terça-feira, junho 24, 2008

ENFIM, VIDA INTELIGENTE NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA


Andei trocando correspondência com o professor Marco Antonio Villa. Seguem os e-mails, que ele gentilmente permitiu que eu transcrevesse aqui:

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Parabéns e artigo‏
De: Gustavo Henrique Marques Bezerra (ghmb_2003@hotmail.com)
Enviada: sexta-feira, 20 de junho de 2008 21:12:05
Para:
marcovilla@uol.com.brCaro

Professor Marco Antonio Villa,

Antes de tudo, quero dar-lhe os parabéns por seu trabalho, em especial por sua coragem e competência em demolir velhos mitos históricos inventados pela esquerda. O senhor está demonstrando que é possível escrever sobre História no Brasil com honestidade, sem recair em velhos chavões ideológicos.

Sou formado em História, diplomata de carreira e, antes de ingressar no Itamaraty, lecionei durante alguns anos. Li seu livro "Jango, um Perfil" assim que foi lançado, e recomendo-o a todos que me pedem um estudo realmente sério e honesto sobre o período pré-64. No momento estou terminando um livro sobre as relações Brasil-Cuba, baseado em minha dissertação de mestrado.

Quero parabenizá-lo também por seu excelente artigo "Falácias sobre a luta armada na ditadura", publicado na "Folha de S. Paulo" em 19/05. Transcrevi seu artigo, assim como sua entrevista à VEJA (também excelente), na íntegra, em meu blog . Escrevi um texto refutando o texto do Aloysio Castelo de Carvalho e do Lizst Vieira ("Luta armada a favor ou contra a ditadura?"), que pretende ser uma resposta ao seu artigo de 19/05. Além deste, há um texto meu que procura dialogar com seu artigo da Folha, no qual analiso os fatores que conduziram ao fim do regime militar.

Muito agradeceria receber seus comentários sobre minhas observações. Eu ficaria muito lisonjeado.

Cordialmente,

Gustavo Bezerra

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Date: Sun, 22 Jun 2008 17:47:24 -0300
Subject: Re: Parabéns e artigo

Prezado Gustavo.

Obrigado pelo comentário. Li os seuss (inclusive a sobre a China). No caso da ditadura, os livros do Elio Gaspari dão uma boa visão. O final dela deve-se a um conjunto de razões e as "internas", que você apontou, também são relevantes.Faltam estudos sobre os últimos governos militares, especialmente o de Figueiredo. Mas estudos históricos, mais cuidados, trabalhando com diversas fontes. De análises generalizantes estamos cheios. Também a análise mais cuidadosa da transição, recuperando alguns fatos e personagens hoje esquecidos, seria muito importante. Pode ser que o papel tão louvado de Tancredo Neves caia por terra. O tipo de transição construído por Tancredo acabou criando uma paralisia de uma década ao país. Volto outra vez à história: a pesquisa mais rigorosa poderia obter bons resultados. Eu até gostaria de tentar fazer este trabalho mas agora tenho de fechar alguns projetos sobre história de SP.

Um abraço.

Villa.

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RE: Parabéns e artigo‏
De:
Gustavo Henrique Marques Bezerra (ghmb_2003@hotmail.com)
Enviada:
segunda-feira, 23 de junho de 2008 15:14:39
Para:
Marco Villa (marcovilla@uol.com.br)Gustavo Henrique Marques Bezerra escreveu:

Prezado Professor,

Muito obrigado por sua resposta. Eu ficaria muito feliz de saber sua opinião, inclusive suas críticas, sobre qualquer de meus textos. Para mim, o senhor é uma referência. Além dos dois que escrevi sobre a questão da luta armada, há outros em que eu comento sua entrevista à VEJA. Concordo em quase 100% com sua análise sobre a onda atual de populismo na América Latina e a atual política externa brasileira.

