quarta-feira, setembro 24, 2008

MAIS UMA HUMILHAÇÃO

Enquanto Sua Santidade D. Lula Primeiro e Único era louvado na ONU como o redentor dos fracos e oprimidos do mundo, e dava-se até mesmo ao luxo de passar um pito nos americanos pela recente crise financeira dos EUA, criticando o "nacionalismo populista" dos países ricos e a "falta de ética" (pois é...) dos especuladores pela crise, aqui perto, no Equador, um filhote de Hugo Chávez e candidato a ditador latino-americano dava um pé na bunda da construtora Odebrechet, seqüestrava suas obras, mandava o exército ocupá-las e proibia os funcionários da dita empreiteira de sair do país (dois deles, que não puderam fugir a tempo, se refugiaram na residência do embaixador brasileiro, como se asilados políticos fossem). Tudo isso ao arrepio da lei, tanto internacional quanto equatoriana. De quebra, o dito bufão, Rafael Correa, ameaça dar um calote numa dívida de 240 milhões de reais que o governo do Equador tem com o BNDES, por um serviço que, diz ele, não presta.

Desde que outro clone de Chávez, Evo Morales, mandou as tropas tomarem à força as refinarias da PETROBRAS na Bolívia, dois anos atrás, não se via uma agressão mais ultrajante aos interesses brasileiros no exterior. E desde então não se via tamanha demonstração oficial de cumplicidade com a própria humilhação.

Ao saber da ação de Correa, o Chanceler Celso Amorim agiu como um verdadeiro Ministro das Relações Exteriores... do Equador! Em Nova York, onde estava acompanhando Lula na Assembléia-Geral da ONU, ele disse, sobre a tomada das propriedades da Odebrecht e de seus funcionários como reféns por Correa, que a ação do Equador foi "preventiva". Mais um pouco e ele certamente justificaria a ação, como uma demonstração de amizade e amor de Correa pelo Brasil e pela democracia... Lula, por sua vez, disse que o rompante de Correa era só por causa do referendo de domingo, 28/09, sobre a nova "Constituição Socialista" que Correa quer impor ao país, no estilo chavista. É, pode ser. O problema é que, segundo o Apedeuta, isso é algo perfeitamente normal. Como se fosse normal um governante usar os tanques e expulsar trabalhadores estrangeiros para atingir seus objetivos populistas e autoritários. Às vezes, ao justificar as maluquices dos outros, os moluscos, como os peixes, morrem pela boca e deixam entrever suas próprias intenções antidemocráticas. Só faltou Lula ou Amorim virem a público agradecer por mais essa demonstração de amizade de Correa et caterva. E na (própria) bundinha, não vai nada?

Não que o Brasil devesse cortar relações com o Equador e invadir aquele país, o que, até pela dificuldade geográfica, seria dificíl. Nada disso. Não acho que esse fosse também o caso da Bolívia, embora motivos para tanto, inclusive à luz do Direito Internacional, não faltassem. Mas um pouquinho de dignidade, assim como canja de galinha, não faz mal a ninguém.

Até o momento em que escrevo, o governo Lula da Silva não emitiu nenhuma manifestação de desagrado, nenhuma nota de protesto, pela ação intempestiva do governo do Equador. Nem um simples "ui". Nadinha de nada. Pelo contrário: a cada pancada recebida de seus companheiros bolivarianos, o governo brasileiro baixa a cabeça e, tal qual mulher de malandro, parece pedir mais e mais... O Equador pode até não saber por que está batendo, mas o Brasil certamente sabe por que está apanhando. E, quando alguém na oposição (se é que merece ser chamado de oposição o clube de senhoras que assim se chama no Brasil) protesta, clamando por uma reação mais enérgica contra essas arbitrariedades, alguém no governo vem sempre com a resposta pronta: isso vai passar, é preciso agir diplomaticamente e assimilar as perdas, em nome da integração regional etc.... Suponhamos que, em vez de Correa ou Morales, fosse Bush quem resolvesse expulsar uma empresa brasileira, confiscar todos os seus bens e impedir a saída de seus trabalhadores dos EUA. Conseguem vislumbrar o escândalo? Melhor: conseguem ver alguém no governo Lula querendo pôr panos quentes, pois afinal é preciso preservar a amizade e a integração com os americanos? Alguém falou em soberania?

