O mundo vai acabar. Al Gore recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Al Gore e o Painel Inter-Governamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC. Anote aí: o mundo vai acabar.
Sempre desconfiei de Al Gore e da ONU, assim como sempre desconfiei do Prêmio Nobel. Principalmente do Nobel da Paz, o mais importante ou, pelo menos, o mais festejado. De todos os prêmios internacionais, este é certamente o mais estranho, o menos transparente. Até hoje, nunca vi, e acredito que ninguém também jamais viu, nenhum dos membros do tal comitê que decide as premiações falando na TV. Não há um rosto, um nome, nada. Para mim, eles parecem mais uma sociedade secreta, como os Skull and Bones ou o Priorado de Sião. Do mesmo modo, os critérios de premiação do Nobel continuam a ser para mim um mistério, algo completamente insondável, como a possibilidade de vida extraterrestre ou a insistência na crença na respeitabilidade e honestidade de Lula. Outros ganhadores do Nobel da Paz, em anos anteriores, foram Henry Kissinger, Madre Teresa de Calcutá, Jimmy Carter e Yasser Arafat. É algo que diz muito sobre a respeitabilidade e honestidade do Nobel.
Não somente o Nobel da Paz sempre me causou estranheza e desconfiança. Outras categorias, como Literatura, não deixam de me provocar espanto. Basta dar uma olhada na lista de ilustres ganhadores em anos mais ou menos recentes. Pablo Neruda era um stalinista devoto. Gabriel García Márquez é amigo de Fidel Castro. José Saramago, idem. Günter Grass escondeu de todos seu passado nazista. Harold Pinter tem saudades dos sandinistas. A última agraciada com o Nobel de Literatura foi a escritora britânica Doris Lessing. Ela declarou há alguns dias que o 11 de setembro de 2001 não foi tão terrível nem tão dramático assim. Podemos ficar otimistas. A continuar desse jeito, existe a forte possibilidade de levarmos o prêmio nos próximos anos. Eu recomendo Leonardo Boff ou Ariano Suassuna. Eles têm grandes chances. Podem acreditar em mim.
Os brasileiros sempre se ressentiram de nunca terem levado um Nobel, assim como de nunca terem levado um Oscar. Faz parte de nosso complexo de vira-latas. Bobagem. O Brasil não ganharia nada com um Nobel. Não somente o da Paz ou de Literatura. Os científicos também. Um dos ganhadores do Nobel de Medicina em outros tempos é um português, inventor da lobotomia. Desconheço o valor da lobotomia para o avanço da medicina. Também ignoro completamente em que sentido isso elevou o nome da medicina portuguesa. Outro agraciado com o prêmio é o biólogo norte-americano James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA. James Watson andou dizendo por aí que os africanos são racialmente menos inteligentes do que os europeus. É nisso que dá ganhar o Nobel.
A principal justificativa do comitê do Nobel para conceder o prêmio a Al Gore é a suposta contribuição do ex-presidente dos EUA (governo Clinton) à luta contra o aquecimento global. Al Gore, como todos sabem, é aquele senhor meio rechonchudo e de jeitão apalermado que foi derrotado por George W. Bush nas eleições presidenciais de 2000, aquelas que dizem que foram roubadas. Na época, de tão sem sal, ele era chamado de "Al Bore" pelos comediantes americanos. De ex-candidato e político fracassado, ele se tornou uma espécie de oráculo do meio ambiente, um Rajneesh dos verdes, um Cacique Cobra-Coral dos ecologistas. Tudo por causa de um documentário, Uma Verdade Inconveniente, que caiu nas graças de Hollywood e ganhou o Oscar deste ano. No filme, ele aparece alertando para as conseqüências do aquecimento global, a febre do momento, como já o foi o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio. Segundo a pregação apocalíptica de Al Gore, se a humanidade não fizer nada nos próximos anos, o nível dos oceanos vai elevar-se em até 7 metros, causando inundações e devastação em todo o planeta. Segundo Al Gore, o furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005, é o resultado direto desse aquecimento causado pelo homem. Segundo Al Gore, os ursos polares estão morrendo afogados por causa do derretimento do gelo do Ártico provocado pelas chaminés das fábricas e pelo escapamento dos carros.
Ainda não vi o filme, mas sei que ele já está dando o que falar. Um juiz na Inglaterra determinou que, antes de sua projeção, seja mostrada uma advertência afirmando que os dados apresentados na tela, como a previsão alarmante do nível dos oceanos aumentando em até 7 metros, não são confiáveis, e que a idéia da responsabilidade humana pelo aquecimento global está longe de ser um consenso entre os cientistas. Entre o juiz que deu essa ordem e Al Gore, é claro, eu fico com o juiz. Assim como, entre o lobby pró-armas da NRA e Michael Moore - outro vencedor do Oscar, como Al Gore, mas (ainda) não do Nobel - eu fico com os reacionários da NRA sem pestanejar. Recomendo, aliás, que a idéia do juiz da Inglaterra seja imitada, e sejam apresentadas advertências também antes dos documentários de Michael Moore, informando que se trata de obra de ficção.
De todas as "causas nobres" defendidas pelas esquerdas, tanto nacionais quanto internacionais, a causa ecológica ou ambientalista, a chamada "defesa do meio ambiente", é certamente uma das mais lucrativas, como demonstra o filme de Al Gore. E uma das mais falsas, mais desonestas. As esquerdas do mundo todo encamparam a bandeira ambientalista, assim como fizeram com a racial e a dos direitos humanos, como uma causa contra o lucro e o capitalismo. Afirmam, com o cinismo e a cara-de-pau que as caracterizam, que a devastação da natureza, da matança de baleias no Pacífico às queimadas na Amazônia, do derretimento das calotas polares à extinção de espécies selvagens, é produto da ganância capitalista. É uma equação simples, capaz de ser rapidamente assimilada até pela mente mais obtusa: menos lucros, mais natureza. Ou: menos capitalismo, mais preservação. Assim afirmam todos os dias, insistentemente, os militantes da causa ecológica, reunidos em ONGs como o Greenpeace. Daí a idéia do Protocolo de Kyoto, assinado dez anos atrás, e que os EUA se recusaram a assinar, sob a justificativa - aliás, verdadeira - de que tal documento prejudica o desempenho de sua economia. O que nem Al Gore, nem os ecomilitantes do Greenpeace conseguiram me explicar até agora, de jeito nenhum, é por que, se a poluição ambiental é conseqüência inevitável e inerente ao capitalismo, os países mais poluidores do mundo eram os pertencentes ao antigo bloco socialista, como a ex-Alemanha Oriental e a ex-URSS (remember Chernobyl). Sem falar na China de hoje. Não sei nada sobre aquecimento global e efeito estufa. Sou totalmente ignorante em emissões de CO2, Protocolo de Kyoto e créditos de carbono. Mas sei alguma coisa sobre Al Gore e a esquerda. O suficiente para desconfiar do discurso ambientalista. Assim como de qualquer prêmio que lhe for dado.
Talvez eu seja apenas um direitista entediado e rabugento. Talvez eu seja apenas paranóico. Talvez eu queira apenas aparecer. Talvez. Nada disso importa. Al Gore é o Prêmio Nobel da Paz de 2007. O mundo vai acabar.
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