Um dos erros mais repetidos sobre "isso que aí está" e que, por falta de nome melhor, chamamos de governo Lula, é dizer que se trata de um governo de despreparados e incompetentes. Eu mesmo, em textos anteriores, cometi esse erro, do qual aproveito para fazer aqui um mea-culpa. Não, o governo Lula não é incompetente. Muito pelo contrário: é competente até demais. Aí está, justamente, a raiz de todos os nossos problemas, atuais e futuros.
Na verdade, ao chamarmos os lulistas de despreparados e incompetentes, estamos fazendo-lhes um favor. Trata-se, de fato, não de uma crítica, mas de um elogio. Se fossem apenas desastrados, os lulistas ainda teriam solução, e não haveria por que ser tão duro com eles. Afinal, despreparo e incompetência têm cura. Basta, para tanto, apenas um pouco de esforço e de boa vontade. Mas a questão não é essa. Criticar Lula e seus apaniguados por sua incompetência na gestão da máquina pública é perder de vista o verdadeiro foco da questão. É mirar no acessório e esquecer o essencial, contribuindo, assim, para a perpetuação do problema. O descalabro moral, o aparelhamento do Estado, a ideologização da política externa, o caos aéreo - nada disso resulta da incompetência pura e simples. Aliás, nesse governo, nada é "puro e simples": tudo que lhe diga respeito, suas ações ou omissões, decorre não da inépcia ou de confusão de seus integrantes, mas de uma visão ideológica há décadas enraizada em nosso inconsciente coletivo, de forma sistemática, quotidiana - e ultra-eficiente.
O que há não é desgoverno, mas projeto de poder. Não é o despreparo puro e simples, mas a preparação do terreno para a implantação - lenta, gradual, solerte, calculada, paralisante, estupefaciente - do Estado dos sonhos dos petistas. Um Estado socialista, autoritário, talvez até totalitário, nos moldes da Venezuela de hoje ou da Cuba comunista, os verdadeiros modelos da companheirada. Um regime, enfim, em que as liberdades democráticas cedam lugar a uma forma de coletivismo forçado, baseado no inculcamento gradativo, constante, das velhas fórmulas e chavões esquerdistas. Não importa que essas fórmulas e chavões desbotados se apresentem sob formas vagas e aparentemente inofensivas, tais como "inclusão social", "correção de injustiças históricas" ou, ainda, "democratização dos meios de acesso à informação e cultura". É exatamente dessas fórmulas vagas e imprecisas que o discurso lulista se nutre e é a partir delas que consegue engabelar a todos, de forma muito competente. O diabo mora nos detalhes.
Não, senhores: a entronização do "politicamente correto" nas escolas e outros estabelecimentos públicos, na forma de leis que, a pretexto de combater o racismo e a homofobia, apenas oficializam o primeiro e criminalizam a liberdade de expressão e pensamento; os movimentos para restabelecer a censura aos meios de comunicação, mediante uma lei copiada da Venezuela chavista; a doutrinação ideológica nas escolas, na forma de textos didáticos que ensinam o ódio ao capitalismo e enaltecem tiranos genocidas como Stálin e Mao Tsé-Tung; os afagos públicos a ditadores como Fidel Castro e a seus discípulos Hugo Chávez e Evo Morales - nada disso, absolutamente nada, ocorre no vazio. São, na verdade, manifestações de um plano diabólico, totalitário, que não visa outra coisa senão ao estabelecimento e perpetuação, no Brasil, de uma ditadura de esquerda. Tal plano já se encontra em estágio relativamente avançado, expressando-se nas articulações mais ou menos subterrâneas para garantir o terceiro mandato presidencial de Lula, por exemplo. Outra expressão: a defesa, por parte do governo, de uma nova Constituição, a fim de extinguir-se o Senado - a nova manobra lulista para assegurar sua base de apoio, depois da queda em desgraça do companheiro Renan Calheiros. Qualquer semelhança com um país vizinho, onde o atual governante assumiu o poder também por meios legais e, igualmente por meios legais, impôs uma nova Constituição e tratou de garantir sua reeleição ad aeternum, enquanto preenchia com companheiros seus o aparelho estatal e impunha uma ridícula e fantasiosa versão histórica nas escolas, em nome de um mal-definido "socialismo do século XXI", não é - repito: não é - mera coincidência. Que os lulistas tenham conseguido convencer a todos, durante mais de trinta anos, que seu principal defeito é a incompetência administrativa, e não o laivo antidemocrático e totalitário, revela muito sobre sua extrema competência em enganar a todos e ocultar seus verdadeiros desígnios.
Mas onde está a origem desse plano infernal, cuidadosamente preparado e implantado durante anos e anos, sem que quase ninguém percebesse? Se fosse possível sintetizar em um nome o cerne de toda essa articulação revolucionária, eu não hesitaria em dizer: Foro de São Paulo. Em que consiste essa organização, cuja simples existência, apesar do próprio discurso oficial, a imensa maioria da mídia, impressa, falada e televisada, insiste em negar? Nas palavras do atual mandatário brasileiro, em um "espaço de articulação estratégica" dos partidos e movimentos esquerdistas da América Latina. Com que objetivo? Novamente, deixemos seus próprios formuladores dizerem: "para restabelecer, no continente, o que foi perdido após a queda do Muro de Berlim e a extinção da URSS". Entre seus fundadores, estão Lula e Fidel Castro. Alguns de seus membros, além do PT, são as FARC e o MIR chileno. Nada mais é preciso dizer.
Les jeux sont faits. A sorte está lançada. E ela não é nada favorável aos que defendem a liberdade e a democracia. Estes estão ocupados demais cobrando honestidade e eficiência de Lula e do PT. Além de cometerem o erro crasso de exigir honestidade de quem, sob o disfarce da "defesa da ética", sempre a repudiou como um valor "burguês", esquecem-se que o problema dos lulistas e de seus apoiadores não é a falta, mas o excesso, de eficiência. Enquanto não se derem conta do tamanho da farsa lulista, estarão cavando seu próprio túmulo.
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