Li os livros de Elio Gaspari, e achei-os excelentes. Claro que a esquerda não gostou, acusando o autor de ter, entre outras coisas, se concentrado nos movimentos de bastidores e "desprezado os movimentos sociais"... Creio, aliás, que esse é o principal mérito do Gaspari, pois com isso ele se afastou da velha cantilena ideológica marxista que ainda domina o ambiente universitário, em especial os estudos históricos.

Resolvi escrever sobre seu artigo na "Folha de S. Paulo" pelo seguinte motivo: assim como sobre a luta armada, ainda há muita mistificação sobre o período da "abertura" política. Muitos políticos remanescentes da esquerda e do MDB, por razões óbvias, costumam exagerar a importância própria, assim como dos movimentos sociais. Como eu escrevi, estes foram sem dúvida importantes, mas não se deve superestimar o papel desses movimentos. O caso das diretas-já, por exemplo, é emblemático: teria sido possível a campanha se o regime, que começa a dar sinais de fraqueza a partir de 1974, não tivesse criado as próprias condições para o retorno das liberdades democráticas? De fato, faltam estudos mais acurados sobre o período, em especial sobre o governo Figueiredo. Nesse sentido, concordo inteiramente que o papel de figuras como Tancredo Neves deve ser reavaliado. Assim como Tiradentes, ele é mais um mito político da História nacional, instrumentalizado, até hoje, mais como um "símbolo" do que como uma figura real. Sempre que se opta pela idealização, a vítima é a verdade histórica.

Gostaria de pedir sua permissão para transcrever nossa comunicação em meu blog. Caso não tenha nada a opor, eu ficaria honrado.

Abraços,

Gustavo

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Re: Parabéns e artigo‏
De:Marco Villa (marcovilla@uol.com.br)
Enviada:
segunda-feira, 23 de junho de 2008 22:41:11
Para: Gustavo Henrique Marques Bezerra (
ghmb_2003@hotmail.com)

Prezado Gustavo,

Claro que pode transcrever no blog a nossa comunicação.Gostei dos artigos sobre a China. A descrição do céu como uma eterna noite é de apavorar qualquer um.No Brasil a democracia tem muitos adversários, algumas vezes funcionam como verdadeiros inimigos. A direita sempre teve enorma dificuldade de conviver com a democracia e a esquerda desejou durante décadas "assaltar o céu". 1964 é um triste momento deste embate. Mas vamos aprendendo. Claro que seria bom que fosse em ritmo mais rápido. Porém, 2010 será a sexta eleição consecutiva presidencial, um recorde. Sabemos que o eleitorado não é um maravilha, mas qual eleitorado no mundo é formado por 100% de cidadãos conscientes, informados?Devemos continuar a batalha das idéias e remando contra a corrente quando necessário. Afinal, as maiorias são momentâneas. O que mais importa é mantermos a consciência tranquila.

Um abraço.

Villa.

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Voltei

Vocês sabem que não sou de rasgar seda. Mas nesse caso vou abrir uma exceção. O professor Marco Antonio Villa é um dos melhores historiadores, se não o melhor, do Brasil na atualidade. Um dos mais honestos, certamente. Desde pelo menos que publicou, em 2004, uma biografia de João Goulart ("Jango, um Perfil"), lembrando vários fatos incômodos da vida do ex-presidente incensado até hoje pelas esquerdas - por exemplo, o papel da esquerda na destruição da democracia em 1964 -, ele é reconhecido como um dos maiores demolidores de mitos históricos do País. Poucas pessoas têm-se dedicado a denunciar, com tanta lucidez e competência, as falácias e mentiras produzidas em série pelas esquerdas nas últimas décadas. Não surpreende que ele já tenha feito tantos detratores. Ele é um autêntico "myth buster" da História pátria, um verdadeiro alento, um sopro de honestidade e de vida inteligente em meio à tanta impostura intelectual e propaganda ideológica travestidas de estudos acadêmicos, um antídoto aos Emir Sader e Moniz Bandeira da vida.

