Por 44 votos a favor e 17 contra, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, no dia de hoje, 21/11, o parecer do deputado Paulo Maluf (ele mesmo!), do PP-SP, que defende a entrada da Venezuela no Mercosul. O projeto, que ainda precisa ser votado no Plenário, teve o apoio da base aliada. Os deputados governistas, como José Múcio (PTB-PE) e José Genoíno (PT-SP), insistiram em separar Hugo Chávez da necessidade econômica de integrar a Venezuela no bloco regional. "Com todos os países somos tolerantes, por que seriamos intolerantes com a Venezuela?", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). ACM Neto (DEM-BA) tentou contra-argumentar, mas ficou sozinho. O PMDB, como sempre, trocou seus votos por promessas de cargo no governo. Depois de ir a Plenário, o parecer precisa ser aprovado no Senado. O Itamaraty comemorou discretamente.
A sessão da CCJ do dia 21/11/2007 deveria entrar para os anais do Legislativo brasileiro como um dos momentos mais vergonhosos de sua história. A quantidade de mentiras, falácias, sofismas e manipulações cínicas da realidade por parte dos defensores da admissão da Venezuela chavista ao MERCOSUL, bem como a incompetência e tibieza da assim chamada "oposição", incapaz de se contrapor ao lobby pró-Chávez no Congresso, é de assustar até quem já morreu. Em vez de uma discussão de algum nível sobre os impedimentos estatutários e legais à entrada da Venezuela no grupo, assistiu-se a um bate-boca ginasiano, típico de grêmio estudantil. Da parte dos deputados governistas, que agiram como autênticos papagaios de Chávez, o que se montou ali foi uma mistura de circo e comício em favor da "revolução bolivariana" e do "socialismo do século XXI".
Os parlamentares governistas gostam de apontar a necessidade de separar o ingresso da Venezuela no MERCOSUL do regime chavista. Dizem que Chávez vai passar, mas que a Venezuela ficará. Eles mentem. A longo prazo, a idéia da entrada da Venezuela no bloco regional, assim como a de qualquer outro país, é boa e desejável. Mas é um erro grosseiro - ou cinismo - acreditar que se pode separar o país do regime. Se algo caracteriza o regime de Chávez, é sua subordinação da economia e da integração regional a seus caprichos de protagonismo político. Chávez já se retirou da Comunidade Andina (CAN) num rompante, pois não achava que estava tendo a devida atenção dos demais membros do bloco. Com o MERCOSUL, não será diferente. Até mesmo em termos de pragmatismo diplomático o ingresso da Venezuela no bloco é um despautério, pois os supostos benefícios comerciais que dele adviriam para o Brasil não compensam o prejuízo político que isso causará ao MERCOSUL e à integração regional. Não duvido que, se Hitler em pessoa renascesse das cinzas e reassumisse o poder na Alemanha, os petistas no governo defenderiam um acordo comercial com a Alemanha, usando, como justificativa, a separação entre o regime e o país. E ainda considerariam essa atitude "moderna" e "pluralista".
É certo que não cabe ao governo de nenhum país, muito menos a seu Legislativo, definir o caráter democrático ou não de um governo estrangeiro. Mas isso não significa que se deve ser indiferente à destruição da democracia num país vizinho. Nem tampouco aceitar a companhia desse governo num organismo internacional. Ainda mais se esse órgão tem, em sua Carta Fundamental, uma cláusula que exige de seus membros a obediência aos princípios democráticos. De acordo com esta, somente países comprovadamente democráticos podem participar do MERCOSUL. A Venezuela há muito deixou de ser uma democracia. Se for aceita no bloco, este ficará desmoralizado para sempre. Já mal das pernas por causa das disputas comerciais entre seus membros, o MERCOSUL, que surgiu em 1991 com o objetivo "neoliberal" de derrubar as barreiras comerciais e promover a integração econômica entre os países da região, recém-saídos de décadas de autoritarismo, tornar-se-á mais um palanque para as arengas demagógicas de Chávez. Ou seja: perderá a própria razão de ser.
A entrada da Venezuela no MERCOSUL é uma questão de honra para os petistas e seus aliados. Para conseguir isso, eles estão dispostos a tudo. Até mesmo a cerrar fileiras com o mais novo chavista da praça, Paulo Maluf. Se Chávez resolver fechar o Congresso, botar todos os jornalistas que lhe fazem oposição na cadeia e fuzilar seus adversários, ainda assim o governo brasileiro vai sair em sua defesa, apelando, em última instância, para o direito à "soberania" e à "autodeterminação dos povos". É assim que o governo brasileiro faz, há anos, em relação a ditadura de Fidel Castro em Cuba, por exemplo. Não se enganem: com a entrada da Venezuela no MERCOSUL, o bloco e todo o esforço de integração regional sul-americano irão para o saco. De MERCOSUL, virará um Merdosul bolivariano.
2 comentários:
ou seja: avacalhou geral
É engraçado a visão que vc tem da política venezuelana e suas perspectivas para o MERCOSUL. Principal para o Brasil que faz fronteira com este país. Não se iluda com essa aversão idêntica e típica dos estadunidenses em relação a America latina. Quais projetos esta criou para trazer confiança para o povo oprimido bem como o desenvolvimento da região?. Haa lmbrei de um o ALCA, este eu nem vou comentar, rechaçada por todos nem sequer saiu do papel.. Convido compadre a fazer como eu fiz, visitei a Venezuela e quebrei a cara quando vi de perto os projetos que o Hitler índio-americano deu gratuitamente a população Venezuela (missiones bolivarianas é bom pesquisar). Não reproduza o que a mídia sebosa brasileira já faz neste país há anos.
Postar um comentário