Finalmente, assisti a Tropa de Elite, de José Padilha. Como estão todos dizendo que é um filme bastante polêmico e, além disso, "de direita", "reacionário", "fascista" etc., resolvi deixar meu preconceito contra o cinema nacional de lado e dar uma espiada. Como já fui chamado de tudo isso e polêmica é comigo mesmo, fiz questão de ver, para dar também meus pitacos.
Francamente, não entendi o porquê de tanta celeuma. De polêmico, em minha opinião, o filme tem muito pouco. Ele não mostra nada que já não seja conhecido de todos, tanto dos moradores das favelas acostumados a conviver com o narcotráfico quanto dos consumidores habituais de maconha e cocaína que, com seu vício, financiam os criminosos. Com a exceção, talvez, do treinamento do BOPE, não vi nada que já não soubesse ou de que não tivesse ouvido falar.
A grande novidade de Tropa de Elite, e o que tem causado tanta irritação em certos setores que sempre se acharam os donos exclusivos da verdade (leia-se: a esquerda), está em mostrar uma realidade incômoda que está aí para quem quiser ver, e que sempre foi escamoteada do grande público: 1) o fato de que bandido é bandido, e não uma espécie de Robin Hood ou "vítima da sociedade", e 2) a hipocrisia e a cumplicidade com os traficantes de setores da classe média, que sempre choram rios de lágrimas quando um dos seus se torna mais uma estatística da criminalidade nas grandes cidades brasileiras, mas que se acostumaram a conviver e até mesmo a compactuar com a bandidagem.
Foi esse último fato que certamente mais incomodou os esquerdistas: ao mostrar os playboys da Zona Sul carioca como sócios do crime organizado, agindo, eles próprios, como traficantes nas universidades, enquanto hipocritamente organizam ONGs nas favelas e realizam passeatas "pela paz", o filme cutucou num vespeiro da intelectualidade gauche no Brasil. A meu ver, esse é seu principal mérito.
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Uma de minhas cenas favoritas é a da aula na universidade freqüentada pelo policial negro que, com receio de ser marginalizado, tem de esconder sua condição dos demais colegas (se fosse um traficante, quem sabe, seria melhor recebido...). Na cena, ele corajosamente enfrenta uma turma de playboys que, intoxicados - literalmente - de demagogia marxistóide, começam a soltar impropérios contra a polícia. Poucas vezes a idiotização esquerdista imposta às universidades brasileiras foi mostrada com tanta eloqüência, e de maneira tão realista. Como eloqüente e realista é a cena em que o Capitão do BOPE arrasta, aos safanões, um "estudante" apanhado em uma operação junto com traficantes. Perguntado sobre quem acabara de matar um dos bandidos, abatido a tiros pelo BOPE, o tal estudante-traficante responde, relutante, que foi um dos policiais. Ao que o Capitão berra, esfregando, furioso, o rosto do mesmo na ferida ensangüentada do meliante morto: "Nada disso. Quem matou foi você, seu maconheiro!". Como toda a platéia, vibrei com a cena, sentindo-me intimamente vingado por anos e anos de retórica demagógica a favor dos "direitos do usuário". Valeu por várias teses de doutorado sobre o assunto.
Outra coisa que certamente fez nossos esquerdistas torcerem o narizinho arrebitado de leitores de Gramsci e Foucault são as cenas de violência policial, mostradas de forma bastante gráfica na tela. A esquerda, horrorizada, não deixou de manifestar sua sacrossanta indignação pelas cenas em que os cruéis meganhas descem o pau nos pobres traficantes, inclusive empregando táticas condenáveis de tortura. À primeira vista, parece que, nesse caso, a esquerda tem razão, mas olhando-se mais de perto, fica claro que é tudo jogo de cena. O que lhe causa horror, na verdade, não é a brutalidade e os excessos das táticas do BOPE, não são as violações aos direitos humanos - até porque os regimes apoiados por nossas esquerdas, como o de Cuba, não são exatamente modelos de respeito aos direitos humanos -, mas a própria ação da polícia contra os traficantes.