O professor Marco Antonio Villa, para minha grata surpresa, também parece ser uma pessoa bastante acessível. Tanto que se deu ao trabalho de responder a este obscuro blogueiro e permitir que eu transcrevesse nossa comunicação aqui. Muito diferente de tantas mediocridades coroadas que existem por aí, aboletadas nos departamentos de História e Ciências Sociais das universidades brasileiras, e que, empanturradas de empáfia e de marxismo vagabundo, arrotam autoridade por todos os poros. Com ele pode-se discutir de forma aberta, e inclusive discordar - como discordo em alguns pontos, vide meu texto sobre o fim da ditadura militar -, sem medo do politicamente correto. Ele é a prova de que o historiador não deve ter outro compromisso senão com a verdade dos fatos e com sua própria consciência. Deveria ser um modelo para os intelectuais brasileiros, a maioria dos quais já abandonou há muito tempo o compromisso com a verdade, substituída por conveniências ideológicas e pela bajulação aos donos do poder de plantão. Mas, como isso aqui é o Brasil lulista, pessoas como ele só podem estar em minoria.

Durante um tempo, pensei em seguir carreira acadêmica. Mas esbarrei numa muralha de proselitismo político e de desnonestidade intelectual que, devo confessar, me desestimulou. Em vez de pesquisa séria, o que encontrei foi muita politicagem, muita safadeza ideológica. Se você não fosse de esquerda, e se não fosse um inimigo do "neoliberalismo" e da "globalização", você estava fora. Lá, não havia espaço para o pensamento crítico, para o debate de idéias: apenas para a militância. Contra tudo e contra todos, eu insistia em estudar e em dar aulas, e não em repetir slogans. Até mesmo muitos alunos meus, na época, estranhavam essa minha atitude. Após algum tempo, desisti de ser uma voz solitária e mudei de profissão. Somente para constatar que a onda esquerdóide já se alastrou por todos os poros da sociedade.

A leitura dos textos do professor Marco Antonio Villa restaurou em mim a esperança nos estudos de História produzidos no Brasil. Enfim, um sinal de vida inteligente na universidade brasileira.

2 comentários:

Augusto Araújo disse...

Impressionante neh Gustavo

A entrevista o Jo Soares e outra na Epoca tambem foram ótimas

O Jo fez uma carinha de assustado quando o Vila falou q os guerrilheiros lutavam por democracia

Alias estah tudo no Youtube. A entrevista como o Bolsonaro (q tenho minhas descordancias; ele eh antiesquerdista, mas nacionalista-estatista) , a entrevista com Vila e a entrevista com Dilam Roussef

o Jo rasga elogios pros guerrilheiros, nao sei se eh por ignorancia ou má-fé

mas voltando ao assunto

há alguns motos em História, q leva a leitura anticapitalista do mundo

umas das principais eh sobre os cercamentos ingleses fornecendo mao de obra barata pra revolucao industrial. Isto procede?

de tabela faz-se uma apologia do MST

Gostaria de mandar um e-mail, ou dialogar no orkut sobe esses mitos, acho q cabe numa folha de A4, mas fazem um estrago dando na cabeça dos alunos

abs!

Augusto Araújo disse...

Nossa, escrevi rápido e cheio de erros de digitação

corrigindo um pouco:

o Villa deu uma entrevista ótima no Jô e tb na revista Época

se assistirmos as entrevistas no Jô, que ele fez com: Bolsonaro, Vila e Dilama Roussef, observamos com o gordinho é paga-pau dos guerrilheiros

acho q eu quis dizer q há alguns fatos, ou leituras de acontecimentos históricos q levam a uma mentalidade anticapitalista

uma é sobre os cercamentos ingleses

e por último convidei vc Gustavo para uma discussao acerca de tais leituras e mitos marxistas

abs!