Correa não é o primeiro, nem será o último, a se beneficiar da condescendência dos companheiros petistas no poder em Brasília. O atual presidente do Paraguai, Fernando Lugo, um padre católico adepto da Teologia da Libertação - que melhor seria chamada de Escatologia da Libertação -, já anunciou que irá rever o contrato de construção da usina de Itaipu, pela qual o Paraguai não deu um centavo, obrigando o Brasil a pagar pelo que hoje recebe de graça. Quem quer apostar que o governo Lula vai engolir mais essa, em nome, mais uma vez, da "integração regional"? Nunca a "integração regional" serviu tanto de desculpa para que um país se rebaixasse desse jeito.

Não vou entrar aqui na discussão de se a Odebrecht fez um serviço porco ou não. Pode ser até que tenha feito, e que Rafael Correa tenha alguma razão em mandar os urutus embargar as obras. Mas a questão, obviamente, não é essa. O que merece atenção, nesse imbróglio todo, não é a patacoada populista do fanfarrão Correa, seu nacionalismo desbotado de meia pataca, mas a falta de ação do governo Lula, cuja política externa é tida como "lúcida" e "um sucesso" pela maioria da imprensa brazuca. Os vizinhos populistas do Brasil, como Correa no Equador e Chávez na Venezuela, além de Morales na Bolívia, o casal Kirchner na Argentina e agora Lugo no Paraguai, se especializaram em bater no gigante adormecido, até como uma forma de desviar a atenção de suas trapalhadas internas. Enquanto isso, o governo brasileiro diz amém, aceitando isso tudo como normal, como disse Lula, para quem caixa dois também é algo normal. E por quê?

A resposta para essa pergunta está ao alcance de qualquer um que tiver um mínimo de massa encefálica e que não tenha se transformado ainda num robô apatetado e repetidor de slogans. Trata-se de um assunto que a imprensa brasileira ignorou solenemente por dezoito anos, e que ainda hoje é tratado com um descaso só inferior ao cinismo com que tentaram negar até sua existência: o Foro de São Paulo. Já falei aqui desse convescote de revolucionários e narcoterroristas, fundado por Lula e por Fidel Castro em 1990 para "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Pois bem. O que isso tem a ver com o jeito palerma com que o Brasil tentou justificar a tunga de Correa? Tem a ver que Correa, assim como Chávez e Morales, e assim como Lula, é membro do dito Foro. Tem a ver que, nessa e em outras questões, os dois governos são comandados não por estadistas, mas por companheiros.

Não é preciso fazer nenhum exercício mirabolante de teoria conspiratória para perceber algo tão evidente. Lembremos apenas da crise ocorrida em março deste ano, por causa da morte de um chefão das FARC, os narcoterroristas colombianos, em território do Equador. O laptop do dito chefe terrorista, Raúl Reyes, revelou para quem quiser ver que Correa homiziava os bandoleiros das FARC em seu território, um crime internacional, condenado explicitamente por resolução da ONU. Mesmo antes da divulgação do conteúdo das mensagens achadas no laptop, aliás, os vínculos de Correa com as FARC eram claros e nítidos. Qual foi, então, a atitude do governo Lula? Ficou totalmente do lado de Correa e das FARC, contra a Colômbia. Agora, vem o melhor: tanto as FARC quanto Lula e Correa fazem parte do Foro de São Paulo. Deu para entender ou será que eu vou ter que desenhar?

Com isso em mente, creio que não fica muito difícil entender a razão da falta de ação do governo Lula diante dos arroubos nacionalisteiros de nossos vizinhos problemáticos. Nunca na história da diplomacia brasileira o Brasil foi tão humilhado. E nunca aceitamos isso tão passivamente, de maneira tão cúmplice e covarde.

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