Outra coisa que certamente fez nossos esquerdistas torcerem o narizinho arrebitado de leitores de Gramsci e Foucault são as cenas de violência policial, mostradas de forma bastante gráfica na tela. A esquerda, horrorizada, não deixou de manifestar sua sacrossanta indignação pelas cenas em que os cruéis meganhas descem o pau nos pobres traficantes, inclusive empregando táticas condenáveis de tortura. À primeira vista, parece que, nesse caso, a esquerda tem razão, mas olhando-se mais de perto, fica claro que é tudo jogo de cena. O que lhe causa horror, na verdade, não é a brutalidade e os excessos das táticas do BOPE, não são as violações aos direitos humanos - até porque os regimes apoiados por nossas esquerdas, como o de Cuba, não são exatamente modelos de respeito aos direitos humanos -, mas a própria ação da polícia contra os traficantes.
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Todos sabem que a idéia mesma de repressão ao crime - a função básica do trabalho policial, em qualquer país do mundo - causa urticária nos setores esquerdistas. Quando se trata de pôr a mão na massa e enfrentar a bandidagem, estes sempre preferiram olhar para o outro lado e, para não passar por autoritários, defender políticas "preventivas", como ações sociais - o que equivale, ironicamente, a considerar todos os pobres criminosos em potencial. Para esse pessoal, prender os bandidos, metê-los na cadeia, é uma bandeira da extrema direita.
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Não faz muito tempo assim, um governador do Rio de Janeiro - estado onde se passa o filme -, aliás um reconhecido ícone das esquerdas no Brasil, sob o pretexto populista de "defender os valores" do povo do morro, simplesmente proibiu a polícia de subir as favelas à caça de bandidos (o mesmo político, já falecido, tinha por hábito receber alegremente os principais chefões do jogo do bicho em seu gabinete). Como se o narcotráfico e a contravenção fossem parte dos valores do povo das favelas, na verdade suas maiores vítimas. O resultado, como não poderia ter sido diferente, foi a criação de um verdadeiro Estado paralelo, com os traficantes ditando as leis nas "comunidades" infestadas pela criminalidade.
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Se há alguma coisa que o extraordinário sucesso de Tropa de Elite demonstra de forma cabal e irrefutável é que esse tipo de discurso rasteiro e demagógico já não tem mais guarida entre a massa da população. As pessoas, cansadas da lengalenga esquerdóide sobre as tais "causas sociais da violência", já perceberam que, contra a bandidagem, o que vale não é a velha cantilena marxistóide e a vigarice sociológica da USP, mas a eficiência do BOPE. Capitão Nascimento neles!
Por tudo isso, o filme já está sendo chamado, claro, de "fascista" pelos esquerdistas. Sempre que a esquerda não gosta de uma opinião, a rotula de "fascista". É sua forma de desqualificar quem a emite e dizer que não aceita ser contestada - características, aliás, do fascismo propriamente dito. Mas até esta já começa a perceber que a brecha entre o que ela pensa e o grosso da população, que sofre diariamente com a violência do tráfico, é grande demais para ser ignorada. Enquanto a esquerda perde tempo debatendo as "causas sociais da criminalidade" - em geral, uma forma de justificar a inação no combate à mesma -, o povão já se antecipou, e transformou Tropa de Elite, antes mesmo de sua estréia no cinema, em campeão (pirata) de bilheteria e o Capitão Nascimento, e não Foucault, em seu herói.
Essa brecha entre o que os ideólogos da esquerda politicamente correta crêem ser o melhor para a humanidade e o que pensa o cidadão comum, que paga impostos e quer ver seus filhos longe da criminalidade, é bem demonstrada pela maneira diferente como cada um encara o problema da violência urbana, e as soluções que apresentam. Há dois anos, uma gigantesca mobilização oficial esquerdista, que incluiu um batalhão de artistas, sempre dispostos a se engajar em patacoadas do tipo para exercer seu bom-mocismo, tentou convencer a todos que a causa da violência era a própria existência de armas de fogo nas mãos de cidadãos de bem, e que a solução estava em desarmar a todos - menos, claro, os bandidos. Tal medida, por demagógica, foi fragorosamente rejeitada por 64% da população. Mesmo assim, a esquerda não desiste, classificando Tropa de Elite, à falta de argumento melhor, de "fascista". E por que motivo? Porque o filme, como também o faz (em menor escala) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, rompe com a tradição cinematográfica brasileira de tratar bandido como mocinho e polícia como bandido (vejam Carandiru, por exemplo).
