Mal saiu a lista e os critérios da seleção foram postos em dúvida, sendo considerados bastante polêmicos, para dizer o mínimo. Muitos criticaram, por razões compreensíveis, a inclusão de nomes como o de Bin Laden na tal lista. Eu acho que estão criticando o nome errado. Bin Laden é sem dúvida um gênio, talvez o maior da atualidade. Ninguém conseguiu instrumentalizar com tanta eficiência o antiamericanismo, algo caro às esquerdas secularistas ocidentais, a fim de promover uma guerra religiosa contra a democracia e o Ocidente. É maligno, mas genial. Se é para se espantar com um dos nomes da lista, o de Niemeyer vence de longe. Mais até do que o do criador dos Simpsons.
Em sua justificativa, a empresa que elaborou a tal lista dos gênios afirmou que estes foram escolhidos por sua importância em suas respectivas áreas de atuação. A empresa aponta cinco fatores considerados na elaboração da listagem: mudança de paradigmas, reconhecimento público, capacidade intelectual, realizações e importância cultural. O ponto forte de Niemeyer, segundo a empresa, são as realizações. A principal realização de Oscar Niemeyer é Brasília. Ao lado do urbanista Lúcio Costa e de Juscelino Kubitschek, ele foi o maior cérebro por trás da criação da Capital Federal, em 1960, tendo projetado seus principais prédios, na Esplanada dos Ministérios. Ele fez outras coisas, antes e depois, claro. Mas foi Brasília que lhe garantiu um lugar na lista da empresa inglesa.
É aqui que me convenço que a homenagem a Niemeyer é, para dizer o mínimo, exagerada. Brasília é um fracasso total, urbanístico e arquitetônico. A cidade é louvada por sua suposta modernidade. Eu discordo. De moderna, Brasília não tem nada. Pelo contrário. Brasília é uma cidade velha, velhíssima, a mais velha do Brasil. Quando foi projetada, a idéia era criar um ambiente em que as pessoas pudessem conviver, com os funcionários e seus empregados habitando as mesmas superquadras no Plano Piloto. Acontece que não contaram com a nossa cultura escravocrata, baseada na idéia do "cada um em seu lugar". Tangidos do centro, os trabalhadores que a construíram, a maioria migrantes nordestinos, migraram de novo, dessa vez para as cidades-satélites. O resultado foi um rápido processo de favelização do entorno, semelhante ao ocorrido em outras cidades brasileiras, como Rio e São Paulo, com os mesmos problemas sociais, de falta de transportes até tráfico de drogas. Além disso, os prédios que tornaram Brasília famosa, como o Palácio do Planalto, a Catedral e o Congresso, vocês me desculpem, mas, em minha opinião, eles têm de bonitos o que têm de funcionais. Ou seja: nada. Verdadeiros monstrengos de concreto, impessoais, soviéticos, totalitários (não por acaso, outra obra famosa de Niemeyer é a sede do Partido Comunista Francês). Sem falar no legado terrível que a construção da cidade deixou: os milhões gastos, o sorvedouro de dinheiro público, a inflação, a dívida externa, a corrupção desenfreada. Moro em Brasília há cinco anos. Até hoje não vi essa tal modernidade de que tanto se ouve falar.
Esse último traço de Brasília diz muito sobre a verdadeira figura do arquiteto. Niemeyer é um dos últimos comunistas do planeta. Um stalinista empedernido, crítico implacável do capitalismo e admirador entusiasmado de Fidel Castro e do MST. Como tal, é também amigo de Lula. Não somente a ideologia de Niemeyer é comunista. Sua arquitetura também é. Comunista. Soviética. Stalinista. Totalitária.
A fama de Niemeyer é mundial. Tirando talvez Pelé ou Ronaldinho, ele deve ser o brasileiro mais conhecido no exterior. Estive recentemente na Coréia do Sul. Lá também estava havendo uma exposição sobre a obra de Niemeyer. O salão de exposição estava cheio de estudantes sul-coreanos, admiradores do trabalho do mestre. Não sei o que os estudantes sul-coreanos podem aproveitar das idéias arquitetônicas de Oscar Niemeyer. Espero sinceramente que não aprendam nada.
Prestes a completar 100 anos, Niemeyer é uma figura venerável. Quando alguém chega a essa idade, ainda saudável e em plena atividade, é comum dizer-se que está "lúcido". Com todo o respeito que seu quase um século de vida exige, tenho algumas dúvidas quanto à lucidez de Oscar Niemeyer. Se julgarmos por suas opiniões políticas, teremos que admitir que ele é tão lúcido quanto Dercy Gonçalves, outra centenária ilustre. Na entrada de seu escritório, ele mandou pendurar uma placa com a seguinte frase: "Enquanto houver miséria e opressão, ser comunista é nossa opção". Sabe-se que os regimes comunistas foram os maiores geradores de miséria e opressão da História. Em nome de uma utopia messiânica, a de acabar com as desigualdades e redimir a espécie humana, foram os responsáveis por rios de sangue e por algumas das piores fomes de todos os tempos, como na China e na Etiópia. Mas isso não importa. Oscar Niemeyer é um gênio. E gênios, como se sabe, estão acima desses detalhes.
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P.S.: Na hora de buscar uma imagem no Google para ilustrar este texto, acabei me confundindo e, em vez de colocar uma foto do nosso gênio, tasquei uma de Dercy Gonçalves. Mas resolvi manter a foto. Fica como uma singela homenagem minha a essa grande representante da inteligência nacional, conhecida pela mudança de paradigmas, reconhecimento público, capacidade intelectual, realizações e importância cultural. Um verdadeiro patrimônio da humanidade.
Um comentário:
ha ha ha
muito bom, tb nao vejo nada de bonito em Brasilia, foi uma gastaçao de verba
e as idéias de Niemeyer...pff
Dercy é bem melhor mesmo
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