí em cima "não falam pelo Islã" (quem fala então? os multiculturalistas? eles agora são autoridades religiosas também?). Isso para repetir, pela enésima vez, que o Islã, apesar da realidade, é uma religião "de paz e de tolerância". Se nenhum desses argumentos colar, ainda têm um trunfo: dirão que os conceitos de pedofilia e de incitação ao assassinato, na verdade, não passam de preconceitos ocidentais e eurocêntricos contra uma cultura que não entendemos. Com isso esperam justificar o injustificável. Nesse caso, deveriam dar o exemplo, renunciando aos direitos humanos "ocidentais" e entregando suas filhas menores de idade, se as tiverem, aos cuidados de algum imã ou mulá. Será que fariam isso?
As declarações de Al Maghraoui e do xeque Al Lohedaïne, longe de serem simples manifestações isoladas de mentes pervertidas e fanatizadas, são a expressão fiel de algo que venho tentando mostrar há tempos neste blog: que o Islã - como aliás qualquer outra religião, ou seja, qualquer crença fundada não na razão, mas na fé irracional e cega - está para a civilização e o século XXI como a água está para o óleo. A justificação da barbárie, seja na forma do terrorismo, seja na forma de pedofilia, é algo que lhe é intrínseco, assim como as Cruzadas e a Inquisição eram intrínsecas ao cristianismo medieval.
Muito se fala sobre os crimes de pedofilia e de intolerância na sociedade ocidental. Vez ou outra, a Igreja Católica é sacudida pela revelação de abusos de padres e bispos contra coroinhas, e algum pastor protestante é flagrado em uma declaração considerada preconceituosa ou homofóbica. Quando isso ocorre, a indignação, nesses casos, é total, e os pedidos de punição ou de reparação são imediatos e implacáveis. É estranho como, no caso de clérigos de outras religiões, porém, o mesmo fenômeno não se verifica: é que a violência contra crianças e o homicídio, nesse caso, são parte da "cultura"...
De todos os males que afligem a humanidade, o fundamentalismo religioso é o que tem mais defensores. Sobretudo, se for oriental e trouxer a marca de oposição ao Ocidente e ao "imperialismo", o fanatismo em questão sempre terá quem o defenda com unhas e dentes. Não há como se livrar desse flagelo sem ir fundo em suas raízes, ou seja, sem questionar os próprios fundamentos da fé. Somente assim seremos capazes de olhar para o "outro" livres de qualquer preconceito. Nosso ou, principalmente, deles.
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