Tropa de Elite é certamente um bom filme e, como obra cinematográfica, está muito acima da média da produção nacional, tanto pelo tema quanto tecnicamente. Mas, assim como mostra algumas verdades inconvenientes, o filme deixa de mostrar outras, igualmente incômodas. Por exemplo, seria interessante ver retratada na tela a trajetória da cocaína que chega aos morros cariocas, vinda de países como a Colômbia, onde o narcotráfico é controlado pelos guerrilheiros castristas das FARC, vistos como aliados e "lutadores da liberdade" pelos esquerdopatas brasileiros. Mesmos esquerdopatas, aliás, que agora vociferam contra o filme de José Padilha. Aliás, apenas para recordar: onde foi mesmo que prenderam o Fernandinho Beira-Mar?
Por mostrar muito menos do que isso, Tropa de Elite foi rotulado de "fascista" pelos patrulheiros ideológicos de plantão. Perto do que faltou dizer, porém, o que é mostrado no filme é fichinha. Quase um conto-de-fadas.
Por tudo isso, o filme já está sendo chamado, claro, de "fascista" pelos esquerdistas. Sempre que a esquerda não gosta de uma opinião, a rotula de "fascista". É sua forma de desqualificar quem a emite e dizer que não aceita ser contestada - características, aliás, do fascismo propriamente dito. Mas até esta já começa a perceber que a brecha entre o que ela pensa e o grosso da população, que sofre diariamente com a violência do tráfico, é grande demais para ser ignorada. Enquanto a esquerda perde tempo debatendo as "causas sociais da criminalidade" - em geral, uma forma de justificar a inação no combate à mesma -, o povão já se antecipou, e transformou Tropa de Elite, antes mesmo de sua estréia no cinema, em campeão (pirata) de bilheteria e o Capitão Nascimento, e não Foucault, em seu herói.
Essa brecha entre o que os ideólogos da esquerda politicamente correta crêem ser o melhor para a humanidade e o que pensa o cidadão comum, que paga impostos e quer ver seus filhos longe da criminalidade, é bem demonstrada pela maneira diferente como cada um encara o problema da violência urbana, e as soluções que apresentam. Há dois anos, uma gigantesca mobilização oficial esquerdista, que incluiu um batalhão de artistas, sempre dispostos a se engajar em patacoadas do tipo para exercer seu bom-mocismo, tentou convencer a todos que a causa da violência era a própria existência de armas de fogo nas mãos de cidadãos de bem, e que a solução estava em desarmar a todos - menos, claro, os bandidos. Tal medida, por demagógica, foi fragorosamente rejeitada por 64% da população. Mesmo assim, a esquerda não desiste, classificando Tropa de Elite, à falta de argumento melhor, de "fascista". E por que motivo? Porque o filme, como também o faz (em menor escala) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, rompe com a tradição cinematográfica brasileira de tratar bandido como mocinho e polícia como bandido (vejam Carandiru, por exemplo).
Tropa de Elite é certamente um bom filme e, como obra cinematográfica, está muito acima da média da produção nacional, tanto pelo tema quanto tecnicamente. Mas, assim como mostra algumas verdades inconvenientes, o filme deixa de mostrar outras, igualmente incômodas. Por exemplo, seria interessante ver retratada na tela a trajetória da cocaína que chega aos morros cariocas, vinda de países como a Colômbia, onde o narcotráfico é controlado pelos guerrilheiros castristas das FARC, vistos como aliados e "lutadores da liberdade" pelos esquerdopatas brasileiros. Mesmos esquerdopatas, aliás, que agora vociferam contra o filme de José Padilha. Aliás, apenas para recordar: onde foi mesmo que prenderam o Fernandinho Beira-Mar?
Por mostrar muito menos do que isso, Tropa de Elite foi rotulado de "fascista" pelos patrulheiros ideológicos de plantão. Perto do que faltou dizer, porém, o que é mostrado no filme é fichinha. Quase um conto-de-fadas.
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